Em Português nos entendemos (?) Nem sempre...

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Esta é uma historieta que foi oralmente contada por Eduardo Prado Coelho – o saudoso ensaísta português (1944-2007) – num dos Encontros da AULP, (Associação das Universidades de Língua Portuguesa).

Desta feita o Encontro da AULP passava-se em S. Paulo, Brasil. Normalmente nesses fóruns adjacentes à CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa) gera-se um ambiente de muita fraternidade e de tons afectivos justamente com base na língua comum.

Ora bem, estávamos nós os participantes nesse “clima,” quando foi a vez da intervenção de Prado Coelho quem, antes de proferir a sua palestra, e em jeito de dispor bem o auditório, narra a seguinte história que se teria passado anos antes, com ele e com o grande escritor também português Vergílio Ferreira (1916-1997) autor consagrado de inúmeros romances em que se destacam: «Manhã Submersa», «Cântico Final» «Alegria Breve» «Para Sempre» «Carta a Sandra» entre muitos outros, e que o colocam na linha dos bons escritores do humanismo existencialista e dos seus desencontros.

Pois bem, participavam eles, segundo Prado Coelho, num encontro de escritores no Brasil, o que se terá passado também em S. Paulo, quando numa tarde, lhe pediu Vergílio Ferreira que o acompanhasse a uma loja, pois necessitava comprar uma peça mais quente de vestuário. Tinha sido traído pelo clima que julgava sempre tropical e por isso não fora preparado. Ali chegados, ele parou na montra da loja e viu nela exactamente o que precisava. Entrou e dirigiu-se á balconista nestes termos: “…Minha senhora, eu queria aquela camisola castanha que está exposta na montra…” A senhora arregalou os olhos com ar de quem nada entendera do pedido acabado de fazer. Vergílio Ferreira repetiu o pedido. A balconista continuou sem perceber: «Como assim?..camisola castanha?...» Apercebendo-se disto, Vergílio Ferreira resolveu falar por gestos, dirigiu-se à montra e apontou na direcção da peça que queria adquirir. Nessa altura, fez-se luz à balconista que prontamente reagiu, com ar de quem corrigia o seu interlocutor: “Ah! O que o senhor quer é o pullover marron que está na vitrine.”

Adquirido o objecto da compra e já fora do estabelecimento comercial, os dois riram-se muito do mal-entendido linguístico e comentaram que nem sempre em português nos entendemos!

Mas o que também pairou entre os participantes da AULP, que escutaram o episódio contado por Eduardo Prado Coelho, foi o facto de o consagrado escritor no mundo da Língua portuguesa, Vergílio Ferreira, ter sido “corrigido” por uma balconista.

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