Palavras proferidas durante a inauguração da Biblioteca António Mascarenhas
Monteiro
- Pela viúva, Maria Odette Pinheiro
António Mascarenhas Monteiro era Tony para os amigos e para todos os que
lhe eram chegados, de modo que me referirei a ele deste modo.
Cheguei à vida do Tony quando o sol já descia para o poente. Mas não
cheguei tarde. Cheguei no tempo de Deus, para que ele tivesse uma nova alvorada
na sua vida.
As prendas que ele recebeu enquanto presidente e os livros que doou ao Instituto
Superior de Ciências Jurídicas e Sociais foram respectivamente recebidas e adquiridos
muito antes de eu estar presente na sua vida, quando ele ainda a compartilhava
com a Tuna, cujo nome merece também ser aqui lembrado.
Eu só aceitei falar nesta cerimónia por o Tony ter aberto completamente a
sua vida a mim, em toda a sua extensão, a ter partilhado em todos os seus
pormenores e insistido em envolver-me em todos os seus aspectos, incluindo a colocação
dos livros, a que eu superintendi; e a fase inicial da colocação das prendas, tendo
eu própria renunciado a continuar no processo para não ter de me afastar da sua
cabeceira, o que para mim era muito mais importante.
As prendas, ele as havia doado, pouco depois de sair da Presidência, à
Câmara Municipal de Santa Catarina, que nada fez para preparar um lugar
condigno a fim de as receber e expor convenientemente. Assim, passados tantos
anos e vendo aproximar-se o fim da vida, o meu marido escreveu a essa Câmara anulando
a doação, já que em tanto tempo nada havia sido feito.
Escolheu, então, o Instituto Superior de Ciências Jurídicas e Sociais para
uma nova doação. Hoje ele estaria imensamente satisfeito porque finalmente as
peças que ele quis partilhar com o povo de Cabo Verde encontraram guarida e
foram expostas ao público com a honra e a dignidade que merecem; e por saber que
serão cuidadas e estimadas pelo Instituto, não só no presente mas por gerações
futuras.
Os livros, companheiros de todas as horas, amigos dilectos que contribuíram
para a sua formação jurídica e lhe deram horas intermináveis de prazer e
conhecimento, foi com grande interesse que ele desejou que ficassem
salvaguardados sob a custódia de quem os pode apreciar, cuidar e facultar a
outros que deles possam beneficiar e retirar conhecimento.
Não vou elogiar publicamente o meu marido, pois não ficaria bem e seria
contra os nossos princípios. Ele detestava elogios públicos em boca própria ou de
familiares chegados. Descreveu-se a mim como um homem contido, quando começámos
a corresponder-nos; e o homem sóbrio, reservado, não gostando de estar debaixo
dos holofotes, mas interveniente quando necessário e quanto bastasse, realmente
preferia a simplicidade e a reserva à exibição e à exuberância.
Se ele tivesse optado por escrever o seu próprio epitáfio, do mesmo modo
que planeou em detalhe muita coisa respeitante à sua partida, teria sido algo assim:
“Aqui jaz um homem que honrou a Deus, serviu a Nação, amou a Família e foi
amigo dos seus Amigos”. Esse foi o Tony Mascarenhas que todos estimámos, e que
eu amei profundamente.
Muito obrigada por hoje o homenagearem, e por atribuírem o seu nome à
Biblioteca do Instituto. Que a sua memória perdure por muito tempo para
inspirar outros a seguir as suas pisadas.
Praia, 9 de Maio de 2017
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