VISITA À CHÃ DAS CALDEIRAS

quinta-feira, 28 de maio de 2015

 
 
Gilda Barbosa
 
 
Ontem, dia 18 de Maio, a Monique e eu fomos à Achada Grande e Achada Furna com o carro Geo. Lá esperamos um carro de alguém da Chã que nos devia levar da Achada Furna à Chã.

Depois de um atraso de duas horas, partimos por volta do meio dia e tal. Até à entrada da Chã, a estrada é boa mas bastante longa e com as curvas e contra-curvas que exigem toda a atenção do condutor.

A estrada improvisada junto à serra, passando pela Covatina é longa e depois de alguns metros, é péssima, foi a última que abriram cortando os montes junto ao sopé da serra. O amigo condutor, Adriano Montrond, conhecedor de tudo, ia mostrando e explicando, caso contrário eu estaria completamente perdida, vendo à minha frente o mar imenso de lavas de 2014 e 1995. Um misto de tristeza e admiração do belo horrível preenchia a minha alma. Já não olhava para o relógio e ia só bebendo das duas garrafinhas de água que tinha levado. Foi sempre em casa dos pais do Adriano que ficavamos, dormiamos e comiamos quando iamos em trabalho da Caritas. Uma família numerosa, tendo o pai, senhor Socorro Montrond, morrido há menos de um ano.

Compreendi as lágrimas e a voz diferente do Adriano, que nos disse que sempre que lá vai não contém as lágrimas. Somos seres humanos de carne e osso e não nos confundimos com as lavas que enchem a Caldeira.

Logo no início fomos vendo, parando e conversando com os valentes habitantes que, perante a incompetência e inércia das autoridades, tentam fazer um funco para poderem dormir e parar lá onde ainda alguns têm parte das suas terras, tem a sua Chã e os ares a que sempre se habituaram. Aproxima-se o tempo da vindima e das chuvas que todos esperam que venha em abundância. Não é possível fazer o percurso de ida e vinda da Achada Furna e, ainda menos do Monte Grande, para irem trabalhar o pouco dos seus campos não engolidos pelas lavas e tentarem recuperar alguns bocados que ainda não tinham cultivado. Têm de ter uma base com o mínimo de condiçõs para a labuta que vai desde muito cedo até à noite.

Mesmo no carro são horas, da Achada Furna até a Portela. E porque não melhoram essa estrada assim como a estrada da «coragem», que está prestes a apanhar a que va para o Monte Velha. Falam muito em turismo e que vai ainda aumentar depois da erupção. Enganam-se redondamente se não houver melhorias nas ligações aéreas e na estrada que vai da entrada da Chã até o Monte Velha. Esperemos que seja desta vez que se faz uma outra saída da Chã do lado Norte.

As casas definitivas têm de ser feitas fora da Caldeira mas os «funcos» melhorados é na Chã e não é possível falar em aldeamentos que evitem as «construções» selvagens, como ouvi de alguém com responsabilidade. Procuram o pequeno espaço no terreno que ainda têm ou tirando as lavas com picaretas e enchadas para terem um espaço. Aliás, as escolhas pareceram-me inteligentes no panorama actual da Chã.

No fim vão algumas fotos para ilucidar.

Lutam só com as forças próprias e dos colegas de lá. Se um ou outro já conseguiu o seu «funco», a maior parte vai lentamente ou espera um pequeno apoio para comprar cimento e/ou blocos, enquanto improvisam os abrigos de fraca qualidade. Mas... onde está a grande quantidade de ajuda em material que enviou Angola? O que pensam Os DONOS que não aceitam sugestões de outros e continuam as suas viagens ao Fogo, a lançar primeiras pedras por todo o lado (não é preciso por que há muitas na Chã), a fazer discursos e mais discursos, a constituir gabinetes, comissões e não sei que mais asneiradas, esbanjando dinheiro e ...tudo na mesma.

Caramba, já lá vão três meses que terminou a erupção e toda ESSA ILUSTRE GENTE CONTINUA NA MESMA! Não há uma cabeça que destranque as voltas?

Não têm o mínimo de consideração pela gente da Chã que, como dizem, « não são considerados cidadãos deste País».

Na semana passada, ouvi o noticiário de nova vinda turística, sempre os mesmos, para lançamento de pedra (cuidado para não atingirem as pessoas!!!!), discursos, televisão, rádio, não sei se também houve foguetes, que se tornaram o pão nosso de cada dia nesta cidade.

Fomos uma semana depois, esperando encontrar grande azáfama de trabalho das casas na Achada Grande, Achada Furna e Adegas da Chã. Ilusão das ilusões! Encontramos as mesmas casas, gente sem saber afinal o que pensam os SENHORES, conformados com a sua sorte e confiantes nas suas próprias forças e visitas de verdadeiros amigos, sem barulho, apenas com a mesma amizade, encorajando e fazendo o que podem, sem serem mandatários de quem quer que seja.

Continuo escrevendo, mesmo cansada, assumindo o que digo, com a minha assinatura, livre e independente de todos.

Onde está o Relatório de toda a ajuda que receberam?  Não me interessa se estão no Tesouro, na Cruz Vermelha, na Comissão já não sei de quê, na Cáritas ou não sei que mais. Onde estão os Relatórios TRIMESTRAIS prometidos pelo Senhor Primeiro Ministro?

Dsembuchem e ponham tudo a a claro, se não querem que em todos nós reine a desconfiança, a começar pela minha insignificante pessoa mas sempre CIDADÃ E PESSOA.

Sei que o Senhor Presidente da República visitou tudo mas ele não é Governo, só pode exercer a sua magistratura de influência, sem saber o efeito que pode ter. Foram também os nossos amigos da Chã que nos disseram isso.

E onde está a CARITAS DIOCESANA? Está a seguir o mesmo caminho de todos? O que espera? Tem medo das autoridades? Num caso destes não interessa atirar as culpas para as Comissões Paroquiais que não estão bem organizadas e vão fazendo o que podem com o pouco que enviaram da Praia para darem umas coisas verdes nos acampamentos ainda existente, não aos que labutam na Chã. CARITAS, MECHAM-SE, NÃO SIGAM O EXEMPLO DE VISITAS TURÍSTICAS DE UMA SEMANA SÓ PARA VEREM!!!!!

Aliás pouca gente soube disso e ficaram no cerco fechado, não nas periferias. Leiam o que diz o nosso PAPA FRANCISCO e ponham em prática.

Há muito que deixei de trabalhar na Cáritas, Dezembro de 1995, nada sei do que fazem mas como Católica e pertencente a esta Diocese, não posso falar só dos outros!

A Monique e eu temos já uma linha traçada, por enquanto só com os que estão na Chã. Para os outros não é fácil e limitamo-nos a dar força e visitar, eu, quando puder.

A linha só vai ser publicada para os amigos.

Leia quem quiser critiquem que vai tudo «AO SABOR DOS VENTOS».

Obrigada.

 

Gilda Barbosa

 

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