O livro “Forças Expedicionárias a Cabo
Verde na II Guerra Mundial”, da autoria de Adriano Miranda Lima, vai ser
apresentado no próximo dia 6 de Fevereiro, pelas 18H00, no Centro Cultural do
Mindelo. A apresentação caberá à Drª Ana Cordeiro e o autor será representado
pelo seu primo José Carlos Soulé.
Já quase se perde na memória do povo das ilhas que, entre 1941 e 1945, durante
a II Guerra Mundial, forças militares de 5. 820 homens, destacadas pela então
Metrópole, desembarcaram em Cabo Verde e distribuíram-se por S. Vicente
(3.015), Sal (2.100) e S. Antão (705), onde
prepararam posições defensivas contra um eventual invasor. Tudo aconteceu
porque Portugal, embora neutro no conflito, foi pressionado pela Inglaterra e pelos
EUA a reforçar a defesa das suas ilhas atlânticas (Açores, Cabo Verde e
Madeira) para evitar que a Alemanha as ocupasse e tirasse proveito do seu potencial
estratégico.
É de tudo um pouco que fala o livro. Da actividade militar e seus
envolventes e vicissitudes de ordem operacional e logística, mas também do
alvoroço que a presença das tropas representou para a rotina e a pacatez das
ilhas. A narrativa debruça-se sobre a interacção dinâmica das forças militares
com as circunstâncias concretas que as envolveram no quadro da sua missão, e
abre espaço, e bastante, para pôr em evidência as múltiplas situações em que os
militares interagiram com as populações e a sociedade civil.
Daí que haja muitas histórias para contar, e algumas de grata memória
para as populações, como a acção médica e o apoio sanitário que as tropas
disponibilizaram para os civis, em que se destaca sobremaneira a figura grandiosa
do capitão médico José Baptista de Sousa, cuja imagem ainda perdura na memória
do povo de S. Vicente. Para não falar também das sobras de rancho que mataram a
fome a muitas pessoas carentes, iniciativa em que se destacou o comandante de
companhia capitão Fernando Marques e Oliveira.
Relevo merece igualmente o pano de fundo social em que se desenrolou a
missão das Forças Expedicionárias. As nossas ilhas foram à época assoladas por
uma seca prolongada que, agravada pelo descaso ou pela inoperância do governo
central, vitimou 24.463 criaturas, sobretudo aquelas que dependiam
exclusivamente da agricultura para a sua sobrevivência. Do lado das Forças
Expedicionárias reveste significado estatístico a circunstância da morte de 68
militares, trágica ironia porque as mortes não resultaram de acções violentas ligadas
à actividade militar mas de doenças infecciosas que poderiam ter sido debeladas
caso a penicilina estivesse já disponível em território nacional. Nesta
particularidade, o quadro de carências era comum à população civil e à militar.
Portanto, nas 250 páginas do livro a historiografia cruza-se com a
sociologia e conta histórias reais de homens fardados e de vidas humanas.
Adriano Miranda Lima
0 comentários:
Enviar um comentário