Alguma Formalidade Precisa-se…

terça-feira, 28 de julho de 2009
Alguma formalidade está a ser precisa em algumas instituições desta cidade!
Actualmente já não se sabe saudar nos serviços de forma diferenciada, Utiliza-se o informal «tchau!» em casa, entre amigos e no serviço. O «Até logo!» e outras formas similares de despedidas caíram em desuso. É quase sempre com o cantante «Tchau!» que se despedem muitos funcionários e empregados públicos, do utente acabado de atender quer seja ao telefone, ao balcão, e por vezes até mesmo no gabinete. E note-se que nem se pode dizer que se trata já de um italianismo, buscado no “ciao.” Não, este «tchau» já foi nacionalizado no léxico do cabo-verdiano com foros de intimidade. Devia haver mais informalidade nos serviços públicos.
Outra má nota nos serviços é o “vício” ou a “moda” de mascar pastilha elástica enquanto atendem. Só lhes falta fazer “balão” com a dita pastilha elástica nas “barbas” de quem se lhes dirige a solicitar uma informação ou para esclarecer um assunto. Mas o que é isto? Depois é o falar alto e despreocupado, como se estivessem na praça ou em casa. Enfim!
E o descalçar os sapatos? Bem, isto é mais notório nas jovens mulheres. Mal se sentam à secretária do serviço, ou à mesa das aulas, algumas delas, o seu primeiro acto é tirar os sapatos, ou as sandálias, ou chinelos o que, para além da deselegância do gesto, dá um aspecto constrangedor de quarto de dormir de casa privada.
Se acontece ouvirem música, a tal da “alegria no trabalho” ela é sempre aos “berros”, com os decibéis de festival de praia (passe o exagero) que só se compara à música ouvida, quando se entra nos táxis e nos transportes colectivos, da cidade da Praia e do Fogo. Sempre aos “berros.” Nem questionam se incomoda o passageiro!
Torna-se necessário e urgente imprimir algumas normas formais que devem ser usadas nos serviços públicos nacionais.
Aconteceu-me, esta manhã, ao entrar na sala dos Professores de uma instituição universitária, ser confrontada com duas dessas pouco próprias modalidades, ou seja, a música de fundo que devia ser em volume bem baixo, emitia uma alta e sonante batucada em tudo impeditivo para a concentração de alguém que procurava um espaço de algum silêncio, ou no mínimo, de falas em tom baixo para preencher com alguma urgência profissional, uma pauta de notas de avaliação. Após terminado o labor que lá me levara, à saída, ouço o informal «tchau!» da funcionária do atendimento a retribuir-me o meu: «…a continuação de um bom dia!»
Saí para a manhã de calor que já queimava de forma inclemente e dei comigo a monologar: «Mas não é normal este ambiente de trabalho que se encontra em quase todos serviços nesta cidade! Precisa-se de alguma formalidade!»

Eugénio Tavares na China?

Pois é, com este título estará o leitor a pensar em alguma viagem feita pelo nosso poeta (1864-1930) à longínqua (na altura, seria mesmo muito longe) China. Não, não se tratou desse tipo de viagem. O que o título quis dizer é que Eugénio Tavares “viajou” até às terras do Oriente – possivelmente não terá sido a primeira vez – através da sua poesia, e no século XXI.
Tudo aconteceu quando em 2005, a Universidade de Macau me convidou para participar no curso de verão que o seu departamento de Língua e Cultura Portuguesa realiza com regularidade para estudantes e professores de português, da China, e outros vindos das Filipinas, do Japão e da Coreia, entre outros países da grande região. O curso foi dirigido fundamentalmente a professores de português, língua estrangeira.
Ora em 2005, alargaram o curso ao introduzir, entre as cadeiras ministradas na dita universidade, a valência: literaturas africanas de língua e expressão portuguesa. Foi nesse âmbito que tive o enorme prazer de dar a conhecer a alguns estudantes e professores de português língua estrangeira, alguns marcos e obras importantes da literatura cabo-verdiana, de que a poesia lírica de Eugénio Tavares é naturalmente parte pioneira. Daí que uma das actividades que mais me marcou foi ter ouvido a morna «Canção do Mar» mais conhecida como «Mar Eterno», cantada por estudantes e professores chineses, filipinos, coreanos e japoneses. Foi sem dúvida uma experiência marcante, pois que, para além de contos narrados e de leitura de poemas de outros poetas dos chamados PALOP, «Mar eterno» foi cantado a várias vozes, e escolhido pelos participantes nas actividades finais da disciplina para apresentação na “gala” que marcou o término do curso de verão.
Pois bem, terá sido qualquer coisa que me transportou para alguma universalidade, para alguma forma de globalização feitos através da palavra poética, da literatura e da música.
Na hora das despedidas, um dos professores de português, língua estrangeira, por sinal filipino, disse-me todo entusiasmado: «este poeta e esta canção vão ser parte da matéria das minhas aulas no próximo ano lectivo. Vou pôr os meus alunos a cantar em português».
Escutar a poesia de Eugénio Tavares, em vozes de outras culturas, tendo como denominador comum a língua portuguesa pronunciada de várias maneiras e tonalidades diferentes na emissão, e cantada com entusiasmo e modelações melódicas de encantar (passe alguma redundância) que mais parecia ter ultrapassado a simples obrigação do aprendente, tocando o verdadeiro desfrute poético/musical da morna do grande poeta bravense, terá sido sem sombras de dúvidas uma das mais gratificantes memórias que guardei dessa minha estada em Macau.
Não terminarei sem destacar que a voz nacional que me valeu e serviu de modelo através do CD, «Cânticos Crioulos Ao Mar» – que levei na minha bagagem de materiais didácticos, para que professores de português Língua estrangeira, daquele curso de verão aprendessem a morna «Mar Eterno» de Eugénio Tavares – foi a bela voz de Gardénia Benrós, a quem saúdo e agradeço.
Aliás, não vá sem acrescentar e mesmo a findar este pequeno texto, que tenho para mim, que Eugénio Tavares compôs muitas das suas mornas “a pensar” (que me seja permitida esta fantasia) com quase um século de permeio, na interpretação delas nas vozes de Sãozinha Fonseca e de Gardénia Benrós, tal é a sintonia poeta/letra/música/voz/intérprete e isto, sem qualquer desprimor para as outras boas vozes que também o já cantaram.

Ensino... Quo Vadis?

sexta-feira, 17 de julho de 2009
De facto é mister que se reflicta sobre este fenómeno de perda de qualidade galopante que se instalou de forma arrasadora no sistema público do ensino cabo-verdiano. O que terá acontecido? Como foi que deixámos a situação sair fora de controlo? Que “forças contrárias” provocaram a derrocada do ensino público nacional? O que terá acontecido, às nossas escolas? Aos professores? À forma como ensinam? O que ensinam, ou não ensinam?
Que os alunos estão cada vez menos preparados, é um facto. Seriamente deficientes em quase todas as disciplinas, com real destaque para a da Língua portuguesa que nem formas verbais conhecem e muito menos conjugá-las? Simplesmente calamitoso e lamentável!
Se havia algum sector de que nos podíamos orgulhar – quase sem reservas – era exactamente o do ensino público. Não que fosse algum ensino de excelência. Não, longe disso. Mas as escolas públicas e os professores de uma maneira geral inspiravam alguma confiança aos pais que preferiam até matricular os filhos nelas, do que em estabelecimentos privados. Embora, diga-se de passagem, que estes eram em número muito insuficientes e não gozavam, há uns anos atrás, de melhor fama didáctico – pedagógica do que as escolas do Estado. O cenário era completamente outro.
De qualquer forma havia ainda reservas de professores normais, no sentido de conhecimentos e de pedagogia, nas escolas públicas nacionais que sabiam transmitir a matéria devida a cada disciplina curricular o que fazia também com que a média dos alunos conseguisse adquirir em cada nível de estudos básico e secundário, o saber médio, adequado ao nível de estudos.
Hoje em dia, infelizmente, os alunos terminam o Secundário, entram para a formação superior sem saber falar e escrever a língua segunda e veicular do ensino; (Língua portuguesa) sem saber regras de socialização que o próprio meio académico básico e secundário acabavam por lhes transmitir, quando falhava o papel da família; sem ter lido qualquer livro, nem mesmo os manuais didácticos.
Enfim, com lacunas e etapas queimadas de forma gritantemente irreversível de tal forma, que por aquilo que me é dado observar, leva-me a pensar isto: O que será o amanhã – em termos de cidadãos e em termos de desenvolvimento – deste país com Recursos Humanos deste teor?

Transcrições e Citações

segunda-feira, 13 de julho de 2009
Sempre ouvi dizer que é correcto e cristão, “dar o seu a seu dono” acrescido de que é “pecado” (passe o exagero da piedosa expressão) “enfeitar-se com penas de pavão.” E isto tudo para não rematar que é abuso, por vezes de confiança entre nós, transcrever palavras e ideias de outrem sem usar aspas e itálico como se não fosse plágio. Sem entrar nos aspectos criminais que por vezes configura o assunto e em que incorre o plagiador.
Ora bem, venho notando em trabalhos escritos de estudantes das nossas instituições universitárias locais, nos trabalhos de fim de curso, a chamada monografia, como muitos deles, transcrevem por vezes, páginas inteiras copiadas de outros autores com a maior desfaçatez, sem cuidar de que estão a plagiar, sem cumprir o que mandam as regras, isto é, citar a fonte de onde extraíram as ideias, colocando as aspas e as letras em itálico. Pois bem, nada disso é observado e respeitado.
Resultado, quando chegar a vez deles de serem professores ou orientadores de teses finais, acharão ”normal” que o seu formando faça isso. E assim estamos nós a desenvolver no país – e fundamentalmente ao nível do ensino superior – com foros de normalidade, o incentivo ao plágio.
Tenho tido algumas arrelias a este respeito com os meus alunos a quem ensino que podem e devem citar e transcrever palavras e ideias de outros autores, para os trabalhos que elaboram, pois que isso só os enriquece. Ao mesmo tempo que lhes digo e lhes mostro claramente, que são eticamente obrigados, através das formas adequadas, a declarar as fontes e os autores até numa linha muito cristã de: «A César o que é de César…».
Quem diz transcrições, diz também citações, que as tenho ouvido, por vezes, em textos de palestras ou conferências locais, de gente já com responsabilidades outras que não as de estudante, sem alusão do conferencista ou palestrante ao facto de as estar a fazer. E tudo isso, na maior das tranquilidades, sem pestanejar e nem mudar de voz…

Disciplina da Língua Portuguesa?

Para o meu espanto, leio no número de Junho de 2009, do «Terra Nova», mais precisamente no seu: “ Miradouro” esta notícia com contornos de insólita a que não resisto transcrever a parte seguinte: «(…) um professor de português que se dá muito mal com a língua de Camões, fala habitualmente crioulo na aula (…)» (de português).

E isto passa-se numa “instituição de ensino superior” esclarece a mesma notícia.

Mas, minha gente, para onde vamos? Onde já se viu, ensinar português a alunos cabo-verdianos do ensino superior em crioulo?

É caso para corroborar com o escrito no jornal, exclamando: “pobres alunos!” Não se admirem depois da sua prestação nas outras disciplinas do curso, cujo suporte escrito é quase todo em português, nem tão pouco do seu desempenho em universidades de língua portuguesa sobretudo fora do país…

Ao que chegamos!

Correcções versus Incorrecções…

Nos dias que correm, brada aos céus a ausência de um «saber, e de um saber fazer” no atendimento do funcionário ou do trabalhador da função pública das nossas instituições públicas. O constrangimento é que o utente se apercebe logo – através da inexistência de uma linguagem adequada e específica – de que está perante um interlocutor pouco informado. Logo, pouco preparado e capacitado para lhe responder e para o esclarecer sobre o assunto que ali o levou.

E isto está-se a tornar regra no funcionalismo público nacional. Naturalmente que salvaguardo e cumprimento as excepções.

Um dos exemplos que seria caricato, não fosse a má imagem que transmite do serviço público, começa na base, isto é, na maneira como alguns, para não dizer muitos telefonistas nos atendem quando ligamos para os serviços do Estado ou organismos públicos. Ao invés de anunciarem, acto contínuo, o nome da instituição para o qual o cidadão ligou, respondem como se da casa deles ou delas se tratasse. Com um familiar e pouco próprio, para não dizer, pouco correcto, tratando-se do telefone do serviço: «Sim...im..im!» prolongado e íntimo, como se fosse telefone pessoal. E isto quando não resolvem atender, exclamando o já célebre: «É quenha?!».

De tal modo funciona assim que muitas vezes me sinto obrigada a certificar-me se de facto marquei correctamente o número do telefone da instituição ou do serviço para o qual pretendi ligar, ou se me enganei para uma casa particular.

Não haverá, por um feliz acaso, alguém mais ilustrado nos serviços públicos nacionais capaz de pôr a circular uma fórmula simples de como se deve atender o telefone? Custa acreditar!

Para quando um retomar o orgulho e o brio desta classe socioprofissional – o funcionário público – que já foi referência em Cabo Verde?

O Exasperante “TU”!

sexta-feira, 10 de julho de 2009
Tornou-se “normal” ou quase isso, ouvir jovens quadros licenciados ou estudantes das nossas universidades locais, tratarem o mais velho, o superior hierárquico, as pessoas que estão a conhecer pela primeira vez: por “tu”! Exactamente: Por “tu”! Usando a forma verbal na 2.ª pessoa do singular sem desconfiar da enorme «gaffe» que estão a cometer.
Pessoalmente, tenho “sofrido” com esse tratamento familiar, íntimo e normal entre colegas, mas trato imediatamente de corrigir o meu jovem interlocutor, sempre que posso, sobretudo se se trata de alunos universitários ou a isso aspirante e que não sabem utilizar a forma verbal – que estão a empregar – na 3.ª pessoa do singular e numa situação formal de fala, ou quando se dirigem a mais velhos.
Exemplos disso colecciono-os fartamente. Este por exemplo, em plena aula: «Professora, vais (em vez de vai) entregar os testes hoje?» Ou, quando bato à porta da sala antes de entrar e pergunto: «Posso entrar?» Ouço como resposta: «Podes!» (em vez de pode) Esta «nova» gramática que seria irreverente se não fosse praticada por pura ignorância, está alastrar-se e a ganhar dimensões formalmente incorrectas entre nós. É escutar de jovens senhores engenheiros, ou senhores doutores – maioritariamente formados ou em formação nas universidades locais – a tratar por «tu» e em plena ocasião formal da fala, gente mais velha, ainda que colega de trabalho, mas sem intimidade que permita esse tratamento! Por desconhecimento das regras da fala formal.
Na verdade torna-se quase exasperante, actualmente ouvir gente portadora de um diploma, gente jovem universitária ou de muita escolaridade não saber empregar correctamente a forma verbal na terceira pessoa do singular!
Para os lusófonos de uma maneira geral, os que cá estão a trabalhar ou a viver, ou que nos visitam, estranham esta forma de tratamento interpessoal do cabo-verdiano, que sem qualquer “laço” ou intimidade que o autorize, expressam-no logo ao primeiro contacto.
Isto «ilumina» também um pouco a questão: como vai a nossa língua segunda?
Torna-se necessário e urgente uma acção concertada dos professores, nomeadamente, os da Língua portuguesa de todos os níveis escolares, ensinarem os alunos como se dirigir, como tratar as pessoas mais velhas, os professores, os superiores hierárquicos, isto é, ensiná-los que, nestas situações, ao empregar qualquer forma verbal devem sempre ir buscá-la à 3.ª pessoa do singular.
Bom seria que os professores cabo-verdianos começassem por despistar este erróneo emprego da forma verbal na 2.ª pessoa do singular, tratando eles próprios os seus alunos na formação post-secundária ou universitária com a forma verbal na 3.ª pessoa do singular e não por «tu», pois que, o aluno/formando actual, por desconhecimento de regras formais sociais, não apreende e não distingue em que meio e/ou em que situação deve tratar ou não por “tu”.

Irresponsabilidade Alvissareira?

O título com uma configuração quiçá “neológica,” pois que alvissareira deve derivar de alvíssaras, notícias, novas dadas com algum estardalhaço, foi-me sugerido pelo desassossego, pelo mal-estar provocado entre os familiares e próximos do escritor Luís Romano que o sabem vivo e que um jornal desta nossa praça, efabulista por natureza, numa notícia de muito mau gosto, resolve anunciar a morte do poeta, ensaísta e romancista cabo-verdiano, em primeira página. A efabulação foi a tal ponto que até lhe inventaram um novo curriculum. Fizeram do nosso Luís Romano, companheiro de Mário Soares e de Manuel Alegre em Argel. Tanto quanto se sabe, Romano nunca esteve em lides políticas em Argel e muito menos perseguido pela PIDE, como vinha na notícia títere. Viveu sim, alguns anos em Marrocos, onde trabalhou como técnico de salinas.
Enfim, a todos nós chegará o dia. Certíssimo. Mas quando chegar! São das tais coisas que não devem ser precipitadas, pois não há emenda que as redime. Nem sempre o querer ser mais alvissareiro do que o jornal vizinho, foi sinónimo de notícia séria. E o resultado, deu no que deu: toda uma família em polvorosa! Sejamos honestos e prudentes na informação para merecermos alguma credibilidade.

“Fantasmas”?...Ainda?!

Aqui há dias tendo-me dirigido ao antigo Instituto Superior de Educação ex – ISE, hoje Universidade de Cabo Verde, deparei-me com uma exposição fotográfica, no átrio do edifício e intitulada «Lusofonias». Demorei-me nos painéis ou cartazes expostos, os quais através de fotografias – postais - ilustravam cada um dos países da Comunidade, CPLP, aliás, identificados pela bandeira respectiva. Até aqui tudo interessante. Estranhamente, frente ao cartaz que ilustrava Portugal e que devia conter igualmente postais das belas paisagens e lugares daquele país, à semelhança do que fora feito em relação aos outros sete países da CPLP, o que vejo? Apenas a bandeira nacional identificadora. O painel gigante vazio. Monologuei: «Mas não é possível que continue a existir algum trauma (?) encoberto em relação a Portugal e que tenha chegado a este ponto? Sim, porque de certeza, se os organizadores da exposição tivessem pedido material sobre Portugal à delegação do Instituto Camões, instalada no mesmo edifício, ao Centro Cultural Português, creio que o teriam obtido capaz de cobrir todo o painel.»
Pouco depois, falando ao telefone com um colega sobre a minha estranheza e um pouco no pressuposto que só eu havia reparado no desequilíbrio do expositor vazio, percebi que felizmente também ele o havia feito e estava – acentuava ele – negativamente surpreendido por tal postura na apresentação de, exactamente: «Lusofonias». Como excluir Portugal disso? Era a questão! Tornava-se quase anedótico.
Isto vem a propósito desta estranhíssima postura mental que certos cabo-verdianos da classe média – que não o povo sociologicamente diferenciado – têm ou querem demonstrar ter em relação a Portugal. Adoram lá ir, podem fazê-lo e fazem-no com alguma frequência mas sempre maldizendo e querendo que se perceba de que não gostam de…
Outros acham-se no direito de criticar Portugal (como se fossem nacionais) sem pensar que estão ser indelicados para com um país amigo e excelente parceiro no desenvolvimento de Cabo Verde, mas em todo o caso também estrangeiro. Como diz um familiar meu: «os nosso crioulos que lá vivem, muitos deles, acham-se mais donos da terra do que os próprios portugueses. Se calhar se se sentissem um pouco mais “de fora,” até que o comportamento e a integração deles poderiam ser bem melhores»
Mas isso é de tal modo, que chega a ser hilariante o facto de alguns nacionais que vão de férias a Portugal, se nessa mesma ocasião intentam ir à Espanha, por exemplo, mesmo que seja apenas por dois dias, num período de um mês, já vão avisando antes do embarque, a amigos e a conhecidos, que vão de férias à Espanha! Bem, até se pode explicar isso talvez pela naturalidade com que para eles é ir a Portugal.
De qualquer forma não deixa de ser algo de anormal na actualidade, este comportamento no mínimo atípico face a Portugal e que nunca mais acaba…
Por que não apreciar, e já agora, sem reservas, a terra linda que é Portugal, o seu povo, o seu desenvolvimento, as suas cidades, os seus monumentos, os seus museus, as suas Livrarias e Bibliotecas, a sua gastronomia e o seu vinho? Enfim, o bom e o belo que lá existe, ao invés de accionar os mecanismos que relevam este anacrónico comportamento mental que, à falta de melhor, estou tentada a classificá-lo, de absurdo.
Daí a questão: “fantasmas”!.. Ainda?
Como é por vezes estranho e deveras bizarro o comportamento humano!

Apresentação

quinta-feira, 9 de julho de 2009
Chegou o CORAL Vermelho que pretende ser um espaço de diálogo interactivo, salutar e fraterno entre todos os que nele entrarem e queiram connosco, através de temas e de assuntos vários enriquecer este painel coralino.

Porquê CORAL Vermelho? E porque não? Eis a questão que nem chega a sê-la. Isto para vos dizer que afinal um nome é apenas um nome. Nada mais que o nome das coisas…ou talvez não, diria o poeta.

Mesmo assim procurou-se na simbologia inerente ao coral a íntima ligação com o mar e por extensão também simbólica, a significação com a ilha. No caso com o arquipélago. O que para nós, contextualizados nos mesmos ritos culturais, facilmente o adoptámos. Além disso, o coral representa a união, uma certa solidariedade e a firmeza rochosa que estão na sua génese. Não esqueçamos que o coral, um minúsculo organismo, que se apresenta sempre unido em colónias ou recifes de coral, é o obreiro de uma das mais grandiosas estruturas construídas por um ser vivo.

Outrossim, não nos são indiferentes o policromatismo e o multifacetismo da espécie, a arborescência da sua estrutura e a sua beleza provocadora e algo agreste, nomeadamente do coral vermelho, patrono do nosso Blog; o que, retomando a simbologia correlata ao coral, poderá significar que o pluralismo na abordagem e na apreciação dos temas que aqui se vão postar, a correcção, o respeito pelo espaço (latu sensu) do outro e um certo «savoir-faire», serão de certa forma, tal como a beleza, a natureza gregária e a firmeza que imanam do coral, as marcas relevantes que desejamos que timbrem o dito e o escrito no CORAL Vermelho.

E já agora, uma curiosidade interessante: explicam a fauna e a biologia marinhas que o coral vermelho é de águas relativamente profundas e para além de ser dos mais belos de entre a espécie, é o mais raro.