Por
ocasião do 1º Fórum Mulher e o Desenvolvimento.
Praia, Cabo Verde, 29, 30 e 31 de Maio de
2025.
A Homenagem a 50 mulheres. O número escolhido
coincidiu com a comemoração dos 50 anos de independência de Cabo Verde
Antes
de mais permitam-me em nome das homenageadas, e em meu nome, expressar o nosso
agradecimento pela honrosa distinção que aqui nos foi conferida.
Creio
que nós, as homenageadas sentimo-nos e apercebemo-nos como parte de uma
comunidade que aqui representamos - as mulheres destas ilhas – e que ainda tem
um enorme caminho a percorrer, com inúmeros desafios à espreita, para a
realização do seu potencial de cidadania efctiva,
O facto
de coincidir com os cinquenta anos da independência deste país arquipelágico e
parte integrante dos arquipélagos da Macaronésia, carreia a homenagem de um
simbolismo singular no percurso social, familiar da mulher cabo-verdiana. Aproveitaria
a oportunidade para recordar que um dos primeiros projectos realizados no
pós-independência em 1977, foi dirigido especificamente à mulher. Refiro-me à Protecção
materno/Infantil, ao Planeamento Familiar, mais conhecido pela sigla PMI/PF da
cooperação sueca ao tempo, realizado com a Agência sueca para o Desenvolvimento
Internacional, cuja sigla era ASDI. Um projecto de longo alcance que melhorou
significativamente a condição materna da mulher cabo-verdiana.
Logo,
e doravante, a saúde reprodutiva da mulher passou a ser cuidada por
profissionais da Saúde e ela ficou menos ocupada e preocupada, com as questões
de saúde dela e a dos filhos.
Ora
bem, mais tarde, com o “boom” das construções de escolas básicas perto dos
aglomerados populacionais, tornaram interessante as estatísticas escolares pois
que revelararam que no nosso caso específico, a parte feminina da população, bem
cedo, foi e é afinal, percentualmente mais numerosa nas escolas do que os
rapazes e assim tem sido desde aí. A parte escolar feminina representa 52% e a contraparte
masculina 48%. Aliás, não sou eu que o digo, isto está confirmado, creio eu,
pela UNESCO. E esse percentual feminino mais numeroso, repercutiu-se tanto no
ensino secundário, como no ensino superior.
Ora,
aí está o quão importante é a Educação da mulher para a sua construção como Ser
pensante, e cidadã activa, através do saber, e do saber fazer. E aqui chegados,
falamos em escolhas da mulher e na contribuição que ela vem dando no desenvolvimento
sustentável do nosso país. Elas são hoje, empresárias de sucesso, comerciantes
dinâmicas, estão na indústria, no Turismo, na hotelaria, na restauração, no
desporto; são Quadros superiores e Quadros dirigentes da Educação e da Saúde,
da Administração pública e privada, são membros do Governo, Deputadas no
Parlamento, nas autarquias. Enfim, os patamares hoje alcançados pela mulher
cabo-verdiana, situam-na em lugar honrado, como sói dizer-se.
Mas mais,
com o advento da democracia, 1990, para além de ter ganho, tal como a sua
contraparte masculina, o direito à livre escolha através do voto, dos seus
representantes no parlamento, e nos outros órgãos de soberania, e nas
autarquias; a mulher concorreu também, ao lado do homem para a edificação
democrática do país, como sujeito-activo para o implemento e o sucesso do
processo democrático, nestas ilhas atlânticas.
Mas
meus senhores e minhas senhoras, este retrato quase perfeito que aqui
apresentei, tem também, e infelizmente, o seu negativo. Refiro-me às mulheres
que vivem e sofrem no meio da violência, às mulheres chefes de família
numerosa, monoparental, pobres e iletradas que constituem uma ainda muito
significativa, franja populacional do país, que estão muito longe das luzes que
o desenvolvimento traz. Elas são também nossas companheiras nesta jornada que
aqui celebramos e necessitam com premência de um olhar muito atento das
instituições governamentais e as da sociedade civil cabo-verdiana para se
tornarem igualmente cidadãs activas e contributivas para o desenvolvimento
sustentável do nosso país.
Nesta
linha, aproveitaria a ocasião para destacar o empenho e o trabalho dedicado das
instituições e das Associações que um pouco por todas as ilhas, e com o foco na
mulher, e na família, vêm fazendo para a valorização e para a participação
cidadã da mulher oriunda da camada populacional mais desfavorecida.
E termino,
reiterando os nossos agradecimentos enquanto homenageadas, à Organização do
Fórum, por esta distinção que tocou e sensibilizou todas nós.
1 comentários:
Gostei de ler este texto. Conforme é aqui dito, alguns passos importantes foram dados em benefício da condição feminina em Cabo Verde, mas há ainda situações que urge corrigir e que têm particular evidência nas famílias monoparentais numerosas à responsabilidade exclusiva de uma mulher.
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