segunda-feira, 25 de maio de 2020

Notas de uma Afro-céptica

Tenho vindo a  assumir-me a cada dia que passa como  afro-céptica.
Mas nem sempre foi assim. Nos gloriosos anos sessenta e meados dos anos setenta do século XX tive muita esperança neste Continente, que hoje celebra o seu Dia - 25 de Maio, Dia de África.
Nessa altura acreditava que os países que iniciavam os primeiros passos pós-independência e que uma vez libertos do colonialismo europeu, se desenvolvessem de facto e que os seus habitantes tivessem com isso algum bem-estar económico, social e cultural.
Afinal falávamos de países ricos em minérios, abundantes em recursos naturais e que tudo isso haveria de ser posto ao serviço do progresso dos respectivos povos e do desenvolvimento de cada um dos países agora soberanos.
Olhem para o mapa e percorram os ditos grandes países africanos e digam-me honestamente o que observam:
v  Quase nenhum possui um Sistema Nacional de Saúde.
Não há qualquer investimento sério no combate às grandes  endemias como a malária, o ébola, a cólera e outras de semelhante teor e de igual desgraça.
Não se ouve falar de comunidades científicas ou académicas africanas investigar as doenças e os males que assolam o Continente.
v  o Sistema Educativo é outra desgraça em termos de estruturação, a começar pela  alfabetização básica e universal.
v  a habitação, o meio envolvente de grandes zonas onde está sediada parte  significativa da população, de vários países africanos, ou continuaram guetos ou são casebres ou bairros de lata, formando grandes cinturas urbanas, onde a saúde e o conforto não entram. Não coexistem com os moradores. Apenas a miséria e a sub-nutrição aí campeiam.
- A maior parte dos líderes ou governos dos países de África só nos envergonham  pela forma como conduzem os destinos do Estado e da Nação para que foram eleitos.
Quando fazem da governação uma autêntica cleptocracia, e para a manterem, sustentam-na no autoritarismo, na repressão, na violência e na ausência de democracia real no  país.
- os conflitos armados são o pão-nosso de cada dia em vários países africanos. E note-se, os conflitos são na generalidade dos casos, do tipo guerra civil com base em questões mesquinhas de carácter étnico e de luta pelo poder.
E o que dizer desta continuada e vergonhosa fuga/emigração em condições infra-humanas  de transporte, de crianças, (estas por vezes não acompanhadas) e  de adultos oriundos de países africanos numa procura desesperada da Europa, se não por mor, de apenas e unicamente, da má governação dos respectivos países?
 - A arte é representativa, reveladora e expressiva de sofrimento do povo. Nisso os artistas africanos são mestres, pois que se inspiram e o reflectem com imenso vigor, a partir de uma realidade que lhes é quotidiana.
Reparem nas letras das composições hodiernas, da maior parte dos canções oriundas de certos países do Continente em que os seus cantores não param de chorar, lamentar o estado actual dos seus compatriotas e a  indignidade de vida dos habitantes, sofrida e longe de alcançar algum bem estar dado o perfil da governação.
 Ainda no campo da arte, observem com olhos de ver, a figuração pictórica, os quadros, a pintura africana. São normalmente gritos sufocados de dor, de espanto, sem vislumbre de alegria e muito menos de alguma felicidade tranquila...
Neste quadro que peca por ser redutor, isto é, muito longe da exaustão, que esperar no presente e num futuro próximo do “índice de felicidade” (que hoje constitui um parâmetro para a medição ou a para a percepção do grau de bem-estar de cada comunidade) dos povos de cada um dos países africanos?
A terminar, um pedido: por favor não se fixem nessa espécie de obsessão de ainda lançar todas as culpas para cima do colonialismo. Estabeleçam um paralelismo com certos países da Ásia também saídos, mais ou menos, na mesma altura do colonialismo antes de atribuir culpas.  Não se esqueçam que muitos países africanos, se não a maior parte, já são independentes há  mais de cinco décadas.  Tempo mais do que suficente de se terem desenvolvido e, sobretudo,  libertado de fantasmas do passado.
 Já é tempo de se assumirem e de se auto-culparem pelos erros e pelos males que os próprios provocam nos seus países.

1 comentários:

Anónimo disse...

Gostei do texto principalmente no pedido feito!
Chega! Basta de culpados que nunca são africanos, ora é o tráfico de escravos, ora é o colonialismo, ora é o neo-colonialismo. Enfim!
Para quando a responsabilização dos nossos dirigentes ? Que não respeitam os povos e reinam em cleptocracia! Uma Vergonha que faz com que as mentes pensantes, os opositores aos regimes, e os homens e as mulheres em sofrimento tenham que procurar outras paragens, perpetuando no tempo a desgraça de África!

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