Vidas com histórias ou histórias de vidas?
Entrei aqui há dias num táxi na grande Lisboa, cumprimentei o condutor e pedi-lhe para me levar ao aeroporto. Embarcava nessa noite com destino à Praia.
O taxista pergunta-me de seguida: «…a senhora é da Madeira?» respondi-lhe a sorrir: «Não, por acaso sou também de ilhas, mas não da Madeira…» Ele tornou-me: «Olhe, pela pronúncia, fi-la da Madeira» Eu já toda interessada neste teor da conversa – sempre vou acrescentando que de pronúncias já me atribuíram tantas em termos de regiões e de variantes da Língua portuguesa que a isso já me vou habituando. Achei interessante mais esta origem atribuída pelo modo de falar, quis pormenores, “atiçando” a conversa com o taxista.
Mas antes de continuar a história indiscreta (?) que me proponho recontar e que o título aponta, abro aqui um parêntesis para pormenorizar um pouco as pronúncias, o sotaque que alguns dos meus interlocutores na primeira conversa fazem confluir na minha expressão oral da nossa língua. Para não ir mais longe, começo da vez em que um Deputado em plena sessão da Assembleia Nacional, muito exaltado, se me dirigiu nestes termos: «…A senhora Ministra com a sua pronúncia alfacinha…» Aí, saiu-me uma gargalhada incontrolada, agradeci-lhe, pois considerei isso um cumprimento, uma vez que acho o sotaque lisboeta lindíssimo!
Uma outra vez e desta feita numa apresentação de um livro na Biblioteca Nacional, no final do evento – tinha sido eu a apresentadora – veio ter comigo uma amiga e, sem introdução e nem transição, atira-me: «…pois bem Ondina, tu tens esta pronúncia que afinal é mesmo tua!...» despediu-se e deu por terminada a conversa. Achei o máximo! Pensei com os meus botões: «Que quereria ela dizer? Que afinal descobriu que o meu sotaque não é” afectado.” Terá sido!?».Pois bem, continuando, numa das minhas idas a Lisboa, entro num táxi na Portela, dou o endereço ao taxista e este inquiriu-me: «…a senhora é de Coimbra?». Adorei!
Aconteceu isto que passo a contar, quando fui pela primeira vez a São Paulo, Brasil participar num Encontro da AULP, (Associação das Universidades de Língua Portuguesa). Antes da partida, ainda na Praia, um colega muito conhecedor do país, avisou-me: «Atenção Ondina que em São Paulo vão gozar com o teu português, pois gozam com a nossa pronúncia!» Confesso que fiquei curiosa. Qual não foi o meu espanto, durante a estada nessa grande metrópole brasileira, só ter ouvido elogios do género: «...Mas você fala um português bonito!» e outros do género que deitaram por terra as apreensões do meu conterrâneo.
Uma outra vez, sentada num café, também em Lisboa, entabulo conversa com dois jovens angolanos e a determinada altura um deles questiona-me: «… a senhora é angolana ou portuguesa?...» e eu: «Por acaso, nem uma coisa, nem outra, sou cabo-verdiana…» e o outro, mostrando algum espanto: «…cabo-verdiana?...pois…mas é que os cabo-verdianos, normalmente não falam bem o português…» Tive que lhes explicar: «Pois eu sou de uma geração de cabo-verdianos que fala com a mesma naturalidade e segurança, tanto o português como o crioulo…» Acredite-se que dessa vez não gostei mesmo nada da observação…
Afinal, estas minhas memórias linguísticas e em termos de «passadas» saíram-me mais longas do que imaginei no início deste escrito, como intróito à história que propus contar e que sugere o título que encima este texto. De forma que me quedo por aqui prometendo retomá-la da próxima vez.
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