Eis
um título que parafraseei do romance «Mendigos e Altivos» de Albert Cossery[i], o escritor franco-egípcio
que usou com imensa mestria a ironia, esta figura de estilo e do pensamento que
por vezes se torna indispensável para a escrita de assuntos sérios e que só
ironizados, atingem o objectivo pretendido.
E a
que propósito vem isto tudo? Passo a explicar.
Aqui
há dias, ouvindo a rádio, (RDP-África) escutei um comentador, comentador aliás,
̶ devo dizê-lo em abono da verdade ̶ que me merece créditos pela forma assertiva
com que costuma abordar os assuntos relativos ao país de origem e à política
internacional. Mas desta vez, para o meu espanto e para a minha estupefacção, ̶ quando o painel comentava a recente visita do
Primeiro-Ministro português à Guiné e a Cabo Verde, com finalidades de
cooperação, acertos da dívida e de outros projectos – saiu-se com esta: (que
procurarei transmitir em discurso directo, pois se o faço em discurso
indirecto, o leitor é capaz de pensar que se
trata de uma interpretação minha das suas palavras. Ouvi-o com atenção, em
directo, na sexta-feira e sem filtro, como se costuma dizer. Aqui vai: “(…) expresso
a minha indignação, o governo do meu país não teve coragem de o fazer, mas eu
faço-o agora, a minha indignação por Costa não ter visitado o meu país” e
continuava nesta toada, “um país que está a precisar de ajuda,” “(…) que está
ajoelhado (...)”
Que
precisava com premência dessa visita do Primeiro Ministro português, se calhar,
“como do pão para a boca,” não? …
Mas
que é isto? Meus senhores! Um filho a chorar, a rogar pela visita do Pai?
Será?..
Então
meu caro analista, a Independência serviu para
quê? Para que os rogos continuassem? A sua indignação foi muito infeliz.
Haja
dignidade!
O
normal neste caso e seria mais sensato, pedir contas à (in)competência na
gestão do seu país conduzido por nacionais que levantam essa bandeira há perto
de meio século, e não, a um governo alheio.
Mas
não, culpa a não visita do Governante de país amigo, Portugal, pelos males
actuais (2022) do seu país, independente desde 1975?? E
indigna-se pelo facto do PM português não ter visitado o seu País, num rebate
que configura alguma obrigação da parte dele, ou então, algum ciúme?
Nunca mais deixamos de pedir?
Não
há aqui qualquer coisa que roça à ironia?
Ora
com franqueza!... Mais valia, já agora, ter
pedido à antiga Metrópole que o recebesse de volta!? Não? Se tivesse sido com
essa finalidade eu havia de perceber a lógica e a coerência nessa indignação
confessada.
Mas
assim! Convenhamos!...
Só me resta acrescentar: “Mendigos e nada Altivos”. Bem ao
contrário dos mendigos do livro de Cossery.
[i]
Albert
Cossery,” escritor franco-egípcio, nasceu no Cairo em 1913 e faleceu em Paris
em 2008. Foi um escritor de Língua francesa. Considerado um mestre em escárnio,
A. Cossery foi também um profeta do prazer e da preguiça.” Transcrito da
biografia que o acompanha.
Uma
curiosidade: Cossery escreveu 8 romances. Com a periodicidade de um romance por
cada 8 anos.
Outra
curiosidade: viveu a maior parte da sua vida num quarto do mesmo hotel em
Paris, onde publicou todos os seus livros.
1 comentários:
Não sei quem é o comentador em causa, mas o recado dado nesta crónica não podia ser mais apropriado e certeiro. E virá agora a propósito um mail que eu recebi de alguém e se relacionava com a criação (presumo que por guineenses) de um movimento ou partido intitulado "Nova Guiné - Portuguesa". Mas como o assunto não voltou a ser badalado, não sei se é "fake" ou não.
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