“Água mole em pedra
dura...” ao bom entendedor meia palavra apenas.
A Língua portuguesa é
actualmente o elo mais fraco da cadeia linguística cabo-verdiana.
É triste e deprimente
para a nossa cultura, observar como os predadores da riqueza linguística cabo-verdiana
têm vindo a actuar, a fazer opinião, e infelizmente, a ganhar terreno.
Para mal dos nossos
pecados são pouquíssimas as vozes que se levantam abertamente contra tal estado
de coisas e assumidamente a favor da expansão, da oralidade e da permanência da
nossa também, língua portuguesa.
Por outro lado, atira-se aos quatro ventos que
o que se pretende é o bilinguismo. Puro engano!
Como tal será, ou seria, possível se nada,
mas mesmo nada, se diz e se faz neste país, em prol da Língua portuguesa?
A questão linguística
cabo-verdiana tornou-se num reduto, onde só entram ou apenas estão autorizados a penetrar, por “motu
próprio”, os ditos “especialistas” e as aspas aqui não se dirigem tanto à
capacidade técnica dos mesmos, mas mais ao exclusivo no tratamento das línguas
por eles pretendidos.
A questão linguística é
muito mais abrangente; ela é pertença dos seus falantes. Deus nos livre e
guarde! - deixar esta transcendente questão,
que é de todos os cidadãos cabo-verdianos, apenas nas mãos totalitárias de um
punhado de linguistas, sociolínguistas e políticos, alguns de duvidosos gosto para
uma actuação descomplexada.
Existe, de facto, uma defesa exacerbada - sem
muita razão de ser nos tempos que correm - do Crioulo, como se este não
estivesse pujante e cheio de vitalidade na fala do cabo-verdiano. O que é
necessário e urgente é a preservação e a expansão da nossa língua segunda e
oficial, em todas as ilhas e sobretudo, nos meios que lhe são naturais, como a
escola, a administração pública e a comunicação social.
O assunto já assumiu
contornos de prós e de contras. Tal é a confusão que por aqui vai!!...
Os responsáveis lançam
diplomas sobre diplomas, fazem encontros, sobre encontros, oficinas de trabalho,
e conferências, e mais mesas redondas, eu sei lá!... nenhum é sobre a Língua
portuguesa. Vai tudo na defesa (como se ainda estivessemos na posição de há 40
anos atrás!) do Crioulo e ninguém reflecte, ou quer reflectir, meditar,
analisar sobre o que vem sucedendo ao português nestas ilhas tendo até em conta
a comunidade linguística à escala global a que pertencemos.
Estamos em 2015! Quatro décadas, duas
ou mais gerações já nos separaram de 1975 (ano da independência)!
Começa a ser fastidioso e saturador “bater” na
tecla do antigo problema do não prestígio do Crioulo e da mais-valia do
português entre nós. Este pressuposto, obviamente, nunca existiu para a geração que tem hoje quarenta anos. A que cresceu, viveu e
ainda vive com a independência de Cabo Verde não pensa, nem pode pensar, assim,
a não ser em situações muito pontuais por
influência de um ou outro, eventual encarregado de educação, naturalmente, mais
velho. Afinal, a geração mais nova estava de “alma lavada”!
O que a geração dos nossos filhos e netos, se
apercebe e talvez deseje ver implantado, não à força, mas num fluir natural e
evolutivo do mundo global em que estamos inseridos e do qual dependemos e interagimos, é o tal
bilinguismo, já bastas vezes
apregoado, mas que infelizmente tem sido mal construído, porque á custa do
mal-dizer e do prejudicar a co-existência
do crioulo com a língua portuguesa.
Meditemos sobre o modo como o processo tem
vindo a ser conduzido. Vejamos qual será
o presente e o que virá no futuro da Língua portuguesa - nossa também e de pleno
direito? Como usufruir, e bem, deste rico legado linguístico, histórico e
cultural, a tal primeira língua que os pássaros, as rochas e o mar ouviram
nestas ilhas? Que devir, entre nós desta riqueza de comunicação que tem tido um
papel ímpar no desenvolvimento do país?
Há dias comentava (meio a
brincar, meio a sério) com uma pessoa amiga de que no dia em que um Partido
eleitoral nacional, apresentar no seu programa de governação, uma proposta de
cuidar da Língua portuguesa nestas ilhas, de tentar recuperá-la e expandi-la,
entre nós, a boa oralidade da nossa língua segunda e oficial; esse hipotético
programa de governação, terá o meu voto e os votos também, se calhar, da maioria silenciosa
dos cidadãos cabo-verdianos a este respeito. Até faria diminuir a abstenção
que vem conhecendo um crescendo, sem paralelo nas eleições de há década e meia!
Infelizmente, com estas
manobras de configuração destrutiva, já se conseguiu derrubar o último ambiente
próprio e adequado da língua portuguesa em Cabo Verde que é a escolarização, o
ensino, para muitos, a única oportunidade que significativa parte das criança e
dos adolescentes destas ilhas, tinha para o contacto com a língua oficial do
país!
Não devemos misturar os
papéis que às duas línguas foram por nós, seus falantes, cometidos, num
trabalho pacientemente elaborado há séculos. Sempre os soubemos distinguir e ao
que parece isso tem contribuído e bem para o desenvolvimento do país. Por
favor! Não concorram para o empobrecimento tecnológico, científico e cultural
de gerações vindouras.
Tudo isto desestabiliza,
vem perturbando seriamente e sobremaneira o ensino e a aprendizagem dos alunos.
Na minha opinião
reiterada, as duas línguas nacionais têm papéis distintos no edifício bilingue, pretensão bem-vinda, que o falante
cabo-verdiano quer ver efectivado. Misturá-los e confundi-los será péssimo!
Um dado interessante: o
Observatório da Língua portuguesa, para além de registar que este idioma é o
que mais vem crescendo em Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe, nos últimos
quarenta anos, sendo que no primeiro país mencionado – Angola – a sua expansão é exponencial sendo já língua materna de quase
cem por cento dos nascidos em meios urbanos e no pós – independência; registou
também que o Parlamento Europeu declarou recentemente, a Língua portuguesa como
a terceira língua de comunicação europeia.
Ora se pensarmos que nos
últimos anos, levas e mais levas de jovens cabo-verdianos saem do país em
demanda de trabalho e de dignidade em Angola e em outros países de acolhimento
e de língua portuguesa, isto para não falar que Portugal vinha registando estatisticamente,
a comunidade cabo-verdiana, como a comunidade imigrada mais numerosa no seu
seio, com forte crescimento depois da independência do Arquipélago e até
sensivelmente, meados dos anos noventa do século XX, altura em que foi
ultrapassada pela oriunda dos países do chamado Leste europeu; se adicionarmos a
tudo isso o papel comunicativo que o português tem para esta nova geração de
emigrantes para a sua integração no meio
de acolhimento, mais valor e cuidado estaríamos a atribuir à língua portuguesa
no ensino em Cabo Verde.
Deixemos de
pseudo-patriotices bacocas! Pensemos objectivamente, nos ganhos, nos benefícios
que temos tido e que continuaremos a ter, se à Língua portuguesa for reconhecida o mérito incomensurável que tem tido no desenvolvimento a
todos os níveis de Cabo Verde.
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