As Falácias de um Projecto? ... - Questões preocupantes analisadas por Dulce L. Ferreira Lima -

terça-feira, 27 de maio de 2014



O texto da autora nomeada em epígrafe e recentemente publicado neste “Blog” (vide: “Hoje, neste dia de 2030”) merece ser lido e reflectido por todos os que se interessam e que tenham uma palavra a dizer nas questões da Educação e do Ensino nestas ilhas.
Ora bem, na minha opinião, as linhas de força do referido texto, centram-se em alguns pontos essenciais e incontornáveis de que à escola cabo-verdiana incumbem os pais e os encarregados de educação das crianças enviadas a escolarizar.
A saber, e entre eles, os mais importantes: “A Escola, em Cabo Verde, para além de se encarregar da instrução das nossas crianças, reveste-se da função de completar o Eu-cultural do aluno, ao pô-lo em contacto – na grande maioria dos casos, pela primeira vez – com a nossa língua paterna, o Português. Neste sentido, ela representa o meridiano da cabo-verdianidade”
E continua a autora: “De facto, a cultura cabo-verdiana, na sua singularidade, gira à volta de um eixo linguístico dual. Essa dualidade reflecte-se numa realidade sociolinguística complexa, a qual determina que a aquisição de cada uma das duas línguas nacionais se realize, na maior parte das vezes, em momentos distintos. Nos primeiros tempos de vida, na fase da linguagem oral, ainda no seio da família e nas suas relações sócio-afectivas, a criança adquire, maioritariamente, o Cabo-verdiano. É na Escola que lhe será facultado, de forma sistemática, organizada e explícita, o Português, na sua dupla dimensão de código integrante do nosso património linguístico-cultural e de vector de instrução.” (Fim de Transcrição).

Permiti-me caro leitor, a esta aparentemente longa transcrição do texto em análise, porque me pareceu que é aqui que reside, por um lado, o núcleo paradigmático do nosso sistema de ensino, fundado na lei de Bases em vigor, do mesmo sistema e que não foi derrogada ainda no parlamento cabo-verdiano, sede das leis pelas quais nos regemos. Por outro lado, como acima referi, o ponto focal do conteúdo da crítica da Dulce L. Ferreira Lima a este “assalto” à revelia da lei em vigor, com esta tentativa de mudança da língua veicular do ensino, (do português para o crioulo) travestido em projecto.
Outra questão suscitada no texto em análise, e não menos preocupante, é a que coloca a interrogação se a mudança linguística/pedagógica, ainda que experimental e já em efectivação em algumas turmas em escolas no interior da ilha de Santiago, e que pressupunha “ab initio,” a anuência dos pais e encarregados de educação para que aos seus educandos fossem ministradas as disciplinas curriculares básicas, na outra língua, (a cabo-verdiana) e não, na língua veicular do ensino nacional, (a portuguesa) prevista na Lei. Se aconteceu de facto.
Este desiderato, que é de certa forma um dos pontos de honra do Projecto, levanta sérias dúvidas se foi realmente cumprido. Isto é, se aos progenitores dos alunos das turmas em funcionamento, foi perguntado se queriam ou não a proclamada alteração… pairam dúvidas sobre isso (?).
Uma outra ultrapassagem ao intitulado projecto, enquanto tal, e bem vista na análise da Dulce, é o facto de ele ser ainda experimental, de não ter ainda resultados (positivos ou negativos) passíveis de serem avaliados nos seus efeitos, e já se estar a formar à pressa, e aceleradamente professores, para a generalização do ensino em crioulo. Temos de convir que então, e com este procedimento, está a haver conclusões antecipadas ou, precipitadas, com a agravante de existir, como aponta o estudo da autora, algum erro na metodologia utilizada que é inconclusiva.
Na minha óptica, a análise da Dulce valeu a pena, não só como chamada de atenção, como alerta, para a possibilidade de um logro educacional, com consequências desastrosas, a médio e a longo prazo, e que estaria ou estará a passar despercebido à generalidade dos cabo-verdianos; como também, como uma contribuição válida para um debate a haver, e que faz todo o sentido, pois que se trata de uma questão estruturante para Cabo Verde.

















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