Tive a
grata satisfação de saber que o Parlamento cabo-verdiano classificou
recentemente, a Língua portuguesa como património cultural imaterial de Cabo
Verde.
E mais
contente ainda fiquei porque a Iniciativa legislativa, a proposta de Lei partiu
de uma jovem Deputada da Nação, Mircéa Delgado, o que significa que a causa da
Língua portuguesa nestas ilhas está bem entregue. Tem continuadores.
As
minhas calorosas felicitações à Dra. Mircéa Delgado! Estendo as mesmas felicitações a todos os
Deputados que abraçaram e aprovaram o projecto.
De facto, nunca é de mais enaltecer uma das
nossas Línguas, no caso a portuguesa, que é, sem dúvida um dos pilares do nosso
desenvolvimento cognitivo, académico, científico e tecnológico.
A Língua
portuguesa chegou a Cabo Verde, trazida na oralidade, na boca dos marinheiros,
dos missionários e na pena dos Cronistas portugueses, que pisaram o solo destas
ilhas nos idos anos de 1460 e aqui assentou raízes. Tomou os ares e os modos
das gentes das ilhas. Modificou-se, “caboverdianizou-se”, e acabou por dar
origem - em contacto com outras línguas, estas vindas apenas na oralidade de escravos
do Continente africano - ao Crioulo de Cabo Verde.
Mais tarde, na década de 90 do século XX, o crioulo
foi denominado constitucionalmente, Língua cabo-verdiana, a qual, na hora
actual se apresenta cada vez mais próxima do português, já não do seculo XVI,
mas sim, da norma da Língua matriz do século XXI.
Tudo
isso, faz da Língua portuguesa, um verdadeiro tesouro entre nós, pois que não só
nos escolarizou, enquanto língua veicular do Ensino nacional, mas também,
forneceu quase todo o corpus lexical, verbal e sintáctica do pujante e vivaz crioulo
das ilhas.
Se
mais não servisse este projecto de Lei ora aprovado no Parlamento nacional, ele
tem e terá o mérito de nos trazer à reflexão, a importância e o papel da Língua
portuguesa como um bem inalienável destas ilhas atlânticas da Macaronésia.
Para finalizar,
reitero as minhas calorosas felicitações aos Deputados da Nação por este acto
simbólico de múltiplos significados para os falantes cabo-verdianos.
4 comentários:
Trata-se de um marco histórico e a Dra. Mircéa Delgado fez história quase sozinha. Parabéns a todos os que a apoiaram nesta luta desigual.
Regozijo-me com esta decisão do Parlamento. Felicito efusivamente a deputada Mircéa Delgado, mas também a Drª Ondina Ferreira. Primeiro, porque deu todo o apoio à deputada, depois, por tudo o que tem feito pela causa da língua portuguesa em Cabo Verde, que é nossa tanto como é o crioulo. Penso que esta decisão não tem um valor simplesmente simbólico, pois talvez venha a suscitar um olhar e uma atitude diferentes para com a língua portuguesa.
Acabei de ler o editorial do Expresso das Ilhas, em que o seu autor, Humberto Cardoso, aborda bem o assunto desta aparente vitória do estatuto da língua portuguesa em Cabo Verde. Digo aparente porque me parece mais uma vitória de Pirro do que a consagração de uma vontade nacional, não só pela escassa maioria relativa que permitiu a aprovação, como por todas as dúvidas que o debate parlamentar permite alimentar quanto às suas reais consequências práticas.
Ora, quando deputados representantes da nação argumentam que se trata de "uma sobrevalorização do português face à língua crioula cabo-verdiana", está tudo dito sobre a irredutibilidade de mentalidades que olham para o problema linguístico com preconceitos ideológicos. Enquanto assim for, não sairemos desta situação que reputo pantanosa: nem se consegue promover uma melhoria decisiva no ensino do português, nem se vislumbra qualquer possibilidade de o crioulo alcançar um estatuto equivalente ao do português.
Considero pouco feliz a afirmação de que há "alguns sinais de fadiga com origem diversa, visíveis na utilização da
língua portuguesa no nosso país, em contramão com a com a tendência mundial da sua valorização como meio de comunicação..." Fadiga? A fadiga de um material ou do que quer que seja só resulta depois de um uso excessivo ou saturado. Como tal nunca até agora aconteceu, só
demonstra que há em Cabo Verde quem não quer encarar a
realidade com olhos de ver ou pretende tapar o sol com a peneira.
peneira.
Este nosso problema linguístico dá pano para muita manga.
Hoje (dia 24 de Abril) à tarde, a transmissão da cerimónia da atribuição do prémio Camões a Chico Buarque foi um momento muito alto em que a cultura, o afecto e a solidariedade humana se deram as mãos sob a égide da nossa língua comum que é o português. Foi mesmo emocionante.
Pena é que alguns nossos conterrâneos possam destoar das ilações que o momento propiciou.
No blogue Praia de Bote, a um comentário meu sobre a classificação de património que foi dada à língua portuguesa, um conhecido poeta cabo-verdiano que escreve e publica a sua produção literária em português, por sinal muito bem, e que faz a sua vida em Portugal, reagiu em crioulo e com argumentos que considero estapafúrdios e cretinos. Entendi que seria perder tempo e não respondi. Cada um que guarde as suas convicções e que delas tire o proveito que entenda.
Achei absurdo que esse conterrâneo tenha extraído das minhas palavras a conclusão de que o português é língua de branco e o crioulo língua de preto: “Sin, Nho, nhu ten tudu razon des mundu, língua di pretu é na funku, i língua di branku é na sobradu. Sin, kenha ki manda es pretinhus (inda pursima armadu en branku) kre ser indipendenti i, indumás, ku otrivimentu di kre manda na ses propi téra!!?”
Fiquei boquiaberto porque em Cabo Verde sempre vi brancos e mestiços a falar o crioulo com a mesma desenvoltura dos "pretos", assim como "pretos" a usar o português com a mesma proficiência dos brancos mais instruídos da metrópole. Percorri Angola e Moçambique e a maior parte dos nativos, mesmo em regiões ignotas, comunicava oralmente em português com toda a naturalidade. Sem complexos de estarem a usar a língua do “colono”, eles que efectivamente tinham razões históricas para se queixarem de colonização. Diferente de nós que somos filhos de ilhas desabitadas e que foram povoadas por portugueses e escravos africanos.
As minhas bases da língua portuguesa foram adquiridas com pessoas cuja cor de pele estava longe de ser branca. Aliás, não creio que antigamente se poluísse a questão da língua em Cabo Verde com argumentos marcadamente racistas.
É pena que alguns nossos conterrâneos insistam
Enviar um comentário