II
Antero Marques Simões
O AURÉLIO era como eu lhe chamava familiarmente - ensinou gerações
à minha "semelhança". Não ensinou EÇA nem o curricular do tempo - as
cenas lisbonenses e a tragédia de um seu "cidadão" por causa dos
amores de uma "deusa" de tez "ebúrnea. Nada disso. Sua formatura em Histórico-Filosóficas só lhe
garantia discorrer da Lógica de Aristóteles e do "cogito, ergo sum!"
de Descartes. Não podia eu senão falar e traduzir Cícero e Virgílio para os
alunos do "Gil Eanes" mas, como a Literatura Portuguesa era a minha
3ª disciplina. O AURELIO´, porque "dissecava" o EÇA como se tosquiava
ovelha de grossa lã, faiscava-me com umas "deixas" sobre o meu
conterrâneo de "uma só noite", atirando-me assim - ANTERO, você
afinal também "entra" pelos MAIAS sem pedir licença ao
"santo" ONOFRE das "Lendas".
E naqueles
intervalos das aulas e, sobretudo, quando ao meio-dia tilintava o
"guizo" do Liceu para nos "despachar" para o almoço, a
nossa conversa recaía evidentemente sobre MINDELO, não aquela linda cidade que
tem um belo cais de "ver-partir-mais-que-chegar", desta Mindelo de
Vila do Conde, onde o "actor" José Maria, acordando de um sono fundo,
como se estivera no Teatro de D. Luiz, em Coimbra, atirara aqueles brados todos
porque já lhe cheirava a VILA do CONDE. E não era aqui no largo da Praça Nova
que o "santo" ANTERO o esperava com o Martins, e o Câmara e o Luís de
Magalhães?
Não, naquele
fim-de-manhã, ao sabor daquele sol meio liquefeito de São Vicente - uma terra
amada que, como ANGOLA, me ficou bem gravada na minha memória, mais ainda em
meu coração, a conversa descaiu, como por encanto, na IRONIA do nosso EÇA e de
quanto, por trás dela, em quase todas as suas Obras, parecia oscilar num certo
trago de infeliz TRAGÉDIA.
E, como este
grande "professor" de Filosofia saberia mais de EÇA do que de Kant ou
Bergson, aquela passeata até nossas casa, com passagem pelo CAMÕES do Largo do
Grémio, estancou uma hora e mais uns minutos. E foi sobre os
"Aspectos" mais "denotativos" da IRONIA QUEIROZIANA que o
nosso Diálogo se abriu. E tinha de o ser, não tivesse o Dr. ROQUE (também tinha
esse heterónimo) já editado uma interessante monografia sobre esta rica temática
do meu IRÓNICO E TRÁGICO romancista.
Antes, porém, de transcrever o nosso
"diálogo" livre e espontâneo, há que antepor-lhe uns
"dados" biobibliográficos a este meu inesquecível companheiro – um
filho de S.Vicente, Cabo Verde – com timbre e nome para figurar numa História
da Língua e da Literatura Portuguesas. É precisamente com suas
"respostas" a umas quantas "intencionais" perguntas que me
apraz mesmo "coroar" com certo gosto esta IIª PARTE deste meu
"empenhado" trabalho sobre Eça de Queirós.
Este novelista e professor de História – ANTÓNIO
AURÉLIO GONÇALVES (1902-1984) – que, em seu interessante livro comentara e
sintetizara, com mito acerto e psicologia, os “Aspectos da Ironia de Eça” na sua evolução e transição,
abrir-me-ia, sim, algumas novas perspectivas. Desde os vários cambiantes deste
singular processo estético de literaridade – a ironia – até aos que tocassem
nos primeiros "acentos" de teor dramático ao modo dos clássicos
gregos...
Mas fiquem aqui, como átrio d nossa
"digressão" pelo EÇA Irónico, mais alguns elementos sobre este
cabo-verdiano, um colega tão especial como "diferente" dos outros
que, do mesmo torrão insular, comigo trabalharam para bem daquela juventude
ilhéu, dos meados do século passado:
- Era ainda um jovem dos seus 16 anos quando o António
Aurélio Gonçalves rumou a Lisboa, em 1917, para continuar os estudos. Ali ficou
estudando e ensinando por vinte e dois anos, voltando à sua terra-natal só nos
inícios de 1939.
A capital portuguesa proporcionou-lhe uma vida
literária de certa intensidade em ambientes acentuadamente lusitanos, na
convivência firmada com intelectuais de nomeada na época, entre outros Castelo
Branco Chaves, Castro Soromenho e Álvaro Salema. Teve, além disso, contactos de
tertúlia com elementos do Grupo da Seara Nova, aonde acorreram com ele
outros africanos radicados em Lisboa, sobretudo os responsáveis pelos
periódicos A Mocidade Africana e Humanidade”
Então, naquele dia, naquela hora – era em plena
actividade escolar, do ano 1962 – aconteceu, a meio de nossas diárias conversas
que se ficavam quase sempre pela História dele e a minha Literatura, com
vantagem para meu lado, o nosso EÇA mais "virado" para a sua IRONIA.
Ele, o AURÉLIO "navegava" por aquelas águias "queirozianas como "lancha"
em mar azul da sua Baía do Porto Grande. E não é que se notava em seu rosto
"mestiço" aquele alegre rubor de estar num "campo" de sua
mais grata satisfação. Até porque no seu opúsculo "Aspectos da Ironia
queirosiana", que publicara em 1937, ele discorrera como em pleno dia
pelos caminhos mais tortuosos de "O Crime de Amaro" até ao termo do
"crime" incestuoso de Carlos e Eduarda de Os MAIAS.
Naquele dia semanal, naquela hora do fim-das-aulas de
uma manhã, em que ele tivera o tema das DESCOBERTAS com seus alunos e eu. Por
acaso, o da "tragédia" dos MAIS, o assunto da IRONIA do "pobre
Homem da Póvoa de Varzim" estava mesmo a calhar. E – já descíamos a Rua de
Lisboa – quando, retemperados de um cafezinho ali no Bar "Estrela",
lá nos fomos "engolfando", primeiro nos "temas" das aulas deixados
para trás – ele de sua História, eu da minha Literatura.
Sim, era mesmo o momento certo, a hora azada, cada um
no caminho do seu almoço, em nossas casas tão vizinhas. É para minhas
"notas", AURÉLIO... Pode ser que um dia, mais tarde, até o passe para
um "livrito" sobre o meu "conterrâneo" Queirós. Sabia que
era da PÓVOA? Sabia?
- Se sabia, caro Antero, mas os da "VILA"
disputam-lhe essa glória do nascimento. Mas isso "est alia res", como
Você ensina ali no GIL EANES, não é?
- Começo, GONÇALVES, começo por lhe agradecer sua
sempre aberta disponibilidade – Sei que Você é um "barra" em EÇA, e
até já lhe ouvi, há tempos, que o meu "poveiro" era o autor de sua
predilecção, com CAMÕES. Então, sem mais "prolegómenos", entro já na
questão. Para si, diga-me já à queima-roupa. O que é a IRONIA? Figura,
processo, arranjo literário, retórico, estético?
- Sim, caro
colega, afinal ANTERO também – não é verdade? - para mim Ironia é uma figura de
linguagem em que o sentido literal (denotativo) é muito distante ou mesmo o
oposto do que se tem a intenção de significar. Dito de uma outra forma, ela é
um processo de interpretação baseado na inferência, com fins lúdicos,
satíricos, críticos, ou outros, e resulta de um contraste entre elevadas
expectativas e uma realidade decepcionante.
Mas entremos no nosso
"bate-papo" com o meu amigo e companheiro das mesmas lides, com o
GONÇALVES – um licenciado em Histórico Filosóficas pelo famoso Curso Superior de Letras de Lisboa. No seu rosto eu
adivinhava-lhe aquele suave sorriso de como me queria surpreender com algum
"achamento" seu, da última hora. Aproveitei, então, o ensejo daquele
sinal de aberta disponibilidade, e "assestei-lhe" a 2º pergunta"
do nosso "sumário" meio ocasional meio intencional:
- Como assim e por que assim, quando – tenho aqui o
seu opúsculo – o Aurélio defende que “uma
personagem apresenta-se-nos com traços próprios e. subjacente, define-se ou
adivinha-se uma herança psicológica. Existem nela tendências que, de ordinário,
lhe são transmitidas no sangue, declaradas em alguns casos, latentes outras
vezes, ignoradas até do seu próprio possuidor, nem são corrigidas por uma
educação racional e cautelosa…".
- Sabe, no
pensamento de Eça que, como sabe, é em relação às suas "personagens"
um narrador "omnisciente" e "omnipresente", há uma como que
"base" mais profunda, por vezes, inconscientemente adquirida ou
acumulada, de atavismos, de formação moral mais ou menos deficiente, de hábitos
adquiridos ao longo de uma mocidade sabe-se lá como e por que
"deformada"...
Tem aí ao seu
dispor os casos de Amaro para com Amélia, o de Basílio para com Luísa, o de
Carlos para com Maria Eduarda, que nos conduzem ao ponto fulcral da questão – o
drama trágico que lhes advirá...
- Quer-me o colega filósofo dizer que a personalidade
"criada" por EÇA em cada uma destas “exemplares” Figurantes das 3
"peças" narrativo-irónico-dramáticas se eclipsa para que triunfe,
para sua infelicidade, a natureza profunda do indivíduo? Ou seja, daquelas
inclinações que trouxeram de suas géneses familiares e atávicas? Quero dizer
consigo que o "peso" do meio e da família e da educação cai mesmo
cerce sobre todos os "actores" da grande diegese" queiroziana –
o de um padre celibatário, o de um diletante "dom juan" chamado
Bazílio, o de um "médico" falhado que, pela educação britânica"
e "coimbrã" superficiais, gastou sua viril idade numa "floresta
de enganos" erótico-amorosos...
- Nem o duvide,
meu queiroziano poveiro, que as circunstâncias histórico-político-socais, e no seu
entre-cruzamento com as familiares, sobretudo “um meio sempre o mesmo" – a
sociedade portuguesa que viu o ocaso do Romantismo – pesa sobre o herói.
desequilibra-o, acentuando-lhe predisposições. E destas, em nome da moral, ou
em virtude dos seus preconceitos, não se lhes consente uma livre manifestação”.
- Mas, meu Caro Filósofo e Historiador, há, como
julgo, neste "conduzir" assim o nosso EÇA DE QUEIRÓS por rumos
semelhantes ou paralelos, as suas Personagens – no tríplice "roteiro"
de suas vidas" tem de buscar-se também em bases filosóficas, em
influências estranhas, em autores e doutrinas que ele, como
"ficcionista" e "artista" do Realismo então iniciado,
assimilou e em que se filiou. Que me diz sobretudo da "escola"
francesa de Taine nesta "revolução" do nosso romancista?
- É isso, – e
VOCÊ também o saberá da Filosofia em que se "formou" – que Eça,
adoptando – como bom naturalista – as doutrinas de Taine, tranquilizava-se
pisando terreno que sentia firme, contentava o seu gosto de investigação das
causas e da racionalização da vida. Satisfeitas as exigências do construtor, a
intervenção da fatalidade introduziu na sua arte o sentimento da inquietação
perante o universo, desarticulou a rigidez geométrica da sua construção, deu à
sua ironia uma forma transcendente…
- Sei, sim, perfeitamente que este tema da fatalidade –
romântico por natureza – tratou-o Eça com uma simplicidade primitiva. O destino
é então um motivo de tragédia pura. É o homem esmagado pela vida, de que Eça se
apoderou, comunicando-lhe uma complexidade inteiramente sua.
Mas, AURÉLIO, na suposição de que "cada
caso" é um "caso" diferente! - sem querer que o meu Amigo meta a
"foice em seara alheia", – o meu TRÁGICO EÇA tenho-o para um
companheiro de tertúlia de RÉGIO!. Agora, com o Bom Amigo queria que me
trocasse por "miúdos" a moeda grande – a tal influência do
"meio" e da "educação" nos mais interessantes ROMANCES do
nosso EÇA – o Amaro, o Basílio, o Carlos da Maia. Não acha mais lógico, mais
pedagógico?
Que me diz então, AURÉLIO, de cada um daqueles três
"títeres", os protagonistas? \
- Sim, é
meridianamente visível que, perspectivando, a um só olhar, os 3 romances da
fase de transmutação do naturalismo para um realismo mais ou menos exacerbado,
foram o meio, a educação e os casos fortuitos em que se envolveram AMARO,
BASÍLIO e CARLOS DA MAIA, que acabaram por exercer sobre estes “heróis” de Eça
a sua influência mais ou menos nefasta.
- Então, Amigo, há que "relacionar" as
predisposições e hábitos adquiridos com as circunstâncias, as pessoas que
aparecem, os simples e fugazes episódios que acontecem a qualquer um, mas
que...
-... Que, sim,
não vê que, recebidas tais predisposições por suas heranças atávicas,
parecendo, por um lado, trazer aos nossos "heróis" a expansão de suas
vidas e a solução de seus problemas, por outro, surgindo-lhes um facto, uma
pessoa, uma circunstância mais intensa ou mais contraditória, – por exemplo,
uma aventura – geralmente, casual ou clandestina – a que se vêm – quem sabe –
juntar certos instintos recalcados, tudo isto lhes trará a doce ilusão de uma
plenitude, uma realização, uma vida...
- Pelo que diz, o EÇA, na sequência do ANTERO e dos
franceses que leu e assimilou, como Zola, Baudelaire, Renan e Flaubert, tentou
com a sua teoria da ARTE mais pela Natureza que pela ARTE, "construir um mundo
novo, não é verdade? Ou tanto por uma como pela outra? A Natureza para a Arte,
e esta para aquela?
- Sim, Antero
amigo, o da Póvoa, não o da "Vila"..... Neste élan de se achar um
“mundo novo”, a personagem ou protagonista, sem discutir sequer as razões de
como tudo aconteceu, toma o mesmo rumo da sua encantada aventura. Enche-se de
audácia, dá-se à luta, ladeia todos os obstáculos, julga ter o mundo em suas
mãos… Mas, oh dor, oh felicidade, ó alturas do sonho e da vida levianamente
conquistadas, que um pequeno e acidental episódio, um leve sopro do que
chamamos normalmente o destino ou o fado, – e quem lhe poderá resistir! –
faz-lhe ruir os sonhos, a torre de marfim em que se julgara estabelecer, aquele
“paraíso”, enfim, que a preço de tantos esforços, humilhações e renúncias,
-sabe-se lá! - se tornou um antecipado “inferno" o que antes era gozo,
felicidade, um céu em vida...
- Quer dizer-me que, olhando as personagens pelas suas
tendências frutos de um atavismo profundo e de suas deficientes bases de educação,
há sempre um MAS quase, ou totalmente, fatalista...?...
- Sim, há sempre
um “mas” – pode perder-se a batalha. A guerra pode não perder-se. Ao menos, de
um modo absoluto… Alguma coisa ficará nas mãos… Mesmo que o mundo rua – dizia
em seu idioma o poeta Horácio Flaco, dos Romanos – há uma coisa que sempre
ficará de pé… As cinzas... E das cinzas não poderá levantar-se um
"corisco" de fogo? Se por aquele rumo ou por aquele mundo que sonhara
já é inútil dar um passo mais, o homem vencido ainda lhe surgirá, embora memos
ditosa, qualquer oportunidade de se refazer, mesmo que seja um mero espectador,
ironicamente esmorecido da vida…
- Particularizando o drama dos 3 “pares" que mais
protagonizaram a narração romanesca de Eça de Queirós, como é que provaria, meu
Caro Amigo, que o “sentido irónico” nelas vincado é o reverso do seu “sentido
trágico”? E onde se notam esses "aspectos", o seu "acento"
de uma estética IRONIA?
- No primeiro, o
“caso” do par AMARO-AMÉLIA, que já se preanuncia na mesma “filologia” etimológica.
Intencional no “código” eciano? O “amarus” de Amaro com “amargo. Amargura,
amargurado” fronte ao “amor e amare e amabilis” de Amélia, foi-o de escolha do
sub-consciente freudiano? E repare-se como o “protagonista” deste CRIME de
adultério é um rapaz que uma condessa benfeitora “atirou” para o seminário, sem
qualquer iniciação moral e religiosa, para, um dia, se votar, pelo sacrifício e
pela reza, à direcção das almas que lhe foram destinadas.
- Mas esteve ali também o mau "exemplo" do
seu confessor, o Cónego Dias. Se a psicologia vale, sabe bem, meu pedagogo das
"Hespérides", que os exemplos... é que arrastam, sobretudo os maus,
os perversos, os criminosos...
- Sim, caro
Colega das "letras", não do Banco, evidentemente, mas de Eça, de
Antero, de Ramalho... Sensual como AMARO se tornou pelo tempo fora, acaso pelo
exemplo dos seus correligionários (aqui, o Cónego Dias, mestre de sua
consciência, foi de todos o mais responsável), não lhe foi difícil revelar-se,
por seu comportamento, contra a lei do “celibato” clerical… Ao cabo de
peripécias sem conta, umas mais sigilosas que outras, acabou por seduzir uma
ingénua mas bela rapariga, também tão amorável, que, ali às ocultas, se fez uma
perfeita concubina…
- Mas, se o plano do João Eduardo não tivesse esse
"obstáculo" pela frente, – um padre tão liturgicamente sedutor pela
abusada "confissão" – até que este caso dos jovens namorados só teve
a sua "solução" a larga distância... – o romance de Amaro e Amélia
poderia ver outro "desfecho" mais conciliador, mais tolerável, menos
degradante... não acha, meu filósofo?!
- Parece que, a
certa altura, tudo se concertará no resolverem entre si o problema sexual. Mas
não. Que sempre o fatalista princípio de que “o coração tem razões que a razão
desconhece!” aqui vem como do céu...Mas a terrível obsessão do amor tão
devassamente conduzido por uma consciência sem escrúpulo como a deste “mau
pastor das boas almas aldeãs" levou-os a ambos (Amélia, então, aderindo
aos feios impulsos amorosos de seu “confessor!" o hipócrita e sacrílego
"senhor pároco") ao mais inimaginável desfecho
- E, já no fim, morrendo a pobre da Amélia por uma
desditosa gravidez, não acha, caro GONÇALVES, que a Amaro só lhe restava, ou o
infanticídio de que ele é único “réu”, ou a morte vergonhosa dele, ou ainda, a
fuga inevitável da sua "profissão" – talvez, melhor dita – alta
missão de "condutor" de almas... Se tivesse, em vez de EÇA , o
"papel" de "encenador" ou de "realizador" ou
"argumentista" para "resolver" o "problema" de
AMARO, acha, meu ROQUE amigo, que "traçaria" no papel as mesmas
"cenas", o mesmo descritivo, o mesmo diálogo?...
- Agora é que o
ANTERO me "apanhou" quase descalço...
- Descalço? Não creio que valha a analogia.
- Mas explico
com duas "penadas". Assim como vai ouvir...
- Ouvirei, sim, com muita atenção, onde vão recair as
tais "penadas".
- Olhe,
Colega de Português! Talvez não fosse a do autor a solução saudável para uma
“intriga” muito ampla e complexa, com inúmeras “personagens” dos vários
estratos sociais, da igreja e da administração, do beatério sempre intriguista
e do clero porventura “viciado” na materialidade do dinheiro... Toda uma série
de fatais consequências, de maus exemplos para um povo cultural e moralmente
impreparado, mesmo para o “protagonista” que, na intenção irónica, moralizadora
e criticista de EÇA, sobrevive ao mal que, sob a negridão de sua batina,
praticou e ao bom exemplo que, aparentemente, até teria certa vontade de exibir
aos seus pobres paroquianos…
- Mas, afinal, AURÉLIO, ainda não descortinei qual o
seu "juízo" final. Como julga a "solução" que o MEU IRÓNICO
EÇA deu ao Amaro, a Amélia, ao filho deles?... "Morrer" ou
"matar" nunca será uma saudável, uma aceitável e elevada solução de nada.
- Por fim, este
AMARO, afinal um devasso, um incrédulo, – por ironia do diabólico DESTINO! –
torna-se também um céptico, um materialista, um ocioso, um cínico, em cuja
alma, apesar de todos os embates e remorsos e desgastes físicos e morais, se
pressente o fogo secreto das passadas “angústias”. E isso bastou para impedir
nele e na sua vida final que se levantasse qualquer “onda” de revolta, qualquer
visão de morte para si-próprio, como era mais digno e superior para
"resgate" de seu nefando CRIME…
- E, depois do par Amaro-Amélia, vamos aos
"primos" amorosos mas "adúlteros" SÍLIO-LUÍZA. Estes vão noutro sentido, menos
reprovável, mas também "criminosos", que "adulterar" a
fidelidade conjugal será sempre um "crime" para jamais, jamais,
cometer ou imitar...
- Está a
raciocinar conforme o princípio do tal "atavismo" familiar ou
educacional. De facto, no PRIMO BASÍLIO, Luíza parece viver, de início, bem
feliz na tranquilidade burguesa de seu lar. No íntimo ela sempre se mostrou
desde a mocidade uma romântica que gostava de uma vida mais agitada, mais
socialmente vivida. E tão cedo o marido por dever de ofício se foi para longe
do lar, ao primeiro “sedutor” que lhe surgisse a oferecer-lhe o ensejo de uma
situação mais brilhante, mais sentimental ser-lhe-ia fácil a “entrega”.
Basílio, um primo que veio do Brasil a visitá-la, aproveitou a
"deixa" do marido e, para a “seduzir” nos seus braços apetecíveis e
aventurosos, todo foi "arte e ofícios"...
- Mas, Professor, não há bem que sempre dure, nem mal
que nunca acabe... não acha? E aqui o tédio, o nojo, o cepticismo, tinham de
vir ao de cima... E nada fica tão oculto, que a verdade das "causas e dos
efeitos" não venha ao de cima, à luz plena do "sol" da
verdade... É quanto se recebe desta "herança" de um Paraíso perdido,
aliás como o foi o do "sensual" e "leviano" PRIMO duma tão
ingénua Luíza... Parece que, contra a lei do "entrevistador" estou a
entrar, meu grande ROQUE GONÇALVES; no seu "campo" de Entrevistado.
Desculpa, Aurélio a "intrusão"…
- Sim, meu belo
Entrevistador, por fim, graças à intolerância perseguidora de uma sua criada,
que se apodera de seu segredo e o explora com ferocidade, sua vida torna-se num
mar de lama, tal que nele a pobre mulher se vai afundando cada vez mais. Mas
ela, a Luíza, saiu daquele lodaçal, um dia, já era tarde. E – ó ironia do cruel
DESTINO! – quando ela supôs chegado o fim de seu imenso martírio, já depois de
tomar um novo rumo para uma nova felicidade, apareceu aquela carta do
primo-sedutor, lá de longe, sempre Paris, que caindo nas mãos de seu verdadeiro
marido, tudo "revolucionou" em sua vida. Até que,
por "fas" e por "nefas", esse documento acabou por ser a
causa fatal de uma breve felicidade, cedo "desfeita" no seio da
vergonha, da morte e do abismo…
- E, por fim também, meu bom companheiro, vamos ao
“caso” do par CARLOS e das “personagens”, diríamos “centrais” e “protagonistas”
deste cenário não só de Lisboa como de Portugal e do Mundo? Fiquemos mais no
"sentido" da IRONIA que o da TRAGÉDIA, que este o
"repescarei" EDUARDA. É o mais episódico e o mais rico de intriga, o
mais acabado no seu desenlace “trágico". Quem é uma e quem é outra bem
junto ao mar da PÓVOA, de outro nosso "colega", até um especialista
em Cesário Verde e em
José Régio. Já ouviu falar do AMARO DE OLIVEIRA?
- Quem não leu
os seus "comentários" à Tragédia dos MAIAS? Que extraordinário valor
ali se não contém!
- Mas, Aurélio, antes de entrarmos no caso dos dois
"irmãos" incestuosos, aliás nem sempre, Carlos e Eduarda, deixe-me
lembrar-lhe aquele pequeno diálogo também "engraçado" das duas
SOCIEDADES. Tenho aqui OS MAIAS – boa brochura, cores sobre o roxo – e queria
ler-lhe um passo curioso.
Soava já na
torre da Matriz a uma hora da tarde, a última aula da manhã findara ao toque da
"sineta", o vozeario das ruas frente ao Largo do Liceu ia
engrossando, Aurélio e Eu tivemos mesmo que entrar ali, no Café ESTRELA – que
saudades, meu Deus? - para nos "dessedentarmos" um pouco. Mas, como
ali sob um dos bancos do jardim um abençoado plátano nos oferecia a sua sombra
tão fresquinha, tão reconfortante, ali nos ficámos para mais um pequeno mas
"eciano" diálogo. E, como Aurélio, um historiador da Filosofia, um
esteta e um artista da escrita, quem nos "ensinaria" melhor os
"aspectos fulcrais da IRONIA de QUEIRÓS?
- Falou-me Você
em
Sociedades. Quais Sociedades ?
- É mais para variar o assunto, dar um "ar"
de descanso ao nosso "tema" quase a "descambar" no TRÁGICO.
Por isso, vou, GONÇALVES – este é que é seu correcto e original sobrenome, não
é? - dar-lhe o meu "lámiré!...
Assim, para que oiça: - Falava-se, entre risos
mordazes e chistes banais, naquela soirée dos Gouvarinhos deste e daquele vulto
da Política E veio ao caso uma conversa entre o Sousa Neto e a D. Maria da
Cunha. Falava-se das várias Instituições de Lisboa, de benemerência e
sociabilidade, como esta que Eça aproveitou para a sua constante crítica
social.
- Mas leia, meu
Caro, esse tal passo, para ver se me lembro dele:
- Aí vai a "ironia" de um EÇA sempre
bem-disposto: - "E a baronesa, do lado, declarou também a galantine uma perfeição Com um olhar ao escudeiro, a
condessa fez servir de novo a galantine; e apressou-se a responder ao sr. Sousa Neto, que, a propósito de cães,
lhe estava falando da Sociedade Protectora dos Animais. O sr. Sousa Neto
aprovava-a, considerava-a como um progresso... e, segundo ele, não seria mesmo
de mais que o Governo lhe desse um subsídio.
- Que eu creio que ela vai prosperando... E merece-o,
acredite a senhora condessa que o merece... Estudei essa questão, e de todas as
sociedades que ultimamente se têm fundado entre nós, à imitação do que se faz
lá fora, como a Sociedade de Geografia e outras. A Protectora dos Animais
parece-me decerto uma das mais úteis.
Voltou-se para o lado, para o EGA: - Vossa Excelência
pertence?
- À Sociedade Protectora dos Animais?... Não, senhor,
pertenço a outra, à de Geografia. Sou dos protegidos.
A baronesa teve uma das suas alegres risadas. E o
conde fez-se extremamente sério: - Pertencia à Sociedade de Geografia,
considerava-a um pilar do Estado...".[1]
- Sim, com tal
graça e até pilhéria, nenhum outro autor ironizou tão leve mas intensamente as
nossas instituições literárias, científicas e sociais.
- Não acha bem, nos MAIAS, episódios assim graciosos,
que nos enchem de "ar puro" os nossos pulmões já cansados, já
enfermiços de tanto "cheiro" a grosserias, a crimes, a hediondezas?
- Na verdade,
meu Ilustre Comunicador, estamos aqui um pouco no risível "social"
sobre duas beneméritas Instituições, de bem-querer e de bem-fazer. Ambas são
daquela época, de estatutos generosos e profícuos, cujos membros então se
ufanavam de suas obras em favor de duas classes que se completavam – a dos
ANIMAIS e a dos GEOGRÁFICOS. Duns, que protegiam nos seus indeléveis direitos
de "fidelidade" aos seus ricos-donos. E doutros que, em suas ânuas e
mapas e carta e padrões espalhados pelo MUNDO, ali se reviam e se acham assim
como genésicos filhos-de-algo, de Aquém e Além de África, de Ásia e de América.
- Quer dizer, a Gouvarinho alinhando nos
"Animais", o Sousa neto nos "Geográficos"...
- Claro como um
lago quando o é: - a condessa, batia-se pelos pobres "amigos de quatro
patas". Ele, o Sousa Neto reclamava-se geograficamente como um dos
"filhos" dos das "bandeiras" do Brasil ou dos
"vagabundos" à Afonso de Albuquerque ou à Fernão Mendes Pinto...
- Concordo, caro Gonçalves! O trocadilho da condessa
fez sério o Sousa Neto. Pudera, se ela, rindo galhofamente, o entrevia entre os
pobres rafeiros ou vira-latas da Baixa-Lisbonense... E não é a alegria a
"coisa mais séria" deste mundo?
- É quase a hora do nosso "desfecho". È que
se faz tarde para a nossa "cachupa", gosta não gosta? E eu mudaria um
pouco de "tema", talvez para a concepção eciana da ARTE. Não disse o
autor de Os MAIAS que a ARTE é TUDO, tudo o resto é NADA?
- Ah! sim. Vamos
ao "tema" que está na base de tudo quanto EÇA projectou para que a
"nudez forte da Verdade" – e então esta era acima de tudo a
"crítica" dos costumes pela narração das "Cenas da Vida
Portuguesa" – sob o artifício consciente do "diáfano manto da
Fantasia". Estou às suas "últimas" ordens... para se
"fechar" com "chave-de-oiro"... Diga, diga...
- Assim, meu Amigo Filósofo e Historiador, será que a
obra de EÇA nos dá os elementos bastantes que nos autorizem a incluí-lo no
número dos grandes criadores da Arte? Mas também que nos incitem a formar um
espírito votado para a "acção". Aquela frase de Leonardo Coimbra –
"O homem só o é realmente quando for obreiro-de-um-mundo-por
fazer"!... Idealista? Realista? Aqui, nos MAIAS, há um "passo"
que talvez nos leve a este tema – Arte para a Acção. É o do Craft na
"peugada" do Sousa Neto. Conhece-o? Vou ler-lhe:
- Leia, leia,
que, se bem me recordo, tem, como a dos ANIMAIS, a sua "piada", quero
dizer, a sua "colher" de ironia!
- Leio, e já, AURÉLIO meu: -“Craft tornara-se, em poucas semanas,
íntimo no Ramalhete. Carlos e ele, tendo muitas similitudes de gosto e de
ideias, o mesmo fervor pelo bricabraque e pelo bibelot, o uso apaixonado da esgrima, igual
diletantismo de espírito, uniram-se imediatamente em relações de superfície,
fáceis e amáveis….
Craft era grande no xadrez,. o seu carácter ganhara
nas longas e trabalhadas viagens a rica solidez de um bronze. Para Afonso de
Maia “aquilo era deveras um homem”.
E Craft as noites passava-as invariavelmente no
Ramalhete, tendo enfim, como ele dizia, encontrado em Lisboa um recanto onde se
podia conversar bem sentado, no meio de ideias. e com boa educação"
– "Gostei,
gostei dessa "educação" no Ramalhete do velho Afonso, tudo para que
vingue a acção, e não se fique apenas na "fantasia" da arte e no
"sonho" da melancolia... Mas insista, enquanto nos vamos indo para
nossas "opíparas" cachupadas... Gosta delas?
- Se gosto, meu bom Aurélio, nem o cozido-à-portuguesa
lhe chega aos calcanhares... Dou a "vida" por uma cachupa – olha,
Aurélio, à moda da D. Isabel, ali da Pensão Central... ali na rua de Lisboa.
E,
sobraçando eu os MAIAS cujo “enredo” tinha aflorado com minha turma de Letras,
e sobraçando o colega eciano o seu compêndio de Filosofia, lá fomos passar pela
Praceta de CAMÕES, onde sob a sombra perfumada das tílias, continuámos num
breve como estratégico “diálogo”. Agora, o "sumário" era o “espírito
de acção” e de “carácter” que paira em qualquer dos 3 mais famosos romances de
"amor", de um Eça de Queirós, tão irónico como trágico na
"acção" de suas principais "personagens", sobretudo das de
OS MAIAS.
- Pois é, Caro António, sempre tão erudito nas
“virtudes” estéticas e humanísticas de meu conterrâneo EÇA! Sim, daquele mesmo
que, diante do meio romântico CHAGAS, disse de si tão fulgurantemente: -“Sim, você, Chagas, é um poeta, um sonhador,
e eu apenas um pobre homem da Póvoa de Varzim”. Gostou, caro Colega de
Letras, mais das Histórico-Filosóficas?
- Já, na
verdade, nem me lembrava desse “passo” das “Contemporâneas” naquela disputa com
o autor da “Morgadinha de Valflor", acerca de quem Eça se dizia “admirador”
dum lado, do outro, enfim, que ele era um “patriota” dentre os “patrioteiros”,
estes que o são por interesse político e para granjeio de fama… Mas pergunte,
ANTERO, sobre o tal “activismo" das personagens do incomparável – como
disse, ao princípio? - poveiro, sim, duma só noite... A da Póvoa, que na Vila
foram mais que muitas... por 4 anos e tal...
- Sabe a "história" toda da Carolina Augusta,
a mãe do Zé Maria... Mas deixemo-la, que tão pouco decente foi, e vamos mais à
"História" do Carlos e da Eduarda.
Vamos pois como nas FARPAS à 1ª "seta": - Por que razão, ou
razões, terá Eça fugido a impor um acentuado “espírito de acção” ao “criar” e
“recriar” os seus "figurantes" romanescos, – perdão! – as suas
“criaturas" ao longo da maioria dos seus “dramas”?
- Pois bem.
Sim, ele de facto absteve-se de “estudar” as manifestações desse espírito.
sobretudo na primeira fase da sua carreira de romancista. Mas, à medida que
avançou no tempo e cresceu na experiência da vida (que aliás, lhe foi
“madrasta” quase sempre!) – nele se nota um avanço notável. Não é que no fim da
segunda e, mormente, na 3ª fase, a da excelsa criatividade da ILUSTRE CASA e da
CIDADE E DAS SERRAS e da CORRESPONDÊNCIA, já se adivinha uma outra mentalidade
de “realizador” em si-próprio e, evidentemente, nas “figuras" que recriou
para novos horizontes de suas vidas....
- Mas, AURÉLIO, não me esclareceu ainda por que EÇA na
fase do CRIME e do BASÍLIO e até dos MAIAS se retraiu a “modelar” FIGURAS mais
lançadas para um futuro de acções generosas e progressivas... Não os acha,
nestes três famosos romances da 2ª fase, demasiado “passivos”, muito acomodados
a um morno e banal quotidiano? …
- Olhe, caro “anteriano” Simões – não é repórter a
entrevistar-me. pois não? – o seu conterrâneo EÇA considerou a acção uma
atitude importante, mesmo uma “conditio sine qua non” para que a vida progrida
em valores de verdade, de beleza e de bondade. Se a cultura não irradia, se
falta a ousadia e a sensibilidade, que não se compadece com o tédio, a inércia
e “cair das mãos” na hora de agir, tudo é inábil, tudo ineficaz, tudo inútil...
- Vamos a algumas personagens mais
"carismáticas", sei lá, o Amaro, o Teodorico, o Carlos Eduardo...
- Seja, pois.
Quanto às “personagens mais “carismáticas” de Eça, há uma que outra que vai no
sentido oposto. Veja, como exemplo, enquanto um Amaro, ou um Teodorico, ou um
Carlos como que agarrando às “saias” de suas Vénus de provincianas ou
citadinas, pouco ou nada “progrediram” em ascese de acção e de frutos
sazonados, há outros como um Gonçalo Ramires, um grande realizador, na sua
“Ilustre Casa” – um homem de acção bem forte, para quem a sua mulher D. Ana é
sopro de beleza e de inspiração. E ela, também pela fortuna, o ajudará a
vencer. Ele tem a energia para se afastar de seus defeitos e tentar a sorte,
pela acção…
- Como a sorte? E como a acção? Em que cometimento,
ele, de figura um tanto obscura, se fará um homem de decisão e de confiança?
Explique-mo, caro Filósofo e Historiador.
- Não é difícil, mas também não é inocente ficar apenas na
observação dos pequenos episódios da “Ilustre Casa” se os não confrontarmos
sobretudo com o “happy end” desta peça literária, famosa mesmo na Literatura
Universal.
Repare, Amigo
poveiro, quando o carácter deste nobre Gonçalo se ressente da falta de ousadia
e de confiança, sente-se também nele um predomínio da inteligência sobre os
sentidos. E isto influi de tal modo em sua vontade, que ao vê-lo assim disposto
a ir trabalhar em África, Eça não é pródigo nada em mostrar nele iniciativas
especiais em sua acção já no grande Continente…
- E o nosso JACINTO, Príncipe da Grã Ventura quando
desiludido de Paris e se vem instalar em Tormes, também não é assim um Homem
que se atire à terra para lhe desventrar os minerais, ou à Natureza para lhe
"sugar" os frutos ou lhe "aspirar" os perfumes... Que acha?
- É diferente da
Cidade para o Campo, é... Mas não vai mais longe que o RAMIRES. No caso da
Cidade e das Serras também não acompanhamos de facto a labuta dum Jacinto já
“convertido” à acção e à mudança pela beleza dos campos e, mais, à faina da
lavoura e da produção agrícola… Activo, não, talvez um contemplativo.
~ Sim, percebi por que o romancista se retraiu um tanto
a “desvendar” nas suas “criaturas o homem da acção, aquele "obreiro de um-mundo-por-fazer" – isto é do meu LEONARDO
COIMBRA! – que deve apostar-se em ser todo aquele ou aquela que veio a esta
pobre Humanidade.
Foi, dr. Aurélio, bem insinuante a sua “dedada” aqui
no âmago da “vida” de que Eça nos fez bela “representação" no
"toque" que deu às suas mais interessantes “personagens” – o Amaro, a
Luíza, o Carlos, o próprio Teodorico, o Jacinto das Serras” e o próprio
“Gonçalo Ramires”, também um emigrante da África portentosa…
- Gostei de sua
apreciação sobretudo desse "toque" que um Artista tem de imprimir às
suas "criaturas". Mas vá, continue, que o tempo está quase a
expirar... E já sobe cada vez mais o apetite para a nossa sempre tão apetecível
"cachupinha". Disse Cachupinha, não "Cachopinha"... meu
"irónico" Amigo, que as "homónimas" há que não as confundir....
- Então, se estamos a caminho do fim – e isto é tão
importante como o princípio! - Ó Aurélio – como me explica, em poucas ideias e
palavras, a transição da fina ironia ou “risibilidade” que Eça extrai das
pessoas e das situações no seu meio de acção para o outro lado da
“estrada", – o serem vítimas, quase sempre, duma força mais alta, mais
contundente e mais destruidora…
- Sei bem o que pretende – uma linha que risque o traço
entre o “grotesco” da vida e o “fatal” da sua infalível “destruição”. Repare
onde e quando e como se apontará para EÇA um “processo” que se repete ao longo
das várias Obras. Olhe, Colega, não é fácil tocar no "cerne" da
questão – quando acaba o "risível" e começa o "irascível",
talvez o "fatalista"... Mas exemplifico, quer que o faça – por
exemplo – no amor do CARLOS pela EDUARDA?
- Acertou, sim, parceiro Aurélio, entrei nesse “lance”
mais trágico” da peça – quero dizer do romance – na “agnórise” Foi daquela
“malfadada” carta do Guimarães. Mas, se achar que este tema pode ficar para
logo à tarde, – mete aqui a acção das Tragédias Gregas – encontraríamo-nos logo
no nosso GIL EANES. Será até mais agradável, ao fim das aulas. O vento estará então
mais fresquinho que o da manhã, que esse virá ali do formoso Monte Cara. Está
bem, caro Companheiro de Ideal e de Amizade?
- Muito bem
pensado, ANTERO, muito melhor "recompensado"... Então, comidos e
bebidos, o nosso CARLOS e a nossa EDUARDA terão mais feliz Comentário, talvez
um "desfecho" menos dramático ou fatalista. Então até já, às 14,30
horas, ao toque da sinete do GIL, quando entrarmos, Você para os MAIAS, eu para
as DESCOBERTAS....
À hora
aprazada, no local acertado, eram Cinco da tarde, de novo estávamos os dois,
AURÉLIO com o seu MATOSO na mão, eu com os MAIAS sob o braço, para discretear
do nosso sempre Irónico EÇA. Mas se eu vinha de "tratar" do
"caso" do Carlos com a Eduarda, ele das "descobertas" dos
nautas de Portugal "vogara" – coincidência? destino? providência? -
no "achamento" de Cabo Verde, que Camões chamou – da literatura
romana – as HESPÉRIDES... Mas foi Diogo Gomes ou Gil Eanes?... E
"entrei" com o meu erudito AURÉLIO, logo ali "apetrechado"
do Matoso, o livro-único de então... Correu tudo bem com esta
"chefada" de Gomes? Ou foi do Eanes?
Entretanto,
passavam por nós, que voltávamos do Liceu, dois grupos de meninas, bata branca
vestida, jubilosas de seus “sacos” livrescos, entoando baixinho uma suave e
cálida morna, e no céu sem nuvens, para os lados rochosos da MATIOTA, uns
acastanhados urubus voavam largamente olhando do alto qualquer pedaço com que
matassem a fome. E, enquanto das bandas do Monte Cara um rouco som de navio
dizia que estava prestes a atracar no PORTO GRANDE, nós, acabada aquela “faina”
da tarde, neste nosso tão agradável ofício de formar Personalidades do amanhã,
éramos de novo em EÇA, com um breve "desvio" para, com um refresco no
"Estrela", discorrermos sobre as tais “achadas" Hespérides”,
restos de pedra do velho Atlante.
- Não, não é verdade, Professor Aurélio, as
"Hespérides" chamadas por Camões? Que tal seus alunos acharam a esta
Nomenclatura gloriosa?
- Sim, tudo correu conforme planeei. É que o nosso GIL
EANES durante anos e anos julgaram-no o primeiro a avistar estes enegrecidos
rochedos. Mas lá lhes provei, com argumentos e documentos, que é tudo verdade
quanto CAMÕES narra, cantando, sonorosamente, sobre a primeira Ilha avistada. E
sabe qual foi, Amigo?
- Se a memória me não trai foi a Ilha de Santiago. E
sei até de cor a estrofe camoniana. Que a decorei, antes de embarcar rumo a
esta terra assim “isolada” do mundo, aqui perdida no meio do vasto e undoso
Atlântico. Quere-a da boca do GAMA ao simpático e curioso Rei de Melinde:
-“Passadas tendo já as Canárias ilhas / Que tiveram por
nome Fortunadas, / Entrámos, navegando pelas filhas, / do velo Hespério,
Hesperídeas chamadas: / Terras por onde novas maravilhas / Andaram vendo já
novas armadas. / Ali tomámos porto com bom vento, / Por tomarmos da terra
mantimento".
- Mas, Gonçalves, Camões não se ficou por aqui, sem
citar a Ilha “pioneira” da civilização portuguesa, a mais sintomática, no rodar
dos tempos e das navegações, do grande MUNDO que o PORTUGUÊS criou”. Lembra-se
do que daqui disse o etnólogo maior do crioulismo, o brasileiro Gilberto
Freire? Mas CAMÕES foi mais peremptório.
- Não me diga
que também "decorou" a 2ª estrofe, esta já mais assertiva, mais
concreta, mais histórica:
- Exacto. Ela aqui vai porque foi memoravelmente a
Ilha em que tomei posse deste lugar de professor ultramarino. Que beleza ali
achei, que honra para cabo Verde, Luís Vaz tê-la distinguido entre estas Ilhas
“perdidas” Hespérides chamadas:
- “Àquela ilha aportámos que tomou / O nome do guerreiro
Sant’Iago, / Santo que os Espanhóis tanto ajudou / A fazerem nos Mouros bravo
estrago. / Daqui. tanto que Bóreas nos ventou, / Tornámos a cortar o imenso
lago / Do salgado Oceano, e assi deixámos / A terra onde o refresco doce
achámos”.
- Mas, Amigo Aurélio, o tema era outro, não era?
Perdoe-me este desvio, doce mais que verde, que esta cor parece que a não
“achou” muita o marinheiro e soldado CAMÕES quando aqui passou, era 1568.
- Mas sejam
agora os meus MAIAS, de Eça, que de suas DESCOBERTAS, de Gomes ou Eanes, fique
o Camões repetindo para o Futuro de uma nova Civilização...
Então, onde crê, AURÉLIO GONÇALVES, que reside aquela
“vitimização” das “personagens-fulcrais quer do CRIME quer do BASÍLIO quer dos
MAIAS?
- Sim, o
“tema-fulcro” era, de facto, a “ponte” entre as duas “margens”, salva a
analogia, de como dum estado de devaneio da vida, de uma ingente força de
vontade naquelas 3 personagens de um retraimento de acção, tem tudo de
“desembocar” num beco-sem-saída quando cai de chofre sobre elas todas aquela
força pesada sobre as consciências nunca preenchidas de qualquer átomo de
beleza, de verdade ou de bem.
- E como é que tanto de fortuito ou ignoto pode assim,
Amigo Aurélio, cair como asa de “águia” sobre os desacautelados “corpos” ou
“almas” das pessoas? Vai explicar-me concretamente onde é que fica, de facto, a
“medula” central do problema.
- De facto, há
que antecipar dois ou três “fenómenos” para lhes apontarmos as causas ou os
“noumenos” ao modo kantiano. Assim: - Um último traço define bem o carácter das
personagens de seu Irónico EÇA. Com uma consciência mais ou menos nítida, todos
são insubmissos. E se se revoltam interiormente, essa revolta eles escondem-na…
E aqui entra a psicanálise freudiana do recalcamento.
- Como Freud no meio de EÇA, se ele até veio depois,
com a sua teoria dos sonhos, bem interessante, e dos recalcamentos, ainda mais
pertinente…?
- Sim, Freud
veio ainda em tempo do
Eça , mas também se foi quase meio século pós-Eça, e
pós-romances de “tese”, estes três que nos interessa “comentar”. Repare que a
insubmissão dos débeis de vontade e de projectos, – Amaro, Luíza e Carlos da
Maia, ou mesmo sua irmã, é que, recalcada, envenena o espírito e traz depois a
cobardia e a falsidade. O Amaro revolta-se contra a lei do celibato, Luíza
contra o dia-a-dia tranquilo de seu lar, e Carlos da Maia, a exemplo de seu
pai, guerreia os princípios que lhe ensinara o nobre avô Afonso da Maia.
E foi assim,
com esta dureza de traços que Eça como que modelou as suas mais “carismáticas”
personagens.
- Como um autor escreveu, acha também que as figuras
de EÇA são mais "desenhadas" que vivas, embora de seu
"monóculo" exterior?
- Claro...
Dir-se-á, como quer a nova Estilística, que estas “figuras” de romance são mais
“desenhadas” que “vivenciadas”? Ele, o Eça será mesmo – no seu ponto de vista –
um criador “extradiegético”, mas omnisciente, comandando de fora os
"cordelinhos” da acção de seus “figurantes” da grande “cena do
mundo".
-“Quer então dizer que todo aquele pessimismo
personagem”, seja do protagonista seja de seus adjuvantes, começa a
“desenhar-se aqui, nesta transfiguração, para pior, da mesma realidade dos factos?
- Ora, acertou
em pleno. Veja, por exemplo, com
Carlos da Maia. Ele possui, no fundo, um ideal, de ser como
médico útil ao seu próximo… No seu íntimo agita-se uma força oculta que, se
fosse avigorada, conduzida com lucidez, poderia salvá-lo da derrocada… Mas… há
sempre um mas, não é como se diz?
- Explique-me,
Aurélio, esse “mas”, essa “fatídica” adversativa…
- Isto é
importante, para o decorrer da acção a caminho de seu termo: - Os “actores”
ecianos são todos – quem o diria num realista? – românticos inexperientes.
Imaginando de início que entram numa vida intensa, cheia de imprevistos e de
emoções, de tal modo que parecem sobreviver numa atmosfera de letargia pura,
mas caminham sobre areias de um deserto sem oásis à vista…
Todos eles,
AMARO, LUÍZA e CARLOS se enganam redondamente. Porque, afinal de contas, a
plenitude da vida é o somatório de vitórias tidas no dia-a-dia das pequenas ou
grandes acções. Quer que concretize isto que de teórico lhe assinalo?
- Evidentemente, não será tudo de uma atmosfera ilusória
em que esse “agentes” deambulam em suas vidas para que tudo se modifique na
“antevisão” duma possível desgraça? Digo bem?.
- Penso que sim!
Repare, caro Amigo, naqueles terrores instintivos de AMÉLIA diante do sedutor
AMARO, o desconsolo de LUÍZA no quarto reles em que se avista, já pela
primeira, vez com sensual BASÍLIO, a forma dilacerante como o CARLOS DA MAIA
chega ao conhecimento da pobre vida de MARIA EDUARDA... Que são, afinal, esses
“sinais” senão de que é o “vício” e só ele que os invade, naquelas aventuras
inferiores em que se envolveram? Tudo aparência, tudo sonho, tudo ilusão,
melhor dito, tudo desilusões em série.
- Então, EÇA, à-parte pequenos "episódios"
diferentes, cai numa repetida mas bem orquestrada "estrutura" na
construção dos seus "actores" principais. Não é assim, caro Psicólogo
eciano?
- Também
julgo exacto, meu Jornalista queiroziano! Não é que a Ilusão é uma aparência
feita de aparências? Então, somando todas quantas Eça “empresta” a estas duplas
3 Personagens e a quantas constituem o seu mundo ora normal ora inferior,
chega-se a uma inevitável conclusão: - a de que, na fina e mole “areia” de suas
“existências”, se vai formando o gérmen da queda, da destruição e da “morte”.
Veja: a
maternidade de Amélia, a carta de Basílio, a consanguinidade de Carlos com
Eduarda. Que foram senão sementes, nas suas andanças aventurosas, que geraram a
aniquilação física e moral, que tarde ou cedo conduziram à destruição deles e
delas, à morte também?
- Mas, Caro Amigo, como assim uma tal derrocada sem que
a contornem, a sustenham, a desterrem de suas vidas? Diga como foi aqui com o
AMARO do “crime”, a LUÍZA do “primo” e o CARLOS da suave
“irmã”, que ruíram os ideais de uma vida exemplar,- a honra, a lealdade, a
família, a verdade, sem cujos alicerces os
“edifícios” se desmoronaram lenta, sub-reptícia e estrondosamente?
- Todas não é
anódino citá-las, mas é subjectivo senti-las… Assim, o Amaro Vieira, a Luíza. o
Carlos da Maia e até o Teodorico de “A Relíquia” – aquele “sonho da Paixão” é
uma obra-prima entre todos os “sonhos” narrados na Língua de Camões, talvez um
supletivo da “Morte de Jesus” de que ficaram “vazias” as belas “Prosas
Bárbaras”, meu caro “anteriano”! – jamais se acautelaram em seu pequeno mundo
e, como consequência, causaram a desgraça dos outros que o cercavam…
- E isso em psicologia dir-se-ia como uma
"frustração" de sonhos idealizados, jamais realizados. Ou não?
- Em psicologia,
dir-se-ia que não se precaveram em pensamento, sensibilidade e vontade no
estudo consciente do campo onde sua acção e vocação se exerceriam… E, fechados
os ouvidos à voz do negro e suspeitoso Destino, só um acontecimento fatal foi o
bastante para lhes arrancar a ilusão do sonho, de os desmascarar da
indisfarçável mentira, de os prender nas emaranhadas malhas do nada… Depois, é
o que resta: a angústia, a queda, a náusea, o NADA… É o Sartre, "le Néant
du Néant", Negação de tudo quanto
existe…
- Quer, pois, AURÉLIO, por uma figura ou uma sincrese
sua, que as sabe bem formular, com dados ainda mais concretos, apontar com seu
“dedo” certeiro qual o “ponto-fulcral” que desencadeou a catástrofe? Tudo se
iniciou pela via da IRONIA naquelas levianas aventuras dos “actores” desta
verdadeira COMÉDIA HUMANA. Mas, no termo de suas vidas, algumas bem breves e
tristes, foi a "catástrofe", a consumação fatal de suas desgraças.
Sei que, como Você, ninguém, mo dirá melhor, creia-me, Meu Eciano ROQUE
GONÇALVES, também um dos seus cognomes alias bem distintos, não acha?
- Se acho,
ANTERO... não de QUENTAL, evidentemente, mas que andou lá perto... Sabe, o sol
já vai alto, e o trabalho do Liceu continuará amanhã. E há que preparar as
aulas, com documentos - não é que a HISTÓRIA é a "certidão" da
Verdade? - e então quanto a outras "perguntas" a gente falaria mais
tarde. A manhã, qualquer dia, qualquer hora.
- Sim, caro FILÓSOFO e PSICÓLOGO, assim como o nosso
EÇA (o maior do seu tempo, no elogio de QUENTAL), para "rematar" com
chave-de-oiro o nosso "bate-papo", só duas brevíssimas
"setas" - sobre o "desenlace" ora mortal ora desditoso das
3 "peças" mais romanescas e dramáticas do nosso QUEIROZ.
- Quer-se
dizer, para cada um dos três “grossos volumes” que nos
ocuparam neste bate-papo, dou-lhe uma “alegoria” interessante. Lembra-se
daquela “figura do cavaleiro” que vai passar preocupada da vida, na
"garupa" do seu
"corcel! e
"cegando" com sua espada a quem está "descuidado" na sua
inerte e descuidada vida. Lembra-se quem escreveu esse soneto célebre?
-Sim, o nobre
poeta e historiador D. Francisco Manuel de Melo, o que escreveu também a
"Carta de Guia de Casados"? Ou foi o Tolentino?
- Vê-se que anda a par dos clássicos, que nem só dos
naturalistas e realistas como o Eça. A figura da morte, nas gravuras medievais,
era a de um cavaleiro que, sem ser pressentido, acompanhava o herói muito
morosamente em todos os seus caminhos, montada na garupa do seu cavalo, até que
uma lança traiçoeira de um inimigo o prostrava de vez… Aqui, em rápido e
esclarecido triângulo de exemplos semelhantes, está à vista a interrupção
irónica de uma “aventura” que é sempre inesperada – os humanos seres são como
que surpreendentemente “apanhados” no auge abrasante de seu festim…
- E, em que “ponto” se adivinha mais esse imaginário
“cavaleiro” alumiando a “morte” na ponte de sua espada? Diga-me, caro GONÇALVES,
mais nitidamente nos “casos” de AMARO, de LUÍZA, de CARLOS DA MAIA.
- Digo-o, e já,
como “li” nesta tríplice e diversa “intriga” romanesca, essencialmente
irónico-dramática: - A maternidade de Amélia produz um efeito fulgurante sobre
os seus dois cúmplices. E este movimento de surpresa em surpresa ninguém há que
lhe resista. É a arte dum grande romancista que, na narração e observação, de
imagens, de sonhos e de diálogo, que emprestam toda esta sugestionabilidade
ímpar na literatura contemporânea. E o valor “irónico” que se adivinha em todo
o pano-de-fundo desta “comédia humana” vem sobretudo de um“encaixar” num
acontecimento que parece tão “natural”, factos “extraordinários “ da nossa
comum humana existência...
- E, quanto à LUÍZA com BASÍLIO, nesses não aflora mais
a “ironia” e até a "sátira", mestre Aurélio?
- Pois onde o há-de ser senão quando aparece aquela
funesta carta precisamente numa altura em que ela – e por que não, os leitores?
– supõem fechada toda a história do seu adultério. É que no desenrolar de todas
aquelas peripécias em redor dos amores secretos no “Paraíso” dos dois “primos”,
estamos já esquecidos do pedido do dinheiro que ela, em seu desesperado terror,
lhe remete. E mais: - o que ninguém estaria a cogitar - é que, passados meses e
meses, ninguém nem nada fazia prever a resposta do seu amante.
- E quanto ao CARLOS com sua “insuspeitada” irmã
EDUARDA, o tal “sentido irónico” já não é assim tão fácil de detectar. Ou é,
meu caro historiador, aqui o "génio" do maior “psicólogo” ao tempo, no
dizer de Quental?
- Seja como diz. Mas não fica sem a resposta que
pretende, com sua leve ponta de “insinuação”, sem qualquer malévola
intencionalidade, claro, Amigo anteriano da Póvoa.
- Da Póvoa, como o EÇA sempre lembrava ao MARTINS, dos
Caminhos-de-Ferro: - "Se fores à
Póvoa vai dar um abraço ao santo Antero"... Pois, Aurélio, saiba que
ia mesmo, à Rua onde, com ele, Oliveira, e mais 6 Sábios, reunia para
"mudar" Portugal e fazer seu Povo mais feliz, pela trabalho e pela
justiça... Mas, no caso em questão, onde se distingue afinal algum
"raio" de ironia no "amor" insuspeito primeiro, depois
consciente e já responsável dos infelizes "apaixonados"?
- Aqui, Antero
começa a "catástrofe" dos seus Gregos Tragediógrafos -. Ninguém esperava a revelação do sr.
Guimarães, não, senhores. É que poucos leitores curiosos dum desfecho mais ou
menos funesto, haverá que queiram saber dos “fios” da teia por vezes irónica
por vezes dramática, ou dos últimos fins” desta tão complexa como longa
“intriga”.
- Disse os "últimos fins"? Sabe isso, Meu
Caro Amigo, aos "novíssimos" da morte, juízo, inferno e paraíso. Vou
no rumo certo mesmo com o Carlos da Maia e sua irmã Eduarda, filhos daquela
aventureira Maria Monforte?
- Se vai no rumo
"fatal", naquele por onde todos enveredarão, e ninguém deles se
furtará... Mas, aqui nos MAIAS, penso que poucos leitores terão a perspicácia
suficiente para, logo a uma primeira leitura, comparar e aproximar a vida
provável de Maria Monforte. com essa aventurosa que foi a Maria Eduarda. E então
quando esta conta, tintim-por-tintim, a sua vida tão sofrida ao seu
"amante" Carlos da Maia. Estranho, não é verdade? Estranho, porque
nem Carlos, nem o seu outro “ego”, o JOÃO DA EGA, viram bem, à meridiana luz,
que as histórias das mães (podia dizer só “mãe”, não acha, Simões!) – como que
formando dois “lances” diferentes, afinal se confundem ou melhor, se
confundiram num “único” drama. E aqui reside, a indisfarçável, a sempre
misteriosa, a sempre “hiante” na sua infernal “boca”, a “transcendente ironia
do destino”…
Foi por isso
que comecei por lembrar que, nesta teia dramática, se pressentia ou se
pré-adivinhava de há muito aquela monstruosa revelação do “incesto”…
- Quer ser, Aurélio, só para concluir, mais claro,
menos "misterioso" com este caso "incestuoso", sem ir muito
a fundo, que o tema é para outro sítio mais indicado - o do MEU TRÁGICO EÇA?
- Pois é, nem
será assim tão pouco anódino e inocente explicar. Repare bem, porque este drama
diverge dos outros dois neste sentido: - é que aqui Eduarda e Carlos nasceram
do mesmo “ventre” maternal, da estouvada Maria Monforte.
Todas as
nuvens obscurecendo a vida de ambos os amantes pareciam fugidias. Mas não. a
rigidez do avô, a coexistência de Castro Gomes,
as intrigas de Dâmaso Salcede eram como “nuvens negras” – como essas que
vê lá em cima,
Professor de Latim e Português – que bem fariam ser “chuva”
para as minhas gentes ilhoas! - tais como sobre os horizontes que pareciam de
“paraíso” para Carlos e Eduarda… Sim, para tornar verde aquele queimado monte
da Baía, o MONTE CARA, sempre escuro como é negro destino...
- Mas ainda não vi - com o cofre que o Guimarães
trouxe de Paris, com aqueles pergaminhos! - onde "emerge" o fumo da
tal - que chamou - transcendente "ironia" da fatalidade...
- Tem
carradas de razão. Olhe! exactamente quando passa o sr. Guimarães com sua
“funesta” como ”fatídica” revelação… tudo rui, tudo cai na hora culminante. E
aparecem e acordam na alma dos “heróis” as mais profundas e consequentes
repercussões.
Porventura,
Carlos da Maia teria cometido o crime do incesto e, com ele, provocado a morte
do avô se de tudo soubesse antes de idear, com paixão ardente, aquele sigiloso
conúbio com a “deusa” de seu coração? Claro que não!
- Perdão,
mestre! E daí onde paira mais o sorriso “irónico” do Fado, se quiser, do tal
cavaleiro medieval que passa de porta em porta a marcar o dia e a hora da
“tragédia”?
É que a
IRONIA de EÇA DE QUEIRÓS tem ainda uma preocupação instante e calculada: -
acentuar o contraste entre a extensão dramática dos seus finais e os objectos
ou problemas que são a causa inevitável e imediata das “catástrofes”. Este é o
ponto “fulcral”, o “eixo” em redor do qual agiram factores que pareciam
insignificantes, banais, sem expressão de maior…
- E não pormenoriza? Sei lá, no caso da
"Prima" do Basílio?
- É, na
LUÍZA, uma carta atrasada que chega na hora certa como uma “bala” perdida… É,
no TEODORICO da “Relíquia” uma camisa suja de mulher, amarrotada do vício e da
imundície.
É uma velha
caixa, nos MAIAS, de lascivos charutos de papéis amarelecidos…
Saem todos do
canto do segredo, da sombra do desconhecido,, carregados de vida e
prenunciadores da morte… E o contraste destes factos e destas personagens e
destas pequenas mas cruciais banalidades é que vincam o tal SORRISO IRÓNICO do
DESTINO que paira sobre a nossa pobre existência.
Você, Antero,
sabe mais do que eu como em Esquilo este carácter se processou tão
magistralmente, tão genialmente. Talvez mais que em Sófocles ou em Eurípedes…
não acha?
- Evidentemente,
que estou em sintonia consigo, Aurélio. Pois, se apenas focarmos o caso d’Os
MAIAS, dentro da ideia perante a qual os homens tremem supersticiosamente...
Eça aí revelou plenamente todo um rumo de acontecimentos que conduzem à
explosão de um final de esquiliana tragédia, um motivo profundo de IRONIA, não
é verdade? Quer, GONÇALVES, então concluir do “resultado” desse fatalismo sem
remédio?
- Vou, sim,
concluir para que o Livro que um dia escreverá sobre o EÇA quer IRÓNICO quer
TRÁGICO fique com um sinal" meu de que tive no ANTERO num companheiro
"metropolitano" que muito quis e muito amou estas minha ILHAS
HESPÉRIDES.
-
Mas, Dr. Aurélio Gonçalves, o autor da linda e comovente novela "O enterro
de Nhá Candinha" deixe-me uma MENSAGEM para todos os leitores de meu
futuro trabalho sobre o meu EÇA poveiro, português e universal QUEIRÓS. Deixa,
não deixa?
- Então quer um
"fim" em beleza?
- Se quero, meu impreterível AMIGO, meu cordial AURÉLIO,
meu incomparável "queiroziano" GONÇALVES.
- Então, eu
acabaria assim com esta “conclusiva” sentença: - O fatalismo em Eça de Queirós
destrói como um “tufão” – repare no som do furacão destruidor! -, passando com
uma ligeireza como a das asas de um condor…
O pouco da felicidade de que a nossa vida se mantém parece-nos de um
peso capaz de encher um mundo inteiro.
O próprio
Destino – que assim chamamos à boa ou má SORTE ou FORTUNA! - com seu sorriso “irónico” - mas, afinal de
contas, ele nos transcende irremediavelmente,
mostra-nos como são frágeis, como são pouco mais que pó, as colunas do
Castelo que tentámos construir para "abrigar" nossas pobres vidas.
Era já à
tardinha quando do meu ilustre Entrevistado de São Vicente, um Historiador e
Filósofo de Cabo Verde, que tive o privilégio de conhecer, de ouvir, de receber
belos ensinamentos sobre o meu IRÓNICO romancista, ouvi tão fantásticas
"lições"... - Palavras profundas que de sua boca me foi dado ouvir
por 3 horas de maravilhosa Amizade.
Era já no
Outono, ano de 1962. E já descíamos a Rua de LISBOA a caminho de nossas
moradas, para um merecido descanso. Já da torre da igreja da Senhora da Luz
soavam compassadas as 18 horas de uma tarde amena, ali na linda cidade do
Mindelo, capital de São Vicente, das amadas "Hespérides" de Camões.
Hoje, à
distância dos anos e dos lugares, recordo com letárgica saudade essa figura
sempre sorridente de um Colega de uma extrema simpatia e duma inquebrantável
amizade. Ele era um perito na História do Portugal do Mundo e creio que terá
ficado, no íntimo, - eu conhecia bem o seu portuguesismo” - com uma certa decepção
por ver sua ILHA querida hoje tão longe daquele genésico “pensar e sentir"
de que me dera mostras bem claras, ele que "alinhava" com esse outro
"sábio" das coisas de Portugal, de Roma e da Grécia, um famoso poeta
clássico quando assim me declamava sempre que lhe pedia: - (oh! ”ironia do
destino!) - e ele - tanto gostava de repetir: -“Se
por qualquer estranha hipótese, estas Ilhas onde nasci e que tanto amo,
deixassem de ser portugueses, preferia que um cataclismo as devolvesse de novo
ao fundo do mar donde vieram apenas para serem portuguesas”.[2]
Foi
precisamente na Praça de Luís de Camões que o "encerrei" por obra e
graça do meu querido António Aurélio Gonçalves - o Dr. Roque, como era mais
conhecido! -. Decorrido agora mais de meio século desta "entrevista"
fantástica - agora tirada do "filme" da memória - os meus leitores
dirão se tal "facto" aqui passado a escrito neste meu IRÓNICO E
TRÁGICO EÇA - não será mais um “fruto do acaso” do que, por um determinismo
natural, uma das muitas revelações dessa "musa" fatal, a tal “ironia
do destino” como aqui e ali lhe deu nome o meu conterrâneo celebrado “pobre
Homem da Póvoa de Varzim”!...
Ia fazer-se
noite, e nós quase a separar-nos com um abraço amigo quando, num rebate ainda
oportuno, me lembrei de pôr ao caro AURÉLIO, ainda uma pergunta. Esta seria a
COROA de todo um diálogo tão benquisto como o sol que, àquela hora, como que
doirava de luz o fronteiro "rosto" da estátua jacente de Washington,
o plúmbeo MONTE CARA da baía do Porto Grande, do MINDELO, da ilha "amada"
de São Vicente, de Cabo Verde...
Mesmo com
minhas mãos nas mãos deste grande Homem do Ensino da Filosofia e da História,
assetei-lhe ainda a derradeira" pergunta, precisamente aquela que mais
retive e revive em meu pobre coração...
Só esta mais, meu admirável Amigo AURÉLIO:
- Como acha, para COROAR nossa Entrevista, meu Caro
Mestre menos "eciano", mais "kantiano", como vê aquele
dizer "adeus" ao Carlos da Maia" naquele "posfácio"
mais decepcionante que construtivo?
- Pois é, meu
caro ANTERO... que não de QUENTAL. Embora o saiba da terra que este mais amou
por causa do Lobo de Moura, juiz da Comarca, e do Martins, director dos
caminhos-de-Ferro da Póvoa. Mas, sem me desviar da questão, eu lho afirmo, com
o rigor que se impõe:
-“A conclusão d’Os Maias tem um carácter esquiliano… Ao
lado da ideia perante a qual os homens tremem supersticiosamente, EÇA mostrou
também uma motivação de ironia, porque a facetou de contrastes violentos e a
cobriu da vibração de soluços com as estridências de um riso frenético…
Eis a questão deste Final de O MEU IRÓNICO EÇA DE
QUEIRÓS em hora de sintetizar, mais exemplificante que teoricamente, o recurso
ao seu verbo fulgurante, o uso da sua imagem brilhante, os pormenores de
inéditas e sensacionais expressões morfossintácticas, estéticas e
exemplificantes. Tentei, assim, demonstrar, pela teoria e pelo exemplo, como
foi EÇA um "poeta" da estética “ironia, tal que servindo-se da
palavra em seu expressivo "significante" e da frase ou do livro em
seu pleno "significado", construiu seus livros tão pletóricos de
graça, de hilaridade, de fina ou áspera IRONIA com um justo sentido morigerar
os excessos ou os defeitos de uma Sociedade com que coexistiu e em que
convivenciou. São Exemplos
fecundos, incontestáveis, aceites pelo grande público, a sua "Campanha
Alegre" das FARPAS, o seu "Conde de Abranhos", a sua
"Capital", a sua "Correspondência de Fradique Mendes",
outros mais,
Mas, se tais produtos se explicam por um sentido muito
peculiar das leis do ritmo e da oralidade e pelo uso muito pessoal da palavra
em seu "expressivo" significante, - o som, a imagem, a antífrase e o
paradoxo, a hipérbole e o eufemismo - não menor valor ganhou em sua prosa
variada e melódica o uso da mesma palavra no seu "intrínseco" significado.
E, neste âmbito, talvez que o meu IRÓNICO EÇA não veja "rival" num
pormenor que poucos analistas da Estética se terão dado conta: - o termo
"queiroziano" é o do mais simples e vulgar léxico, de que, por
engenho e arte, o grande romancista soube tirar os efeitos mais diversos quer
da prosódia quer da oralidade.
Está visto, pois, lido e relido, provado e comprovado,
o alto peso, a elevada altura, que
demonstrou EÇA DE QUEIRÓS pela privilegiada arte de suas obras. Nem teoria, ou
sistema, ou psicologia, senão as que ele apreendeu dos grandes comediógrafos,
clássicos ou modernos, terão melhor explicado como a sua
"psicológica" pena, o seu analógico "monóculo" penetrante
sobre a Sociedade em que conviveu ou sobre as Figuras com que se relacionou, em
breve como pujante VIDA de Homem, de Escritor, de Artista da palavra poética.
Assim finda esta II PARTE. Dum trabalho que muito
prazer me trouxe ter levado até seu desfecho. E, se MONIZ BARRETO o classificou
como POETA mais do que PROSADOR, é por alguns de seus "versos",
ritmados de suave ironia, que me apraz terminá-lo. Versos com que o seu
romântico ALENCAR, em hora de constante inspiração, celebrava a alegria do
vinho, do prazer e da vida...
Que o digam Afonso e Carlos da Maia, e o inevitável
"ego", o seu diletante e céptico JOÃO DA EGA. Foi, efectivamente,
para eles que o grande ALENCAR "gorjeou" este engraçado hino à
feminil beleza, e lhes arrancou dos olhos algumas lágrimas de saudade:
- Pomba da Fraternidade, / Que estendendo as brancas
asas / Por sobre os humanos lodos, / Envolve os seus filhos todos / Na mesma
santa Igualdade!...
- Receais a
grande luz? / Tendes medo do á-bê-cê?... / Então castigai quem lê., / Voltai à
plebe soez! / Recuai sempre na História, / Apagai o gás nas ruas, / Deixai as
criança nuas, / E venha a forca outra vez!
À espada sucede o arado, / a Justiça ri da Morte. / A
escola está live e forte, / E a Bastilha derrocada. / Rola a tiara no lodo, /
Brota o lírio da Igualdade, / E uma nova humanidade / Planta a cruz na
barricada!
As rosas têm mais aroma! / Os frutos têm mais doçura!
/ Brilha a alma clara e pura, / Solta de sombras e véus... / Foge a dor
espavorida, / Foi-se a fome, foi-se a guerra, / O homem canta na Terra, / E
Cristo sorri nos Céus!...".[3]
E se a ARTE -
como ele afirmou - é que é TUDO e tudo o resto é NADA, e se Leónidas só com
Péricles é que combinam bem para a realização da Pólis, e se Aristófanes com
Ésquilo é que, unindo-se, exprimem bem a VIDA total, então penso que o MEU EÇA
IRÓNICO - a faceta atrás comentada e exemplificada - só será mais excelso e
total se, do outro lado da "medalha", se vir, e se sentir, no fundo e
na forma, em compreensão e extensão, a "segunda" grande faceta de sua
fecunda HUMANIDADE - a de O MEU TRÁGICO EÇA DE QUEIRÓS.
8 comentários:
SIMPLESMENTE DELICIOSO!!!
Admiràvel !!!
Gostaria de ter passado pelo Gil Eanes no tempo em que lá esteve este professor de quem tenho ouvido os melhores encómios como professor e como admirador da nossa gente, embora tivesse havido quem não o apreciasse, mas é como tudo na vida. Nunca se pôde agradar a gregos (nomeadamente agora) e a troianos e, a época em que viveu em São Vicente foi muito conturbada.
Sempre tive uma afeição especial por aqueles que souberam respeitar e admirar a nossa gente o que não sucedia automaticamente com quantos ali chegavam. Todavia, pela quantidade e pela qualidade dos que souberam apreciar a nossa tradicional Morabeza o saldo para mim é altamente positivo.
Nunca esquecerei estrangeiros encontrados em lugares onde passei Africa, Madagascar e Europa), nomeadamente onde me encontro, que me abriram os braços quando souberam a minha origem e me apertaram num abraço quando falamos de conhecimentos comuns.
Quero dar um voto de satisfação ao Prof. Antero Simões pelo que fala da minha terra natal e do meu antigo mestre, Dr. António Aurélio Gonçalves. Para a Dra. Ondina (que não tenho o prazer de conhecer~senão aqui mas que é pessoa quemuito admito) e o meu Amigo (que não gosta que diga Coronel) Adriano Miranda Lima um obrigado pela parte que me toca pelo contributo que vêm dando (como outros amigos bloguistas, PdB e AcA) para que elevemos (lavemos!) o nome de Cabo Verde que conta com os seus filhos "sde dente e de fora" "nicide ô não"
Braças e mantenhas
Em boa hora nos foi concedida a possibilidade de ler esta fabulosa conversa entre dois mestres da palavra e do pensamento. O professor Antero deve ser posterior à minha entrada no liceu. Professores destes já poucos se encontram.
Aguinaldo
Com autorização do Coral Vermelho vou copiar esta preciosidade. Honremos quem nos sabe deliciar com a sua pena. Longa vida para o doutor Simões.
Não conheci o professor Simões mas nhô Roque quem dele não se lembra? Grande trabalho está aqui sobre o Eça, que vou reler devagarinho para ter a sabura devida. Em boa hora visitei este blogue. Felicito todos os que ajudaram a que isso acontecesse, em primeiro lugar a Professora Ondina Ferreira.
Um bom testemunho, mais um! Parabéns!
Primo Adriano, tenho-te dito que devias publicar estas matérias para que nós, de gerações pós 70, pudéssemos conhecer melhor a nossa história e compreender o que hoje os mais velhos falam da nossa amada terra, bem como entender a familiaridade existente antigamente entre a "metrópole" e a Colónia.
Um obrigado pela parte que me toca, aprendi mais algumas coisas e aguardo o próximo.
Parabéns igualmente à D. Ondina Ferreira pela qualidade do Blogue.
Bem-haja!
As palavras que traduzem a verdade, mesmo se forem simples, são tão profundas como as abissais de um poço mas quando trazidas elas eclipsam a mentira, a hipocrisia e a mà fé para sempre.
Perante esta "surpresa", de certo inesperada pelo professor (Dr. Simoes) e porque não o aluno? (Adriano), muita gente de boa fé se regozija e o(s) diabo(s) fica(m) triste(s).
Jom de Nha Maninha
Esta peça da "entrevista" traz-nos a memória do meu querido professor doutor Aurélio Gonçalves e quase que senti a sua respiração na conversa travada com o doutor Antero Simoes. Isto é coisa para copiar e guardar, principalmente para os admiradores do Eça de Queirós, como é o meu caso. Não cheguei a conhecer o professor Simões mas tenho ideia de ter ouvido falar da sua pessoa.
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