Isto que a seguir se escreve, vai mesmo em formato de diálogo e em discurso directo (estilo peça de teatro) para ser melhor entendido.
Não se trata de ficção. Passou-se na realidade.
Aqui há dias, a meio da manhã toca o telefone, atendo e, inicia-se a seguinte conversação.
Do outro lado da linha, voz feminina e numa abrupta introdução:
- «É di casa di Armindo? (É da casa do Armindo?)
Eu – «…??? Da casa do Armindo? (acentuei, pois percebi voz jovem e desconhecida)Oh!minha senhora da parte de quem?
- «Li é di Finança de Tchada Santo António...» (Aqui é dos serviços de Finanças da Achada Santo António)
Eu a interromper estupefacta:
- «Mas minha senhora está-me a dizer que está a telefonar de um serviço público nestes termos? A perguntar se é: “da casa do Armindo”? A senhora é funcionária pública?...Não sabe dirigir-se às pessoas? Não haveria aí, a ser dito: “senhor Armindo,” no mínimo?...
Do outro lado, após um curto silêncio e sem se dar por achada:
- «É pa el bem li papia cu Gilda?» (É para ele cá vir falar com a Gilda)
Eu já a ironizar:
- «Olhe e já agora, se faz o favor, quem é a D. Gilda? Será por acaso a dona da casa?... Sim, porque eu ainda não estou a acreditar que este telefonema venha de um serviço público… Que garantias me dá a senhora com este tipo de transmissão telefónica que se trata de um assunto das Finanças?...»
«Não, Gilda é chefe di serviço di…» (lá disse a categoria da senhora na Repartição em questão)
-«Olhe minha senhora, vou-lhe ser franca e lamento dizê-lo: mas a forma incorrecta como se processou este telefonema, eu já nem sei se eu o vou transmitir ao destinatário…»
Bem a conversa ficou assim.
Passados dois ou três dias, toca o telefone, a mesma voz, o mesmo teor de mensagem, mas já com algumas diferenças substanciais. Perguntou se era a residência do senhor… (nome e apelido) que falava das Finanças e que o senhor (nome e apelido de novo) ali se dirigisse para falar com a (Dona Gilda…do serviço tal e tal).
Bem melhor, pensei eu com os meus botões. Afinal a chamada de atenção havia servido para alguma coisa. Surtira o efeito desejado. Ainda bem.
A que estado lastimoso chegou o atendimento num serviço de Estado do meu país? Nem ao telefone se já se sabe transmitir com correcção, uma simples informação, uma curta solicitação!? Mas que pessoal este?
Por outro lado, questiono se no acto de admissão ao serviço, o candidato a funcionário – (ele/ela) – não é advertido, instruído, informado sobre os procedimentos, a forma com se deve dirigir-se, falar, expressar-se quando frente a um cidadão que está a atender? Não haverá uma entrevista, uma conversa, um questionário antes de se iniciar funções? Sim, porque não acredito, face ao que me é dado ver, que tenha havido formação, com estes exemplos! É que grassa nos nossos serviços públicos uma iliteracia funcional de bradar aos céus!
Infelizmente – e digo isto com imensa tristeza – o perfil hodierno do chamado servidor público nacional, com raríssimas excepções, que felizmente ainda as há, está a ficar cada vez mais incivilizado, mais incorrecto no “saber estar” nada educado, cada vez menos instruído e a perder nível de forma galopante…
É caso para exclamar: que saudades do funcionário público cabo-verdiano de antanho!
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