A interacção da Linguagem e do QI médio da população humana

sábado, 17 de abril de 2021

 

O autor Christophe Clavé apresenta-nos neste texto, algumas das causas do empobrecimento da nossa linguagem. Uma delas, a “diminuição do conhecimento lexical” e o enfraquecimento na “formulação de pensamentos complexos”. Um curto e assertivo exercício que interpela professores que estão obrigados pelo seu ofício, a desenvolver a linguagem dos aprendentes.

Vale a pena ler o escrito.

 

 

O QI médio da população mundial  - que vinha aumentando desde o

pós II Guerra até o final dos anos 90 - diminuiu nos últimos vinte anos.

É a inversão do efeito Flynn.

Parece que o nível de inteligência medido pelos testes diminui nos países mais desenvolvidos. Pode haver muitas causas para esse fenómeno e uma delas pode ser o empobrecimento da linguagem.

Na verdade, vários estudos mostram que a diminuição do conhecimento lexical e o empobrecimento da linguagem, não se fica apenas pela redução do vocabulário utilizado, mas também, provoca o desaparecimento das subtilezas linguísticas que permitem elaborar e formular pensamentos complexos.

Com efeito, o desaparecimento gradual dos tempos (conjuntivo, imperfeito, formas compostas do futuro,do particípio passado) dá origem a um pensamento quase sempre no presente, limitado ao momento, e incapaz de projeções no tempo.

Atente-se na simplificação dos tutoriais,(= acções, ferramentas, que o professor pode utilizar no ensino da Língua, da sua gramática e do seu léxico) no desaparecimento das letras maiúsculas e da pontuação, são exemplos de "golpes mortais" na precisão e na variedade de expressão.

Apenas um exemplo: eliminar a palavra "senhorinha" (agora obsoleta) não significa apenas abrir mão da estética de uma palavra, é também, promover involuntariamente a ideia de que entre uma menina e uma mulher não existem fases intermediárias.

Quanto menos palavras utilizadas e menos verbos conjugados, significam menos capacidade de expressar emoções e menos capacidade de processar um pensamento. Estudos têm mostrado que parte da violência nas esferas pública e privada, decorre diretamente da incapacidade de descrever as emoções em palavras.

 Sem palavras para construir um argumento, o pensamento complexo torna-se impossível. Quanto mais pobre a linguagem, mais o pensamento desaparece.

 A história está cheia de exemplos e muitos livros (Georges Orwell - "1984"; Ray Bradbury - "Fahrenheit 451") contam como todos os regimes totalitários perturbaram sempre  o pensamento, reduzindo o número e o significado das palavras.

Se não houver pensamentos, não há pensamentos críticos. E não há pensamento sem palavras.

 Como construir um pensamento hipotético-dedutivo sem o condicional?

Como pensar o futuro sem uma conjugação com o futuro?

Como é possível captar uma temporalidade, uma sucessão de elementos no tempo, passado ou futuro, e a sua duração relativa, sem uma linguagem que distinga entre o que poderia ter sido, o que foi, o que é, o que poderia ser, e o que será depois do que pode ter acontecido, realmente aconteceu?

 Caros pais e professores: Façamos com que os nossos filhos,os nossos alunos falem, leiam e escrevam. É dever nosso ensinar e praticar o idioma nas suas mais diversas formas. Mesmo que pareça complicado. Sobretudo se for complicado. Porque nesse esforço existe liberdade.

Aqueles que afirmam a necessidade de simplificar a grafia, de descartar a linguagem dos seus "defeitos", de abolir  os géneros, os tempos, as nuances. Afinal, tudo que cria complexidade, são os verdadeiros arquitectos do empobrecimento da mente humana.

Não há liberdade sem necessidade. Não há beleza sem o pensamento da beleza.

 

Autor: Christophe Clavé 

 

https://dasculturas.com/2020/12/20/o-qi-medio-da-populacao-mundial-diminuiu-nos-ultimos-vinte-anos-christophe-clave/

 

 

 

 

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