Carácter e Coerência precisam-se!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

"Para conhecermos os amigos
é necessário passar pelo sucesso e pela desgraça.
No sucesso, verificamos a quantidade e,
na desgraça, a qualidade."

Confúcio



Com a mini, mas importante, revisão Constitucional verificada em Setembro de 1990 visando não a democracia propriamente dita – esta foi construída de facto pelo MpD e Mascarenhas Monteiro – mas a queda do artigo 4º para “abolir” o primado do Partido sobre o Estado mas mantendo substantivamente toda a ideologia e estruturas de poder autoritário, na plena convicção de que a “abertura” não passaria de formalidade para legitimar o poder instituído – tal a presunção – arrastou consigo a imprescindibilidade das eleições presidenciais serem um acto de cidadania, ao consagrar que a apresentação da candidatura presidencial seria da responsabilidade de um número de subscritores/cidadãos-eleitores e não de grupos políticos organizados quer sob a forma de partidos políticos quer sob a forma de outros grupos formalmente organizados ou associações.

Vou ser conciso e breve.

Em 1991, quando se candidataram à presidência da república, Aristides Pereira e Mascarenhas Monteiro, pessoas muito próximas deste último escusaram-se a apoiá-lo sustentando-se não nos perfis dos candidatos para o desempenho do cargo nem no interesse nacional mas na disciplina, lealdade e militância partidárias.

Com alguma dificuldade, mas talvez por pensar que não adiro a partidos políticos por disciplina, coerência e liberdade de consciência, acabei por compreender e aceitar, confesso, com muita relutância, a posição dessas pessoas. O que nunca consegui justificar é a agressividade, a ostentação do apoio ao outro candidato, e a ostensiva e desnecessária animosidade que algumas dessas pessoas então manifestaram. Registei tudo com muito desagrado e, em alguns casos, com grande estupefacção. O tempo passou e tudo acabou… A magnanimidade e a nobreza de carácter de Mascarenhas Monteiro vieram ao de cima e fizeram-no “passar uma esponja” sobre tudo, não obstante a força advinda da expressiva votação – mais de 70% dos votos.

Vinte anos volvidos, olho para a candidatura de Aristides Lima e vejo perfilados a seu lado, muitos, se não a maior parte, desses “amigos” de Mascarenhas Monteiro que na altura alegaram a disciplina, a lealdade e a solidariedade partidárias para o não apoiarem.

Mais tarde, em 1996, quando Mascarenhas Monteiro se submeteu sozinho ao veredicto popular, não porque assim o quisesse mas por cobardia do PAICV sob a liderança de Aristides Lima, este e o seu partido não só não deram qualquer orientação ou mesmo indicação de liberdade de voto – tenho autoridade para o afirmar uma vez que era o mandatário nacional de Mascarenhas Monteiro – como “declararam guerra” ao candidato único, tentando “boicotar” as eleições com a promoção de abstenção, fazendo “boca de urna” nesse sentido, organizando almoços gratuitos e outras actividades no dia da votação com o fito de diminuir a participação e a expressão dos votos assente na filosofia de que era “preciso fidelizar” os militantes. A questão presidencial era para o PAICV um assunto essencialmente partidário.

O que é muito estranho é que esses mesmos “amigos” de Mascarenhas Monteiro, hoje, continuando militantes do mesmo partido e até dirigentes, já não respeitam as orientações desse seu partido, nem se submetem às decisões do seu órgão máximo e, pior, até já dizem que as presidenciais nada têm a ver com os partidos. Eram homens maduros e responsáveis quando utilizaram os argumentos partidários para ostracizar politicamente Mascarenhas Monteiro e até, alguns deles ou quase todos, já tinham sido governantes, dirigentes e responsáveis políticos.

Onde estará a causa de uma rotação de 180 graus na argumentação justificativa? Onde estará a honestidade e a seriedade dos verdadeiros propósitos? Com toda a sinceridade não me atrevo a dizer que é oportunismo e falta de carácter. Ou que seja o cúmulo do fingimento e da hipocrisia política. O certo é que, são “dois pesos e duas medidas”. E não acredito que seja pelo envelhecimento, eventualmente, precoce das artérias!

De todo o modo é preciso ter memória muito curta para despudorada e desavergonhadamente assumir conscientemente tamanha incoerência. Ou então…

A.Ferreira

P.S.: Refira-se, tempestivamente, que, paradoxalmente, toda a campanha contra a candidatura de Mascarenhas Monteiro ao primeiro mandato (1991) assentou-se na sua cordata, pacífica, assumida, já então longínqua e transparente “dissidência” do PAIGC e foi conduzida pelo PAICV com a cumplicidade dos que ontem não o apoiaram com base em fidelidade e lealdade partidárias e hoje estão com ARL sem o mínimo respeito pelas orientações e decisões do seu partido. Haja Coerência e Viva o Carácter!
AF

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