quinta-feira, 6 de maio de 2021

 

Por achar com interesse para o Leitor do Coral Vermelho, tomei a liberdade – com a devida vénia à autora Sandra Duarte Tavares, Linguista portuguesa -  de publicar este conjunto de erros cometidos – com alguma frequência -  em português e, que como diz a autora: “ (...)mancham a nossa  imagem e podem fazer-nos perder, em poucos segundos um bom emprego (...)”

Aprende-se sempre. E isso é muito bom!

 

 

Sempre que cometemos um erro ortográfico ou gramatical, seja em contexto pessoal ou profissional, podemos ser alvo de troça ou discriminação por quem nos rodeia. Erros linguísticos como “tu fostes à reunião?”, “foi uma perca de tempo”, “houveram pessoas que faltaram”, “ninguém se absteu” não só mancham a nossa imagem, como também podem fazer-nos perder, em poucos segundos, um bom emprego, um bom negócio e até um relacionamento!

A competência linguística, associada ao domínio da comunicação oral e escrita, assume, inequivocamente, um valor sociocultural relevante, promovendo cada vez mais aceitação, credibilidade e prestígio social.

Vejamos, então, quais os 10 erros linguísticos que, do meu ponto de vista, podem manchar a nossa imagem pessoal profissional.

ERRO 1: p[ó]ssamos

Forma correta: possamos

As formas verbais da 1.ª pessoa do plural do presente do conjuntivo são graves, ou seja, o acento tónico recai na penúltima sílaba: tenhamos, sejamos, possamos.

ERRO 2: a gente vamos

Forma correta: a gente vai

Na expressão a gente, o verbo deverá estar sempre no singular, em concordância com essa expressão.

ERRO 3: houveram pessoas

Forma correta: houve pessoas

Sempre que é verbo principal, o verbo haver só se conjuga na 3.ª pessoa do singular, porque é um verbo impessoal (há, houve, havia, haverá, haveriahaja…).

ERRO 4: ele interviu

Forma correta: ele interveio

O verbo intervir conjuga-se como o verbo que está na sua base – o verbo vir: ele veio; ele interveio.

ERRO 5: vocês ha dem

Forma correta: vocês hão de

O paradigma de conjugação do verbo haver no presente do indicativo é: eu hei de, tu hás de, ele há de, nós havemos de, vós haveis de, vocês / eles hão de.

ERRO 6: faria-o, se possível

Forma correta: fá-lo-ia, se possível

No futuro do indicativo e no condicional, os pronomes pessoais complemento (-me, -te, -o, -lhe…) colocam-se em posição mesoclítica, isto é, no meio do verbo, antes das terminações de tempo e pessoa.

ERRO 7: como deve de ser

Forma correta: como deve ser

Ao contrário do nome dever, o verbo dever não requer a presença da preposição de.

ERRO 8: à muito tempo, à 1 semana

Forma correta: há muito tempo, há uma semana

A forma verbal  (verbo haver) pode assumir um valor temporal, podendo ser substituída pela forma verbal faz: faz muito tempo, faz 1 semana. Tem um valor durativo no passado.

ERRO 9: tu fostes

Forma correta: tu foste

A forma verbal correspondente à 2.ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo do verbo ir ou ser é foste. A forma verbal fostes corresponde à 2.ª pessoa do plural: vós fostes.

ERRO 10: Derivado a um vírus

Forma correta: Derivado de um vírus / devido a um vírus

A palavra derivado é acompanhada da preposição de (tal como o verbo derivar); a palavra devido é acompanhada da preposição a (tal como o verbo dever-se).

ERRO 11: Orgão 

Forma correta: órgão 

Esta palavra leva acento agudo sobre a vogal «o». As palavras graves terminadas em «ão», como sótão, órfão, bênção, são sempre escritas com acento gráfico, porque o seu acento tónico recai na penúltima sílaba. 

Importa referir que o til não é um acento gráfico, mas sim uma marca de nasalidade, indicando vogais nasais (ex. lã) ou ditongos nasais (ex. coração). Muitas vezes, este ditongo coincide com a sílaba tónica (como é o caso de paixão), porém, nalguns casos, pode não coincidir com o acento tónico, de que orégãos é exemplo.

ERRO 12: Rúbrica 

Forma correta: Rubrica 

A palavra rubrica tem o seu acento tónico na penúltima sílaba (bri) e escreve-se sem qualquer acento gráfico, seja qual for o seu significado: “assunto, apontamento, matéria”, “programa radiofónico ou televisivo” ou “assinatura abreviada”. 

Tendo a sua origem no latim rubrica, estava relacionada com o adjetivo rubrus (vermelho) e designava a terra ou argila vermelha que se usava para escrever os títulos dos livros antigos e dos manuscritos medievais. 

Deve, assim, usar-se a palavra grave rubrica para todas as aceções.

ERRO 13: Saiem 

Forma correta: Saem 

A forma verbal saem corresponde à 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo do verbo sair e grafa-se sem qualquer «i» entre a vogal «a» e a vogal «e». A inserção da vogal «i» ocorre na oralidade (e com implicação na escrita) com o objetivo de estabelecer a ligação entre as duas vogais em hiato (encontro de duas vogais que não formam ditongo). 

ERR0 14: Mau-estar

Forma correta: Mal-estar 

A palavra composta mal-estar é formada pelo advérbio mal e pelo nome estar. O seu antónimo é bem-estar. 

ERRO 15: Previlégio 

Forma correta: Privilégio 

A palavra privilégio escreve-se com «i» na primeira sílaba, pois provém do latim privilegiu. Essa vogal é frequentemente articulada como [e] devido a um processo fonológico designado dissimilação: um determinado som perde propriedades fonéticas que tem em comum com um som vizinho, diferenciando-se dele. 

ERRO 16: Alcoolémia

Forma correta: Alcoolemia 

A palavra alcoolemia pronuncia-se com «e» fechado e escreve-se sem qualquer acento gráfico. Na sua formação entra o elemento -emia, que é um radical de origem grega que 

exprime a ideia de sangue. Este elemento entra na composição de várias palavras, como anemia, leucemia, glicemia, toxicemia. Trata-se de palavras graves, cuja sílaba tónica é a penúltima (mi), pelo que não devem ser escritas com qualquer acento gráfico. 

ERRO 17: Ciclo vicioso 

Forma correta: Círculo vicioso 

O adjetivo vicioso está relacionado com o nome vício e entra na combinatória «círculo vicioso». Esta expressão designa uma sequência de acontecimentos ou situações que se repetem sucessivamente e se reiniciam, havendo um impasse na sua resolução. 

ERRO 18: Despoletar 

Forma correta: Espoletar / Desencadear 

O verbo despoletar é derivado por prefixação a partir do verbo espoletar. Provêm ambos da terminologia militar e passaram a fazer parte da linguagem corrente. O verbo espoletar, que significa originalmente “pôr a espoleta em, fazer deflagrar a granada”, passou a significar também “desencadear uma ação”. O verbo despoletar, por sua vez, tem o significado de ação contrária de espoletar (“tirar a espoleta a, travando ou impedindo o disparo de”) e passou, por força do uso linguístico, a substituir o verbo espoletar, veiculando o significado desse verbo: “deflagrar, desencadear uma ação, fazer surgir repentinamente”, com base no valor de reforço do prefixo des- (presente em palavras como desinquieto, destrocar, desandar). 

Ainda que tenha assumido esse significado, desaconselha-se o seu uso como sinónimo de desencadear em registo formal.

O que podemos fazer para eliminar de vez estes e outros erros que mancham a nossa imagem? Devemos ler muito (e bem!) para que sejamos expostos à palavra bem escrita. Tal como a leitura, a consulta de dicionários é também uma prática que deve ser regular no nosso dia a dia, sempre que tivermos alguma dúvida na grafia e significado de uma palavra.

Assim, se pretendemos projetar uma imagem pessoal e profissional credível, a nossa comunicação deve ser clara, relevante e, sobretudo, deve ter um elevado padrão de excelência linguística.

  

 erros portuguêsLíngua PortuguesaSandra Duarte Tavares

 


 

1 comentários:

Adriano Miranda Lima disse...

Importante a divulgação desta denúncia.
Em Portugal são constantes estes erros e muitas vezes até entre pessoas licenciadas e doutoradas.
Há alguns anos, o então ministro da Educação de um governo do PSD, David Justino, cometeu o erro 4 (interviu) numa entrevista ou num debate. Incompreensível e inaceitável da parte de um ministro, ainda por cima da Educação. Muito estranho, porque ele nem sequer é das gerações mais jovens que de algum modo foram vítimas da atribulação provocada pelas constantes alterações verificadas há alguns anos nos programas curriculares, com reflexos no ensino da língua. Ora, o David Justino é apenas mais novo que eu 8 anos. E aprendeu a língua sem ter próxima a relação promíscua com o crioulo, tal como me aconteceu. Eu nem a sonhar iria "interviu".
O actual ministro das Finanças português tem dado também calinadas inaceitáveis. Há tempos, cometeu o erro nº 1 (tênhamos). Mais recentemente, disseram-me que ele disse "têjamos". Ele é das gerações mais joves, mas, que diabo, é um doutorado em Economia pelo MIT. Mesmo que se conceda que ele é mais um cientista que um literário, não é justificável que não tenha um domínio correcto da gramática da sua língua. É ministro da república!
Outra grave calinada que é comum ouvir-se entre jornalistas desportivos é sobre o vocábulo "moral". Quase todos dizem: os jogadores estão com "a" moral em bom plano. Ora, é "o" moral que se deve dizer. O vocábulo moral precedido de artigo feminino refere-se ao conjunto de regras e princípios que regulam uma conduta. No outro caso tem o significado de estado de espírito, força anímica. Mas os jornalistas insistem neste famigerado erro, que é um dos que mais me irritam.

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