sexta-feira, 23 de novembro de 2018
A BATALHA DE MONTES CLAROS E O SEU SIGNIFICADO NA ESTRATÉGIA DA RECONQUISTA DA INDEPENDÊNCIA DE PORTUGAL                                                       

                                                     

      A batalha de Montes Claros, ferida em 1665 no lugar alentejano conhecido por esse nome, foi a cartada final da estratégia militar portuguesa para a defesa da independência nacional. Longo fora o percurso iniciado no Terreiro do Paço em 1 de Dezembro de 1640, mas a decisiva vitória alcançada em Montes Claros conduziria ao acordo de paz entre os beligerantes.

      A vitória obtida nesta batalha foi, assim, o corolário de toda uma estratégia geral iniciada por D. João IV que, em crescendo, e tendo mais tarde à frente o 3º conde de Castelo Melhor e o conde de Schomberg, viria a aprontar Portugal com as condições necessárias para se poder opor, decisiva e energicamente, aos desígnios unificadores da Espanha.

      No âmbito da estratégia política interna, foi decisiva a política de afirmação da autoridade do monarca restaurador, em simultâneo com a recuperação económica e financeira do país levada a cabo com o lançamento do imposto de guerra e outras medidas paralelas. Não foi fácil vencer a oposição de indecisos, oportunistas e prosélitos remanescentes do rei de Espanha, que se manifestaram nos primeiros anos da Restauração, congeminando erupções conspiratórias. Por vezes, foi preciso usar de pertinácia e ductilidade táctica na relação com os sectores sociais mais influentes, em especial com a Igreja e a Inquisição, quando as prioridades do Estado colidiam perigosamente com interesses particulares ou quando a finalidade da repressão religiosa se confundia sub-repticiamente com objectivos inconfessáveis. 

      Reorganizou-se a estrutura de direcção política do Estado, na metrópole e no ultramar, e retomou-se gradualmente o controlo militar e administrativo de todos os domínios, à excepção de Ceuta, que nunca se recuperou. Se tivermos em conta a diferença abismal entre as tecnologias do mundo de hoje (projecção de meios militares em teatros de operações distantes, comunicações, transportes, etc) e os recursos disponíveis no século XVII, a acção empreendida por Portugal foi algo de verdadeiramente colossal, o que nos impele a reflectir sobre a tibieza e a frouxidão de ânimo que às vezes parecem tolher os nossos passos nos desafios da actualidade, tanto
mais quando, ontem como hoje, éramos um país de bem menor capacidade demográfica que os seus opositores, na disputa dos mesmos interesses.

      Mas a estratégia militar é seguramente a menina bonita do esforço realizado por Portugal ao longo da trajectória da Restauração. Partindo de uma situação de manifesta vulnerabilidade e de potencialidades diminuídas, foi preciso mobilizar a nação para pegar em armas e defender a sua independência contra um dos mais poderosos, experimentados e modernos exércitos da Europa. Portugal não possuía praticamente exército em 1640, pelo que foi preciso recuperar os alicerces das antigas estruturas institucionais para obrar um aprontamento militar à altura das circunstâncias. A luta pela defesa da independência foi um continuum de esforço e de vontade que atingiu o cume quando o notável estadista, conde de Castelo Melhor, tomou nas suas mãos as rédeas do país. Uma das cartadas decisivas foi a escolha do Alentejo como o teatro de operações onde tudo se decidiria, bem como a percepção da importância fundamental dos serviços do conde de Schomberg, cujo papel foi decisivo na modernização e actualização doutrinária do exército e na condução das batalhas finais e decisivas.         É certo que a Restauração ficou decisivamente a dever-se às elites sociais que nunca sentiram estiolar o seu amor pátrio e que, junto do seu Rei, fizeram a balança pender para o lado do Portugal livre, nos momentos em que alguns quiseram lançar a dúvida e semear o descrédito. Mas o povo anónimo, tal como já acontecera na revolução de 1385, foi uma constante de patriotismo e generosidade em todas as horas críticas, desde o Terreiro do Paço em 1 de Dezembro de 1640 ao campo de batalha em Montes Claros, em 1665. O patriotismo pode, em certas conjunturas, andar aos baldões no coração de certas classes sociais, mas na alma do povo é nas horas difíceis que esse sentimento ressuscita com mais vigor e energia.

      Neste novo século, os desafios que enfrentamos são incomparavelmente menos espinhosos do que os que arrostámos naqueles tempos dramáticos de outrora, quando o preço a pagar pela nossa indiferença ou pusilanimidade seria por certo a perda da independência. Hoje, as armas que queremos utilizar são para um campo de batalha diferente, porventura benigno mas nem por isso menos exigente, pois a vitória que almejamos é sobre a pobreza, o atraso e a ignorância. Hoje, a Espanha é um país vizinho com o qual não rivalizamos senão na porfia da inovação, do querer e da determinação, para construirmos, cada um a seu modo, sociedades humanas tão dignas e tão prósperas como as mais avançadas. Contudo, nesta encruzilhada para a construção do futuro, é importante ter sempre presente que as armas podem ser diferentes, mas a alma com que as brandimos em nada pode diferir daquela que agigantou os nossos antepassados naquele dia 17 de Junho de 1665 em Montes Claros.   

                                           

Adriano Miranda Lima

Condecorada Eu??...

segunda-feira, 12 de novembro de 2018



Pergunto-me a que propósito? Por que feitos valorosos? Apetece-me ironizar.
Estas interrogações surgem  pelo facto de ter lido na “net” a notícia (já há algum tempo, que ela aí circula como parte do meu “curriculum vitae”) inventada e acrescentada por outrem que não eu, de que eu fora condecorada.
Se há coisa que me provoca indignação é o enfeitar-se com penas de pavão, como sói dizer-se e no caso, de “latão”. Não, isso não constitui o meu género e nem faz o meu timbre.
Nunca fui condecorada. Que fique bem esclarecido!
Independentemente de ser avessa a certas e determinadas condecorações - mas isto é um problema meu - nada tenho e nem devo ter contra que outros o possam ou o devam ser.  Pelo contrário, algumas medalhas e diplomas são muito bem atribuídas.
Mas isto não é para aqui chamado a intrometer-se no que venho. E eu venho protestar contra a falsa notícia que circula na rede social de que eu fora condecorada.
 Na verdade fui contactada para esse efeito. Sim, fui. Há já mais de uma década. Precisando, nos inícios de 2000... Mas agradeci e recusei polidamente.
Aliás, creio eu, que os medalhados ou os condecorados de facto, ao longo do tempo, estão todos devidamente registados no “Boletim Oficial” do País. É fácil consultar. E o meu nome, felizmente, neles não consta.
 É bom repescar (rebuscar, lembrar) que as condecorações civis (dirigidas ao cidadão, ou a não militante do PAICV) só se verificaram aqui nas ilhas após a abertura democrática de 1990. Foi o Presidente da República Mascarenhas Monteiro, quem deu início à instituição de Ordens para o reconhecimento público do mérito de alguns cidadãos (a sociedade civil em democracia tem lugar.)  O que, na altura, foi uma novidade recebida com agrado. De facto, muito boa gente e merecidamente, recebeu esse reconhecimento de Cabo Verde.

Daí que muito agradecia ao autor da “brincadeira de muito mau gosto,” que retirasse ou emendasse tal falsa notícia.
E para que conste, as grandes condecorações que recebi e venho recebendo, têm sido as homenagens feitas por meus antigos alunos. E elas têm sido muitas, maravilhosas, gratificantes e tocantes!




O ensino do português em África vai mal e procuram-se soluções

quinta-feira, 8 de novembro de 2018


Com a devida vénia ao autor e ao Jornal «Público» aqui se publica também esta matéria de muito interesse para nós, falantes do português


Nuno Pacheco - Língua portuguesa*
O número de falantes da língua nos PALOP é bem menor do que apontam os números oficiais. Hoje e amanhã, no ISCTE, um congresso procura exemplos, dados concretos e soluções.
O título do comunicado parece um alerta vermelho: “O ensino do português nos PALOP está a falhar e só parte da população o fala.” E os números avançados não diminuem tal inquietação: em Cabo Verde, só metade da população falará português fluentemente; em Moçambique, “só 10% assumem o português como língua materna”; na Guiné-Bissau, só 15% falarão português; em Timor-Leste “eventualmente 25%”; escapará Angola, onde mais de 70% falam português porque a guerra os empurrou para as cidades.
Se não fosse tal intróito, talvez poucos reparassem no IV Congresso de Cooperação e Educação, que se realiza hoje e amanhã no ISCTE, em Lisboa, com especialistas de vários países. Organizadoras do congresso, as investigadoras Clara Carvalho e Antónia Barreto, do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE, são mais comedidas do que o comunicado difundido pelo instituto. Não negam que a situação é grave, mas o que as move é a procura de soluções. “O português está em crescimento no mundo, mas o que se diz não corresponde aos números nem nunca correspondeu”, diz ao PÚBLICO Clara Carvalho.
Não serão, pois, os 280 milhões da propaganda oficial, mas é impossível obter números exactos. “Há estimativas, não há um estudo.” E as mais actuais são sempre as do The World Factbook, da CIA. “Eles multiplicam, relativamente ao último censo, pela taxa de crescimento populacional expectável.” Angola teve um censo em 2014 e Moçambique em 2017, embora os números deste ainda não estejam disponíveis. As outras estimativas são calculadas a partir das “taxas de literacia declaradas, baseadas no número de pessoas que vão à escola”. Pecarão por excesso ou defeito? Não se sabe.
Sabe-se, no entanto, o que dizem a experiência e a história. “Quando se chegou ao fi m do processo colonial, não havia, à parte algumas excepções, um sistema de ensino primário estabelecido”, aponta Clara Carvalho. Num território com taxas de analfabetismo e iliteracia elevadas, Portugal incluído, a situação não era homogénea.
“Em Angola, com a guerra, e com a grande movimentação de populações e de soldados, o português foi adoptado como ponto de contacto”, acrescenta a investigadora. Mas nas cidades apenas, não nas zonas rurais. Em Moçambique a situação é mais débil, com apenas 10% da população a assumir o português como língua materna. Já em São Tomé o panorama será melhor: “Os dialectos locais são também falados, mas o português é a língua franca.”
“Provavelmente o bilinguismo será solução, porque ele é assumido na prática”, defende a investigadora Clara Carvalho
Cabo Verde é, dizem as investigadoras, um caso à parte. “Pelo menos desde o século XIX há um sistema de ensino funcional, embora o crioulo tenha sido sempre, e continuará a ser, a língua franca.” Ali perto, na Guiné-Bissau, o caso complica-se: “Sendo uma colónia de ocupação, onde não havia grande contacto [dos colonos] com a população, o PAIGC instituiu o crioulo como a língua de contacto nacional, a língua da modernidade.”
A razão para os crioulos não terem sido logo adoptados como língua oficial após as independências residirá, nota Clara Carvalho, no facto de os dirigentes dos novos países serem “elites educadas em português”, que o adoptaram “numa perspectiva geopolítica”. Os crioulos não tinham expressão escrita oficializada, nem gramática, nem difusão internacional.
Ensinar em que língua?
Neste cenário, o que pode e deve ser feito? O congresso, sob o lema Cooperação e Educação de Qualidade, procura respostas. Antónia Barreto, que sublinha a importância do “apoio, grande, do Instituto Camões” para custear as deslocações de especialistas, diz que estes dias servirão para que fiquemos a conhecer melhor “os panoramas actuais e os desafios que esperam os sistemas educativos destes países”.
O bilinguismo será a solução? “Muito provavelmente, porque ele é assumido na prática”, responde Clara Carvalho. Com ressalvas: “Em sítios onde existe uma língua franca local, é muito fácil adoptá-la. Quando não há, promover o ensino das mais impactantes é ajudar a manter essas línguas e, eventualmente, na identificação dos jovens com o sistema de ensino.” Antónia Barreto dá, como exemplo da dificuldade de tal opção, a Guiné-Bissau: “Numa sala com 50 meninos, onde estão juntos manjacos, mandingas, fulas, ensina-se em que língua?”
“Há várias soluções”, insiste Clara. “Vamos ter cá o padre Luigi Scantamburlo [pedagogo italiano], que defende há décadas que se devia ensinar o crioulo como entrada para o português, algo que tem feito, aparentemente com sucesso.” Mas há outra via, que está a ser promovida pela UNESCO: “Colocar as crianças mais cedo na escola, para não abandonarem tanto. Habituá-las desde pequenas. E essa entrada deve ser feita com um misto das línguas maternas. Na Guiné, uma criança fula entrava na escola e aprendia em fula. Mas nós vimos uma experiência fantástica, de uma ONG [indiana] que está a trabalhar em aldeias fula no Sul, com crianças que não falam crioulo. O que têm? Professores que ganham três vezes mais e dispõem de uma formação à parte, com reuniões todos os meses e novos métodos pedagógicos. Aí vimos crianças a falar e a aprender em português.”
Antónia Barreto concorda: “Quando estão reunidas as condições, a aprendizagem do português faz-se relativamente bem. [Na Guiné-Bissau] as escolas dependentes de grupos religiosos, católicos ou protestantes, ou as madrassas, estão a funcionar. Já o sistema público está sem controlo e fica muito difícil que as pessoas aprendam alguma coisa.” Clara acrescenta: “Isto é mais caro, é verdade, mas o preço a pagar por aquilo que não se faz será muitíssimo superior ao que se pagaria se se conseguisse este nível para todas as escolas. Porque serão sempre crianças com uma escolarização deficiente, seja em que língua for.” E o empenho dos professores faz a diferença. “Têm de ver o seu trabalho como algo de gratificante.”
Do congresso, as duas investigadoras esperam algo de útil. Antónia deseja que estes dias contribuam “para a consciencialização de que os países têm de ter soluções ajustadas ao seu contexto”: “Tem de haver informação a nível multinacional, e apoios, mas não se podem impor agendas, soluções, cópias.” E há outro ponto que Clara quer ressalvar, o ensino de qualidade: “Não falo do melhor ensino do mundo, mas de qualquer coisa que não seja repetir o que o professor escreve no quadro (quando tem professor!) e dê competências para avançar.”
*”Público” de 08.Nov.2018



terça-feira, 6 de novembro de 2018

“1° lugar – ACÁCIA* 
De entre as plantas e as flores consideradas venenosas, a acácia ocupa o primeiro lugar, numa listagem hierárquica de cinco plantas e flores classificadas como as mais tóxicas. Sabendo que aqui nas ilhas, existe este tipo da acácia, decidi publicar a notícia, mais a explicação recebida de um perito na matéria.

Uma assassina em massa super especializada. A acácia desenvolveu uma estratégia para matar não só um, mas um grupo inteiro! Caso seja ameaçada, por um grupo de antílopes por exemplo, as suas folhas libertam gás etileno que serve de alarme para que outras acácias nos arredores percebam que existe ameaça. Assim, todas se juntam num contra ataque devastador e começam a produzir tanino em quantidade suficiente para matar todo o grupo!
Esta planta segue à risca o velho ditado: "A união faz a força"...*
  
*Retirada de uma mensagem  enviada pela minha prima Milena Ribeiro Pinto e Neto.


Curiosos, perguntámos ao nosso compadre e amigo António Advino Sabino - conhecido engenheiro agrónomo aqui das  ilhas - o que pensava  sobre a notícia que caracterizava a acácia como a mais venenosa planta conhecida.

E a pronta resposta foi a seguinte:

  
“(...) Há em Cabo Verde vários tipos de acácia. Acácias de altitudes como a acácia molíssima, acácia picnanta, etc. e, acácias de zonas áridas costeiras em que se destaca a nossa famosa acácia americana (Prosopis juliflora).

Em Cabo Verde existe esta planta de nome oleander (de nome cientifico, Nerum oealnder, salvo erro) que é uma planta altamente venenosa. Em Santo Antao é conhecida por “flor de querela”. Está espalhada em jardins publicos  por toda a parte mas a maior concentração encontra-se nos cemitérios.
Recordo-me que quando estava em Tucson-Arizona (EUA) duas crianças terem comido folha de oleander e  acabaram por falecer a caminho do hospital.
Fartei-me de chamar atenção para terem cuidado com a sua propagação em Cabo Verde, mas nunca se importaram. É uma planta muito resistente encontrando-se em toda a parte (jardins da Praça Nova, jardins da Praça Alexandre Albuquerque (frente ao antigo Cachito) e mesmo, nos jardins de casas particulares. Se calhar, alguém deve ter morrido por ingestão do oleander em Cabo Verde, sem se ter sabido a verdadeira causa da morte. (...)
  

 Um alerta para ser seguido pelos nossos plantadores da dita acácia...