VOTO EM BRANCO – UMA VIA PUNITIVA E DE RESGATE

domingo, 17 de julho de 2011
O tema do fornecimento da energia eléctrica na Praia é recorrente e não cansamos de o abordar. O que actualmente se passa na Praia com o fornecimento da energia eléctrica é absolutamente vergonhoso e já ultrapassou os limites da decência e da razão. Parece que estamos a pagar a soberba e a arrogância de tantas desdenhosas críticas à nossa vizinha irmã Guiné-Bissau.

E, seguramente, as nossas impassibilidade e abulia não são muito dignificantes para a nossa sociedade civil. Não é crível que uma população inteira da nossa cidade-capital e todas as suas organizações profissionais e da sociedade civil estejam tão amordaçadas e temerosas que não reajam de forma efectiva a esses apagões frequentes e aleatórios que põem em risco os seus patrimónios pessoais - electrodomésticos e outros aparelhos eléctricos e electrónicos - para além de condicionar toda a sua vida doméstica e profissional e de os privar da iluminação eléctrica durante a noite e, por vezes, por arrastamento também de água.

Toda a gente ainda se lembra da colérica e quase grotesca decisão do PM em expulsar os administradores portugueses da ELECTRA e mais tarde das negociações ingénuas para a renacionalização da Empresa. A EDP, a anterior proprietária da ELECTRA, é simplesmente uma das mais cotadas empresas do mundo na produção e distribuição de energia. Prescindimos dela como parceira com a exteriorização de um acto mais ideológico – óptica socialista – de um nacionalismo estreito e primário contra o mercado e o privado do que de gestão.

Hoje não temos bodes expiatórios para endossar a responsabilidade. E o PM − José Maria Neves − tem que a assumir por inteiro. Não foi bonito vê-lo endossar a culpa, para os gestores da ELECTRA. Foi uma vergonhosa e indesculpável desresponsabilização. Os dirigentes da ELECTRA perante esta prova de deslealdade, de abandono pela retirada pública do apoio deviam em bloco pedir a sua demissão. Não o fizeram. Cada cabeça sua sentença, diz o povo. Ao aceitarem silenciosos o endosso do PM assumiram eles também a responsabilidade de uma evidente e perniciosa má gestão com conhecidos reflexos não só nos resultados financeiros da empresa que todos suportamos como no péssimo serviço prestado aos clientes consumidores de que todos somos vítimas. Já não podem apresentar desculpas nem acusar o governo de não lhes dar os meios necessários à prossecução dos seus objectivos. Se a ELECTRA não fosse um monopólio do Estado há muito que tinha declarado falência e os seus gestores impedidos de exercer.

Afinal, o que os administradores portugueses pediram e que então lhes foi recusado e que foi objecto da indecorosa intervenção do PM já foi em boa parte consentido – a subida da tarifa em 20%. A outra parte – seguramente a mais importante porque representa uma fatia grande das eventuais receitas - o apoio do Governo para uma intervenção vigorosa no combate aos clandestinos, e “não pagantes” não foi ainda atendida devido a frouxidão do Governo, a sua incapacidade para tomar medidas correctas e necessárias de autoridade, aliás, em plena sintonia com o seu exacerbado populismo e demagogia. É um Governo que se mostra neste particular covarde, temeroso, desleixado e incapaz; que prefere recorrer às medidas cegas de criar uma taxa para a iluminação pública, como já se anuncia, no pressuposto que os nossos impostos não chegam para cobrir as suas obrigações quando é sabido que pagamos uma das mais altas tarifas do mundo do que abrir combate àqueles que prevaricam e o desafiam e provocam directamente. Paga o justo pelo pecador. Isto é, aqueles que cumprem com as suas obrigações. E são eles, e só eles, que a nova taxa quer castigar porque, ao que se diz, incidirá sobre o consumo.

A população já tomou consciência de que foi um grande erro ter dado ao PAICV um novo mandato – um direito a governar por mais cinco anos. Os erros corrigem-se. Não é possível nem aconselhável impedi-lo de cumprir o mandato. É anti-democrático. Mas felizmente ainda estamos a tempo de mostrar o nosso grande desagrado. Não só com simbólicas mas absolutamente necessárias manifestações de rua que denunciam os desmandos e mexem na imagem, mas também com actos de efeitos práticos e marcantes.

Todos aqueles que são senhores dos seus votos; que não têm compromissos partidários; que votam ou votaram PAICV nas legislativas, não votem agora nos candidatos presidenciais desse partido. Ambos – Aristides Lima e Manuel Inocêncio Sousa – são cúmplices activos deste Governo incompetente, falso, covarde e negligente. Devem ser punidos COM UM VOTO EM BRANCO. É a única resposta válida, uma advertência aos políticos desonestos, que servirá de exemplo e de alerta para as próximas eleições. Temos que mostrar a nossa maturidade política e usar a única verdadeira força que temos – o voto. Abstenção não é solução porque pode reflectir desinteresse e preguiça. Vamos às urnas e exerçamos o nosso direito de voto. Se o seu candidato não é Jorge Carlos Fonseca ou Joaquim Jaime Monteiro que nada têm a ver com a (des)governação do PAICV e não tiver o dever de disciplina partidária, vote em branco. Só assim será respeitado e o seu voto útil. É também uma via de resgate do nosso voto nas legislativas.

A.Ferreira

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