Notas
de uma Afro-céptica
Tenho
vindo a assumir-me a cada dia que passa
como afro-céptica.
Mas
nem sempre foi assim. Nos gloriosos anos sessenta e meados dos anos setenta do
século XX tive muita esperança neste Continente, que hoje celebra o seu Dia - 25
de Maio, Dia de África.
Nessa
altura acreditava que os países que iniciavam os primeiros passos
pós-independência e que uma vez libertos do colonialismo europeu, se
desenvolvessem de facto e que os seus habitantes tivessem com isso algum
bem-estar económico, social e cultural.
Afinal
falávamos de países ricos em minérios, abundantes em recursos naturais e que
tudo isso haveria de ser posto ao serviço do progresso dos respectivos povos e
do desenvolvimento de cada um dos países agora soberanos.
Olhem
para o mapa e percorram os ditos grandes países africanos e digam-me
honestamente o que observam:
v Quase nenhum possui um Sistema Nacional de Saúde.
Não há qualquer investimento sério no combate às grandes endemias
como a malária, o ébola, a cólera e outras de semelhante teor e de igual
desgraça.
Não
se ouve falar de comunidades científicas ou académicas africanas investigar as
doenças e os males que assolam o Continente.
v o Sistema Educativo é outra desgraça em termos de
estruturação, a começar pela alfabetização básica e universal.
v a
habitação, o meio envolvente de grandes zonas onde está sediada parte significativa da população, de vários países
africanos, ou continuaram guetos ou são casebres ou bairros de lata, formando
grandes cinturas urbanas, onde a saúde e o conforto não entram. Não coexistem
com os moradores. Apenas a miséria e a sub-nutrição aí campeiam.
- A
maior parte dos líderes ou governos dos países de África só nos
envergonham pela forma como conduzem os
destinos do Estado e da Nação para que foram eleitos.
Quando
fazem da governação uma autêntica cleptocracia, e para a manterem, sustentam-na no autoritarismo, na repressão, na violência e na ausência de democracia real no
país.
- os
conflitos armados são o pão-nosso de cada dia em vários países africanos. E
note-se, os conflitos são na generalidade dos casos, do
tipo guerra civil com base em questões mesquinhas de carácter étnico e de luta
pelo poder.
E o que dizer desta continuada e vergonhosa fuga/emigração em condições infra-humanas de transporte, de crianças, (estas por vezes não acompanhadas) e de adultos oriundos de países africanos numa procura desesperada da Europa, se não por mor, de apenas e unicamente, da má governação dos respectivos países?
E o que dizer desta continuada e vergonhosa fuga/emigração em condições infra-humanas de transporte, de crianças, (estas por vezes não acompanhadas) e de adultos oriundos de países africanos numa procura desesperada da Europa, se não por mor, de apenas e unicamente, da má governação dos respectivos países?
- A arte é
representativa, reveladora e expressiva de sofrimento do povo. Nisso os artistas
africanos são mestres, pois que se inspiram e o reflectem com imenso vigor, a
partir de uma realidade que lhes é quotidiana.
Reparem
nas letras das composições hodiernas, da maior parte dos canções oriundas de
certos países do Continente em que os seus
cantores não param de chorar, lamentar o estado actual dos seus compatriotas e a
indignidade de vida dos habitantes,
sofrida e longe de alcançar algum bem estar dado o perfil da governação.
Ainda no campo da arte,
observem com olhos de ver, a figuração pictórica, os quadros, a pintura
africana. São normalmente gritos sufocados de dor, de espanto, sem vislumbre de
alegria e muito menos de alguma felicidade tranquila...
Neste quadro que peca por ser redutor, isto é, muito longe da
exaustão, que esperar no presente e num futuro próximo do “índice de
felicidade” (que hoje constitui um parâmetro para a medição ou a para a
percepção do grau de bem-estar de cada comunidade) dos povos de cada um dos
países africanos?
A terminar, um pedido: por favor não se fixem nessa espécie
de obsessão de ainda lançar todas as culpas para cima do colonialismo. Estabeleçam
um paralelismo com certos países da Ásia também saídos, mais ou menos, na mesma
altura do colonialismo antes de atribuir culpas. Não se esqueçam que muitos países africanos,
se não a maior parte, já são independentes há mais de cinco décadas. Tempo mais do que suficente de se terem
desenvolvido e, sobretudo, libertado de
fantasmas do passado.
Já é tempo de se
assumirem e de se auto-culparem pelos erros e pelos males que os próprios provocam
nos seus países.
1 comentários:
Gostei do texto principalmente no pedido feito!
Chega! Basta de culpados que nunca são africanos, ora é o tráfico de escravos, ora é o colonialismo, ora é o neo-colonialismo. Enfim!
Para quando a responsabilização dos nossos dirigentes ? Que não respeitam os povos e reinam em cleptocracia! Uma Vergonha que faz com que as mentes pensantes, os opositores aos regimes, e os homens e as mulheres em sofrimento tenham que procurar outras paragens, perpetuando no tempo a desgraça de África!
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