Na manhã do dia 20 de Abril, ia eu para os escritórios, como habitualmente com o rádio do carro ligado, quando fui surpreendido com o noticiário das oito de uma das estações com uma notícia sobre Boa Vista: Anunciava-se uma manifestação porque a população havia dois meses (!!!) que não tinha água na rede de distribuição doméstica. De permeio a situação de subida da tarifa de 300$00 (trezentos escudos) para 1.000$00 (mil escudos) o metro cúbico – correspondente a um aumento de cerca de 233% – e um conflito entre empresas (de Produção e de Distribuição), que o Governo não consegue dirimir não obstante ser parte - uma delas é pública (Electra) – e constituir seu dever resolvê-lo ainda que não fosse parte por se tratar de um bem essencial cuja exploração deve ser feita por concessão e regulação.
Mas verifico com alguma estranheza, e sente-se, um certo ambiente de mal-estar social o que é aparentemente absurdo porque as eleições tiveram lugar há menos de dois meses e o povo havia decidido expressivamente pelo “mesti manti” (continuidade). Acresce-se que há dias eram os rabidantes a manifestarem-se contra a subida do preço do pão. Imagine-se, os vendedores a manifestarem-se enquanto os consumidores (compradores) mantinham-se abúlicos e resignados. Sim, o preço do pão aumentou 50% (cinquenta porcento) de uma assentada e nem uma agulha buliria na inquieta melancolia da nossa sociedade, parafraseando Augusto Gil, não fossem esses revendedores informais. Justificou-se o facto com o aumento dos preços dos cereais, dos combustíveis, etc. etc. assumindo-se deste modo a espiral de subida de preços generalizada que se tem verificado.
Terminadas as campanhas legislativas e com a tomada de posse do novo Governo, a energia eléctrica, cuja frequência de cortes, ou melhor, “sabotagens” na terminologia do Governo (PAICV), na Praia, cresceu exponencialmente, aumentou de preço 20% (vinte porcento) e a água 5% (cinco porcento). Na base deste aumento estaria, oficialmente, a retirada do subsídio à Empresa produtora e distribuidora. Uma empresa do Estado que presta mau serviço, cujos custos elevados de produção e de eventual ou consequente má gestão são sempre totalmente suportados pelos contribuintes quer haja ou não subsídio, quando é sabido que uma larga franja na Praia continua a ser “subsidiada” a 100% porque não paga energia por incompetência, incúria e negligência do Governo, último responsável pela empresa, sem contar com as enormes perdas na rede de distribuição verificadas, também pelas mesmas razões.
Toda a Europa está numa crise profunda e Portugal, nosso maior parceiro, encontra-se financeiramente à beira do abismo do qual desejamos muito ardentemente se afaste o mais rapidamente possível. O seu contributo em 2010 para o nosso desenvolvimento num montante de 102 milhões de euros representou 42% da ajuda recebida terá baralhado os nossos governantes e mascarado a nossa real capacidade de desenvolvimento e de crescimento ao mesmo tempo que dava uma “ajudinha” ao PAICV nas legislativas.
Os tempos vindouros não auguram boas perspectivas. Mas o nosso PM continua com toda a verborreia triunfalista que se lhe conhece a garantir “Mais Cabo Verde” com a insensatez que vem manifestando ao manter as demagógicas promessas de campanha – 13º mês e mais regalias sociais – em vez de pôr os pés no chão e apelar à produção e à contenção ao consumo, uma vez que o que na verdade produzimos é muito pouco e ele absolutamente nada fez para alterar esta situação.
Tudo o que estamos a assistir, enquadrado no panorama económico-financeiro internacional que não se alterou depois de 6 de Fevereiro (data das eleições legislativas) ao contrário do que sugere o PM, indica que a procissão ainda vai no adro e constitui a ponta de iceberg daquilo que nos está reservado. Oxalá me engane. Mas se isto é o “Mais Cabo Verde” que nos prometeram e que o PM apregoa à boca cheia, seria bom que todos estivéssemos preparados para o seu indesejado esplendor que se avizinha.
A.Ferreira
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