A ÚLTIMA VAGA

sexta-feira, 18 de setembro de 2015

 

 

Homenagem a JOSÉ ANDRÉ LEITÃO DA GRAÇA

 

Autor: Júlio Herbert

 

As tuas palavras que se foram ausentando

São tempestades de lágrimas ocultas

Que a dor escondida na tua garganta ressequida

Abafou na esquina da tua inquietude desnudada

Onde transparecem vultos anónimos e prenhes de dor

Reivindicando penosamente a liberdade

II

A tua melodia solitária e silenciosa

Ainda se alimenta dos sonhos que se prenderam

Na miríade de um poder de grades em punho

Para silenciar a dócil canção da liberdade

Ultrajada na última vaga dolorosa do Tarrafal

Onde vozes voltaram a ser amordaçadas

 

III

Há hinos que ainda se escondem no ventre da tua revolta

À espera da alvorada que tarda em se revelar

Mas mesmo que o relógio do tempo não espere

Na nossa alma colectiva e de memória justa

O amanhã será sempre teu onde quer que estejas

Passeando no firmamento ou dormindo o sono dos justos

 

IV

Ainda que não durma, o guerreiro repousa atento

Para ver passar o seu último e valoroso soldado

Empunhando a bandeira da liberdade cantada

Na diversidade de timbres que se soltaram de vez

Para ditar uma aurora de novas tonalidades

Onde as vozes coexistem numa outra unidade

 

Praia, 15 de Setembro de 2015                                            
Júlio Herbert

Horário Contínuo? Um verdadeiro embuste...

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

 
 

Seria melhor que a Administração Pública, ou quem de direito, acabasse de vez com esta autêntica farsa em que se converteu o chamado horário contínuo ou único, nos serviços públicos destas ilhas.

Um logro que se presta a vários esquemas.

Ora bem, vamos por partes. Da nossa experiência e da experiência dos que que nos estão próximos, as informações não podiam ser piores em termos de serviço prestado ao utente, nesta vigência enganosa de horário contínuo.

Para ser mais directa, dirijo-me a si, caro leitor: tente deslocar-se a partir da uma hora até às 14h30 (este intervalo não é assim tão rígido) a qualquer serviço público para tratar um assunto. O que vai acontecer é que o “funcionário que trata deste assunto foi almoçar.” E não há um substituto? Não, só ele é que trata deste assunto! E pronto lá se foi a sua horinha tão preciosa desbaratada pela desorganização e incúria de uma “Administração” que desconhece que não pode haver vazios no atendimento do público.  Mas por vezes a situação é ainda pior! Isto acontece quando o assunto depende de um circuito de atendimentos passando por mais do que um funcionário. Para melhor entendimento, vou rapidamente contar um episódio que, aliás, deu mote a esta nótula: Fiz umas dezenas de quilómetros para fazer o pagamento de um imposto municipal. Chegada lá dirigi-me à Secretaria e fui logo atendida mas em vão pois a funcionária que me atendeu disse-me muito polida e displicentemente: Tem que vir mais tarde! A funcionária que trata disto foi almoçar. Eram 13h 27, olhei para o relógio e continuei: Então a que horas devo vir? Às duas, respondeu-me ela. Cinco minutos antes das duas lá estava eu a espera. Fui atendida pela funcionária que acabara de chegar que ao saber do assunto que lá me levava disse-me prontamente: Tenho muita pena mas vai ter que esperar pois o tesoureiro foi almoçar. Tratava-se de um atendimento que teria de ser feito em simultâneo por dois funcionários.

E assim passei horas de irritante desgaste numa repartição pública à espera.  E isto a acontecer num processo de horário contínuo de atendimento público! Convenhamos!

Assim sendo, não seria melhor fechar a repartição ao final da manhã e regressar à tarde em horário normal?  Do que este engano permanente  ao utente, de que se trabalha continuamente?

Creio que se trata de uma falsidade, de uma falta de respeito ao cidadão que necessita ser atendido e que está convencido de que se cumpre o horário contínuo.

Para além de configurar “roubo” de horas , dentro das horas de trabalho pré-estabelecidas e sabidas pelo agente atendedor e pelo utente.

Trata-se de uma situação que necessita urgentemente ser revista, repensada e reformatada.

A administração não pode e não deve mal tratar e desrespeitar descaradamente o cidadão.

 

Sonhos difusos

sexta-feira, 11 de setembro de 2015
 

 
Às vezes dou comigo, num lugar desconhecido, estranhamente inebriada, perdida no meu habitat espiritual, rigorosamente dentro do que se encerra em mim. O que sempre conheci, mas que nunca se me apresentou de frente.


Mas eis que subitamente se decidiu encarar-me e logo me apercebi que afinal o que me parecia familiar era o rosto reflexivo de uma provável e transcendente revelação! Algo surreal…

São sonhos, disseram-me. Estes lugares cujas portas se abrem para nos engolir e fazer cair de seguida dentro do nada…Um vazio, sabes? Aquelas portas que misteriosamente se fecham, quando deviam estar abertas, e se abrem quando curiosamente deviam estar fechadas… portas com indicação de lugares que não existem. Escondidas em mapas com inscrições duvidosas…

São sonhos, não te assustes, apenas sonhos…que nos fazem crer sem termos certezas.

E para quando é o despertar, então?

Passamos a vida a correr, a lutar e, afinal, ainda nem nos levantámos sequer da cama. Irónico, não é? Dá vontade de rir e perguntar: mas que circo é este?? Na verdade, não sei.

Mas consola-te, pois o bobo do palco não és … Tens um lugar reservado na bancada para também assistires ao espectáculo. Bem lá em cima, quase que longe demais, mas o suficientemente perto para perceberes que afinal a verdade não é o que se esconde atrás da mascara do palhaço, mas sim, aquela que se expõe em tela no quadro que pintaste justamente para ti! Manchou um pouco, eu sei… são coisas que as lágrimas fazem, mas o espírito da obra ainda está ali, completamente intacto! Esse não se desmancha tão facilmente…

Insensato! Gritaste. Porque me deixei sofrer? Tolo…

Será que não ouviste uma voz sentenciando? SÃO SONHOS! Sonhos que repetidamente foram ecoando, de forma continuada, no espaço e no tempo …

Até porque, quem disse que sofrer é dor? É certo que a verdade tatuada na alma dói mais do que na pele… Mas não te armes em vítima. Porque sofrer, todo a gente quer sofrer, ser mártir. Querem incorporar a dimensão sacrificial, porque sabem que sacrifícios lavam a alma. E quando não é assim, lá vão apontando o dedo a quem algum mal lhes fez, esperando tornar-se, com isso, menos impuros e mais perfeitos …

Eu cá por mim prefiro perder-me no nada, ou até mesmo permanecer dolentemente num sono infindável, do que aceitar ser vítima de alguém que simplesmente não reconheço! Porque, mesmo que inconscientemente, a vida só nos aflige se não levantarmos o braço para nos defendermos dela, ainda que por um simples bramido ensurdecedor ou letal gesto de indiferença!

Acreditem que, ao se abrir porta, obviamente vão entrar. E seguramente… tudo vos vão levar! Menos a essência. O que quer dizer que, no fundo, nada que valha a pena levarão…

Não caias na canção do autoflagelo…essa de te deitares no chão e de te lamuriares a pretexto de que alguém te pisou, porque quando te despertares, estarás sozinho. E à tua volta, pó. Apenas pó.

Um sonho… enfim. Acho que hoje foi o dia em que me despertei.

Só hoje?? Pergunta o espertalhão...

Ora, ora… esses sonhos são mesmo assim. Uns mais longos que outros. Sonhos que se prestam a ser vivenciados na claridade plúmbea da noite! Sonhos que preenchem os interstícios vitais da nossa história! Sonhos que se sujeitam a ser teus pilares quando te sentires prestes a desmoronar. A vida é mesmo assim. Entretecida por sonhos que se sucedem, numa cadência incontrolável! Na verdade, ela é literalmente um SONHO….

E já agora: terás tu alguma ideia do momento em que o teu despertador se accionará? Quando ACORDARES! Certo? Inusitadamente, a horas que não escolheste. Certo?

Só quando Lhe aprouver…só mesmo quando Lhe apetecer…



07/09/2015 SANDRA LOPES

Nota ao Leitor - Mais uma colaboração interessante de Sandra Lopes que já tem no «Coral Vermelho» um espaço reservado. Bem-vinda Sandra!