Claro que não! A sua rudeza ou não, aplicar-se-ia aos seus falantes e nunca à língua!
Peço que me seja relevada este entrada meio abrupta sobre uma matéria que requer, geralmente, imensa cautela porque complexa e delicada. Mas a justificação será dada.
Ora bem, a interrogação do título deste escrito vem a propósito de algo que passo a explicar:
Fui “acordada” numa destas manhãs, (e não era a primeira vez) ainda no seu começo, pelo toque do meu telemóvel que me pareceu particularmente estridente, pois que funcionou como autêntico despertador. Apanho-o para atender. Coloquei o melhor que pude a voz, pois seria também o despertar da minha fala e…atendi. Eis que ouço do outro lado da linha: «A bó é quenha?» (quem és tu?) Assim! Sic! E seco! E eu, estupefacta com esta introdução elocutória, respondi: «faz favor! Bom dia, também se diz; e por outro lado, foi a senhora quem ligou; logo, caberá a si apresentar-se…» Claro que do outro lado, o que ouvi foi o “clique” do desligar do telefone.
Já nem sei o que pensar disto tudo. Fiquei a imaginar que seria bem possível que do outro lado da linha estivesse uma jovem ou não – a voz era feminina – escolarizada até, quem sabe!? Portadora de algum diploma superior…mas que ao mesmo tempo, ignora as mais elementares regras do viver em sociedade. Cometeu logo de entrada algumas «gaffes» quase imperdoáveis a saber: o ter tratado por «bó» ( «tu» em português) alguém que não conhece e nem sabe se mais velha, ou não. Depois a forma de enunciação telefónica só é equiparada em indelicadeza ao igualmente rude (na forma escrita): «Tchumam» (chama-me) indicativo de que alguém nos pede para o chamar – “cortesia” com que uma das operadoras nacionais dos telemóveis nos “brindou” – creio eu que numa imitação à forma inglesa: «call me» esquecendo-se do «please» que também integra o apelativo em inglês: «please call me» e que faz toda a diferença! Costuma-se dizer e isto já é bem antigo, de que os bons exemplos devem vir de cima. Para bom entendedor…
Enfim, imagine-se o «bem-disposta» que fiquei com um despertar deste!
Posto isto em jeito de introdução, retomo a ideia inicial, interrogada no meu título, numa espécie de hipaláge, figura de estilo, em que se verifica um “desajustamento entre a função gramatical e a função lógica das palavras», transferindo os atributos e as características de um semantema para outro semantema que de alguma forma lhe está próximo ou interligado. No caso vertente: a língua e o falante ou vice-versa.
No caso, volto a repetir, o adjectivo: “rude” é atributo do falante e não do veículo de comunicação que utilizou: o crioulo.
De qualquer forma, existem situações entre nós, em que me não é fácil fazer de modo completo e inequívoco, a dissociação entre o falante e a variante que utiliza pois que noto uma certa falta de boas maneiras ou de regras, ou ainda de expressões polidas, nas variantes do crioulo das ilhas do Fogo e de Santiago. Regra geral ignoram normas polidas e mais educadas de introduzir uma questão, de fazer um pedido, enfim, de interpelar. Apenas alguns exemplos.
Vou eu na via pública e ouço: «cantu hora sta?» (que horas são?) ou «fran hora!» Diz-me as horas). “Tout court!” como diz o francês. Isto é, não vem acoplado qualquer coisa como «se faz favor» ou então no final, um: «obrigado».
Outra “prenda linguística” e esta é particularmente audível na minha ilha (Fogo) é aquele comunizante e já irritante «bó» (tu) a torto e a direito, sem olhar a quem, se colega, se mais velho. Convenhamos que é demais! Já não há boas maneiras nestas ilhas? Até crianças quando nos pedem qualquer coisa iniciam o pedido com: «dam...) o que subentende o tratamento por «bó». E podem crer que quando menciono estes parcos exemplos estou a deixar de fora um sem número deles os quais, de tanto, que aqui nem caberiam.
Bem…desabafando é que a gente se entende também. Por hoje fica registado este desabafo.
Peço que me seja relevada este entrada meio abrupta sobre uma matéria que requer, geralmente, imensa cautela porque complexa e delicada. Mas a justificação será dada.
Ora bem, a interrogação do título deste escrito vem a propósito de algo que passo a explicar:
Fui “acordada” numa destas manhãs, (e não era a primeira vez) ainda no seu começo, pelo toque do meu telemóvel que me pareceu particularmente estridente, pois que funcionou como autêntico despertador. Apanho-o para atender. Coloquei o melhor que pude a voz, pois seria também o despertar da minha fala e…atendi. Eis que ouço do outro lado da linha: «A bó é quenha?» (quem és tu?) Assim! Sic! E seco! E eu, estupefacta com esta introdução elocutória, respondi: «faz favor! Bom dia, também se diz; e por outro lado, foi a senhora quem ligou; logo, caberá a si apresentar-se…» Claro que do outro lado, o que ouvi foi o “clique” do desligar do telefone.
Já nem sei o que pensar disto tudo. Fiquei a imaginar que seria bem possível que do outro lado da linha estivesse uma jovem ou não – a voz era feminina – escolarizada até, quem sabe!? Portadora de algum diploma superior…mas que ao mesmo tempo, ignora as mais elementares regras do viver em sociedade. Cometeu logo de entrada algumas «gaffes» quase imperdoáveis a saber: o ter tratado por «bó» ( «tu» em português) alguém que não conhece e nem sabe se mais velha, ou não. Depois a forma de enunciação telefónica só é equiparada em indelicadeza ao igualmente rude (na forma escrita): «Tchumam» (chama-me) indicativo de que alguém nos pede para o chamar – “cortesia” com que uma das operadoras nacionais dos telemóveis nos “brindou” – creio eu que numa imitação à forma inglesa: «call me» esquecendo-se do «please» que também integra o apelativo em inglês: «please call me» e que faz toda a diferença! Costuma-se dizer e isto já é bem antigo, de que os bons exemplos devem vir de cima. Para bom entendedor…
Enfim, imagine-se o «bem-disposta» que fiquei com um despertar deste!
Posto isto em jeito de introdução, retomo a ideia inicial, interrogada no meu título, numa espécie de hipaláge, figura de estilo, em que se verifica um “desajustamento entre a função gramatical e a função lógica das palavras», transferindo os atributos e as características de um semantema para outro semantema que de alguma forma lhe está próximo ou interligado. No caso vertente: a língua e o falante ou vice-versa.
No caso, volto a repetir, o adjectivo: “rude” é atributo do falante e não do veículo de comunicação que utilizou: o crioulo.
De qualquer forma, existem situações entre nós, em que me não é fácil fazer de modo completo e inequívoco, a dissociação entre o falante e a variante que utiliza pois que noto uma certa falta de boas maneiras ou de regras, ou ainda de expressões polidas, nas variantes do crioulo das ilhas do Fogo e de Santiago. Regra geral ignoram normas polidas e mais educadas de introduzir uma questão, de fazer um pedido, enfim, de interpelar. Apenas alguns exemplos.
Vou eu na via pública e ouço: «cantu hora sta?» (que horas são?) ou «fran hora!» Diz-me as horas). “Tout court!” como diz o francês. Isto é, não vem acoplado qualquer coisa como «se faz favor» ou então no final, um: «obrigado».
Outra “prenda linguística” e esta é particularmente audível na minha ilha (Fogo) é aquele comunizante e já irritante «bó» (tu) a torto e a direito, sem olhar a quem, se colega, se mais velho. Convenhamos que é demais! Já não há boas maneiras nestas ilhas? Até crianças quando nos pedem qualquer coisa iniciam o pedido com: «dam...) o que subentende o tratamento por «bó». E podem crer que quando menciono estes parcos exemplos estou a deixar de fora um sem número deles os quais, de tanto, que aqui nem caberiam.
Bem…desabafando é que a gente se entende também. Por hoje fica registado este desabafo.
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