Atenção à boa norma
linguística de que a gramática é também fiel depositária!
“
Que cada manhã ,
Você
sinta em seu coração
a
certeza de que a vida te
espera de
braços abertos”
Recebo
com muita frequência, cartões ou postais via redes sociais, com escritos semelhantes
ao que encima este escrito. Normalmente enviados por amigos ou por conhecidos.
Até
aqui tudo bem, pois sei que se trata de
um sinal de amizade quando me enviam este tipo de mensagem, e não gostaria de,
como sói dizer-se, “matar a cotovia”. Daí que eu agradeça sempre.
Mas,
e agora vamos ao ponto onde quero chegar, as mensagens estão muitas vezes pejadas de erros na parte que diz respeito à construção frásica,
gramatical.
Ora
bem, olhemos para o exemplo acima dado e notaremos erros flagrantes e gritantes que não devem ser
cometidos na norma escrita e oral da nossa Língua comum.
O
facto de o destinatário da mensagem ser tratado ao mesmo tempo por “Você” terceira pessoa do singular e por “te” (que supõe o “Tu”) segunda pessoa do
singular, está errado e ilustra bem aquilo de que estamos a falar.
Vamos
corrigi-lo: “Que cada manhã, você sinta no seu coração a certeza de que vida
lhe (o, ou a) espera de braços
abertos” ou: “Que cada manhã tu sintas no teu coração que a vida te espera de
braços abertos” Ufa! Assim sim! Assim está respeitada correctamente e sem
ruídos na comunicação que se pretendeu, a norma escrita gramatical da nossa
língua.
Abro
aqui um pequeno parêntesis para esclarecer o seguinte: o que acabei de descrever
choca-me e colide com a minha sensibilidade linguística e gramatical em matéria
de bem construir as frases. É que passei décadas a ensinar os meus alunos quer
no Liceu, quer no Ensino Superior que os tratamentos formais e informais, os
vocativos, as pessoas gramaticais devem ter em conta, e sempre, o interlocutor
a quem se dirige. Se o nosso interlocutor de ocasião for superior hierárquico,
mais velho, desconhecido, sem intimidade estabelecida, deve-se usar - para se
lhe dirigir a palavra oral ou escrita – a forma verbal na terceira pessoa
gramatical. Ao contrário, se for colega, amigo, Íntimo, a forma verbal pedirá
naturalmente - desde que bem aceite pela outra parte - a segunda pessoa gramatical
“tu”.
Desculpem este parêntese. Fui professora
(...sou professora. É que uma vez professora fica-se toda a vida com a também
chamada, “deformação” profissional).
Na
minha opinião, aqui nas ilhas e nas suas escolas, o professor da disciplina da
Língua Portuguesa deverá ter redobrada atenção no ensino da mesma, uma vez que
fora de aulas o seu aluno já não a praticará, a não ser em situações bem
determinadas. Nada comparável ao que se passa hoje em Angola, por exemplo, em
que o português é cada vez mais a oralidade
dos seus falantes.
Todavia,
regressando à escola em Cabo Verde, se bem ensinada a disciplina, o aluno
cabo-verdiano interiorizará certamente as regras gramaticais e discursivas em
que assentará a sua boa comunicação em Língua portuguesa.
Para
finalizar este escrito, sugiro e peço encarecidamente aos artistas que fazem os
referidos postais e cartões com as bonitas mensagens de amizade e de amor, que
sejam cuidadosos na sua elaboração e na sua feitura e que não negligenciem por
favor! a correcção frásica, gramatical de que os conteúdos neles impressos, devem ser portadores.
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