O próximo Ano-lectivo e os Alunos Sem Máscaras(?)...

quarta-feira, 29 de julho de 2020


Causa enorme preocupação a qualquer encarregado de Educação, a qualquer cidadão, minimamente consciente, o que se está a passar nas ilhas com a questão das máscaras e a sua não utilização generalizada entre jovens em idade escolar.
É vê-los em grupos, agora que estão de férias, nas ruas, muito próximos uns dos outros e sem máscaras ou outro meio de protecção.
Se perguntados, quase todos responderão desta forma, apenas com algumas variantes: “Sim, eu queria usar máscara...mas como obter uma, se são tão caras!?”
Já se parou um momento para se questionar sobre a exorbitância que passou a ser, em termos de preço, uma máscara descartável, dita cirúrgica comprada nas farmácias?
O que surpreende e não se compreende é que antes da pandemia, sem “doações”, sem subsidiação e sem grande procura de máscaras – economia de escala – o seu preço era em média 15$00 por unidade e actualmente, após o surto pandémico, em que a procura e a necessidade das máscaras terão, logicamente, aumentado exponencialmente, elas passaram a custar em média, mais de 100$00 por unidade, isto é, quase sete vezes mais. Atenção: 7 vezes mais!!!
Será que o Estado, através dos mecanismos adequados não poderá pôr cobro a esse “lucrativo” negócio de máscaras?
Não estará a haver uma especulação visível e consentida num momento tão frágil e tão delicado de Saúde Pública?  
Quem poderá ter a coragem de tirar escandalosa e oportunisticamente proveito da pandemia?
Quem estará a fazer negócio com a Saúde Pública tolhendo os jovens e as famílias de parcos recursos o acesso aos meios de protecção indo mesmo ao arrepio das grandes orientações das autoridades sanitárias sobre a matéria?
 Num país em que a média da população é pobre e proveniente de família numerosa e monoparental; em que o problema de habitação e alojamento – espaço de isolamento ou de coabitação – se põe com grande acuidade; em que o risco de contágio e de difusão do covid-19 é altíssimo; em que a faixa da população que não possui condições económicas para usar os tais recomendados equipamentos de protecção individual e social é muito significativa, não deveria o Governo, na sua política de prevenção, procurar em primeira instância, soluções que colmatassem essas situações? Que facilitasse a protecção e combatesse a disseminação?
E digam-me como exigir que os nossos estudantes usem máscaras se os preços delas são incomportáveis com o poder de compra da maior parte da população cabo-verdiana? O salário mínimo é de 13.000,00 CV, isto é, menos de 450,00 por dia! Acresce-se a isso o aumento do desemprego, devido ao Covid-19.
Convém ter presente que em breve iniciar-se-ão as insubstituíveis aulas presenciais.
Isto é, vamos ter Professores e alunos numa sala de aula – com os cuidados profilácticos necessários – pois só assim é que se realiza em plenitude, o acto didáctico/pedagógico a que damos o nome de aula.
Neste contexto, as aulas virtuais, a telescola, serão sempre complementos/suplementos e como tal, funcionarão subsidariamente.
Com efeito, nada substitui a aula presencial, reitero. As outras formas lectivas são último recurso, com imensas deficiências, entre as quais destacaria: as condições de residência do aluno, o número do agregado familiar, geralmente numeroso; o acesso aos aparelhos receptores das aulas tele-transmitidas; as condições de audição/recepção das aulas (meio envolvente); o manter despertos o interesse e a atenção do aluno num tipo de aula virtual e sem interacção professor/aluno; aluno/aluno; entre outros factores que marcam  enorme diferença entre a aprendizagem e o saber  do aluno, resultantes de uma aula presencial face aos constrangimentos da aula totalmente virtual.
Mas retomando a questão das máscaras, volto a questionar, o que terá acontecido para que houvesse, após o surto da covid-19, um disparar altíssimo no preço das máscaras? Logo agora que estão em maior quantidade no mercado e serem quase consideradas produtos de primeira necessidade?
Não quero com isso dizer, que as máscaras devam ser de graça, sem custo ou, simplesmente ofertadas. Não, nada disso.
Mas é minha firme convicção de que no caso de alunos e de crianças em idade escolar, a máscara devia ter um preço simbólico e, em certos casos e com alguma ponderação – para ser obrigatório o seu uso – gratuitas para famílias numerosas e que vivam no limiar da pobreza.
É que só assim poder-se-ia acreditar que estavam a ser feitos esforços reais para tentar debelar ou reduzir os efeitos perniciosos do tão maléfico vírus!
Não será a ausência de meios de protecção individual e social, uma das razões que explica que Cabo Verde tenha chegado a um dos mais altos rácios de contaminados – 78 por 100 mil habitantes?  Cerca de quatro vezes do permitido (20 por 100 mil) para se viajar para o espaço europeu...
Convenhamos que é um número que merece uma profunda reflexão e tomada de medidas consentâneas com a sua gravidade.
Não é por acaso que estamos a assistir e a sofrer as consequências nefastas, com o aumento de casos infectados que se vem verificando um pouco por cada ilha, com expressão maior na Cidade da Praia.
E se assim continuarmos, o atendimento sanitário será cada vez pior, mais complicado, dada a penúria existente de meios de atendimento hospitalar, das precárias condições dos albergues provisórios e improvisados – devidos à urgência dos casos – para o isolamento profiláctico dos contaminados.
Infelizmente, outras consequências nefastas, espelham-se igualmente nas actividades económicas, na educação, na vida cultural e social destas ilhas, com o aumento assustador da infecção viral.
Já se ponderou sobre a falta que faz uma política social da aquisição e disseminação do uso das máscaras de protecção em Cabo Verde?!
Minha gente, pensemos nos mais necessitados e nos mais vulneráveis. É obrigação de todos e, sobretudo, daqueles que nos governam.
Protejamos – tornando as máscaras acessíveis – os alunos que brevemente iniciarão as suas actividades lectivas.
O Covid-19 não escolhe idade!...

2 comentários:

Adriano Miranda Lima disse...

Oportuníssimo, Ondina, e de uma pertinência que espero faça estilhaçar o vidro da indiferença atrás do qual se posta muita gente na nossa terra. Oxalá que esta advertência tenha eco urgente em quem governa o país. É intolerável que uma dessas máscaras custe mais em Cabo Verde do que em Portugal. Sempre achei repugnante que haja quem em Cabo Verde explore nos seus negócios margens de lucro proibitivas para o nosso povo, mormente para aqueles que têm parcos rendimentos.
Actualmente, existe uma máscara (vendida em Portugal nas farmácias da cadeia Wells) que dizem ser muito eficaz a ponto de o próprio tecido da sua confecção destruir o vírus, e que tem a vantagem de ser lavável e com um prazo de utilização de um ano. Mas custa 10 euros em Portugal. Creio que se terá de pensar neste recurso para o povo, porque acabará por ser mais económico.
Este artigo devia ser publicado também num jornal.

Adriano Miranda Lima disse...

Afinal, este texto saiu no Expresso das Ilhas, tal como acabei de ver. Tinha de ser, dada a sua importância.

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