Uma Justa Homenagem

terça-feira, 15 de outubro de 2013



O texto que a seguir dou a conhecer aos leitores do “Coral Vermelho” foi escrito há já um bom espaço de tempo. Destinava-se então a integrar outros textos pedidos para a comemoração dos 25 anos da fundação da instituição que foi a Escola de Formação de Professores do Ensino Secundário, posteriormente Instituto Superior de Formação de Professores (1980-2005).
Pois bem, enviado o texto, creio que o mesmo não foi publicado. Pese embora a validade temporal da ocasião ter expirado, a homenagem a que o escrito se propôs, essa, nunca expira o prazo e aqui a registo, tal qual a redigi.


Uma Justa Homenagem

 
Uma das tentativas de se estabelecer “a ponte” entre o passado e o presente é exactamente através da memória.

Pois bem, recordar, recordar é como revisitar a tal casa velhinha onde outrora andámos e querer sentir os cheiros do passado como se ainda lá permanecessem…

Solicitada que fui e gentilmente, para que desse um testemunho escrito sobre a instituição de formação de docentes para o ensino secundário, o ISE, Instituto Superior de Educação, que cumpre neste ano um quarto de século de existência. Será bom lembrar que o ISE, já foi Escola de Formação de Professores do Ensino Secundário e depois Curso de Formação de Professores do Ensino Secundário. O meu propósito é homenagear uma das principais obreiras da edificação desta instituição entre nós.

Mas antes de entrar no testemunho, propriamente dito, e porque pertenço ao número daqueles que aposta e acredita que a equipa é que faz a obra e não apenas um indivíduo, a propósito e à colação transcrevo aqui um trecho do já célebre e bem conhecido poema de Bertoldo Brecht que tão bem expressou a ideia:

Perguntas de um operário letrado

Quem construiu Tebas, a das sete portas?

Nos livros vem o nome dos reis/Mas foram os reis que transportaram as pedras? /Babilónia tantas vezes destruída, /Quem outras tantas a reconstruiu? /Em que casa da Lima dourada moravam seus obreiros? /No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde foram os seus pedreiros? /A grande Roma está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? /Sobre quem triunfaram os Césares?

A tão cantada Bizâncio só tinha palácios para os seus habitantes? / Até a legendária Atlântida na noite em que o mar a engoliu viu afogados gritar por seus escravos. // O jovem Alexandre conquistou as Índias. Sozinho? // César venceu os gauleses. Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço? // Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha chorou. E ninguém mais? //Frederico II ganhou a Guerra dos sete anos. Quem mais ganhou? /Em cada página uma vitória / Quem cozinhava os festins? //Em cada década um grande homem. // Quem pagava as despesas? // Tantas histórias / Quantas perguntas.

 Bertold Brecht (dramaturgo e poeta alemão do séc. XX)

Ora bem, embora comungando do conteúdo dos versos aqui transcritos, é minha convicção que da equipa merece ser destacada e homenageada, uma figura de grande pendor e sabedoria técnico/pedagógica. Destacá-la para ser reconhecida como alguém que deu o seu melhor na então novel organização do sistema educativo nacional. Trata-se da pessoa da Dr.ª Maria Luísa Ferro Ribeiro que para além de ter sido brilhante professora de Geografia no velho Liceu Adriano Moreira da Praia na década de 60 foi também a primeira mulher Vice-Reitora daquele saudoso estabelecimento de ensino.

 Vale lembrar igualmente, que ela assegurou logo após a independência do país, a chefia de alguns dos serviços mais importantes do então recente Ministério da Educação, nomeadamente o seu Gabinete de Estudos e Planeamento e a Direcção – Geral da Educação.

 Mas o que aqui se pretende realçar é a forma entusiástica e empenhada como Maria Luísa Ribeiro abraçou desde a primeira hora, o então considerado arrojado projecto, quando muitos de nós estávamos ainda cépticos em relação à ideia de se formar professores para o ensino liceal em solo nacional, mormente que da ideia tão rapidamente se passasse à concretização dela!

Lembro-me que as sessões lectivas da formação foram ministradas, no início, no Liceu Domingos Ramos. Numas salas conquistadas com alguma resistência; num espaço bem exíguo, em condições nada confortáveis e que só a força e a determinação da sua primeira Directora, a Dr.ª Maria Luísa, tornaram possível, fizeram funcionar e levaram avante tal projecto transformador.

Mais recordo que com a sua enorme capacidade de influenciação e de prestígio, ela conseguiu rodear-se de bons Professores, sobretudo de um ilustre escol, nomeadamente da Universidade de Coimbra, cujo grupo que vinha à Praia em cooperação quase que permanente, foi também de alguma forma pioneiro e co-fundador da então Escola de Formação de Professores do Ensino Secundário.

Pode-se sempre contra-argumentar que “uma andorinha não faz a Primavera.” Pois é, mas há sempre uma que se destaca mais e a anuncia de forma mais laboriosa e eficiente. É nesta linha e com esta quase metáfora que distingo o papel da Dr.ª Maria Luísa Ribeiro no dealbar da criação da Escola de Formação de Professores do Ensino Secundário em Cabo Verde.

Com este entendimento, peço que me seja relevada a omissão de outros agentes, igualmente merecedores de apreço, uma vez que o propósito e a finalidade deste testemunho é mesmo distinguir e homenagear, a distinta conterrânea Dr.ª Maria Luísa Ferro Ribeiro. 

Foi assim, ressalvados os esquecimentos que a memória não registou, que se iniciaram os primeiros cursos abertos naquele já longínquo ano de 1980.

Reitero que é de toda a justiça realçar e ouso quase afirmar que se não tivesse sido a forte crença, a extraordinária perseverança, a dedicação e o dinamismo da Dr.ª Maria Luísa Ferro Ribeiro no projecto de formação de docentes para o ensino secundário que evoluiu no que é actualmente o ISE, quiçá, não estivéssemos agora a comemorar o 25º aniversário da fundação da instituição que pretende, (embora não sem antes trilhar ainda alguma caminhada preparatória), ser parte da Universidade pública de Cabo Verde!

Parabéns ISE!

 
 

1 comentários:

Anónimo disse...

Parabens dra por ter feito esta justa homenagem a uma pessoa de tanto prestígio. Cabo Verde parece que não se lembra de dos verdadeiros pioneiros......

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