Ah! Como nos Fazem Falta Activistas de Causas Sociais!...

domingo, 10 de abril de 2022

 

É verdade! Fazem-nos muita falta, Activistas de causas sociais aqui nas ilhas.

Para exemplificar diria que necessitamos de Activistas que pleiteassem por uma melhor qualidade de ensino, por uma boa escola pública, em todos os níveis, do básico ao universitário;

De Activistas que defendessem uma melhor Saúde no nosso país, com melhores hospitais, com melhores instrumentos e aparelhos hospitalares, e com melhor atendimento dos pacientes;

Precisamos imensamente de Activistas que tomassem a defesa da diminuição da pobreza; da estruturação da família que sem isso, a sociedade não se equilibra e a desestruturação familiar deixa lacunas irreparáveis na criança;

De Activistas que debatessem a criminalidade, nomeadamente a jovem, entre outras causas sociais desestruturantes que ainda emperram e sufocam o desenvolvimento deste país!

Enfim, na realidade, faz-nos imensa falta o verdadeiro activismo social!

Isto tudo também para dizer que ultimamente temos vindo a assistir a um fenómeno que se tornou bizarro, para não dizer hilariante, que é alguns artistas ou, aqueles que como tal se julgam, se definirem à partida, e sem quaisquer provas dadas, como Activista, e até o  registam nos cartões pessoais, e  em documentos públicos, como se de uma profissão se tratasse! O activista é aquele que inserido num grupo informal luta por uma determinada causa pública. É um voluntariado na efectivação de uma convicção. É acima de tudo, um abnegado voluntário que se entrega e se dedica à defesa de causas nobres. Não uma profissão. E, eticamente, devia ser um reconhecimento público e não uma auto proclamação.

Não é invulgar ver-se e ouvir-se nos diversos meios da comunicação social, redes sociais inclusive, indivíduos que se arvoram em activistas sociais sem que se lhes conheça qualquer acção efectiva e, muito menos a dimensão do seu activismo. Que curriculum vitae apresentam sobre isso, para se arrogarem ao direito de serem considerados activistas?

Quando os vejo em programas televisivos nacionais, questiono: “mas este ou aquela, é activista de quê? O que tem feito para o bem e para a transformação da sociedade para assim se auto-intitular?”

Pensemos - para ilustrar o activismo - na conhecida e justamente célebre, Malala Yousafzai, a jovem paquistanesa, que defendeu apenas por convicção e dever cívico, o direito das mulheres islâmicas do seu país frequentarem a escola e, com isso, correu sério risco de vida com os talibans da terra dela! Extraordinária! Uma luta pelos seus nobres ideais sem qualquer outra compensação do que a satisfação de os verem realizados.

Mas minha gente! O ser Activista não se resume, não se limita apenas a partilhar ou, simplesmente a aderir a determinadas ideias. Não, o activismo é muito mais do que isso; é uma práxis, é um estado permanente, sustentado numa crença que é conduzida em actividade continuada, para se alcançar determinados objectivos e pressupostos que visam transformar uma determinada situação, uma determinada comunidade, ou uma determinada sociedade.

Por outro lado, e diferentemente desta linha de activismo, vem sucedendo também e com frequência crescente, um fenómeno exótico com determinados artistas que aqui na terra de origem fizeram zero de activismo, de quem não há notícia, nenhum registo, sobre prática activista de qualquer espécie; mal se apanham em país alheio, sobretudo em Portugal, arvoram-se, transformam-se e transfiguram-se imediatamente, em exaltados e em extremados Activistas, e sob essa capa, pretendem até dar lições catedráticas de História, de estatuária pública e de monumentos, de comportamento social, em terra de outrem… Eu sei lá! De tudo e mais alguma coisa! E esta?

Enfim, dão lições aos naturais do país, como se não tivessem os mesmos problemas no seu país de origem e mais soubessem e melhor conhecessem a História, os usos e os costumes do país de acolhimento.

O interessante é que até se esquecem de que vivem e beneficiam de acolhimento amigo, para que a sua carreira se afirme e se internacionalize e para que o seu aperfeiçoamento artístico suba patamares e ganhe melhor “performance? Não será isso que procuram? Não será isso que almejam? Não foi por causa disso que deixaram Cabo Verde?

Afinal, foram à procura na antiga “Metrópole” daquilo que o país de origem não lhes possibilitou para a projecção da carreira artística, na óptica deles, e que o país de acolhimento lhes poderá proporcionar. Daí se compreender, a mudança feita. Ou não será assim?

Mas atenção, meus senhores: como “Activistas,” ponderem bem no estrangeiro, tenham sempre ligado e activado, o vosso auto “desconfiómetro” e pensem sempre assim: “será que  este mesmo problema não existia no meu  país? Será que eu fazia isso no meu país antes de partir em demanda de vida melhor?” Igualmente, por momentos, imaginem também, falando com os vossos botões, o seguinte: “Deixe-me cá ver uma coisa… e se um português ou, outro forasteiro, fosse exigir na minha terra tudo o que eu exijo cá, na terra dele? Como é que eu reagiria?”

Na minha modesta opinião, seria um bom exercício de cidadania e de independência da mente.

Mas antes de terminar gostaria de afirmar que tenho enorme admiração pelo voluntariado activista, em prol de causas sociais e em defesa de objectivos nobres.

Por último, e tal como comecei o escrito, reitero: Ah! Que falta nos faz o Activista  a sério, nestas ilhas!

 

1 comentários:

Adriano Miranda Lima disse...

Esta crónica faz todo o sentido e vem muito a propósito. E só podia ser da autoria de alguém com cultura e larga experiência de vida e profissional, e com provas sobejamente dadas, como é o caso da Dr.ª Ondina Ferreira.
O activismo social é, com efeito, um imperativo num país como Cabo Verde, com as suas carências e fragilidades. A autora menciona o espectro das áreas sociais em que deve incidir o associativismo, mas direi que a grande prioridade deve ir para a questão da desestruturação familiar, que considero particularmente gravosa na nossa terra em virtude das suas múltiplas implicações sociais: insucesso escolar, meninos de rua, delinquência juvenil e futura criminalidade, prostituição, etc.
De acordo com a autora, e desde há muito que tenho consciência dessa realidade, critico também o exibicionismo e a total falta de humildade de algumas pessoas na nossa terra que não têm pejo nenhum em citar ou ostentar gritantemente os seus títulos (activista social, assim como cientista político, ou doutor nisto ou naquilo, ou professor universitário). Fazem-no nos seus escritos, como em intervenções públicas, e até nos mails que escrevem, o que acho simplesmente patético. Em vez de deixar que o reconhecimento público as consagre em função de provas concretas prestadas e perante uma unanimidade de opiniões, são as próprias que o proclamam saem qualquer pudor.
Quanto a pessoas que vêm a Portugal armarem-se em activistas, ocorre-me o episódio em que um ex-ministro da cultura de Cabo Verde aproveitou o acolhimento recebido para fazer certo tipo de críticas que mereceram reprovação.

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