O saber ser do professor… Salvé 23 de Abril!
terça-feira, 23 de abril de 2013
Hoje é o Dia do Professor cabo-verdiano que tem como patrono a figura incontornável da cultura nacional, Baltazar Lopes da Silva, que completaria hoje 106 anos sobre o seu nascimento.
Nunca me canso de bem-dizer a escolha da data para se celebrar o dia do professor nestas ilhas! Ainda bem que assim foi. É que Baltazar Lopes da Silva para além de poeta, romancista, contista e também renomado filólogo, foi professor e Reitor por muitas décadas do distinto Liceu de Gil Eanes em S. Vicente. Professor que marcou muitas gerações de alunos.
A juntar a isto tudo ele foi igualmente, Advogado de defesa de algumas causas dos deserdados da sorte. Lembremo-nos que ele era licenciado em Letras e em Direito pelas faculdades respectivas da Universidade de Lisboa.
Sobre esta notável e ímpar figura da História cabo-verdiana do século XX, muito sobre ela vêm escrevendo, pesquisando e descobrindo a profunda riqueza literária e humanística que nos legou, não só pela forma como caracteriza aquilo que comummente se designa por “caboverdianidade”, como também pela beleza estética e temática da sua escrita ficcionista e poética.
Comemora-se o dia do Professor cabo-verdiano! E na sua esteira impõe também uma reflexão, ainda que breve, sobre o nosso ensino, sobre o perfil do docente e sobre o papel da escola na vida da criança e dos adolescentes, estes sobre quem, a instituição escolar exerce uma enorme e muitas vezes marcante influência transformadora em fases fundamentais das suas vidas.
Faço votos que nas escolas e com os professores do ensino público e do ensino privado este dia seja condignamente comemorado.
Gostaria de poder preencher esta pequena e brevíssima reflexão com palavras e juízos que demonstrassem confiança e alegria sobre este pilar (o ensino) tão precioso e, diria, vital para qualquer sociedade! Infelizmente não vai ser assim.
Sobre o nosso ensino e o que sobre ele se percebe hodiernamente, merece-nos uma grande apreensão e preocupação naquilo que consideramos serem alguns desvios, desleixos, facilitismos e, sobretudo, alguma ignorância pedagógica e científica que o vem contaminando e minando os seus alicerces que deveriam ser os de uma verdadeira fortaleza.
Verifica-se entre os alunos (falo no geral, as excepções não são matéria principal deste escrito) e para mal dos nossos pecados, uma incultura e uma falta dos saberes, que são de arrepiar! Pois bem, estas ferramentas deviam ter sido adquiridas ao longo das etapas escolares e dos patamares académicos. A questão que se põe: por que razão tal não está a suceder?
Antes de prosseguir, abro aqui um curto parêntesis para dizer o seguinte: numa abordagem que se pretende com alguma ética, não é correcto comparar gerações, por todas as razões que lhes estão inerentes, atribuindo valorizações e desvalorizações a uma e/ou a outra. Fecho o parêntesis.
É que por vezes apanho-me a pensar que a geração muito anterior, relativamente e em igualdade de escolaridade, é mais culta e sabedora do que a que se vem formando actualmente nas instituições de ensino, quer secundárias, quer superiores nestas ilhas. E isto revolta-me, pois não deveria estar a acontecer!
Se por um lado, em Cabo Verde a tecnologia de informação e mesmo de alguma formação – próprios da época actual – ainda não estão tão disponíveis e nem são tão abrangentes à nossa camada estudantil, como em outras paragens mais desenvolvidas o que vale dizer que ainda a maior parte dos nossos alunos, espera e conta muito com o que a escola lhe dá em termos do saber e do saber fazer.
Por outro lado, trata-se de uma geração em que uma parte dela tem acesso a meios de tecnologia de informação e de formação que a geração anterior, nem sonhava que existissem.
Nesta conformidade e contexto, ainda por equilibrar, o papel do professor bem preparado – pois é isso mesmo que qualquer encarregado de educação, deseja que os filhos tenham na sala de aula – ganha uma importância que não me inibo de classificar de transcendente.
Trata-se de um perfil que deve poder aliar a pedagogia escolar e social com a ciência específica da disciplina que ensina. É este perfil, no geral, que nos está a falhar e a escassear para uma correcta postura docente e uma praxis adequada na transmissão de conhecimentos, para que se atinja o essencial no sistema de ensino que é a sua qualidade.
A ausência deste perfil (de professor) é também responsável por esta espécie de desastre, perdoem-me a dureza da expressão, que vem acontecendo no interior da escola, de que tanto se fala, com graves reflexos na edificação do ser social e laboral que ela tem a seu cargo.
Estaria a ser injusta se deixasse todos os males da escola por cima dos ombros do professor. Não, não seria de todo justo! Há outros co-agentes ou suportes que concorrem com similar paridade para que os objectivos educativos e formativos cheguem a bom porto. Desde logo, a organização e a gestão do sector educativo no seu todo, a parceria escola/sociedade, entre outros.
Caberia aqui destacar o papel da família enquanto responsável primeira pelo ser que ao mundo trouxe e que em Cabo Verde com particular acuidade, devia ser alertada com frequência e com constância maiores pela sua, diria, negligência e facilidade com que descura a transmissão de algum saber estar, de alguma boa educação caseira aos filhos em idade escolar.
A chamada disfuncionalidade familiar, o abandono parental e a já significativa inexistência de família nuclear estruturada, são infelizmente, os grandes causadores entre nós, dos males que se projectam na escola e se reflectem na sociedade actual e vindoura.
Para finalizar, e por ser o Dia do Professor, um dia de todo especial para este servidor específico, alguns deles, e já estamos a entrar no campo das excepções, muitas vezes também dedicados e abnegados à sua profissão, gente capaz e que não obstante as imensas carências de material bibliográfico, laboratorial e outros, com que se deparam no seu dia-a-dia de trabalho, se empenham em ser bons profissionais. Para eles uma palavra de apreço.
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