Sonhos difusos

sexta-feira, 11 de setembro de 2015
 

 
Às vezes dou comigo, num lugar desconhecido, estranhamente inebriada, perdida no meu habitat espiritual, rigorosamente dentro do que se encerra em mim. O que sempre conheci, mas que nunca se me apresentou de frente.


Mas eis que subitamente se decidiu encarar-me e logo me apercebi que afinal o que me parecia familiar era o rosto reflexivo de uma provável e transcendente revelação! Algo surreal…

São sonhos, disseram-me. Estes lugares cujas portas se abrem para nos engolir e fazer cair de seguida dentro do nada…Um vazio, sabes? Aquelas portas que misteriosamente se fecham, quando deviam estar abertas, e se abrem quando curiosamente deviam estar fechadas… portas com indicação de lugares que não existem. Escondidas em mapas com inscrições duvidosas…

São sonhos, não te assustes, apenas sonhos…que nos fazem crer sem termos certezas.

E para quando é o despertar, então?

Passamos a vida a correr, a lutar e, afinal, ainda nem nos levantámos sequer da cama. Irónico, não é? Dá vontade de rir e perguntar: mas que circo é este?? Na verdade, não sei.

Mas consola-te, pois o bobo do palco não és … Tens um lugar reservado na bancada para também assistires ao espectáculo. Bem lá em cima, quase que longe demais, mas o suficientemente perto para perceberes que afinal a verdade não é o que se esconde atrás da mascara do palhaço, mas sim, aquela que se expõe em tela no quadro que pintaste justamente para ti! Manchou um pouco, eu sei… são coisas que as lágrimas fazem, mas o espírito da obra ainda está ali, completamente intacto! Esse não se desmancha tão facilmente…

Insensato! Gritaste. Porque me deixei sofrer? Tolo…

Será que não ouviste uma voz sentenciando? SÃO SONHOS! Sonhos que repetidamente foram ecoando, de forma continuada, no espaço e no tempo …

Até porque, quem disse que sofrer é dor? É certo que a verdade tatuada na alma dói mais do que na pele… Mas não te armes em vítima. Porque sofrer, todo a gente quer sofrer, ser mártir. Querem incorporar a dimensão sacrificial, porque sabem que sacrifícios lavam a alma. E quando não é assim, lá vão apontando o dedo a quem algum mal lhes fez, esperando tornar-se, com isso, menos impuros e mais perfeitos …

Eu cá por mim prefiro perder-me no nada, ou até mesmo permanecer dolentemente num sono infindável, do que aceitar ser vítima de alguém que simplesmente não reconheço! Porque, mesmo que inconscientemente, a vida só nos aflige se não levantarmos o braço para nos defendermos dela, ainda que por um simples bramido ensurdecedor ou letal gesto de indiferença!

Acreditem que, ao se abrir porta, obviamente vão entrar. E seguramente… tudo vos vão levar! Menos a essência. O que quer dizer que, no fundo, nada que valha a pena levarão…

Não caias na canção do autoflagelo…essa de te deitares no chão e de te lamuriares a pretexto de que alguém te pisou, porque quando te despertares, estarás sozinho. E à tua volta, pó. Apenas pó.

Um sonho… enfim. Acho que hoje foi o dia em que me despertei.

Só hoje?? Pergunta o espertalhão...

Ora, ora… esses sonhos são mesmo assim. Uns mais longos que outros. Sonhos que se prestam a ser vivenciados na claridade plúmbea da noite! Sonhos que preenchem os interstícios vitais da nossa história! Sonhos que se sujeitam a ser teus pilares quando te sentires prestes a desmoronar. A vida é mesmo assim. Entretecida por sonhos que se sucedem, numa cadência incontrolável! Na verdade, ela é literalmente um SONHO….

E já agora: terás tu alguma ideia do momento em que o teu despertador se accionará? Quando ACORDARES! Certo? Inusitadamente, a horas que não escolheste. Certo?

Só quando Lhe aprouver…só mesmo quando Lhe apetecer…



07/09/2015 SANDRA LOPES

Nota ao Leitor - Mais uma colaboração interessante de Sandra Lopes que já tem no «Coral Vermelho» um espaço reservado. Bem-vinda Sandra!

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