Segui com algum interesse o último Encontro de Quadros de origem cabo-verdiana na Diáspora, que se realizou em Mindelo (S. Vicente) em Abril do ano em curso.
Digo com algum interesse, pois que havia sido convidada pela minha amiga de infância, Celeste Correia para ser moderadora de um dos painéis integrados no Congresso ou Encontro. Daí ter ficado desperta e atenta para o evento. Infelizmente razões que se prenderam com compromissos anteriormente assumidos não me permitiram estar presente, no que teria muito prazer. De qualquer forma, mesmo de longe não deixei de o seguir de perto.
Ora bem, indo ao assunto que aqui me traz: uma das recomendações saídas no final do Encontro foi a de se cuidar mais e melhor do Crioulo. Até aqui tudo bem. Nada contra. Apenas estranhei, e muito, o facto de nessa mesma recomendação para servir aos falantes das ilhas, não se ter acrescentado igualmente a de Cabo Verde cuidar bem e melhor da Língua portuguesa que é também a nossa língua. Que é Língua veicular do sistema de ensino; que é língua de suporte de quase toda a documentação científica, literária, histórica, administrativa, entre outras; e que é língua que vem servindo, de forma excelente, o cabo-verdiano e Cabo Verde no seu percurso formativo, profissional e de entendimento do seu estar no mundo e com os outros.
Ter-se-ão “esquecido” os nossos caros patrícios deste pormenor que afinal não é tão negligenciável como poderá parecer? Ou aqui pesou mais, ou apenas, o facto deles e dos seus descendentes terem como língua de escolaridade, de formação e de profissão, a língua do país de acolhimento?
Terá sido uma destas razões que os fizeram esquecer de algo tão importante no percurso de desenvolvimento aberto ao mundo de que Cabo Verde almeja? Sim, porquê “fecharmo-nos” na língua materna e não nos prolongarmos em desenvolvimento na nossa língua segunda e oficial que é o português?
Prefiro pensar que terá sido antes alguma espécie de “saudade” ou de “nostalgia” muito comum e natural a quem viva fora das ilhas que os fez “recomendar” apenas uma das nossas línguas e esquecer a outra igualmente importante!
Olhemos para nós e à nossa volta e façamos honestamente o balanço que é inquestionavelmente positivo do que tem sido a co-existência nas ilhas da língua portuguesa e do crioulo. Ambas definem a nossa identidade cultural mestiça. Ambas são nossas com toda a legitimidade e legalidade.
Outrossim, para os nossos formandos que saem da terra em demanda de estudos superiores e pós-secundários, maioritariamente em Portugal e no Brasil, o domínio da língua portuguesa tem representado uma mais-valia preciosa e indispensável na prossecução dos objectivos
A Língua portuguesa tão nossa como o Crioulo que nela tem origem, tem a idade da nação cabo-verdiana. Prefiro assim do que denominá-la mais velha em Cabo Verde, do que a própria nação cabo-verdiana.
Por tudo isto, fica aqui o registo desse “lapso” que espero não ter sido deliberado. Acredito que o não foi. Faço votos que os Quadros da Diáspora se mantenham ligados fortemente à terra de origem e que recomendem no próximo Encontro, o estudo e a prática da Língua portuguesa com afecto e plena assumpção nestas ilhas.
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