Fomos desafiados para a celebração das nossas
bodas de ouro, – 50º aniversário do casamento – que tentássemos escrever 50
razões que fizeram com que o nosso matrimónio perdurasse por tanto tempo. Não é
fácil quando tudo se resume a pouco mais de meia dúzia de palavras – amor,
amizade, respeito, liberdade, companheirismo, tolerância, compreensão, alegria,
felicidade – que representam os sentimentos mútuos e as realizações
partilhadas. Contudo iremos fazer uma tentativa que, ao fim e ao cabo, não é
mais que enquadrar essas expressões na nossa vivência:
1 -
Muito amor, muita amizade, muita cumplicidade e bom entendimento mútuo.
2−
Fazer com que as nossas divergências sejam, ou um mal menor, ou alternativas
para a procura de um consenso;
3−
Saber, − de esforço para um conhecimento mútuo, − que o nosso casamento foi
movido só, e tão somente, por um profundo amor que conduziu ao desejo de
estarmos permanentemente juntos.
4 – E
também de tudo partilharmos, sem pôr em causa a liberdade de cada um;
5 −
Pensarmos e agirmos sempre no sentido de que o nosso casamento foi a melhor e a
mais acertada decisão que cada um tomou na sua vida;
6 -
Procurarmos conhecer de forma interessada e profunda as particularidades de
cada um para melhor as respeitar;
7 – Termos traçado previamente,
sem calculismos, as nossas prioridades na vida em comum, baseadas no
estabelecimento de metas e objectivos acessíveis;
8 –
Termos visto nos filhos – o cumprimento de um desígnio previamente traçado e um
desejo profundamente partilhado − tudo aquilo que exponencia a nossa união e
melhor espelha o nosso amor;
9 –
Termos tido como ponto assente que a família construída é o mais importante elo
da vida desejada pelos dois. Ela paira acima de tudo.
10 –
Companheirismo.
11 –
Termos tido sempre presente que tudo é transitório − inclusive o nosso amor − e
que a sua permanência é o resultado de uma conquista continuada;
12 –
Complementarmo-nos em cada momento na prossecução permanente do cumprimento das
nossas metas e objectivos – sobretudo os familiares − e esforçarmo-nos
conjuntamente para os ajustar com realismo e pragmatismo às circunstâncias e
conjunturas;
13 –
Termos feito com que a chama da intensa amizade que nos une se mantenha sempre
viva;
14 –
Termos pugnado para que essa mesma chama se sobreponha a qualquer adversidade,
contratempo ou acidente de percurso que se interponha nas nossas vidas;
15 –
Termos tido sempre em mente que um casamento sólido não anula a individualidade
única de um e de outro, antes a conclama.
16 –
Termos concedido um ao outro espaço e tempo para cada um expressar na plenitude
a sua individualidade e apoiá-lo na sua decisão;
17 –
Fazermos com que haja sempre diálogo, diálogo e mais diálogo em todas as
circunstâncias;
18 –
Empenharmo-nos vivamente que nunca falte este [diálogo] tão importante elemento
de uma boa ligação.
19 –
Termos tido paciência, tolerância, condescendência e complacência com os erros
e os defeitos – um do outro.
20 –
Construirmos convergências ao longo do tempo e respeitar escrupulosamente as
divergências, sobretudo as que derivem de convicções.
21 –
Gostar muito de estar um com o outro.
22-
Acreditarmos todos dias, e em cada dia, de que a escolha mútua que fizemos é a
escolha certa;
23 –
Estarmos firmemente convictos de que criar e procurar gerar laços fortes de
companheirismo e de interdependência, só fortalecem a relação.
24 –
Amar, amar, amar sempre!... O amor com a crença e a convicção de que é
mutuamente correspondido é o mais forte cimento que aglutina um casamento.
25 –
Celebrarmos sempre com muita alegria as reuniões de família – mesmo as mais
pequenas;
26 –
Fazermos delas [as reuniões de família] momentos de bom humor, de diálogo, de
trocas de ideias, de identificação de valores e, sobretudo, de construção;
27 – Não
ambicionar mais do que está ao nosso alcance, sem deixar jamais de nos
esforçarmos vivamente para o bem-estar da família;
28 −
Cerrarmos bem forte as fileiras, de forma subtil ou expressa, dependendo das
circunstâncias, sempre que uma adversidade, um contratempo, uma ameaça ponha em
causa a estabilidade do núcleo familiar mais próximo, combatendo ou prevenindo;
29 –
Honrarmos sempre a aliança mutuamente edificada.
30–
Cuidarmos um do outro com carinho, paciência e dedicação;
31 –
Tentarmos “adivinhar” por vezes o que (o, a) companheiro (a) deseja…
32 –
Termos presente que o bom humor, o fino gozo, também fazem parte de um
casamento bem-sucedido.
33 –
Termos a consciência de que a alegria de estarmos juntos é um culminar de uma
´solida relação.
34 –
Sentirmos que, através dos laços que nos unem, cada um é do outro, o melhor
Amigo;
35 – Ter
presente que a confiança e o respeito mútuo, nunca se devem ausentar da aliança
construída;
36 – E
também que a harmonia deve ser o sentimento mais presente no dia-a-dia do
casal.
37 – A
liberdade de ser de cada um, não deve, por princípio, ser anulada por nenhum
dos cônjuges.
38 – Que
os valores de família devem ser promovidos e consolidados entre o núcleo
geracional construído.
39 – Que
a alegria de ter e de conhecer os netos são dádivas imensuráveis. Eles – os
netos – são uma graça divina na nossa vida.
40 –
Fazermos da vinda dos netos um hino de alegria para os nossos corações e um
alento para a caminhada comum;
41 –
Amor e um pouco de paixão só fazem bem ao casal…ainda que velhotes.
42 –
Fazer com que as memórias boas sejam sempre revividas com alegria e
gargalhadas;
43 –
Sentirmos em cada momento, que crescemos e amadurecemos juntos e que a
cumplicidade se tornou a nossa segunda natureza;
44 – No
fundo, constatarmos que um casamento de 50 anos, equivale a “levantarmo-nos”
juntos, numa espécie de segunda criação, agora a dois.
45 – Não
há “catálogo de receitas” e muito menos “milagres” para o sucesso de um
casamento com longevidade.
46 –
Caberá ao casal em cada etapa alicerçar sólida e interessadamente os pilares da
vida em comum.
47 –
Amar, amar sempre!... O amor com a crença e a convicção de que é mutuamente
correspondido é o mais forte cimento que aglutina um casamento;
48 – 50
anos de vida em comum é uma grande e bela peça de tapeçaria, feita de vários
fios, com labor, com persistência e procura permanente de aperfeiçoamento pois
que, às vezes se torcem, mas que de seguida se distorcem para finalmente se
convergirem numa bonita obra final!
49 –
Afinal 50 anos de casamento, são 600 meses; 18.262 dias; e cerca de 438.290
horas de vida em comum!
50 – É
obra! E afirmamos orgulhosamente que valeu a pena construí-la.
1 comentários:
Antes de mais, as minhas efusivas felicitações aos noivos da comemoração destas bodas de ouro, os Amigos Ondina e Armindo.
Parafraseando a 50.ª razão, que sintetiza todas as demais que precedem, direi que, de facto, “É OBRA”, e aqui cito o imortal Wolfgang Amadeus Mozart: “para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também viver um grande amor”.
O amor é arte e é também ciência, que se conjugam e se completam para que 50 anos de vida em comum sejam o espelho dourado da verdadeira arte de viver. E o seu feliz corolário, a sua expressão mais sublime, são, na verdade, os filhos e os netos, e aqui sublinho as belas palavras inscritas nas razões 39 e 40, respectivamente: “Que a alegria de ter e de conhecer os netos são dádivas imensuráveis. Eles – os netos – são uma graça divina na nossa vida”; “Fazermos da vinda dos netos um hino de alegria para os nossos corações e um alento para a caminhada comum; “a alegria de ter e de conhecer os netos são dádivas imensuráveis”. Penso e sinto exactamente assim.
Ondina, foi igualmente “obra” de mestre explicitar todas essas 50 “razões” com tão rico e variado conteúdo literário e filosófico, um verdadeiro compêndio da arte e da ciência de viver. Estou crente que delas exala a fonte de energia para a vossa caminhada em direcção às bodas de diamante. Que a saúde não vos falte para chegar a esse dia!
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