Tenho
lido e ouvido notícias, através da imprensa portuguesa, sobre mulheres excisadas, oriundas
de África residentes e/ou imigradas em Portugal, e que são denunciadas - pelos
hospitais portugueses, ou através das consultas de ginecologia, ou, através dos
partos feitos nas maternidades - à justiça portuguesa, uma vez que em Portugal
a excisão está classificada como crime.
Mas
dizia eu, tenho lido e escutado essas notícias e, com muita surpresa e não menos
preocupação, leio também, pois que vêm mencionadas, mulheres de nacionalidade
cabo-verdiana, entre mulheres guineenses, nigerianas, quenianas e de outras
nacionalidades africanas, excisadas.
Terei
escutado bem? Mulheres cabo-verdianas excisadas? Desde quando? Meu Deus!...
Esta coisa abominável, não pode estar a acontecer na nossa comunidade!
Só no ano transacto, 2021, foram registadas
nos hospitais portugueses perto de três centenas de jovens mulheres africanas
excisadas.
Segunda a Agência Lusa: “ Estima-se que vivem em Portugal, 6.500 mulheres excisadas, a maior
parte oriunda da Guiné-Bissau.”
Trata-se
de estatísticas hospitalares de mulheres e nelas se incluíram mulheres de
nacionalidade cabo-verdiana em Portugal, que acedem também aos hospitais, para
consultas de ginecologia; para os partos e algumas, apresentam-se com a ablação
do clitóris.
Acontece
que em Portugal, nos hospitais mais frequentados por mulheres de origem
africana, existe actualmente, uma comissão fiscalizadora, constituída por
pessoal da saúde, destinada a descobrir e a denunciar este horror perpetrado no
corpo feminino das islamizadas, de algumas etnias guineenses e mulheres de
outras outros países africanos, sobretudo, as da África ocidental, imigradas
naquele país europeu.
A
propósito disso, tomei a liberdade de transcrever o Artigo de Ana Meireles, do
Jornal Diário de Notícias:
“Este domingo [06.02.22] celebra-se o Dia Internacional da Tolerância Zero à Mutilação Genital
Feminina, prática que em Portugal considerada crime autónomo desde 2015, punido
com pena de prisão de dois a dez anos.
O grupo do Amadora-Sintra foi criado precisamente em
2015. Actualmente é constituído por três enfermeiras especialistas em saúde
materna e obstetrícia e uma médica obstetra, oriunda da Guiné-Bissau. Desde a sua criação até 2021,
este grupo já identificou naquele hospital 217 mulheres vítimas de mutilação
genital feminina, sendo que nenhuma das práticas terá sido efectuada em
Portugal. Este ano já foram identificados mais cinco casos. "Temos
mulheres da Guiné-Bissau, da Guiné-Conacri, da Nigéria, do Senegal, da Gâmbia e
de Cabo Verde. A média de idades é 29 anos e a maioria das mulheres não se
lembra quando é que foi feita esta mutilação. Nós supomos que foi numa altura
mais de infância"” Ana Meireles. Diário de Notícias de 5/02/2022
Mas
o que significa este claro retrocesso na dignidade e no respeito do corpo
feminino, já agora, da mulher cabo-verdiana?
Nunca
houve essa prática funesta nestas ilhas cristãs! O que se terá passado para que
este horrendo atentado ao corpo e ao psíquico da mulher tenha migrado para as
ilhas? Excisar algumas das nossas meninas? Abrenúncio! Que eu esteja completamente
enganada! – é tudo o que desejo! – Só de pensar que tal acto é muitas vezes feito,
sem quaisquer cuidados e nem preocupações sanitárias, é arrepiante!
Questiono
angustiada e espantada, as organizações e as associações cabo-verdianas, para a
defesa e para a dignidade do ser humano, no caso das mulheres, aqui, e em
Portugal, se alguma tem conhecimento - deste autêntico martírio infligido por
uma prática religiosa/cultural que nos é completamente alheia, culturalmente
falando, e que também nada tem a ver com a forma de ser e de viver da sociedade,
cabo-verdiana? Que é, reitero, cristã!
Ou, então,
este fenómeno terá sido resultado, da já longa emigração dos continentais
africanos - que a praticam - para Cabo Verde, que aqui têm as filhas
(registadas com nacionalidade cabo-verdiana, naturalmente) e que depois emigram
para Portugal. Assim sendo, o registo delas nos hospitais portugueses traz a
nacionalidade, adquirida por nascimento. Se assim for, é nossa obrigação
defender também essas meninas, filhas de guineenses, mas aqui nascidas. Defendê-las
desta prática criminosa.
As Organizações mundiais que tratam de questões
ligadas à dignidade da mulher, há muito que estão de alerta contra a mutilação
genital feminina.
E nós? O que estaremos a fazer neste sentido,
para deplorar e tentar acabar com tal prática?
Embora
tradicional na comunidade islamizada guineense que aqui vive, não deixa de ser
nefasta à saúde das meninas, que de tenra idade, sofrem tal horror, pelo que
deve ser contrariada veementemente.
Um
dado que é importante é que em Portugal existem já muitas Associações
guineenses que defendem: “o abandono dessas práticas tradicionais na
Guiné-Bissau e que pedem que poupem a novel geração feminina, já nascida em
solo português”. Também sei que, na Guiné-Bissau, já se movimentam algumas
organizações da sociedade civil, no sentido de se pôr cobro a tal prática.
De
novo me dirijo às Organizações de Mulheres, às Associações cívicas, ao
Ministério da Família, aos Deputados, ao Governo e às instituições de Saúde
deste meu país, pedindo que nos esclareçam sobre o que de facto se passa em Portugal
com algumas mulheres de nacionalidade cabo-verdiana, que já estão
contabilizadas nas estatísticas de excisadas, dos hospitais portugueses?
Por
favor! Não vamos permitir que esta prática monstruosa se introduza em Cabo
Verde. E muito menos, permitir que Cabo Verde figure nessas tristes e
vergonhosas estatísticas, actualmente execradas, e condenadas, um pouco por
todo o mundo. Para além de muito penalizadoras, para os países que praticam a
excisão.
Se o
assunto não fosse tão sério e tão trágico, faria aqui uma ironia, exclamando:
…E
viva a CEDEAO!
Era só o que nos faltava!
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