Dentro
de pouco menos de um mês teremos as eleições legislativas no País e cerca de seis
meses depois, as presidenciais.
Assistimos
a uma corrida desenfreada para lugares nas listas dos principais partidos – o
pessoal a pôr-se em bicos dos pés.
É
também uma oportunidade normalmente utilizada pelos líderes partidários para se
desembaraçarem dos deputados incómodos – os que não dobraram a cerviz durante a
legislatura a findar ou ousaram apontar com insistência outros caminhos.
Tudo
isto porque os partidos políticos deixaram de ser instituições com um bem
definido projecto de sociedade, com princípios e valores, uma plataforma do
exercício da liberdade e da democracia –
pelo menos interna – onde impere, designadamente, o trabalho político e a
meritocracia, para se transformarem numa associação com fortes indícios de
autoritarismo em que o mais importante não é o mérito, a competência, o
trabalho realizado, mas a fidelidade (não a exigível lealdade) ao líder e a
expressão contida ou mesmo condicionada dos militantes.
Por
outro lado, há, nestas ocasiões, um movimento de activistas de bem definidas áreas
sociopolíticas que não conseguindo cativar um lugar no partido da sua simpatia
e sedentos de protagonismo se oferecem, por vezes, com alguma jogada chantagista
de permeio, a um outro partido de diferente ideologia programática ao “vender-se”
como um grande e disputado quadro e, “comprado” com o rótulo de uma grande
aquisição usando o eufemismo de “conquista”, ignorando de todo o seu pensamento
político – se o tiver – e fazendo tábua rasa de todo o seu comportamento e
posicionamento como cidadão e como activista.
A
natureza de “movimento” esteve sempre na génese e na acção dos nossos dois
maiores partidos. Um saco onde cabiam todos os pensamentos e todos os projectos
de sociedade.
Enquanto
o mais antigo cumprindo a sua tarefa, primeiro, de movimento, depois de
movimento armado – absolutamente necessário aos objectivos que perseguia – já
se afirmou, em tempo de democracia, como um autêntico partido, o mais novo,
passados trinta e um anos após a sua fundação, não obstante o estatuto de partido
que formalmente ostenta, ainda tem no seu comportamento e na sua dinâmica todas
as características de movimento, o que lhe confere uma enorme permeabilidade e
aberta porosidade dando lugar a infiltrações várias, descaracterizando-o com a
afirmação de tendências – uma ou outra dominante – que lhe são espúrias.
É
neste quadro de descaracterização e falta de identidade própria que um
candidato às presidenciais que devia ser natural e apoiado antes da sua
candidatura oficial é hoje ignorado pelo partido que fundou, e em seu benefício
apenas um envergonhado comentário pessoal do líder desse partido de “bom ou
excelente candidato” quando se esperava algo definitivo e conciso previamente
anunciado como: “se ele se candidatar é óbvio que tem o apoio inequívoco do
partido”. Isto não aconteceu e reflecte a essência de um movimento sem
identidade que menospreza os seus próprios militantes. Um movimento que parece
não saber de onde vem nem o que é, e, por isso, não pode saber para onde vai ou
quer ir.
O
facto de as candidaturas presidenciais serem de cidadania e apartidárias não
significa que não possam ser apoiadas por forças políticas devidamente
organizadas ou partidos políticos.
Quem
não se lembra de há cerca de dez anos, sendo líder do movimento um dos actuais
protocandidatos, um militante com currículo, porque fora Presidente da
Assembleia Nacional, ter sido preterido em favor de um não militante, ou
melhor, de um “militante” de uma outra organização política, pelo próprio
partido através de uma absurda e descabida encenação?
A
situação de então foi bem mais vergonhosa e absurda do que a actual que sugere
que “quem com ferros fere com ferros será ferido”. Esperemos todos que isto não passe de
sugestão e que nunca mais volte a acontecer!...
E
que não se tenha a peregrina ideia de “inventar” mais um candidato de “peso” e
submetê-los de novo a eleições internas dividindo artificialmente o eleitorado.
Ainda
está bem patente na memória de todos as consequências de dois proeminentes
militantes de um mesmo partido disputarem o mesmo universo de eleitores!
Aprendamos
sempre com os erros – nossos e dos outros!...
AF
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