Um pouco na esteira daquilo que afirmava recentemente o texto do Jornalista Nuno Rebocho , publicado no Liberal, jornal online, a propósito do valor e do lugar que Manuel Ferreira ocupa na historiografia literária africana de Língua e de Expressão portuguesa, eis-me também a pretender evocar neste escrito, essa referência incontornável, que foi Manuel Ferreira quando falamos sobre a crítica literária cabo-verdiana.
Com efeito Manuel Ferreira pertence ao “escol,” isto é, à parte mais distinta de estudiosos e analistas da Literatura e da Cultura cabo-verdiana que vem desde inícios do século XX em que o colocaria ao lado de: Augusto Casimiro (1889-1967), José Osório de Oliveira (1900-1964), Félix Monteiro (1910-2000), Francisco Tenreiro (1921-1963), Alfredo Margarido (1928-2010), Arnaldo França e mesmo alguns outros nomes ilustres que embora se tivessem distinguido mais na arte de criar poesia e ficção, não deixaram de ser também profundos estudiosos e conhecedores da cultura a que pertenciam. Tais foram os casos de: Baltazar Lopes da Silva (1907-1989), Manuel Lopes (1907-2005) Gabriel Lopes da Silva Mariano (1924-2000) Henrique Teixeira de Sousa (1919-2006), entre outros.
Voltando a Manuel Ferreira, ele nasceu em Gândara de Olivais, Leiria, Portugal em 1917 e faleceu em Linda -A – Velha, Oeiras, em 1994.
Do seu percurso de vida, destacam-se algumas etapas que o ligaram fortemente ao Arquipélago. Desde logo, o cumprimento do serviço militar em S. Vicente de 1941 a 1947. Nesse ínterim, conhece a contista cabo-verdiana, Orlanda Amarílis, com quem contrai matrimónio. Frequentou a «Academia Cultivar» de Mindelo. Igualmente, ainda em Mindelo, Manuel Ferreira pertenceu ao grupo do movimento «Certeza» e conviveu com os grandes nomes da «Claridade». Enfim, abraçou de forma inequívoca, a causa da Literatura cabo-verdiana.
Daí que a «Aventura Crioula», publicada em 1967, com uma 2ª edição revista e aumentada em 1973, seja uma das mais importantes obras deste autor, sobre a fenomenologia cultural e literária cabo-verdiana. Obra de consulta, diria obrigatória, para o interessado que queira perceber em pormenor os pontos de partida e de chegada da criação poética e ficcional destas ilhas.
Em termos de estudos críticos literários – que não foram poucos – Manuel Ferreira dá-nos no seu «Reino de Caliban I» 1975, uma panorâmica cuidada dos escritores e dos poetas mais distintos da cena literária nacional.
Mas Manuel Ferreira não se quedou apenas como crítico e estudioso da nossa Literatura, ele também foi criador dela. São disso exemplos, os contos: «Morna» 1948, e «Morabeza» 1958, e os romances: «Hora de Bai» 1962, e «Voz de Prisão» 1973. Qualquer das obras aqui mencionadas espelha bem a profunda ligação e o grande conhecimento que ele tinha e detinha da terra, da sociedade e das gentes crioulas.
Mais tarde, nos meados dos anos 70 do século XX, Manuel Ferreira lecciona na Faculdade de Letras de Universidade Clássica de Lisboa a então recém-criada cadeira de Literaturas Africanas de Língua Portuguesa, que frequentei como aluna.
Boas e gratas recordações ficaram-me do professor, dos trabalhos realizados e do grau de exigência que ele punha na nossa pesquisa ensaística sobre a prosa e a poesia das ilhas.
Por tudo isto, e o mais que ficou por dizer, temos em Manuel Ferreira um ensaísta marcado pela experiência vivenciada, interiorizada e reelaborada da cultura produção literária das ilhas.
Para não ser muito longo o escrito, o qual ficou muito aquém daquilo que deveria e quereria dizer, termino reiterando que Manuel Ferreira é para a historiografia literária cabo-verdiana, sem qualquer favor, um insigne estudioso e uma incontornável referência.
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