Políticos ou Mercenários?

terça-feira, 19 de abril de 2011

Há dias, em conversa com um colega de trabalho e falando sobre a nossa Assembleia Nacional e o contributo dos deputados, questionou-me: Os nossos deputados?! Contributos?! Eles estão mais preocupados é com as mordomias… Veja o que aconteceu na posse (investidura) há dias. E eu, o que aconteceu? Não sabe da história do deputado que pediu a chave do carro? Eu: a chave do carro? Sim, a chave do carro… e acrescentou: Não leu no jornal? Ah, já me esquecia, o senhor não lê certos jornais… deu uma gargalhada e sem esperar qualquer comentário meu à sua observação continuou:
A quando da posse (investidura) dos novos deputados, logo que a sessão terminou, um membro recém-eleito da Mesa vira-se para o seu homólogo de saída e diz: "Dê-me a chave do carro!" Apanhado de surpresa, pois ignorava a ocorrência, perguntei, como? E ele repetiu a frase:”Dê-me a chave do carro”. Pediu-lhe a chave do carro, ajuntou. Não me contive, exclamei: Que indelicadeza, que deselegância!... Que grosseria! É esta a estirpe dos nossos deputados? E acrescentei: E o outro deu-lha? Claro, respondeu-me ele. Pois não devia porque o carro não é de nenhum deles… Ele devia era dizer-lhe: Vá buscá-la na Secretaria ou nos Serviços da Gestão de Equipamentos ou do Património ou o que quer que seja. As coisas do Estado não se passam assim de mão para mão. Há uma tramitação que deve ser respeitada, a menos que sejam pessoas decentes e amigas que queiram encurtar a burocracia (no sentido positivo do termo – tramitações administrativas – embora haja sempre um mínimo).
Mas o que me desconcertou e me deixou perplexo é, na verdade, a preocupação primeira do nosso deputado – chaves do carro. Começar logo a tirar proveito das mordomias que o cargo lhe oferece em vez de saber dos caminhos para um bom desempenho. É esta a fixação dos nossos políticos. Servirem-se à saciedade das suas funções. Tirar o máximo proveito pessoal da política sem se preocupar em dar… Não é isto que se pede ou se espera dos nossos representantes. Sobretudo nos do Parlamento que devem ser o espelho da Nação. Às responsabilidades inerentes às funções que exercem e ao seu simbolismo intrínseco em democracia deve-se acrescer o esforço que representa dos contribuintes. Não é despiciendo. Cada deputado custa, em média, aos contribuintes mais de 750 contos por mês. E se a eficiência do País se medisse pela do nosso parlamento éramos seguramente um país falhado. Os nossos deputados trabalham muito pouco. Preocupam-se muito mais com questiúnculas mesquinhas e partidárias do que com os assuntos reais que dizem respeito à vida dos cabo-verdianos.
Por vezes apanho-me a interrogar se o entendimento dos nossos políticos da coisa política é de missionário ou de mercenário?

A.Ferreira

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