Parece estar a emergir uma geração de “nacionalistas” que se
estriba agora na língua cabo-verdiana, no crioulo, como parâmetro identitário e
de afirmação do povo cabo-verdiano para lançar uma cruzada. Fazem-no com tanta
estreiteza de espírito e com alguma pompa intelectual que chegam a ser
caricatos sem sequer se darem conta. Nessa cruzada nacionalista e populista não
enxergam que é preciso ser mesmo muito pobre culturalmente para ter como
respaldo identitário - hoje - uma vertente do crioulo de base portuguesa – o crioulo de Cabo Verde - Convém lembrar os crioulos com a mesma origem, isto é, de base portuguesa, como o da Guiné-Bissau, o de Casamansa, o
de São Tomé e Príncipe, o papiamento de Macau, para não me alongar nos inúmeros Crioulos e Falares que se formaram no Oriente, com a passagem portuguesa quinhentista.
Nesta ordem de ideias, é mister questionar: Que seria da
identidade dos brasileiros que se gabam de falar o “português”? E dos angolanos em que o português é já língua
materna de cerca de 50% da população? E dos australianos? E dos
estado-unidenses? E dos argentinos? E dos cubanos? Etc. etc. etc.
Mas mais, é que na sua miopia não conseguem ver que o crioulo
como língua de ensino não tem até agora - e turmas já foram criadas!! Coitados
dos alunos! - NENHUM suporte documental. Leia-se: compêndios, cadernos didácticos, livros
auxiliares, entre outros suportes de ensino necessários para qualquer
aprendizagem escolar.
Torna-se deveras interessante escutar alguns Crioulistas
impenitentes da nossa praça, na defesa do Crioulo ou Língua cabo-verdiana,
feita as mais das vezes com exagerada exaltação – o que actualmente até deixou
de ser necessário e chega a ser frequentemente, ridículo. Isto porque se
perguntados onde estão os seus filhos ou os seus netos a estudar, de certeza
que teremos como resposta, pelo menos, que nenhum foi colocado em turma em que
se experimentou o crioulo como língua de ensino. Não! Até aposto que estiveram
ou estão quase todos ou na escola portuguesa ou na escola francesa ou numa
escola particular. Nada mau. E, sobretudo, nada contra.
Pois é! É que para os crioulistas, a Língua cabo-verdiana é
boa sim, para o ensino dos filhos e dos netos dos outros. Sobretudo daqueles –
pais e avós – que não tiveram acesso a muita ilustração e esperavam ser
compensados pela Escola através dos descendentes... Mas esses outros, na óptica
dos fundamentalistas do crioulo, não precisam da nossa Língua oficial e
segunda, a portuguesa. O crioulo que eles aprenderam em casa e na rua,
basta-lhes. Isto, além de hipocrisia, é um exacerbado egoísmo totalmente despido
de qualquer sentido humanístico, de solidariedade social. E muito revelador de um sentido social que não integra e que exclui os outros.
Também não deixa de ser curioso verificar que se expressam
[os crioulistas] quase o tempo todo em português – e note-se: vernáculo! – no abundante
tempo de antena que lhes é dado na comunicação social, para quase sempre
soltarem os seus “ódios linguísticos” de estimação sob a capa de um
nacionalismo redutor e populista. Ou seja, “atemorizando” e “chantageando”
intelectualmente a livre expressão de outros cabo-verdianos que muito
necessitam, e também querem, com toda a legitimidade, igual defesa entre nós,
da Língua portuguesa como veículo e instrumento de ensino, como língua para a
nossa comunicação dentro e fora e sempre que dela necessitarmos. Um autêntico
bilinguismo.
Aliás, este escrito não está e nem podia estar contra os estudos, as pesquisas sobre a Crioulo de Cabo Verde, os quais vêm sendo feitos ao longo de décadas. Alguns com muita seriedade e fundamentação científica. Que se continue nessa senda. Mas que se circunscreva e permaneça calmamente na investigação.
Mas é - este escrito - absolutamente contra a pressa de o empurrar à força, e com muita pressão para o domínio do ensino nas nossas escolas.
Aliás, este escrito não está e nem podia estar contra os estudos, as pesquisas sobre a Crioulo de Cabo Verde, os quais vêm sendo feitos ao longo de décadas. Alguns com muita seriedade e fundamentação científica. Que se continue nessa senda. Mas que se circunscreva e permaneça calmamente na investigação.
Mas é - este escrito - absolutamente contra a pressa de o empurrar à força, e com muita pressão para o domínio do ensino nas nossas escolas.
Daí que já seja tempo de meditarmos muito seriamente, com carácter de
alguma prioridade, neste populismo crescente e demagógico a que os
políticos dão cobertura sem uma análise honesta e séria dos prós e contra e que
vem constituindo sério entrave à formação de quadros de qualidade e ao
desenvolvimento do País. A Língua não é pertença de nenhum linguista,
sociolinguista, psicolinguista, entre outros especialistas da Língua, e nem é um
fim em si própria, mas um preciosíssimo instrumento de comunicação, de trabalho e de
desenvolvimento. E é como tal que deve ser tratada. Ela é pertença dos seus
falantes e dos seus utentes.
Antes
de terminar, deixo aqui um veemente pedido:
Por favor: permitam que
os filhos dos cabo-verdianos de menor literacia e oriundos da camada social
mais desfavorecida, tenham acesso similar – aos dos vossos filhos e netos - nas
nossas escolas públicas a esses mesmos bens linguísticos. Como seja, a
possibilidade de aprenderem o português – a ocasião de terem e de fazerem nas
aulas a interpretação de textos e de conceitos científicos escritos em
português –
que é também património linguístico cabo-verdiano.
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