O texto que a seguir dou a conhecer
aos leitores do “Coral Vermelho” foi escrito há já um bom espaço de tempo.
Destinava-se então a integrar outros textos pedidos para a comemoração dos 25
anos da fundação da instituição que foi a Escola de Formação de Professores do
Ensino Secundário, posteriormente Instituto Superior de Formação de Professores
(1980-2005).
Pois bem, enviado o texto, creio que o
mesmo não foi publicado. Pese embora a validade temporal da ocasião ter
expirado, a homenagem a que o escrito se propôs, essa, nunca expira o prazo e
aqui a registo, tal qual a redigi.
Uma Justa Homenagem
Uma das tentativas de se estabelecer
“a ponte” entre o passado e o presente é exactamente através da memória.
Pois bem, recordar, recordar é como
revisitar a tal casa velhinha onde outrora andámos e querer sentir os cheiros
do passado como se ainda lá permanecessem…
Solicitada que fui e gentilmente, para
que desse um testemunho escrito sobre a instituição de formação de docentes
para o ensino secundário, o ISE, Instituto Superior de Educação, que cumpre
neste ano um quarto de século de existência. Será bom lembrar que o ISE, já foi
Escola de Formação de Professores do Ensino Secundário e depois Curso de
Formação de Professores do Ensino Secundário. O meu propósito é homenagear uma
das principais obreiras da edificação desta instituição entre nós.
Mas antes de entrar no testemunho,
propriamente dito, e porque pertenço ao número daqueles que aposta e acredita
que a equipa é que faz a obra e não apenas um indivíduo, a propósito e à
colação transcrevo aqui um trecho do já célebre e bem conhecido poema de
Bertoldo Brecht que tão bem expressou a ideia:
“Perguntas
de um operário letrado”
Quem construiu Tebas, a das sete
portas?
Nos livros vem o nome dos reis/Mas
foram os reis que transportaram as pedras? /Babilónia tantas vezes destruída,
/Quem outras tantas a reconstruiu? /Em que casa da Lima dourada moravam seus
obreiros? /No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde foram os
seus pedreiros? /A grande Roma está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu?
/Sobre quem triunfaram os Césares?
A
tão cantada Bizâncio só tinha palácios para os seus habitantes? / Até a
legendária Atlântida na noite em que o mar a engoliu viu afogados gritar por seus
escravos. // O jovem Alexandre conquistou as Índias. Sozinho? // César venceu
os gauleses. Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço? // Quando a sua
armada se afundou Filipe de Espanha chorou. E ninguém mais? //Frederico II
ganhou a Guerra dos sete anos. Quem mais ganhou? /Em cada página uma vitória /
Quem cozinhava os festins? //Em cada década um grande homem. // Quem pagava as
despesas? // Tantas histórias / Quantas perguntas.
Ora bem, embora comungando do conteúdo
dos versos aqui transcritos, é minha convicção que da equipa merece ser
destacada e homenageada, uma figura de grande pendor e sabedoria técnico/pedagógica.
Destacá-la para ser reconhecida como alguém que deu o seu melhor na então novel
organização do sistema educativo nacional. Trata-se da pessoa da Dr.ª Maria Luísa Ferro Ribeiro que para além de ter sido
brilhante professora de Geografia no velho Liceu Adriano Moreira da Praia na
década de 60 foi também a primeira mulher Vice-Reitora daquele saudoso
estabelecimento de ensino.
Mas o que aqui se pretende realçar é a forma
entusiástica e empenhada como Maria Luísa Ribeiro abraçou desde a primeira
hora, o então considerado arrojado projecto, quando muitos de nós estávamos
ainda cépticos em relação à ideia de se formar professores para o ensino liceal
em solo nacional, mormente que da ideia tão rapidamente se passasse à
concretização dela!
Lembro-me que as sessões lectivas da
formação foram ministradas, no início, no Liceu Domingos Ramos. Numas salas
conquistadas com alguma resistência; num espaço bem exíguo, em condições nada
confortáveis e que só a força e a determinação da sua primeira Directora, a
Dr.ª Maria Luísa, tornaram possível, fizeram funcionar e levaram avante tal
projecto transformador.
Mais recordo que com a sua enorme
capacidade de influenciação e de prestígio, ela conseguiu rodear-se de bons
Professores, sobretudo de um ilustre escol, nomeadamente da Universidade de
Coimbra, cujo grupo que vinha à Praia em cooperação quase que permanente, foi
também de alguma forma pioneiro e co-fundador da então Escola de Formação de
Professores do Ensino Secundário.
Pode-se sempre contra-argumentar que
“uma andorinha não faz a Primavera.” Pois é, mas há sempre uma que se destaca
mais e a anuncia de forma mais laboriosa e eficiente. É nesta linha e com esta
quase metáfora que distingo o papel da Dr.ª Maria Luísa Ribeiro no dealbar da
criação da Escola de Formação de Professores do Ensino Secundário em Cabo Verde.
Com este entendimento, peço que me
seja relevada a omissão de outros agentes, igualmente merecedores de apreço,
uma vez que o propósito e a finalidade deste testemunho é mesmo distinguir e
homenagear, a distinta conterrânea Dr.ª Maria Luísa Ferro Ribeiro.
Foi assim, ressalvados os
esquecimentos que a memória não registou, que se iniciaram os primeiros cursos
abertos naquele já longínquo ano de 1980.
Reitero que é de toda a justiça
realçar e ouso quase afirmar que se não tivesse sido a forte crença, a
extraordinária perseverança, a dedicação e o dinamismo da Dr.ª Maria Luísa Ferro Ribeiro no projecto de formação de docentes
para o ensino secundário que evoluiu no que é actualmente o ISE, quiçá, não
estivéssemos agora a comemorar o 25º aniversário da fundação da instituição que
pretende, (embora não sem antes trilhar ainda alguma caminhada preparatória),
ser parte da Universidade pública de Cabo Verde!
Parabéns ISE!
1 comentários:
Parabens dra por ter feito esta justa homenagem a uma pessoa de tanto prestígio. Cabo Verde parece que não se lembra de dos verdadeiros pioneiros......
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