segunda-feira, 25 de abril de 2022

 


 
Salvé 25 de Abril! Dia da Liberdade e da Fraternidade!..

.Lembrando 1974 e de como erámos jovens, generosos, amigos, cheios de sonhos e de promessas. Uns realizados e outros não…

A todos os amigos presentes e ausentes e aqueles que desta vida partiram, dedico o poema abaixo transcrito de Fernando Pessoa.

Fernando Pessoa

 "Um dia a maioria de nós irá separar-se.
Sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora,
das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos,
dos tantos risos e momentos que partilhámos.


Saudades até dos momentos de lágrimas, da angústia, das
vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...
do companheirismo vivido.


Sempre pensei que as amizades continuassem para sempre.

Hoje já não tenho tanta certeza disso.
Em breve cada um vai para seu lado, seja
pelo destino ou por algum
desentendimento, segue a sua vida.


Talvez continuemos a encontrar-nos, quem sabe... nas cartas
que trocaremos.

Podemos falar ao telefone e dizer algumas tolices...
Aí, os dias vão passar, meses... anos... até este contacto
se tornar cada vez mais raro.


Vamo-nos perder no tempo...
 
Um dia os nossos filhos verão as nossas fotografias e
perguntarão:
Quem são aquelas pessoas?

Diremos... que eram nossos amigos e... isso vai doer tanto!

- Foram meus amigos, foi com eles que vivi tantos bons
anos da minha vida!

A saudade vai apertar bem dentro do peito.
Vai dar vontade de ligar, ouvir aquelas vozes novamente...

 
Quando o nosso grupo estiver incompleto...
reunir-nos-emos para um último adeus a um amigo.

E, entre lágrimas, abraçar-nos-emos.
Então, faremos promessas de nos encontrarmos mais vezes
daquele dia em diante.


Por fim, cada um vai para o seu lado para continuar a viver a
sua vida isolada do passado.

E perder-nos-emos no tempo...

Por isso, fica aqui um pedido deste humilde amigo: não
deixes que a vida
passe em branco, e que pequenas adversidades sejam a causa de
grandes tempestades...

 
Eu poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem
morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem
todos os meus amigos
!"

                                                         Fernando Pessoa 



2 comentários:

Adriano Miranda Lima disse...

Ainda ontem (24 de Abril), participei num almoço-convívio com o pessoal do Batalhão em que estive em Moçambique, de Março de 1972 a Maio de 1974. Vinha sendo adiado desde que começou a pandemia, mas desta vez lá se realizou. Era uma unidade militar disciplinada e foi exemplar no seu comportamento em África, nomeadamente no trato com as populações. Eu era um jovem capitão, fui para lá com 28 anos e regressei com 30. Mentalmente, fiz as contas ao tempo que entretanto passou (meio século) e dei-me conta da sua relatividade ou ausência de valor substancial. O comandante do Batalhão (tenente-coronel) tinha idade para ser meu pai (foi para lá com 52 anos e regressou com 54). Faleceu há alguns anos, assim como o major 2º comandante, oficial uns anos mais novo. Havia 3 oficiais de tarimba dos serviços administrativos, pessoal e logística, e 2 tinham ainda mais idade que o comandante. O mais velho teria hoje 107 anos se fosse vivo.
Como esta crónica é a propósito do 25 de Abril, quando aconteceu o golpe militar estávamos já a preparar as bagagens para regressar à metrópole, finda a comissão. Lembro-me que, depois de ouvir umas declarações na rádio prestadas por Pedro Pires, o comandante perguntou-me: “Lima, Cabo Verde quer mesmo ser independente?”. O oficial em causa conhecia bem a nossa terra e a sua gente por ter prestado serviço no território, ainda jovem oficial. Respondi-lhe que muito sinceramente desconhecia se era esse o desejo da população e se seria essa a melhor solução para o seu futuro.
Parece que foi ontem que tudo isso se passou e no entanto tanta coisa que já aconteceu! Parafraseando o verso de Fernando Pessoa, “tudo se perdeu no tempo” e só resta a memória dos momentos partilhados, uns bons, outros nem por isso e outros mesmo maus.
Nesse almoço-convívio ontem realizado, notei uma especial emoção nos rostos dos presentes. Talvez por se tratar de um evento pós-Covid. Eram cerca de 150 pessoas (incluindo familiares), número bastante aquém do que poderia estar presente porque o batalhão tinha um efectivo de cerca de 700 homens, mesmo que se desconte o número dos que deixaram de estar entre os vivos.
Dei-me conta de que 7 dos meus “rapazes” (antigos cabos e soldados, hoje homens de cerca de 72 anos) já morreram desde o nosso regresso. Entristeceu-me saber que alguns dos convocados não puderam estar presentes por uma simples questão económica, o que não admira porque ao custo do almoço se tem de juntar o da viagem, e muitos ou são do Norte do país ou do Algarve.
Entre o meu pessoal, registei a ausência de dois companheiros que nunca compareceram ao convívio. Um, era um alferes miliciano que tinha precisamente a minha idade, mas com quem, talvez por essa circunstância, tive um relacionamento especial. Outro, era um soldado (algarvio) que tinha a função de minha ordenança e guarda-costas. Era-me tão chegado e tão fiel e dedicado que quase adivinhava ou pressentia as minhas preocupações ou tensões, pois que tinha assento permanente no meu gabinete.
Tenho saudades desses dois, que, por qualquer razão que ignoro, nunca compareceram ao nosso convívio. E ninguém me sabe informar do seu paradeiro. Podem ter-se “perdido no tempo”, mas vou esforçar-me por os reencontrar, caso estejam vivos, ou mesmo que não estejam. Afinal, sabe-se lá o que é o tempo?
Obrigado, Amiga Ondina, e peço desculpa se exagerei nesta deriva das minhas lembranças, mas tudo veio a propósito do 25 de Abril.

Adriano Miranda Lima disse...

Em aditamento ao meu comentário, soube agora, e infelizmente, que o soldado que foi minha ordenança e guarda-costas faleceu há cerca de 20 anos. De morte natural, vítima de uma doença oncológica. Falta agora saber do paradeiro do que foi meu alferes miliciano e era da minha idade. Todos vamo-nos perder no tempo, como disse Fernando Pessoa neste seu poema, mas espero driblar o tempo e encontrá-lo.

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