Assim vai a cultura actual nacional sobre a História de Cabo Verde... - Texto Furado -*

domingo, 8 de setembro de 2019


Caro leitor: o texto que se segue, pertence ao Sub, sub-género de textos furados que surgem geralmente em fases bem críticas da História de qualquer comunidade.
Surgem em tempos de crise. Sobretudo, de crise escolar, académica e cultural que  conduz a um tipo de amnésia de efeitos fabulosos!
No caso vertente, a cabo-verdiana (a amnésia)  tem vindo a revelar – através dos seus doutos Historiadores e Cronistas, surgidos no pós-independência, cheios de certezas e de poucas dúvidas - por meio dos referidos textos; facetas até aqui desconhecidas da Histórias destas ilhas Atlânticas.
Posto isto, vamos conhecê-las:
Pois bem, referindo-se à Terra – Branca, afirmou peremptório (após aturados estudos e pesquisas no Google) um dos nossos Historiadores, assumido africanista e sempre absoluto e definitivo nos seus juízos. Outrossim, o nosso Cronista parecia delirante e  entusiasmado com o nome: Terra Branca! Que esta seria uma zona de “apartheid” na periferia da cidade da Praia, onde apenas viviam “brancos.” Alguns de aspecto bem mestiço - conviria acrescentar, entre nós que ninguém nos ouve -- sendo que os seus serviçais habitavam as zonas circundantes e limítrofes de Achada Santo António e de Tira-Chapéu.
No tocante ao ilhéu de Santa Maria, afirmaria convicto outro Historiador de improvisadas teorias, que o Ilhéu sempre pertenceu à China. E isto de tempos imemoriais.  Por causa disso, o nome por que é internacionalmente conhecido é o de Ilha da China, sendo que a doação fora feita em séculos passados por D. José de Santa Catarina e D. José de Santa Maria, ambos cavaleiros do séc. XIII, famosos e antigos Donatários respectivamente, da Serra Malagueta e do Farol de Santa Maria.
Recorde-se (continuou o dito Historiador) que aqueles Donatários chegaram às ilhas muito antes dos seus denominados descobridores, como foram Diogo Gomes, António da Noly e Luis de Cadamosto, Aliás, estes últimos, teriam perecidos no Oceano Pacífico em 1460, sem deixar quaisquer registos.
Daí a razão por que o provável Descobridor das ilhas de Cabo Verde, seja mesmo Amílcar Cabral, no ano de 1975. Trata-se de um valoroso guerreiro de Bafatá que pôs a sua espada ao serviço das Donzelas.  Aliás, apanágio gentil e característico, de verdadeiro cavaleiro da Ordem de D. Juan.
...E continuando, desta feita indo até à Cidade Velha, dirá o Historiador conhecedor e frequentador de facebook, de instagram, de twiter e de quejandos, que a antiga vila fora habitada por moradores e senhores, vindos do Leste europeu e da Tailândia, que aqui sob clima tropical, de muita chuva e de neves de altitude, juntaram-se e misturaram-se. Resultado: conheceram apreciável longevidade. Daí, a razão do nome, Cidade Velha assim chamada.
Mas aconteceu - continuará o nosso inefável Cronista - a determinada altura, os seus escravos ( trazidos da Abissínia, da Costa Oriental de África, pelos ditos senhores) revoltados com pouco que fazer numa zona próspera e também porque os seus senhores lhes tiravam quase todas as suas mulheres,  resolveram migrar para a ilha vizinha, o Fogo.
Assim nos descreveu esta odisseia e culminou a sua narrativa, esse nosso iminente Historiador, afirmando - que ali chegados estava à espera deles uma recepção nada amistosa. Os foguenses capitaneados pelos seus afidalgados locais,  Dom Bartolomeu de Capela, Dom Paio de Pires e Dom Rodrigo de Mendonça, os quais, numa ardilosa cilada para impedirem a entrada na ilha desses migrantes, mandaram acender um lume perpétuo no cume da serra mais alta da Ilha e assim fazer retornar à origem, tais visitantes não desejáveis; no que bateram palmas e muitas palmas os piratas franceses e ingleses que ao Fogo tinham aportado e que já tinham saqueado a ilha toda.
Ficam assim também esclarecidas cientificamente, as convulsões vulcânicas que frequentaram e continuam a frequentar a ilha.
Prosseguindo, proclamam ufanos e sabedores os reputados Cronistas que a vizinha ilha Brava, assim chamada - no dizer de um deles, muito “in” na nossa urbe -  porque não tendo a ela chegados os primeiros descobridores que foram árabes, oriundos do Líbano, mas que na Guiné ficaram conhecidos por Sirianos.
Ora bem, então imaginaram-na bravia, cheia de madressilvas espinhosas, rodeada de seres míticos e guardiões audazes e temidos que não toleravam qualquer aproximação. Daí o seu longínquo isolamento e, sobretudo, o seu não contacto com as populações das ilhas do sul do arquipélago.
Isso terá gerado as seguintes particularidades dos bravenses:
1-    Gente” morabi” e de brandos costumes.
2-    Desconhecimento de todo, do uso da faca e do manduco.
Eh! Pá! E agora? É que chegados ao fim das “estórias” contadas por estes insignes Historiadores e Cronistas, filiados no «Partipris», subjaz a questão: onde e como colocar - no meio desta confusão toda - os nossos portugueses? Sim, como encaixá-los no meio disto? Se nem na Cidade Velha, os deixaram ficar os espanhóis Eternos espanhóis, gente conhecida por nem bons ventos e nem de bons casamentos? Realmente, passaram-lhes a perna.
É que os espanholitos conquistaram a mui nobre Cidade na primeira década do séc. XXI. (século vinte e um, assim escrito por extenso para que não hajam dúvidas. Os espanhóis vieram conhecer a Cidade Velha na primeira década e, foi um “veni, vidi, vinci” (se te avias!) ou, traduzido, foi um chegar, ver e vencer, isto é mesmo nosso! (deles, diziam à boca cheia) em menos de um ápice de tempo)
 Sim, que fazer com os nossos amados tuguinhas? Eles que tantas alegrias nos têm proporcionado, que outros nenhuns nos dão.
Podia citar muitos exemplos das referidas alegrias. Por ora, apenas os mais queridos: os onze vitoriosos de cada equipa de futebol, sobretudo dos três grandes; a Selecção de todos nós; o maior jogador do mundo; os treinadores foras de série; e até o VAR?... Sim, como integrá-los no meio disto??
Eles trouxeram-nos o crioulo e nós...devolvemos-lhes o português. Que simpatia!!
 A  morna e o fado encontraram-se a meio do caminho do mar, com ondas sagradas do Tejo beijando-se, de tal modo, que Mariza e Tito Paris fizeram uma grande festa.
Tanta coisa partilhada e despartilhada!
Mas, subsiste a dúvida, como integrá-los mais conformemente, no meio da confusão arranjada por estes Cronistas da actualidade??
Paciência! É o que dá ter gente tão culta, tão sabedora – saída da Universidade de Santa Luzia - pois com certeza! E a historiar e a cronicar bastamente (Oh! Menina! não seria mais adequado, um “e” na primeira sílaba  do advérbio? É que me ficou a dúvida??...) aqui nas ilhas...
*Texto Furado... como diz o próprio nome, sai sempre furado. E ainda bem que assim é! Já calculou estimado Leitor, quão maçador seria, narrar sempre - a nossa História  - muito séria, sensaborona e muito convicta? Sem uma graça, sem um sorriso e sem “salero”? Não, Deus nos livre! ...E ao pronunciar esta última frase, surge a rir-se do fundo do baú, o texto... furado. Salvé!



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