Decorreu recentemente, a
apresentação da obra acima referida, numa das salas da Biblioteca Nacional, na
cidade da Praia e posteriormente no Pátio da Casa da Memória em S. Filipe, no
Fogo. Mindelo, será o terceiro palco dessa apresentação.
O livro é a um tempo a ilustração
- via imagens e textos - do espólio da Casa da Memória e na
decorrência, insere e descreve a história da ilha do Fogo ao longo dos séculos.
A Casa da Memória (epónimo significativo
de memória permanecida nos objectos) tem vindo de há duas décadas da sua
existência, a ganhar espaço e prestígio enquanto projecto cultural.
Primeiro, na cidade de São
Filipe, na ilha do Fogo e depois, um pouco por todas as ilhas de Cabo Verde. É
também já reconhecida internacionalmente pelos seus muitos visitantes, turistas
estrangeiros que demandam a ilha do vulcão.
Por estas razões, tornou-se numa
visita incontornável e obrigatória para quem pise o solo foguense.
Mas falar da Casa da Memória é falar também de uma
instituição de natureza cultural, etnográfica, pioneira na preservação –
através de objectos – da memória histórica e social do modo de vida dos antigos
moradores dos sobrados, casario, cuja traça arquitectónica belíssima, distingue
e particulariza a cidade de São Filipe.
O seu núcleo museológico é
composto por um recheio de casas de outrora da cidade de S. Filipe. Casas
assobradadas, residências da classe social mais abastada da ilha. Desde a
casa-de-jantar, passando ao quarto de dormir, ao qual não falta o Oratório, e
indo até à cozinha com o seu trem de antanho, e ao quintal com o pilão, o
balaio, e o grande moinho de pedra, estes últimos utensílios domésticos, comuns
às casas de todas as classes sociais (do sobrado ao funco); o visitante
percorre o interior de várias casas da época antiga da cidade, através do
modelo visitado.
Interessante também é visitar os
livros, a biblioteca antiga como parte do espólio caseiro de algumas famílias
antigas e gradas da ilha do vulcão.
Seria bom não esquecer, que a
cidade de São Filipe foi habitada (os seus sobrados) desde os primórdios do seu
povoamento, por uma espécie de classe social alta, composta por homens e por
mulheres, donos de terras de café e de sequeiro e que muitos deles eram ao
mesmo tempo, comerciantes e armadores de barcos. Com efeito, tinham a postura
de verdadeiros senhores e terra-tenentes da época. Eles dominavam o
funcionalismo e as chefias da administração local, porque também portadores de
maior literacia.
O seu largo pátio, é um espaço
que acolhe também conferências, palestras, oficinas de trabalho, visitas de
estudantes e projecta filmes ditos de “qualidade,” entre outras actividades que
promove, tendo como denominador comum, pensar o enriquecimento cultural dos
cidadãos de uma ilha que hodiernamente anda bem necessitada disso.
Quando se visita a casa
museológica que é a Casa da Memória, faz-se como que uma retrospectiva no tempo
e no espaço, pois que somos transportados para épocas remotas e para, diria,
uma quase intimidade das famílias gradas da ilha.
Chegou o momento de falar da
mentora e autora deste arrojado projecto e a principal responsável pelo
aparecimento da oportuna e necessária obra: Monique Widmer, uma cidadã suiça e
cabo-verdiana de afectos e de sentimentos que escolheu a ilha do Fogo para dela
fazer também sua terra estimada. Disponibilizou parte das suas poupanças
pessoais e tem-se dedicado ao serviço desta nobre causa.
Manda a verdade e é de inteira
justiça realçar o papel de coadjuvante notável de Gilda Marta Vasconcelos
Barbosa, foguense de gema , cuja família e familiares dispensaram para a Casa
da Memória, parte significativa do recheio de casa nela exposta.
As duas, conjuntamente, têm vindo
a trabalhar para que o rico espólio – ilustrativo do interior de um sobrado –
que hoje o visitante desfruta e reconhece quando entra na Casa da Memória, seja
uma realidade visível e que perdure a bem da memória histórica e social da ilha
do Fogo.
Afinal, a Casa da Memória pelo
simbolismo histórico que encerra, pela memória que guarda de séculos da vivência
social, doméstica, reflectida nos objectos que expõe, constitui na actualidade,
um ponto deveras interessante e a não perder, no roteiro de quem visite a
cidade de São Filipe.
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