Por achar que é mais do que um comentário ao texto: “Ah! A Boa Escola!”; por considerar que de um texto se trata com uma abordagem distinta, da problemática das duas Línguas cabo-verdianas - o Crioulo e o português - aqui se publica um texto da Professora Maria Cândida Gonçalves, minha colega das lides do ensino e, além do mais, uma amiga de longa data.
Querida Colega e Amiga
Como sabes, eu tenho
uma visão sobre a situação das línguas portuguesa e cabo-verdiana em Cabo Verde
convergente com a tua, mas com uma abordagem diferente. Eu não creio que o foco
deva ser posto apenas na preservação e valorização do ensino da língua portuguesa,
mas sim numa abordagem holística que leve em consideração, por um lado, a
importância desta língua para os cabo-verdianos e sua importância a nível
global e, por outro, a importância e o lugar conquistados pela língua
cabo-verdiana na sociedade cabo-verdiana atual. Penso que já não é suficiente
denunciar a situação caótica a que chegámos em relação ao uso destas duas
línguas em Cabo Verde. Não vale a pena “tapar o sol com a peneira”, pois a
maioria dos cabo-verdianos já não usa a língua portuguesa em situações de
comunicação informal ou formal. Vários fatores têm contribuído para este
ambiente sociolinguístico. Penso, portanto, que precisamos de reformas
profundas do sistema educativo, visando preservar e valorizar as duas
línguas, passando pelo esclarecimento e sensibilização da sociedade
cabo-verdiana (jovens, sobretudo, que se recusam a falar português) para que
ambas sejam aceites, cada uma com a sua importância própria.
Penso também que o
caso do Haiti é diferente do de Cabo Verde. Aqui, nenhum governo tem defendido
a abolição da língua portuguesa, tampouco os defensores da oficialização da
língua cabo-verdiana.
E termino dizendo que
não aprovo a anunciada decisão do Ministério da Educação de introduzir o ensino
da língua cabo-verdiana no 10º Ano do Ensino Secundário, a partir do
próximo ano letivo. Acho que se trata de mais uma “medida avulsa”, que não vai
resolver a complexa situação linguística em Cabo Verde. Defendo que a
implementação de novas medidas de política linguística deve começar pelo
Ensino Básico, visando formar gradualmente uma sociedade cabo-verdiana bilingue
num horizonte temporal definido dentro dum Plano Nacional de Desenvolvimento
Curricular, que vise responder aos diversos questionamentos e inquietações dos
cabo-verdianos residentes no País e na diáspora.
4 comentários:
Continua o debate sobre a língua portuguesa em Cabo Verde na página da Dra Ondina Ferreira.
Um comentário meu colocado na página sobre um facto que considero sui-generis, como um 'amigo' escreveu:
"Não vale a pena “tapar o sol com a peneira”, pois a maioria dos cabo-verdianos já não usa a língua portuguesa em situações de comunicação informal ou formal."
Escrevi o seguinte
Não concordo com a sua colega e amigo(a) de "Não vale a pena “tapar o sol com a peneira”
Acho isso uma anomalia e um facto grave e ainda é tempo de corrigir esta situação com políticas de educação adequadas, em vez de demagogia, o facto dos cabo-verdianos terem cada vez mais dificuldades em usar a língua portuguesa em situações de comunicação informal ou formal. Cabo-Verde só não é um país bilingue por decisão política: tornaram erradamente a língua portuguesa estrangeira, inimiga dos africanistas, a brincar a revoluções. E a brincadeira foi levada a sério!!
Sendo Cabo Verde um país formalmente lusófono, espera-se que todos os cabo-verdianos devam exprimir, correctamente nesta língua.
Mesmo numa hipótese cada vez mais plausível (já que o Estado de Cabo-Verde, vêm dissimulando as fortes pressões de sectores fundamentalistas e irredentista africanos, para deixar cair formalmente ou informalmente a língua portuguesa, do ponto de vista estratégico (numa visão global do Mundo), todos os cabo-verdianos deveriam tendencialmente exprimir na língua portuguesa fluentemente, já que esta língua é a primeira de comunicação com o Mundo Lusófono, e ela serve também de excelente interface para as outras línguas. Desprezar este facto é de uma miopia total.
Portanto a comparação como caso Haiti que a Ondina fez é feliz, pois se os governos não têm formalmente defendido a abolição da língua portuguesa, as políticas de aprendizes de feiticeiro em relação a esta língua levaram a um resultado semelhante no Haiti.
O debate em Cabo Verde devia ser de como os cabo-verdianos poderão no futuro exprimir fluentemente na língua portuguesa. O resto são nacionalismos bacocos que vão levar a mais decadência!!
Continua o debate sobre a língua portuguesa em Cabo Verde na página da Dra Ondina Ferreira.
Um comentário meu colocado na página sobre um facto que considero sui-generis, como um 'amigo' escreveu:
"Não vale a pena “tapar o sol com a peneira”, pois a maioria dos cabo-verdianos já não usa a língua portuguesa em situações de comunicação informal ou formal."
Escrevi o seguinte
Não concordo com a sua colega e amigo(a) de "Não vale a pena “tapar o sol com a peneira”
Acho isso uma anomalia e um facto grave e ainda é tempo de corrigir esta situação com políticas de educação adequadas, em vez de demagogia, o facto dos cabo-verdianos terem cada vez mais dificuldades em usar a língua portuguesa em situações de comunicação informal ou formal. Cabo-Verde só não é um país bilingue por decisão política: tornaram erradamente a língua portuguesa estrangeira, inimiga dos africanistas, a brincar a revoluções. E a brincadeira foi levada a sério!!
Sendo Cabo Verde um país formalmente lusófono, espera-se que todos os cabo-verdianos devam exprimir, correctamente nesta língua.
Mesmo numa hipótese cada vez mais plausível (já que o Estado de Cabo-Verde, vêm dissimulando as fortes pressões de sectores fundamentalistas e irredentista africanos, para deixar cair formalmente ou informalmente a língua portuguesa), do ponto de vista estratégico (numa visão global do Mundo), todos os cabo-verdianos deveriam tendencialmente exprimir na língua portuguesa fluentemente, já que esta língua é a primeira de comunicação com o Mundo Lusófono, e ela serve também de excelente interface para as outras línguas. Desprezar este facto é de uma miopia total.
Portanto a comparação como caso Haiti que a Ondina fez é feliz, pois se os governos não têm formalmente defendido a abolição da língua portuguesa, as políticas de aprendizes de feiticeiro em relação a esta língua levaram a um resultado semelhante no Haiti.
O debate em Cabo Verde devia ser de como os cabo-verdianos poderão no futuro exprimir fluentemente na língua portuguesa. O resto são nacionalismos bacocos que vão levar a mais decadência
O problema é se haverá vontade política para mudar o rumo e adoptar medidas linguísticas visando transformar Cabo Verde num país verdadeiramente bilingue e deixar de pretender que o português é língua estrangeira mas sim a nossa segunda língua.
Sobre este assunto, já não sei que mais acrescentar às opiniões que ao longo dos últimos anos exprimi publicamente.
Não possuo conhecimentos na área da Linguística, mas o meu instinto faz-me crer que será uma tarefa inútil impor uma gramática ao crioulo, uniformizá-lo entre as ilhas e torná-lo língua oficial e do Estado.
Registo a informação aqui transmitida de que os cabo-verdianos se recusam ou resistem até mais não a usar o português na comunicação formal e informal. Eu não tinha ainda adquirido essa percepção, pelo que fico surpreendido, e mesmo preocupado, com o futuro linguístico na nossa terra.
A razão só pode estar do lado do Prof. José Fortes Lopes ao afirmar que "Cabo-Verde só não é um país bilingue por decisão política: tornaram erradamente a língua portuguesa estrangeira, inimiga dos africanistas, a brincar a revoluções. E a brincadeira foi levada a sério!!".
Pois é, meter política no processo linguístico não resulta, é anticientífico. Basta ver o que está a acontecer com o actual Acordo Ortográfico relativo ao português.
A ideia que eu tenho do meu tempo de menino e moço é que só as pessoas profundamente analfabetas tinham dificuldade em exprimir-se em português. Mesmo assim lembro-me de que muitos o tentavam numa mistura de português e crioulo.
O que não me tem passado despercebido é a facilidade e espontaneidade com que as crianças da Escola Portuguesa em Cabo Verde falam o português, conforme me é dado ver em alguns programas de televisão. Donde é inevitável esta pergunta: afinal, não será apenas um problema de ensino e de prática oral estimulada?
Li num comentário do facebook que eu "não defendo a língua crioula. Desconheço a que propósito saiu essa afirmação, mas a verdade é que não defendo nem ataco a língua crioula. Falo-a escorreitamente como qualquer menino nascido em S. Vicente, e, mesmo não o falando assiduamente, guardo na memória todo o seu acervo vocabular, incluindo termos e expressões que já pouco usados. Mas a verdade que não acredito piamente na possibilidade da ascensão do crioulo ao estatuto que lhe querem impor. Mesmo que isso seja encarado como ingente tarefa nacional, passando a impor-se, à força de régua e palmatória, um crioulo gramaticado, domesticado e uniformizado, não prevejo qualquer sucesso. É próprio da sua natureza genética o crioulo sentir-se livre, solto, rebelde e informal.
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