Dengue – a responsabilidade do Governo

domingo, 8 de novembro de 2009
Falar do dengue é, actualmente, incontornável em qualquer conversa. Um surto epidémico que assentou arraiais na nossa terra, e que se espalhou pelo país inteiro por obra e graça do nosso governo. A ligeireza e displicência com que as autoridades encararam o aparecimento da doença permitiram o seu alastramento a uma velocidade exponencialmente crescente gerando uma onda de apreensão e pavor na população. Isto sem falar dos seus nefastos e pesados efeitos na economia do Pais.
Normalmente, depois da tragédia vem a farsa. Desta vez que, infelizmente, começou com a tragédia é a comédia que antecipa a farsa. Pois que, depois de mais de uma dezena de milhares de casos registados e de entre eles, algumas vítimas mortais, o governo surge, com um anúncio triunfalista e ao mesmo tempo inquietante, feito pelo próprio chefe do governo - que, pelos vistos, deixou de ter ministro da saúde – a conceder tolerância de ponto supostamente para permitir o combate às causas da doença e conter a sua proliferação.
Não se tratava de uma nova doença cujos efeitos e capacidade de alastramento não se conhecessem. O que aconteceu foi o desleixo e a incúria de um governo, que continua a privilegiar o imediatismo e o improviso, navegando sempre à vista. E que, pelos vistos, se limita a gerir, estritamente, o dia-a-dia e, por isso, não tem metas nem políticas consistentes, pelo menos, para a saúde pública.
Ninguém condena o gesto do governo em si em conceder tolerância de ponto. Ele é aparentemente generoso e tem a virtude de apelar à indispensável solidariedade e alertar para os focos a combater. Também não se questiona a sua necessidade. Tornara-se já, por incúria e negligência das próprias autoridades, imprescindível e indispensável. O que ninguém aplaude é o seu timing que o transformou numa manifestação folclórica evitável se o governo tivesse feito em tempo útil o seu trabalho de casa. Não teria sido necessário privar o país de um dia de produção. Foi um gesto não negligenciável mas com uma forte carga demagógica que, no fundo, o que mais pretendia era fazer esquecer a “borrada” que havia feito ao permitir que meia dúzia de casos descambasse tão rapidamente num surto epidémico. Como diz o povo: “Depois da casa arrombada, trancas na porta!”
Não é tempo de culpabilizar ninguém individualmente nem de procurar bodes expiatórios, que os há sempre. Mas se o governo não é responsável pelo aparecimento do dengue no País, ele não pode enjeitar a grande responsabilidade que tem na sua rápida transformação em epidemia. E por isso, deve tirar, ele próprio, as devidas ilações e agir em conformidade, sob pena de, se o não fizer alguém o fará por ele com pesados custos.

A. Ferreira

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