Era só o que nos faltava!...

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2022

 

Tenho lido e ouvido notícias, através da imprensa portuguesa, sobre mulheres excisadas, oriundas de África residentes e/ou imigradas em Portugal, e que são denunciadas - pelos hospitais portugueses, ou através das consultas de ginecologia, ou, através dos partos feitos nas maternidades - à justiça portuguesa, uma vez que em Portugal a excisão está classificada como crime.

Mas dizia eu, tenho lido e escutado essas notícias e, com muita surpresa e não menos preocupação, leio também, pois que vêm mencionadas, mulheres de nacionalidade cabo-verdiana, entre mulheres guineenses, nigerianas, quenianas e de outras nacionalidades africanas, excisadas.

Terei escutado bem? Mulheres cabo-verdianas excisadas? Desde quando? Meu Deus!... Esta coisa abominável, não pode estar a acontecer na nossa comunidade!

 Só no ano transacto, 2021, foram registadas nos hospitais portugueses perto de três centenas de jovens mulheres africanas excisadas.

 Segunda a Agência Lusa: “ Estima-se que vivem em Portugal, 6.500 mulheres excisadas, a maior parte oriunda da Guiné-Bissau.”

Trata-se de estatísticas hospitalares de mulheres e nelas se incluíram mulheres de nacionalidade cabo-verdiana em Portugal, que acedem também aos hospitais, para consultas de ginecologia; para os partos e algumas, apresentam-se com a ablação do clitóris.

Acontece que em Portugal, nos hospitais mais frequentados por mulheres de origem africana, existe actualmente, uma comissão fiscalizadora, constituída por pessoal da saúde, destinada a descobrir e a denunciar este horror perpetrado no corpo feminino das islamizadas, de algumas etnias guineenses e mulheres de outras outros países africanos, sobretudo, as da África ocidental, imigradas naquele país europeu.

A propósito disso, tomei a liberdade de transcrever o Artigo de Ana Meireles, do Jornal Diário de Notícias:

“Este domingo [06.02.22] celebra-se o Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital Feminina, prática que em Portugal considerada crime autónomo desde 2015, punido com pena de prisão de dois a dez anos.

O grupo do Amadora-Sintra foi criado precisamente em 2015. Actualmente é constituído por três enfermeiras especialistas em saúde materna e obstetrícia e uma médica obstetra, oriunda da Guiné-Bissau. Desde a sua criação até 2021, este grupo já identificou naquele hospital 217 mulheres vítimas de mutilação genital feminina, sendo que nenhuma das práticas terá sido efectuada em Portugal. Este ano já foram identificados mais cinco casos. "Temos mulheres da Guiné-Bissau, da Guiné-Conacri, da Nigéria, do Senegal, da Gâmbia e de Cabo Verde. A média de idades é 29 anos e a maioria das mulheres não se lembra quando é que foi feita esta mutilação. Nós supomos que foi numa altura mais de infância"” Ana Meireles. Diário de Notícias de 5/02/2022

Mas o que significa este claro retrocesso na dignidade e no respeito do corpo feminino, já agora, da mulher cabo-verdiana?

Nunca houve essa prática funesta nestas ilhas cristãs! O que se terá passado para que este horrendo atentado ao corpo e ao psíquico da mulher tenha migrado para as ilhas? Excisar algumas das nossas meninas? Abrenúncio! Que eu esteja completamente enganada! – é tudo o que desejo! – Só de pensar que tal acto é muitas vezes feito, sem quaisquer cuidados e nem preocupações sanitárias, é arrepiante!    

Questiono angustiada e espantada, as organizações e as associações cabo-verdianas, para a defesa e para a dignidade do ser humano, no caso das mulheres, aqui, e em Portugal, se alguma tem conhecimento - deste autêntico martírio infligido por uma prática religiosa/cultural que nos é completamente alheia, culturalmente falando, e que também nada tem a ver com a forma de ser e de viver da sociedade, cabo-verdiana? Que é, reitero, cristã!

Ou, então, este fenómeno terá sido resultado, da já longa emigração dos continentais africanos - que a praticam - para Cabo Verde, que aqui têm as filhas (registadas com nacionalidade cabo-verdiana, naturalmente) e que depois emigram para Portugal. Assim sendo, o registo delas nos hospitais portugueses traz a nacionalidade, adquirida por nascimento. Se assim for, é nossa obrigação defender também essas meninas, filhas de guineenses, mas aqui nascidas. Defendê-las desta prática criminosa.

 As Organizações mundiais que tratam de questões ligadas à dignidade da mulher, há muito que estão de alerta contra a mutilação genital feminina.

 E nós? O que estaremos a fazer neste sentido, para deplorar e tentar acabar com tal prática?

Embora tradicional na comunidade islamizada guineense que aqui vive, não deixa de ser nefasta à saúde das meninas, que de tenra idade, sofrem tal horror, pelo que deve ser contrariada veementemente.

Um dado que é importante é que em Portugal existem já muitas Associações guineenses que defendem: “o abandono dessas práticas tradicionais na Guiné-Bissau e que pedem que poupem a novel geração feminina, já nascida em solo português”. Também sei que, na Guiné-Bissau, já se movimentam algumas organizações da sociedade civil, no sentido de se pôr cobro a tal prática.

De novo me dirijo às Organizações de Mulheres, às Associações cívicas, ao Ministério da Família, aos Deputados, ao Governo e às instituições de Saúde deste meu país, pedindo que nos esclareçam sobre o que de facto se passa em Portugal com algumas mulheres de nacionalidade cabo-verdiana, que já estão contabilizadas nas estatísticas de excisadas, dos hospitais portugueses?

Por favor! Não vamos permitir que esta prática monstruosa se introduza em Cabo Verde. E muito menos, permitir que Cabo Verde figure nessas tristes e vergonhosas estatísticas, actualmente execradas, e condenadas, um pouco por todo o mundo. Para além de muito penalizadoras, para os países que praticam a excisão.

Se o assunto não fosse tão sério e tão trágico, faria aqui uma ironia, exclamando:

…E viva a CEDEAO!

 Era só o que nos faltava!

 

 

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