…PERO QUE LAS AY, LAS AY

segunda-feira, 23 de outubro de 2017
 Vamos por partes, melhor dizendo, por peças.

      Primeira peça.
      No passado dia 16 do corrente, passou na RTP1, a hora já adiantada da noite, talvez não por acaso, um documentário intitulado BILDERBERG, O FILME. Trata-se de um trabalho sobre as origens, a natureza e a expansão articulada de uma das organizações mais elitistas e secretas da actualidade: o Grupo Bilderberg. O seu autor é o arguto jornalista de investigação Daniel Estulin, lituano, que escreveu também o livro A Verdadeira História do Clube de Bilderberg; no documentário são vários os testemunhos e as intervenções de personalidades internacionais do jornalismo, da historiografia e da análise política, que se constituem em vozes insurgentes contra uma nova “Ordem” que parece estar na forja.
Integrando as individualidades mais poderosas, mais influentes e mais ricas do planeta, este Grupo constitui o escol no campo dos negócios, das finanças, dos meios de comunicação e da política. O documentário explica bem que esta oligarquia transatlântica financeira e política está por trás das crises petrolíferas e financeiras, da manipulação dos mercados, de golpes de estado, de quedas de governos e do fomento de guerras regionais convenientes. Em nome de uma ideia de governação mundial que suprima o estado-nação e converta o mundo numa grande empresa, com as riquezas e o poder de decisão concentrados nas mãos de um grupo de pessoas, são congeminadas estratégias e decisões que se repercutem na vida de todos nós, em todas as latitudes do planeta. Não se pretende promover a felicidade humana olhando-a como um fim supremo; a intenção é gerir a comunidade mundial valorizando mais o instinto animal do homem (um ser simplesmente consumista) do que a centelha de liberdade e criatividade espiritual que o distingue das outras criaturas e confere verdadeiro sentido à sua existência.
As reuniões do Grupo Bilderberg são sempre da ordem de 150 a 200 personalidades, e para elas são convidados jovens ambiciosos que se revelam ou iniciam na política ou no mundo das finanças. É neste contexto que se explica a entrada de Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia, a avaliar pela revelação de Daniel Estulin quando declara que as suas fontes lhe confirmaram que Henry Kissinger, um membro permanente de Bilderberg, terá dito sobre o político português: “É indiscutivelmente o pior primeiro-ministro na recente história política. Mas será o nosso homem na Europa”. O acesso às reuniões é vedado aos mass media, mas proprietários de redes de comunicação seleccionadas são convidados a assistir, não para proporcionarem uma informação livre, mas para colherem directrizes subliminares com vista à formatação de uma opinião pública mundial favorável aos desígnios desta poderosa e influente oligarquia.

     Segunda peça.
      É óbvio que o sucesso da “Geringonça”, contrariando todas as previsões do FMI e da UE, e demonstrando quão discutível era a inevitabilidade da receita da “Troika”, está ao arrepio das conveniências daqueles organismos. Podem agora elogiar os bons resultados alcançados, mas certamente que o farão com um sorriso constrangido ou voz sumida. De facto, não lhes interessa o sucesso de outra via que não seja a consagração da receita de má memória que foi para centenas de milhares de criaturas que perderam os seus empregos, que viram os seus ordenados e pensões arbitrariamente cortados, que ficaram sem as suas casas, que tiveram de emigrar ou ficar dependentes das sopas da caridade pública. Deve preocupar à oligarquia que a “Geringonça” ganhe foros de um “case study” ou se torne fórmula para soluções governativas europeias onde as forças da Esquerda se fragmentam com os seus dissídios ideológicos. Em suma, a “Geringonça” está a provar que há uma alternativa para a receita imposta pelos mercados, está a pôr em causa a matriz ideológica patrocinada pelo Grupo Bilderberg. 

      Terceira peça.
      O principal partido da Oposição nunca se conformou com a solução governativa encontrada no Parlamento, tanto que o seu líder mais de uma vez anunciou que tarde ou cedo viria o Diabo acertar contas com o país, esperando depois retomar o poder em clima de apoteose. Certamente que ele se referia a um novo resgaste em face de uma aguardada falência da política financeira e económica do governo. Mas, enfim, o diabo assume as formas que quisermos e, de tanto ser invocado nos salões do poder, em vez de esconjurado nos átrios das igrejas, pode surpreender-nos com as manifestações mais inesperadas. Pois, há quem diga que o Diabo ouviu a voz tonitruante de Passos Coelho e mostrou a sua arma dilecta – o fogo – ceifando este ano vastas áreas florestais do país e levando no seu vórtice mais de uma centena de vidas humanas. A compaixão e a dor até nos podem levar a conceder se não teria sido preferível um novo desacerto nas nossas contas a troco das vidas humanas, porque estas nenhum resgate as repõe. Mas quedamo-nos interrogativos sobre as verdadeiras causas dos incêndios que neste ano, sobretudo os últimos, assolaram de forma tão instantânea como aparentemente concertada o território nacional. Caberá à Justiça averiguar e concluir se os 160 incendiários identificados agiram simplesmente do seu livre arbítrio ou estiveram, pelo menos alguns deles, a soldo de uma organização criminosa com fins económicos ou políticos. Sim, porque nem sempre é fácil distinguir a linha separadora entre a motivação económica e a política; e essa busca remete-nos forçosamente para a natureza e os propósitos do Grupo Bilderberg.
Por outro lado, não me convenço da existência de um nexo de causalidade entre a pessoa concreta da ministra recém-demitida, Constança Urbano de Sousa, e a fragilidade ou insuficiência do nosso sistema de prevenção e combate a incêndios florestais. O problema é de fundo e é estrutural e compromete todos, mas rigorosamente todos os governos das últimas quatro décadas, e envolvendo também a agora empertigada Assunção Cristas, que, sem pudor, não se questiona pelo que fez ou deixou de fazer no domínio das florestas, enquanto ministra da agricultura. Por isso, ocorre perguntar se no lugar da ministra demitida, ela teria feito mais, melhor ou diferente. Costuma-se dizer que presunção e água benta, cada qual usa a que quer. É nítido, pois, que para a Oposição os incêndios florestais deste ano são uma espécie de bóia de salvação, sem pejo nenhum em colher dividendos políticos por algo que lhe caiu do céu, com artefactos e prodígios do Diabo. Não deixa de causar repúdio a qualquer consciência esclarecida que a Oposição queira exultar-se com presumidos ganhos políticos à custa de uma tragédia nacional, ao invés de congraçar-se com as melhores soluções para um problema que imbrica necessariamente com toda a colectividade nacional.

      Quarta peça.
      É estranho mas talvez não surpreendente que a nossa comunicação social se mostre quase toda ela afinada por um mesmo diapasão, dando a ideia de domesticada por algo que está na sombra mas imanente e incontornável. Salvo raras e honrosas excepções, o tratamento das notícias é pouco digno de uma imprensa livre, limpa e honrada, como o demonstra, entre outras tristes evidências, a ignóbil a tentativa de explorar até à exaustão a desgraça alheia, sem outra finalidade que não seja produzir um eco social desfavorável ao governo. Jornalistas, repórteres e fazedores de opinião devidamente seleccionados parecem autênticas marionetas. O discurso é genericamente ambíguo, redondo, vazio, certamente para não arriscar entrar em disrupção com o paradigma instalado.
Vindo ao encontro do que eu penso, no blogue “AS PALAVRAS SÃO ARMAS”, o general da Força Aérea na reserva Vítor Cunha, em texto de 16 de Outubro do corrente, afirmou que: “Começa a ser muito difícil olhar para estes fogos como se fossem todos eles produto de causas naturais ou de incendiários loucos ou doentes. A coisa tem, inclusivamente, contornos demasiado odiosos para ser obra do chamado lobby dos fogos. Não, por mim deixei de ter dúvidas, isto faz-me lembrar os incêndios às sedes do PCP por esse país fora (sobretudo a Norte, também), no Verão quente de 1975, com o intuito de enfraquecer e derrubar o poder político da época. Repito: não tenho hoje grandes dúvidas que estes fogos são obra de gente a soldo de quem está interessado em derrubar este poder político. Não sejam ingénuos, as pessoas são extremamente activas nestas actividades, sobretudo quando não lhes restam grandes alternativas no plano da luta política”. Prosseguindo, o general afirma: “Se o leitor ainda achar que estou a exagerar, note apenas o seguinte: este fim-de-semana, atendendo à chuva prevista para os próximos dias e à chegada de tempos mais húmidos e com menores temperaturas, era a última oportunidade de provocar danos físicos graves e, eventualmente, danos políticos na "geringonça”. Viu-se o que aconteceu, acha o leitor que foi apenas coincidência? E então, vamos continuar a fingir que todos estes fogos não são acções inimigas do actual poder político? Vamos continuar a ter medo de chamar os bois pelo nome?”.
Ora, o autor do texto faz uma especulação com propósito e toda a liberdade lhe assiste nesse sentido. E poderia ainda ter sublinhado que a estranha e devastadora guerra incendiária deflagrada em 15 de Outubro seguiu-se a uma pesada derrota eleitoral do principal partido da oposição, sentenciando a morte política do seu líder.
      Juntando as peças do meu discurso, há razão para crer que misteriosos cordelinhos entrelaçam uns e outros, comunicação social, o mundo dos negócios e políticos obedientes e domesticados ao serviço de uma causa que está para além do interesse nacional. Perante tantas evidências e coincidências, apetece-me concluir nestes termos: Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay.

Escrevo segundo a antiga ortografia.

Tomar, 23 de Outubro de 2017
Adriano Miranda Lima

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