Gilda Barbosa
Ontem,
dia 18 de Maio, a Monique e eu fomos à Achada Grande e Achada Furna com o carro
Geo. Lá esperamos um carro de alguém da Chã que nos devia levar da Achada Furna
à Chã.
Depois
de um atraso de duas horas, partimos por volta do meio dia e tal. Até à entrada
da Chã, a estrada é boa mas bastante longa e com as curvas e contra-curvas que
exigem toda a atenção do condutor.
A
estrada improvisada junto à serra, passando pela Covatina é longa e depois de
alguns metros, é péssima, foi a última que abriram cortando os montes junto ao
sopé da serra. O amigo condutor, Adriano Montrond, conhecedor de tudo, ia
mostrando e explicando, caso contrário eu estaria completamente perdida, vendo
à minha frente o mar imenso de lavas de 2014 e 1995. Um misto de tristeza e admiração
do belo horrível preenchia a minha alma. Já não olhava para o relógio e ia só
bebendo das duas garrafinhas de água que tinha levado. Foi sempre em casa dos
pais do Adriano que ficavamos, dormiamos e comiamos quando iamos em trabalho da
Caritas. Uma família numerosa, tendo o pai, senhor Socorro Montrond, morrido há
menos de um ano.
Compreendi
as lágrimas e a voz diferente do Adriano, que nos disse que sempre que lá vai
não contém as lágrimas. Somos seres humanos de carne e osso e não nos
confundimos com as lavas que enchem a Caldeira.
Logo
no início fomos vendo, parando e conversando com os valentes habitantes que,
perante a incompetência e inércia das autoridades, tentam fazer um funco para
poderem dormir e parar lá onde ainda alguns têm parte das suas terras, tem a
sua Chã e os ares a que sempre se habituaram. Aproxima-se o tempo da vindima e
das chuvas que todos esperam que venha em abundância. Não é possível fazer o
percurso de ida e vinda da Achada Furna e, ainda menos do Monte Grande, para
irem trabalhar o pouco dos seus campos não engolidos pelas lavas e tentarem
recuperar alguns bocados que ainda não tinham cultivado. Têm de ter uma base
com o mínimo de condiçõs para a labuta que vai desde muito cedo até à noite.
Mesmo
no carro são horas, da Achada Furna até a Portela. E porque não melhoram essa
estrada assim como a estrada da «coragem», que está prestes a apanhar a que va
para o Monte Velha. Falam muito em turismo e que vai ainda aumentar depois da
erupção. Enganam-se redondamente se não houver melhorias nas ligações aéreas e
na estrada que vai da entrada da Chã até o Monte Velha. Esperemos que seja
desta vez que se faz uma outra saída da Chã do lado Norte.
As
casas definitivas têm de ser feitas fora da Caldeira mas os «funcos» melhorados
é na Chã e não é possível falar em aldeamentos que evitem as «construções»
selvagens, como ouvi de alguém com responsabilidade. Procuram o pequeno espaço
no terreno que ainda têm ou tirando as lavas com picaretas e enchadas para
terem um espaço. Aliás, as escolhas pareceram-me inteligentes no panorama
actual da Chã.
No
fim vão algumas fotos para ilucidar.
Lutam
só com as forças próprias e dos colegas de lá. Se um ou outro já conseguiu o
seu «funco», a maior parte vai lentamente ou espera um pequeno apoio para
comprar cimento e/ou blocos, enquanto improvisam os abrigos de fraca qualidade.
Mas... onde está a grande quantidade de ajuda em material que enviou Angola? O
que pensam Os DONOS que não aceitam sugestões de outros e continuam as suas
viagens ao Fogo, a lançar primeiras pedras por todo o lado (não é preciso por
que há muitas na Chã), a fazer discursos e mais discursos, a constituir
gabinetes, comissões e não sei que mais asneiradas, esbanjando dinheiro e
...tudo na mesma.
Caramba,
já lá vão três meses que terminou a erupção e toda ESSA ILUSTRE GENTE CONTINUA
NA MESMA! Não há uma cabeça que destranque as voltas?
Não
têm o mínimo de consideração pela gente da Chã que, como dizem, « não são
considerados cidadãos deste País».
Na
semana passada, ouvi o noticiário de nova vinda turística, sempre os mesmos,
para lançamento de pedra (cuidado para não atingirem as pessoas!!!!),
discursos, televisão, rádio, não sei se também houve foguetes, que se tornaram
o pão nosso de cada dia nesta cidade.
Fomos
uma semana depois, esperando encontrar grande azáfama de trabalho das casas na
Achada Grande, Achada Furna e Adegas da Chã. Ilusão das ilusões! Encontramos as
mesmas casas, gente sem saber afinal o que pensam os SENHORES, conformados com
a sua sorte e confiantes nas suas próprias forças e visitas de verdadeiros
amigos, sem barulho, apenas com a mesma amizade, encorajando e fazendo o que
podem, sem serem mandatários de quem quer que seja.
Continuo
escrevendo, mesmo cansada, assumindo o que digo, com a minha assinatura, livre
e independente de todos.
Onde
está o Relatório de toda a ajuda que receberam? Não me interessa se estão no Tesouro, na Cruz
Vermelha, na Comissão já não sei de quê, na Cáritas ou não sei que mais. Onde
estão os Relatórios TRIMESTRAIS prometidos pelo Senhor Primeiro Ministro?
Dsembuchem
e ponham tudo a a claro, se não querem que em todos nós reine a desconfiança, a
começar pela minha insignificante pessoa mas sempre CIDADÃ E PESSOA.
Sei
que o Senhor Presidente da República visitou tudo mas ele não é Governo, só
pode exercer a sua magistratura de influência, sem saber o efeito que pode ter.
Foram também os nossos amigos da Chã que nos disseram isso.
E
onde está a CARITAS DIOCESANA? Está a seguir o mesmo caminho de todos? O que
espera? Tem medo das autoridades? Num caso destes não interessa atirar as
culpas para as Comissões Paroquiais que não estão bem organizadas e vão fazendo
o que podem com o pouco que enviaram da Praia para darem umas coisas verdes nos
acampamentos ainda existente, não aos que labutam na Chã. CARITAS, MECHAM-SE,
NÃO SIGAM O EXEMPLO DE VISITAS TURÍSTICAS DE UMA SEMANA SÓ PARA VEREM!!!!!
Aliás
pouca gente soube disso e ficaram no cerco fechado, não nas periferias. Leiam o
que diz o nosso PAPA FRANCISCO e ponham em prática.
Há
muito que deixei de trabalhar na Cáritas, Dezembro de 1995, nada sei do que
fazem mas como Católica e pertencente a esta Diocese, não posso falar só dos
outros!
A
Monique e eu temos já uma linha traçada, por enquanto só com os que estão na
Chã. Para os outros não é fácil e limitamo-nos a dar força e visitar, eu,
quando puder.
A
linha só vai ser publicada para os amigos.
Leia
quem quiser critiquem que vai tudo «AO SABOR DOS VENTOS».
Obrigada.
Gilda Barbosa
0 comentários:
Enviar um comentário