O novo-riquismo dos títulos académicos?

sábado, 15 de maio de 2010
Continuo a observar que mesmo com o passar dos anos, com o aumento do números dos jovens formados em universidades e em outras instituições de ensino superior, muitos dos nossos quadros técnicos superiores, usam e abusam do título académico com que se graduaram, como se de nome próprio se tratasse e num certo exibicionismo e ostentação, diga-se, em abono da verdade, quase sempre um pouco grotesco.
E vamos ao que me traz aqui. Faz parte dos manuais básicos do saber estar, entre nós de influência cultural lusa, o entendimento de que o título académico é para ser usado pelo interlocutor do médico, do engenheiro, do farmacêutico, do economista, etc., etc., entre outros e numerosos graus e formações académicas superiores, quando se lhe dirige, particularmente e sobretudo, em local de trabalho. Mas nunca pelo próprio quando se apresenta ou se auto-nomeia. Isto é regra social e geral. Claro que haverá situações de excepção em que o próprio o terá de fazer num quadro específico e estrito para melhor se identificar. Mas trata-se de excepcionalidade.
Vem isto a propósito de ouvir e assistir a situações (com alguma frequência incomodativa) em que o próprio se anuncia privadamente ao telefone, ou em pessoa, antepondo ao seu nome o título de “doutor, doutora” como se de registo se tratasse! Ele ou ela, que assim procede, não lhe foi ensinado ou não aprendeu ainda, de que se trata de uma postura incorrecta e que entre outras coisas que sugere a quem os ouve é de que os sujeitos falantes estão “deslumbrados” com o diploma, a ele não se habituaram ainda ou então, não “ligaram o seu desconfiómetro” social e regulador que os ajudariam a evitar essa situação ridícula!
Mas mais, recebo cartas de organismos públicos e/ou de empresas privadas em que o director, o presidente, o responsável máximo assina o documento que o já referenciou pelo cargo que desempenha na dita instituição, mas mesmo assim, antepõe ao seu nome o “Dr.” ou o “Eng.” e, por vezes, achando tudo isso pouco (vi isso em documentos assinados por Presidente de Câmara) ainda colocam em baixo desse nome: “Licenciado em…”como se estivesse desconfiado de não se lhe reconhecer habilitações para o exercício das funções.
Complexos!... costuma resumir-me alguém que me é muito caro.
Pois bem, vamos erradicar esta espécie de “novo-riquismo” de auto enunciação do título académico feito pelo próprio, em recinto de trabalho, ao telefone, ou em círculo privado, inter-pares ou não.
Deixe-se isso a cargo do interlocutor, ou de quem se lhe dirige. Este sim, este deve ter o cuidado e a cortesia de antepor ao nome por que é tratado o título académico a que tem “direito”. Neste caso, é normal e correcto. Mas nunca, o próprio, o portador do título.
Na verdade torna-se por vezes, caricato e confrangedor escutar e presenciar esse tipo de situações. Confesso que em muitas ocasiões, como mais velha e mais experiente, e, se calhar, ainda com tiques de professora, apeteceu-me corrigir o falante que assim procedeu. Mas também confesso que recuei e tenho recuado no último instante, com receio de ser mal entendida nesta pedagogia, quiçá, um pouco tardia. Valeria a pena?! Diz o povo que mais vale tarde do que nunca!

1 comentários:

Anónimo disse...

Ondina
Partilho da sua opiniao quanto ao uso e abuso de titulos. Infelizmente acho ser um dos ressagos da sociedade portuguesa pois assim tambem o é o portugues, agravado pela mente pequenina do crioulo

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