Por achar com
interesse para o Leitor do Coral Vermelho, tomei a liberdade – com a devida
vénia à autora Sandra Duarte Tavares, Linguista portuguesa
- de publicar este conjunto de erros
cometidos – com alguma frequência - em
português e, que como diz a autora: “ (...)mancham
a nossa imagem e podem fazer-nos perder,
em poucos segundos um bom emprego (...)”
Aprende-se sempre.
E isso é muito bom!
Sempre que cometemos um erro ortográfico ou gramatical, seja em contexto
pessoal ou profissional, podemos ser alvo de troça ou discriminação por quem
nos rodeia. Erros linguísticos como “tu fostes à reunião?”, “foi uma perca de
tempo”, “houveram pessoas que faltaram”, “ninguém se absteu” não só mancham a
nossa imagem, como também podem fazer-nos perder, em poucos segundos, um bom
emprego, um bom negócio e até um relacionamento!
A competência linguística, associada ao domínio da comunicação oral e
escrita, assume, inequivocamente, um valor sociocultural relevante, promovendo
cada vez mais aceitação, credibilidade e prestígio social.
Vejamos, então, quais os 10 erros linguísticos que, do meu ponto de vista,
podem manchar a nossa imagem pessoal profissional.
ERRO 1: p[ó]ssamos
Forma correta: possamos
As formas verbais da 1.ª pessoa do plural do presente do conjuntivo são
graves, ou seja, o acento tónico recai na penúltima sílaba: tenhamos,
sejamos, possamos.
ERRO 2: a gente vamos
Forma correta: a gente vai
Na expressão a gente, o verbo deverá estar sempre no singular,
em concordância com essa expressão.
ERRO 3: houveram pessoas
Forma correta: houve pessoas
Sempre que é verbo principal, o verbo haver só se conjuga
na 3.ª pessoa do singular, porque é um verbo impessoal (há, houve, havia,
haverá, haveria, haja…).
ERRO 4: ele interviu
Forma correta: ele interveio
O verbo intervir conjuga-se como o verbo que está na sua
base – o verbo vir: ele veio; ele interveio.
ERRO 5: vocês ha dem
Forma correta: vocês hão de
O paradigma de conjugação do verbo haver no presente do
indicativo é: eu hei de, tu hás de, ele há de, nós havemos de, vós
haveis de, vocês / eles hão de.
ERRO 6: faria-o, se possível
Forma correta: fá-lo-ia, se possível
No futuro do indicativo e no condicional, os pronomes pessoais complemento
(-me, -te, -o, -lhe…) colocam-se em posição mesoclítica, isto é, no meio do
verbo, antes das terminações de tempo e pessoa.
ERRO 7: como deve de ser
Forma correta: como deve ser
Ao contrário do nome dever, o verbo dever não
requer a presença da preposição de.
ERRO 8: à muito tempo, à 1 semana
Forma correta: há muito tempo, há uma semana
A forma verbal há (verbo haver) pode
assumir um valor temporal, podendo ser substituída pela forma verbal faz:
faz muito tempo, faz 1 semana. Tem um valor durativo no passado.
ERRO 9: tu fostes
Forma correta: tu foste
A forma verbal correspondente à 2.ª pessoa do singular do pretérito
perfeito do indicativo do verbo ir ou ser é foste.
A forma verbal fostes corresponde à 2.ª pessoa do plural: vós
fostes.
ERRO 10: Derivado a um vírus
Forma correta: Derivado de um vírus / devido a um vírus
A palavra derivado é acompanhada da preposição de (tal
como o verbo derivar); a palavra devido é
acompanhada da preposição a (tal como o verbo dever-se).
ERRO 11: Orgão
Forma correta: órgão
Esta palavra leva acento agudo sobre a vogal «o». As palavras graves
terminadas em «ão», como sótão, órfão, bênção, são sempre escritas com acento
gráfico, porque o seu acento tónico recai na penúltima sílaba.
Importa referir que o til não é um acento gráfico, mas sim uma marca de
nasalidade, indicando vogais nasais (ex. lã) ou ditongos nasais (ex. coração).
Muitas vezes, este ditongo coincide com a sílaba tónica (como é o caso de
paixão), porém, nalguns casos, pode não coincidir com o acento tónico, de que
orégãos é exemplo.
ERRO 12: Rúbrica
Forma correta: Rubrica
A palavra rubrica tem o seu acento tónico na penúltima sílaba (bri) e
escreve-se sem qualquer acento gráfico, seja qual for o seu significado:
“assunto, apontamento, matéria”, “programa radiofónico ou televisivo” ou
“assinatura abreviada”.
Tendo a sua origem no latim rubrica, estava relacionada com o adjetivo
rubrus (vermelho) e designava a terra ou argila vermelha que se usava para
escrever os títulos dos livros antigos e dos manuscritos medievais.
Deve, assim, usar-se a palavra grave rubrica para todas as aceções.
ERRO 13: Saiem
Forma correta: Saem
A forma verbal saem corresponde à 3.ª pessoa do plural do presente do
indicativo do verbo sair e grafa-se sem qualquer «i» entre a vogal «a» e a
vogal «e». A inserção da vogal «i» ocorre na oralidade (e com implicação na
escrita) com o objetivo de estabelecer a ligação entre as duas vogais em hiato (encontro
de duas vogais que não formam ditongo).
ERR0 14: Mau-estar
Forma correta: Mal-estar
A palavra composta mal-estar é formada pelo advérbio mal e pelo nome estar.
O seu antónimo é bem-estar.
ERRO 15: Previlégio
Forma correta: Privilégio
A palavra privilégio escreve-se com «i» na primeira sílaba, pois provém do
latim privilegiu. Essa vogal é frequentemente articulada como [e] devido a um
processo fonológico designado dissimilação: um determinado som perde
propriedades fonéticas que tem em comum com um som vizinho, diferenciando-se
dele.
ERRO 16: Alcoolémia
Forma correta: Alcoolemia
A palavra alcoolemia pronuncia-se com «e» fechado e escreve-se sem qualquer
acento gráfico. Na sua formação entra o elemento -emia, que é um radical de
origem grega que
exprime a ideia de sangue. Este elemento entra na composição de várias
palavras, como anemia, leucemia, glicemia, toxicemia. Trata-se de palavras
graves, cuja sílaba tónica é a penúltima (mi), pelo que não devem ser escritas
com qualquer acento gráfico.
ERRO 17: Ciclo vicioso
Forma correta: Círculo vicioso
O adjetivo vicioso está relacionado com o nome vício e entra na
combinatória «círculo vicioso». Esta expressão designa uma sequência de
acontecimentos ou situações que se repetem sucessivamente e se reiniciam,
havendo um impasse na sua resolução.
ERRO 18: Despoletar
Forma correta: Espoletar / Desencadear
O verbo despoletar é derivado por prefixação a partir do verbo espoletar.
Provêm ambos da terminologia militar e passaram a fazer parte da linguagem
corrente. O verbo espoletar, que significa originalmente “pôr a espoleta em,
fazer deflagrar a granada”, passou a significar também “desencadear uma ação”.
O verbo despoletar, por sua vez, tem o significado de ação contrária de
espoletar (“tirar a espoleta a, travando ou impedindo o disparo de”) e passou,
por força do uso linguístico, a substituir o verbo espoletar, veiculando o
significado desse verbo: “deflagrar, desencadear uma ação, fazer surgir
repentinamente”, com base no valor de reforço do prefixo des- (presente em
palavras como desinquieto, destrocar, desandar).
Ainda que tenha assumido esse significado, desaconselha-se o seu uso como
sinónimo de desencadear em registo formal.
O que podemos fazer para eliminar de vez estes e outros erros que mancham a
nossa imagem? Devemos ler muito (e bem!) para que sejamos expostos à palavra
bem escrita. Tal como a leitura, a consulta de dicionários é também uma prática
que deve ser regular no nosso dia a dia, sempre que tivermos alguma dúvida na
grafia e significado de uma palavra.
Assim, se pretendemos projetar uma imagem pessoal e profissional credível,
a nossa comunicação deve ser clara, relevante e, sobretudo, deve ter um elevado
padrão de excelência linguística.
erros portuguêsLíngua PortuguesaSandra Duarte Tavares
1 comentários:
Importante a divulgação desta denúncia.
Em Portugal são constantes estes erros e muitas vezes até entre pessoas licenciadas e doutoradas.
Há alguns anos, o então ministro da Educação de um governo do PSD, David Justino, cometeu o erro 4 (interviu) numa entrevista ou num debate. Incompreensível e inaceitável da parte de um ministro, ainda por cima da Educação. Muito estranho, porque ele nem sequer é das gerações mais jovens que de algum modo foram vítimas da atribulação provocada pelas constantes alterações verificadas há alguns anos nos programas curriculares, com reflexos no ensino da língua. Ora, o David Justino é apenas mais novo que eu 8 anos. E aprendeu a língua sem ter próxima a relação promíscua com o crioulo, tal como me aconteceu. Eu nem a sonhar iria "interviu".
O actual ministro das Finanças português tem dado também calinadas inaceitáveis. Há tempos, cometeu o erro nº 1 (tênhamos). Mais recentemente, disseram-me que ele disse "têjamos". Ele é das gerações mais joves, mas, que diabo, é um doutorado em Economia pelo MIT. Mesmo que se conceda que ele é mais um cientista que um literário, não é justificável que não tenha um domínio correcto da gramática da sua língua. É ministro da república!
Outra grave calinada que é comum ouvir-se entre jornalistas desportivos é sobre o vocábulo "moral". Quase todos dizem: os jogadores estão com "a" moral em bom plano. Ora, é "o" moral que se deve dizer. O vocábulo moral precedido de artigo feminino refere-se ao conjunto de regras e princípios que regulam uma conduta. No outro caso tem o significado de estado de espírito, força anímica. Mas os jornalistas insistem neste famigerado erro, que é um dos que mais me irritam.
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