Austeridade ou Cosmética?

segunda-feira, 31 de outubro de 2011
Alguém comentou comigo que a Ministra das Finanças anunciou fusões de instituições com vista a “emagrecer” – não teria usado esta estafada palavra – as “gorduras” (outro termo igualmente desgastado) do Estado. Falou na necessidade de austeridade e contenção com a coisa pública.

Não me surpreendi uma vez que sei tratar-se de uma pessoa lúcida num governo completamente desnorteado por falta de uma equipa preparada e de um verdadeiro timoneiro capaz de traçar com rigor um rumo e indicar o “caminho certo”.

Aliás, amiúde ela, a ministra, vem corrigindo as fantasias do nosso PM que ora parece não conhecer o País que tem; ora por vezes, deixa a impressão de não saber situar-se.

E isto, quer no contexto nacional com o anunciado – imagine-se! Pós-eleições e com a crise da Euro-zona e dos Estados Unidos já quase no apogeu – aumento de regalias sociais e 13º mês; quer em contexto internacional como aconteceu recentemente nas Nações Unidas com a leviandade do uso do crioulo esquecendo-se de que Cabo Verde pertence a duas organizações internacionais (PALOP e CPLP) criadas especificamente com base numa língua comum – a portuguesa – em busca de afirmação e reconhecimento global como tal.

Voltando à anunciada fusão das instituições, é bom que não se esqueça a Ministra das Finanças de lhes associar um novo paradigma de gestão. Poderá não ter peso nenhum, mas é uma questão de moralização e de alguma indicação de “austeridade”.

Existem muitos conselhos de administração com administradores “fantasmas” e inúteis. São apenas “jobs for the boys” pois auferem, os administradores, não senhas de presença mas salários mensais sem uma efectividade para os merecerem.

É o modelo sustentado e generalizado por este governo, num gesto mimético em relação às congéneres estrangeiras, sem uma análise séria e honesta da dimensão de cada instituição e das características específicas das respectivas actividades, (vide instituições que dantes eram geridas com um presidente ou director-geral ou mesmo director e hoje são dotadas de um relativamente oneroso mas pomposo, inócuo e virtual conselho de administração).

Trata-se também de uma importação deliberadamente acrítica para o sector público de figurinos do sector privado com intenção de iludir a população com medidas “legais” mas visando objectivamente satisfazer uma boa franja partidária que é preciso alimentar para calar e fidelizar.

Só que no sector público somos nós os contribuintes que pagamos as despesas dos sonhos, devaneios e “compromissos”, com alguma incompetência de permeio, dos dirigentes do Estado.

Que venham pois, e já, essas medidas de austeridade e de contenção e que não fiquem só em anúncios e em fusões de instituições e não sejam apenas cosmética para iludir os “parceiros” de desenvolvimento que vêm contribuindo de forma generosa para alimentar alguns disparates e o permanente eleitoralismo dos nossos governantes.

A. Ferreira

Destino!?...

sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Antes de entrar no tema que faz supor o título deste escrito, abro um parêntesis para contar o seguinte: o Armindo costuma, dizer-me a brincar, que eu escrevo por qualquer pretexto, «pronto, lá vai ela escrever!» comenta ele. Quem dera que assim fosse! E respondo-lhe também meio a brincar, meio a sério, que algumas vezes, os meus escritos são para “despistar” o terrível “senhor alemão” e mantê-lo o mais afastado, tanto quanto me for possível. Fecho o parêntesis.
Mas o assunto que aqui me traz nem é feliz, bem pelo contrário, faz-nos ver a vulnerabilidade humana e a sua degradação conduzidas algumas vezes pelo próprio sujeito.
Foi assim: aqui há dias a minha Empregada, acabado o trabalho, despediu-se e ouvi-a fechar a porta após um: «até amanhã, se Deus quiser!» Passados nem dois segundos, volto a ouvir um toque da campainha da porta, pensei com os meus botões: «Deve ser o David! mal pressente que estou sozinha, vem bater-me à porta!». Desço para a abrir e era de novo a empregada que se havia esquecido do telemóvel. Digo-lhe: «Ah! Julguei que fosse o David!» resposta dela: «Ah! D. Ondina! Esqueci-me de lhe dizer, o David foi a enterrar no fim-de-semana. Morreu numa valeta de uma rua qualquer. Diz-se com ataque de coração».Fiquei meio perplexa, que é como se fica normalmente com uma notícia desta e apenas comentei: «Coitado! Paz à sua alma!»Hão-de me perguntar quem é ou, quem era o David?
Ora bem, comecemos pelo princípio. Conheci o David na década de oitenta, meados ou finais, já não posso bem precisar, só sei que ele era então ainda um jovem homem, artesão e que me vinha bater à porta para vender as suas peças acabadas de fazer. Eles eram candeeiros de casca de coco, quinquilharias de tartaruga (ainda não havia a boa proibição da caça a esta espécie marinha) ícones de barro, entre outros objectos. Eu comprava-lhe as peças mais para o incentivar a continuar com o ofício do que propriamente porque as queria. Embora seja apreciadora de um bom artefacto.
A determinada altura, apercebi-me de que o artesão já não andava bem, bebia ou drogava-se, não posso afirmar, mas que me parecia isso, parecia. Falava alto, sozinho, alterado. Passou a vir bater à porta quase todos os dias. Por vezes mais do que uma vez por dia. Gritava pelo meu nome quando lhe diziam que eu não estava ou estava ocupada.
Por fim já trazia peças inacabadas, e algumas que me pareciam não serem dele, mas sim subtraídas por ele a algum colega.
Enfim começara a sua degradação, a desgraça e a sua queda. Deixou de trabalhar a sua arte. A desleixar-se no vestir e na higiene pessoal. Passou a pedinte, a vagabundo de rua, parecia mesmo um quase sem-abrigo. Vinha já pedir comida e, sobretudo, dinheiro. Dava-lhe ou, mandava dar-lhe algum leite, pão, bolacha, ou sopa, pois que me parecia que cada vez mais se reflectia no corpo muito debilitado, os efeitos devastadores da bebida e da droga. Igualmente pelo Natal, oferecia-lhe sempre uma prenda em dinheiro. Mas o seu comportamento piorava de dia para dia em termos de boas maneiras. Passou a exigir em alta briga (como se fosse um direito adquirido) à empregada, a todos da casa, dizendo que eles não estariam a cumprir as minhas ordens em dar-lhe o que estava a pedir. O que é certo é que tantas fez que já ninguém tinha paciência para o ouvir quando cá vinha à porta de casa. Numa palavra: passou a “abusar” da dita “bondade do próximo.”
Voltando ao passado do David, do tempo em que ainda novo e artífice (promissor); do tempo em que participava com as suas peças em feiras e em pequenas exposições de artesanato e em que ele estava enquadrado no Centro de Artesanato. Era um tempo de intensa cooperação com países (sobretudo europeus) que ajudavam Cabo Verde. Havia cooperantes de várias nacionalidades. Eles e elas, franceses, suecos, suíços, italianos, portugueses -embora estes últimos não fossem considerados propriamente “estrangeiros” – entre outros. Mas que os havia em notável quantidade e de diversas nacionalidades, era então um facto.
Contaram-me – não posso garantir a veracidade disso – que ele se envolvera numa relação amorosa com uma cooperante e que quando esta terminou a missão – assim se denominava na época, o serviço prestado pela cooperação dos países que ajudaram Cabo Verde nos primeiros anos após a independência – quis “levá-lo” com ela de regresso ao país de origem. Ela estava no ramo e saberia como enquadrá-lo no seu ofício. Segundo a minha relatora, ela pediu, suplicou-lhe, lágrimas pelo meio, mas David ter-se-á recusado, pois começara a beber e a usar alucínogenios (?). Enfim!...
Conta-se que, inclusivamente, isso foi mote de uma coladeira muito em voga nessa época. Ficou na terra e não tardou a processar-se (não por este motivo) a auto-destruição do homem.
Um dia em que ele me pareceu mais sóbrio, perguntei-lhe timidamente, pois sabia que estava a “invadir território muito pessoal” o porquê dessa recusa, que certamente lhe teria mudado – para melhor – quem sabe! O rumo da vida? Ele apenas me respondeu: «Destino!?...Olhe nem sei! …»E ao saber a notícia da sua morte, veio-me à memória esta espécie de presságio/sentença de vida, dita pelo próprio.

Isolacionismo Linguístico?

domingo, 23 de outubro de 2011
Quando num dos meus escritos aqui publicado, me referi à forma descontextualizada e sem mesura com que o nosso Primeiro Ministro usou o Crioulo no seu discurso na Assembleia-Geral da ONU, fi-lo com os dados que tinha no momento em que escrevi o texto.
Posteriormente, em contacto com entidades ligadas à CPLP, nomeadamente de Angola, Brasil e Portugal, pude perceber o porquê da reacção pouco positiva dos nossos parceiros deste grupo.
Se não vejamos:
1 – Depois de muitas “batalhas” do grupo CPLP, para que a Língua portuguesa seja de facto – ela já é de há muito, e oficialmente, uma das línguas desse grande fórum mundial – um dos idiomas realmente assentes no plenário das Nações Unidas;
2- Não vá sem acrescentar que esta vontade cada vez mais reiterada da CPLP relativamente à Língua comum, tem vindo a acontecer igualmente em muitas outras organizações e em outros fóruns internacionais, com alguns resultados muito encorajadores;
3 - No momento em que os “holofotes” da ONU estavam virados para Dilma Rousself, a Presidente do Brasil, que fez um globalizante discurso de abertura em português, o que fez que acontecesse, de alguma forma, o “momentum” da Língua Portuguesa;
4 - Quando na mesma direcção se seguiram os discursos de Angola, Moçambique, e outros, eis que surge isoladamente, como que “caído de uma galáxia distante” Cabo Verde a discursar em Crioulo o que configurou uma contrariedade a essa afirmação.
Ora bem, quem já andou em fóruns internacionais, conhece as regras – os diplomatas e os políticos fazem concertações constantes ao longo das sessões, entre si e com os grandes ou, pequenos grupos de países a que estão ligados por diversos motivos, ou interesses, para atingirem determinados objectivos. Normalmente giza-se uma estratégia de grupo. E desta vez com o brilharete da Presidente do Brasil, seria a hora da consagração, da afirmação e da consolidação da nossa Língua comum. E parece ter sido a isto a que faltou e falhou precisamente ao nosso representante orador na Assembleia-Geral da ONU. Ficou isolado. Daí que alguns da CPLP tenham abandonado a sala, seguramente descontentes com a prestação de Cabo Verde no contexto.
Na verdade o PM cabo-verdiano não cometeu nenhum “crime” com isso. Nada disso se tratou. Mas que foi inoportuno e descontextualizado e que configurou algum menosprezo, ou alguma menos valia pelos termos de pertença de Cabo Verde à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, creio que dúvidas não sobram. Igualmente, não existem dúvidas, de que ele não soube reger a finalidade importante da nossa língua segunda que é exactamente para a comunicação exterior /internacional.
Como defensora acérrima do bilinguismo, faço votos que da próxima vez, saiba o nosso PM distinguir o espaço e o contexto para a utilização de cada uma das nossas duas línguas.

A História é por vezes interessantemente irónica!...

domingo, 16 de outubro de 2011
Por vezes ocorre-me pensar sobre as ironias e os paradoxos e, quiçá, as “partidas do destino” que o curso da nossa História nos prega!
A este propósito vieram-me à mente alguns acontecimentos recentes. Sobre eles vou já e antecipadamente, pedindo desculpas aos visados, pois que de ausência de saúde se tratou, o que é sempre um problema delicado e complicado. Só quem não passou por ele...
Mas não deixa de ser irónico verificar que os Dirigentes – das ex-colónias ou ex-Províncias Ultramarinas de Portugal, conforme a óptica – à mínima “dor de dentes, ou de cabeça,” zarpam ou, para a antiga Metrópole, pátria do malfadado colonialismo, (à qual ainda rotulam quando lhes convém, desde que sirva o discurso para confundir os portugueses com o antigo colonialismo) mas que, no entanto e quando doentes, não dispensam os seus bons médicos, os seus bons hospitais, etc., etc. (vide as notícias relacionadas com a recente operação do PM cabo-verdiano em Lisboa.
Por sinal, e ironicamente, o mesmo governante que aqui há uns tempos os havia convidado (os portugueses da Electra/EDP) a saírem pela praia da Gamboa, (?)
Mas isto é outra história que mostra como é bonita a boa educação!
Igualmente, o corpo do antigo e primeiro PR de Cabo Verde veio de Coimbra de um dos seus melhores Hospitais em que esteve em tratamento.
Tal como também por lá ficou o do primeiro PR da Guiné-Bissau, anos largos a viver na antiga Metrópole, (a quando do Golpe de 1980) com pensão e casa conferidos pelo Estado português.
Tudo isto não deixa de ser bizarras ironias das nossas independências (?)...
Em resumo, concluo e estou eu em crer, que teríamos melhor sistema nacional de saúde se, de vez em quando, os nossos governantes fossem também tratados num dos hospitais destas ilhas e/ou nos do país de origem… Aí sim, aí haveriam de se dar conta das nossas reais e gritantes carências.
Quando no ano passado, estive no Hospital de Bissau (outro país em que os seus mais altos Dirigentes vão directo para a Europa, ao mínimo mal-estar) para assistir a um familiar querido, pude verificar o estado lastimoso e indigente em que as instalações se encontravam, e pensei com os meus botões: «Aqui não entra de certeza, nenhum governante do país para se tratar…Isto, é para o “nosso povo” – como gostavam ou gostam de dizer – que eles não!»

Volto a repetir que não gostaria que isto fosse entendido como qualquer escrito de menos respeito a qualquer paciente. Longe de mim semelhante atitude! Sobretudo, porque toca a saúde.
Trata-se apenas de uma brevíssima reflexão sobre algo que não deixa de ser intrigante se o entendermos como vindo de “patriotas e nacionalistas” que por vezes até exageram isso «chauvinisticamente» nos seus inflamados discursos de auto-suficiência, quando bem lhes convier.
Como cantou Chico Buarque de Holanda em celebração ao “25 de Abril de 1974”: «Portugal ainda seria um imenso império colonial!» Estaria o poeta compositor brasileiro a profetizar?...Quem sabe!
Eu terminarei, citando a velhíssima máxima: «Nunca digas: desta água não beberei!».

Malfadadas energia e água (I)

quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Não existem super-homens, nem super governos. Este governo do Paicv vive tempo de mais a anunciar coisas bonitas, num ritmo frenético e imparável, mas quando se vai ao fundo das coisas, aos resultados, em muitas áreas essenciais o governo falha clamorosamente. A maior bette-noir deste governo é o sector da energia e água. É onde tem passado as maiores agruras ao mesmo tempo que nos acena com milagres futuros.

O povo cabo-verdiano clama por um mínimo de cada um desses bens essenciais – energia e água. No entretanto, vive-se uma situação caótica numa empresa pública detida a 100% pelo Estado. Ao mesmo tempo que a sociedade se manifesta – ainda que timidamente – o governo fixa novo prazo: Fevereiro de 2012. Para uma dita, prometida há muito, resolução do problema.

E o mesmo governo parece esquecer-se do seu pecado original cometido em 2007 com a re-nacionalização da empresa e com a saída da EDP. Claro que encontrar razões atrás é sempre muito fácil e é outra forma de a culpa morrer solteira, que é outro nome para um comportamento corriqueiro em CV.

Este governo, o governo do Paicv que caminha para 11 anos de governação ininterrupta, é o primeiro e principal responsável pela situação de carência em que vive a população à cata desses dois bens básicos. São bens em que importa o Estado garantir mínimos, no acesso e no fornecimento. E são uma evidência as dificuldades, os problemas, as complicações, o descaso em que temos vivido neste últimos longos anos.

Em momento mais oportuno, poder-se-á revisitar o que para alguns terá sido a fonte de todos os males actuais da empresa: a privatização. É visto como se a partir de uma palavra mágica – privatização – todos os males do mundo pudessem esvair-se. Neste momento e analisando a realidade mais próxima, importa ver o trajecto de 2007 até ao final deste ano da graça de 2011. E este período, para não ser exagerado, é um período de uma confusão total. Diga-se que os erros cometidos antes de 2007 no processo EDP, cujos donos foram convidados a abandonar o país através de uma das nossas muitas praias, também contribuíram e muito para a difícil situação em que vivemos.

O Estado ao assumir a empresa, recebeu-a em difícil situação económica e financeira com o agravante da assunção de um aval a um empréstimo obrigacionista de 4Mcontos, cujos juros têm sido pagos desde então e cuja 1ª prestação de capital de 1,3Mcontos vence no inicio de 2012. Ao mesmo tempo o Estado “comprou” problemas futuros graves tendo ficado com a responsabilidade de fazer os investimentos necessários na produção e distribuição, que são de grandes e elevados montantes.

Por este ser um tema recorrente e de sofrimento permanente, aparecem sempre muitas vozes. E como se sabe cada cabeça sua sentença. Mas convenhamos, ele há cada argumento: uns é porque somos nós, a sociedade, que não pagamos as facturas; outros são porque fazemos ligações clandestinas; outros ainda porque furtamos energia. São comportamentos condenáveis, sem dúvida, mas esconder-se atrás deles para não se assumir as responsabilidades em termos da condução da política energética e de água, é de uma tremenda desfaçatez … Fala-se por exemplo que a Electra precisa de 150mContos por semana para combustível. Ah é? E porque é que a empresa de logística prevista desde 2004 ainda não saiu do plano das intenções? Ou seja, nem chegou ao papel. E isto representaria economias importantes na estrutura de custos da empresa. E tendo o peso que tem nos custos, o preço do combustível é fixado administrativamente pelo próprio governo (não mencionar a ARE é deliberado), o que quer dizer que essa responsabilidade também lhe cabe.

E mesmo nas algumas boas ideias que também existem, em abono da verdade, como p.ex. a introdução das energias renováveis, a situação complica-se com as opções feitas – o caso mais gritante são os parques voltaicos de Santiago, Sal e Boavista, em que se escolheu uma tecnologia não madura e ainda por cima menos eficiente. E porque entrou na sua própria armadilha quando re-nacionalizou a empresa em 2007, cujo maior beneficiário foi a EDP que se libertou do compromisso de investimento de 18Mcontos e ainda encaixou 4Mcontos num negócio onde poderia perder 7Mcontos. E aí o governo ficou com a “criança nos braços”. Enfezada, debilitada, sem estrutura, quanto mais músculo financeiro. Enfim, uma dor de cabeça daquelas! E podemos concluir hoje que o governo não teve consciência do que tinha em mãos. Se calhar ainda não a tem na totalidade.

E nós outros? Os que parecem mais se indignar, pelo menos em certos fóruns, na verdade são uns privilegiados. A maioria da população sofre, e muito, com a ausência de luz e água, principalmente este último bem básico que chega ainda de forma racionada, a conta-gotas, a essa maioria. E como é que fazemos para que em 1º lugar o governo assuma as suas responsabilidades porque elas vão também desabar sobre nós, através dos impostos ou de divida futura do Estado? É que só depois disso, só depois do governo assumir os seus erros enormes e a totalidade das suas responsabilidades, poderemos aceitar que se trata de um problema complexo, difícil de resolver, e não com passes de mágica, como tem este governo do Paicv tentado fazer. Necessitará pois, por muitos anos, de investimentos públicos significativos. Só então aceitaremos datas que sejam razoáveis para atenuar o problema, ao mesmo tempo que deveremos conhecer resposta às seguintes questões:

1. Quais são os capitais necessários para fazer a reestruturação económica e financeira da Electra?

2. Quanto capital vai ser preciso injectar?

3. Como vai o governo criar, a jusante, as bases de operação da empresa em termos do ambiente regulatório, do preço de combustível, da empresa de logística…?

4. Depois de conhecer resposta aos três pontos anteriores há que fazer com que a gestão da empresa se ponha a fazer pela vida, a tratar do seu trabalho de casa em minimizar avarias, em conseguir distribuir o que produz e em cobrar o que distribui.

E só isso poderá trazer alguma luz ao fim do túnel na resolução deste grave problema que Cabo Verde atravessa. Mas não queremos mais manipulações nem queremos mais mistificações. Dizemos um veemente BASTA! Queremos respeito, transparência, verdade e trabalho. Muito trabalho!

Paulo Figueiredo

Registo sem glória?

sábado, 8 de outubro de 2011
Contaram-me, não ouvi e nem vi. Andava eu na pátria de Dante Allegheri em turismo histórico pela bela Itália.
Contaram-me que o nosso PM terá discursado em crioulo, em língua cabo-verdiana na sessão de Outubro das Nações Unidas.
Não sei os motivos que o terão levado a usar a sua língua materna de uso interno, no plenário internacional, quando ele possui, sobretudo para essa finalidade, a nossa também língua portuguesa que é pertença de uma vasta comunidade.
Se foi para “colocar” Cabo Verde, em algum roteiro exótico, não tenho tanta certeza que ele o terá conseguido, visto que hoje o investimento e o turismo procuram destinos que falam algum idioma mais global…
Resultado: as delegações presentes de Angola, Brasil, Moçambique, Portugal, numa palavra e ironicamente, a CPLP, saíram da sala, pois nada entendiam da fala do orador, com a agravante de não ter sido providenciado qualquer serviço da tradução do crioulo para o português.
Duma assentada o PM cabo-verdiano criou alguns anti-corpos com o seu exotismo. Pois o facto de a CPLP o não ter percebido é no mínimo bizarro, pois ele (o PM cabo-verdiano) é portador da língua comum, base da fundação da grande instituição que historicamente une os países e os povos que a falam, a escrevem e são nela escolarizados.
Será que ao PM cabo-verdiano faltou a noção de escala e de contexto da língua cabo-verdiana ou do crioulo ao nível global? Será que ele incluiu também a tremenda e a estrutural dependência deste pequenino país?
Fica aqui este registo … sem glória.