sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

 

Atenção à boa norma linguística de que a gramática é também fiel depositária!

 

 

“ Que cada manhã ,

Você sinta em seu coração

a certeza de que a vida te

espera de braços abertos”

 

Recebo com muita frequência, cartões ou postais via redes sociais, com escritos semelhantes ao que encima este escrito. Normalmente enviados por amigos ou por conhecidos.

Até aqui tudo bem, pois sei  que se trata de um sinal de amizade quando me enviam este tipo de mensagem, e não gostaria de, como sói dizer-se, “matar a cotovia”. Daí que eu agradeça sempre.

Mas, e agora vamos ao ponto onde quero chegar, as mensagens estão muitas vezes  pejadas de erros na  parte que diz respeito à construção frásica, gramatical.

Ora bem, olhemos para o exemplo acima dado e notaremos  erros  flagrantes e gritantes que não devem ser cometidos na norma escrita e oral da nossa Língua comum.

O facto de o destinatário da mensagem ser tratado ao mesmo tempo por “Você” terceira pessoa do singular e  por  te” (que supõe o “Tu”) segunda pessoa do singular, está errado e ilustra bem aquilo de que estamos a falar.

Vamos corrigi-lo: “Que cada manhã, você sinta no seu coração a certeza de que vida lhe (o, ou a) espera de braços abertos” ou: “Que cada manhã tu sintas no teu coração que a vida te espera de braços abertos” Ufa! Assim sim! Assim está respeitada correctamente e sem ruídos na comunicação que se pretendeu, a norma escrita gramatical da nossa língua.

Abro aqui um pequeno parêntesis para esclarecer o seguinte: o que acabei de descrever choca-me e colide com a minha sensibilidade linguística e gramatical em matéria de bem construir as frases. É que passei décadas a ensinar os meus alunos quer no Liceu, quer no Ensino Superior que os tratamentos formais e informais, os vocativos, as pessoas gramaticais devem ter em conta, e sempre, o interlocutor a quem se dirige. Se o nosso interlocutor de ocasião for superior hierárquico, mais velho, desconhecido, sem intimidade estabelecida, deve-se usar - para se lhe dirigir a palavra oral ou escrita – a forma verbal na terceira pessoa gramatical. Ao contrário, se for colega, amigo, Íntimo, a forma verbal pedirá naturalmente - desde que bem aceite pela outra parte - a segunda pessoa gramatical  “tu”.

 Desculpem este parêntese. Fui professora (...sou professora. É que uma vez professora fica-se toda a vida com a também chamada, “deformação” profissional).

Na minha opinião, aqui nas ilhas e nas suas escolas, o professor da disciplina da Língua Portuguesa deverá ter redobrada atenção no ensino da mesma, uma vez que fora de aulas o seu aluno já não a praticará, a não ser em situações bem determinadas. Nada comparável ao que se passa hoje em Angola, por exemplo, em que o português é cada vez mais a  oralidade dos seus falantes.

Todavia, regressando à escola em Cabo Verde, se bem ensinada a disciplina, o aluno cabo-verdiano interiorizará certamente as regras gramaticais e discursivas em que assentará a sua boa comunicação em Língua portuguesa.

Para finalizar este escrito, sugiro e peço encarecidamente aos artistas que fazem os referidos postais e cartões com as bonitas mensagens de amizade e de amor, que sejam cuidadosos na sua elaboração e na sua feitura e que não negligenciem por favor! a correcção frásica, gramatical de que os conteúdos neles impressos, devem ser portadores.

 

 

 

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