Com a devida
vénia ao seu autor, Miguel Herdade, tomámos a liberdade de aqui transcrever o
texto publicado em: «Comunidade Cultura E Arte».
O assunto,
como o próprio título indica, é universal e não perde actualidade. Para Cabo
Verde faz todo o sentido, porque vivemos uma crise na escola pública nacional,
com ausência gritante do tal “grande professor” de que fala o texto e de que
tanto necessita o aluno cabo-verdiano!
Com efeito,
toda a criança merece ter um bom professor no seu processo de ensino-aprendizagem.
Vejam as vantagens disso, lendo o texto que se segue:
Dar a todas as crianças um grande
professor, por favor!
por Miguel Herdade, 5 Março, 2023
Três ensaios sobre desigualdade e
educação. Parte I: “os professores”.
Nada, coisa nenhuma. Absolutamente
nada. Nas escolas, não há nada mais importante para o futuro das nossas
crianças do que o professor que elas encontram dentro da sala de aula.
A evidência científica de que
dispomos é clara, e mostra-nos que a pessoa que temos diante de nós na sala de
aula vai ter um impacto que marca toda a nossa vida, influenciando o que
aprendemos, as escolhas que fazemos, e até os nossos salários na idade adulta. Dar a todas as crianças um grande professor
pode ser uma das melhores ferramentas para potenciar as capacidades de cada uma
delas mas, também, para diminuir as desigualdades, criar um país melhor, mais
rico e mais justo. Não acredita? Então leia este artigo.
É pena que, em pleno século XXI,
tão poucos pais, alunos, políticos e pessoas comuns — por vezes, até os
próprios professores — tenham a noção do poder verdadeiramente transformador
desta profissão. Vejamos.
A escola: será mérito, ou mera
sorte?
A nossa vida é marcada por imensos
factores que ninguém realmente escolhe. São, digamos assim, fruto do acaso:
ninguém tem a possibilidade de escolher o país em que nasce ou a quantidade de
dinheiro que os seus pais têm. Estes factores aleatórios como a pobreza, a cor
da nossa pele, ou a escolaridade dos nossos pais criam barreiras que nos põem
em situação de desvantagem e têm um impacto enorme na nossa
vida.
Esta desigualdade é evidente no
nosso percurso escolar, alastrando-se para a universidade (para quem consegue
lá chegar) e, depois, na vida adulta:
Se retratarmos Portugal como um
grupo de 10 jovens, 5 deles andaram no ensino superior [1].
Contudo, se olharmos para 10 jovens nascidos em famílias pobres e com pais
pouco qualificados, vemos que em média só 1 conseguiu lá chegar [2].
Por outro lado, se der um saltinho a uma faculdade de medicina, verá num mesmo
universo de 10 alunos que 7 tinham pais licenciados. Se vier jantar comigo,
descobre que todos os 10 membros do meu grupo de amigos tiveram a sorte de
andar na universidade.
E não é por acaso que assim é. De
facto, os maiores determinantes [3] da nossa capacidade
de ter boas notas são o contexto socioeconómico em que nascemos, a escolaridade
dos nossos pais e, em especial, da nossa mãe. Aliás, este último tema é tão
importante, que fica já prometido para a Parte II desta trilogia sobre educação
e desigualdade.
Mas, afinal, se o que importa é o
contexto socioeconómico dos alunos, porque é que este é um texto sobre
professores? Vamos pegar num exemplo:
Imagine uma criança nascida numa
família numerosa. Estatisticamente, é provável que essa criança tenha pais
pouco qualificados e tem, certamente, uma probabilidade maior de ser pobre, de
passar privações alimentares, e de viver numa casa sobrelotada, dividindo um
quarto que partilha com vários irmãos sem ter espaço para estudar e fazer os
trabalhos de casa [4]. Na casa ao lado, os vizinhos também têm uma criança, que até é filha
única, mas são um casal de emigrantes e não falam português como primeira
língua. Estas duas crianças partem em situação de desvantagem e de
desigualdade, mas por motivos diferentes. Todos estas barreiras que estas
crianças enfrentam exigem soluções que envolvem mexer em vários problemas
diferentes: o espaço e qualidade das casas, os ordenados baixos e as barreiras
linguísticas, entre outros factores. Se, por um lado, os problemas em casa e na
família são um verdadeiro quebra-cabeças, há um local comum na vida dessas duas
crianças: a escola.
“Os professores são duas a três
vezes [6] mais importantes nos resultados dos alunos do que qualquer um
daqueles assuntos que estamos sempre a ver discutidos até à exaustão.”
É a escola, esse local sagrado, o
sítio onde podemos dar às crianças as ferramentas para quebrar barreiras e
desvantagens que a vida lhes deu. Ainda que por vezes o faça (e
há professores, em Portugal, a levarem comida de casa para dar aos seus
alunos), o papel principal da escola não é resolver todas as falhas do Estado
Social no imediato. O papel da escola é dar a essas crianças as melhores condições
para aprenderem, apesar de toda a desvantagem da sua vida. É através desse
papel que as crianças podem adquirir conhecimentos, navegar até à idade adulta,
conseguir salários mais altos e aspirar a uma vida melhor. Uma escola que
consiga isso está a combater as injustiças da vida, um sistema de ensino que
falhe nessa missão perpetua as desigualdades existentes.
Mas a escola não é uma abstracção.
Pelo contrário, é um sistema complexo que tem lá dentro um elemento muito
especial e, por vezes, mal compreendido, que são os professores [5].
A qualidade de um sistema de ensino
nunca pode ser superior à qualidade dos seus professores
Os professores são, de
longe, o factor que maior impacto tem nos resultados dos nossos alunos ao
nível da escola. Os professores são duas a três vezes [6] mais
importantes nos resultados dos alunos do que qualquer um daqueles assuntos que
estamos sempre a ver discutidos até à exaustão. Estou a pensar em coisas
como o tamanho das turmas [7], se os telhados das escolas têm
amianto, se Os Maias são uma seca, ou se a cadeira de
Cidadania e Desenvolvimento deve ou não existir.
Mas os professores não são todos
iguais. Como em tudo na vida, há professores melhores e piores. E também há,
claro, professores que têm melhores condições para trabalhar do que outros.
Podem ter turmas mais complicadas, directores que os apoiam ou não, mais ou
menos papelada para preencher, e um sem número de constrangimentos que, de
facto, têm impacto na sua performance a ensinar.
De uma forma simplificada, podemos
dizer que os professores mais eficazes
conseguem ensinar em seis meses aquilo que um professor mediano demora um ano a
ensinar. Já no caso dos professores menos eficazes, essa mesma aprendizagem demora dois anos a transmitir [8]. Há muitas formas de medir o
impacto dos professores nos alunos, e os estudos que procuram a relação entre
os professores e os alunos são extraordinariamente consistentes em vários
países e contextos [9]. Ter acesso aos melhores professores tem um impacto
ainda maior nos alunos de contextos mais desfavorecidos [10] apesar de, infelizmente, estes professores terem uma probabilidade
menor de ensinar em escolas em zonas desfavorecidas [11].
Um estudo de 2021, feito para os
alunos e professores portugueses [12], concluiu que se
todos os alunos do 3.º ciclo conseguissem ter acesso a um professor altamente
eficaz, a percentagem de alunos com negativas a Português diminuía de 48% para
10%. É este o poder de um grande professor.
Uma das perspectivas de que falamos
menos é o impacto que um professor tem nos nossos salários quando crescemos
Sim, um bom professor ajuda-nos a
ganhar mais dinheiro quando crescemos [13]. Um dos estudos
mais interessantes que comprova este facto vem dos Estados Unidos, onde um
grupo de académicos de Harvard e Columbia analisaram os resultados escolares de
mais de um milhão de alunos [14]. Cruzando esses dados com as
avaliações dos seus professores e as declarações de impostos dessas mesmas
crianças, já em idade adulta, conseguiram perceber qual era a diferença entre
termos acesso a um professor melhor ou pior.
As conclusões são brutais
[15]. Ter acesso a um dos professores mais eficazes no
sistema de ensino melhora as aprendizagens dos alunos, dá-nos uma maior
probabilidade de entrar para a universidade e ter um salário mais alto ao longo
da vida. De acordo com esses dados, substituir um professor de baixo-valor
acrescentado por um professor mediano gera um aumento de rendimentos de 250 mil
dólares por sala de aula!
O problema, já adivinhou, é que é
muito mais fácil ser um professor eficaz quando se ensina numa escola de uma
zona mais rica e onde os alunos passam menos dificuldades. Pelo contrário, os
professores que ensinam em escolas que servem comunidades pobres encontram
enormes dificuldades em fazer o seu trabalho em condições. Pense na diferença
que é tentar ensinar uma criança com o estômago vazio.
Ser professor é mesmo difícil
No seu emprego ou local de
trabalho, quantas vezes já olhou à volta e pensou: «bolas, esta gente com
quem eu trabalho não ajuda nada, parecem todos umas crianças». Pois,
imagine agora que essas pessoas com quem você trabalha todos os dias são de
facto um grupo de 30 crianças e que, muitas vezes, estão ativamente a desajudá-lo
na sua missão, fazendo birras e gerando conflitos. Pense no quão mais difícil
todos estes problemas se tornam se der aulas numa escola que serve uma
comunidade desfavorecida, onde os alunos vivem em pobreza, em casas degradadas,
com pais que têm dois e três empregos ou, pior ainda, por vezes não têm nenhum.
Crianças sem livros, cadernos e, muitas vezes, sem ter o que comer. Ser
professor é verdadeiramente apaixonante, mas difícil.
Estas dificuldades passam, também,
pelas condições de trabalho: gabinetes (quando existem) frios e com bolor,
cargas horárias complemente colossais e com mais tempo a tratar de papelada do
que a preparar aulas. Aliás, em preparação para este texto compilei uma lista de
pelo menos, 25 documentos que os professores têm de preencher todos os anos,
várias vezes para diferentes alunos, com siglas malucas e indecifráveis que vão
do PEI («Plano Educativo Individual») ao RGHR («Relatório do Grupo de
Homogeneidade Relativa»). Não é por acaso que 80% dos professores
portugueses reporta a burocracia como um dos principais motivos de stress
[16], o valor mais alto de todos os países da OCDE. Isto para além
dos testes, exames e trabalhos de grupo para corrigir. Já percebeu onde quero
chegar.
De facto, a vida de professor é estupidamente
stressante e o impacto físico e psicológico desta profissão pode, até, ser
superior ao dos médicos, bombeiros, ou polícias [17]. Um
terço dos professores portugueses tem níveis de stress muito altos e alguma
evidência sugere que Portugal é o país da Europa onde os professores têm níveis
mais elevados de stress [18]. Para além disso, há em Portugal um
elemento estranhíssimo na vida dos professores — que penso até ser único no
mundo desenvolvido — que é o famoso «sistema de colocação de professores». Esse
sistema dita que as escolas não têm autonomia para escolherem os professores
que querem contratar, consoante as equipas que precisam, os alunos que têm e as
circunstâncias daquela escola. Não é raro encontrarmos escolas que recebem um
professor de que os alunos gostam, de que os pais gostam, de que os outros
professores gostam, mas, no ano a seguir, é enviado para outro lado, pela
impossibilidade de o integrar nos quadros. O sistema leva a situações
completamente penosas de professores que ensinam em Bragança, num ano, e em
Faro, no ano seguinte. Estes professores vivem com a casa às costas e
sacrificam-se em prol das crianças do nosso país. São vítimas de um sistema que
tantas vezes não lhes permite viver na mesma cidade que a mulher ou marido e,
também, os seus próprios filhos que só vêem, com sorte, aos fins-de-semana. É
intolerável.
Mas, também, a forma como gerimos
este recurso tão importante (os professores) falha claramente na sua missão:
garantir que todas crianças, independentemente do seu contexto social, tenham
acesso a uma educação de excelência. Um bom exemplo disso é que, em Portugal,
por alguma razão misteriosa, valorizamos características dos professores que
não têm nenhum impacto nas aprendizagens e resultados dos alunos. De facto, o
que conta para a colocação de um professor são a sua nota de licenciatura e há
quanto tempo dá aulas: dois critérios que, obviamente, nada nos dizem sobre se
um professor ensina melhor ou pior. Sem surpresas, esta conclusão foi
confirmada por um estudo recente, que já mencionámos neste texto, que observou
um milhão e setecentos mil alunos e 42 mil professores portugueses [19].
Perante este estado de coisas, só
posso concluir que os professores portugueses fazem milagres apesar do
sistema de ensino e não por causa do sistema de ensino. No
fundo, o sistema, com todas as suas falhas, torna a vida dos professores mais
difícil, em vez de os apoiar a fazerem aquilo que sabem fazer melhor — ensinar
os seus alunos.
Não temos professores, e agora?
Perante a situação esdrúxula que
descrevi acima, ninguém ficará espantado se eu lhe disser que há um
problema absolutamente dramático de falta de professores em Portugal. A
situação é de tal forma grave que, se nada fizermos, nos próximos três anos
cerca de 250 mil alunos [20] vão ficar sem aulas a pelo menos
uma disciplina. Para dar uma noção da escala do problema, esse número
equivale a metade de todas as crianças entre o 7.º e o 12.º ano. Uma autêntica
barbárie.
O sistema que temos está obviamente
caduco. O problema com que nos deparamos acontece por dois motivos: em primeiro
lugar, a população docente envelheceu e cerca de 39% dos professores vão
reformar-se até 2030. Isto significa que, até ao final da década, vamos ter de
contratar quase 35 mil novos professores [21]. Isto, apesar
de o número de alunos também estar a cair a pique.
Em segundo lugar, os jovens não têm
interesse em serem professores. Isto acontece apesar de, como se aponta muitas
vezes, os professores portugueses (em média) receberem relativamente bem quando
comparados com os seus congéneres de outros países europeus. Mas essas
comparações reflectem a média dos professores num país com uma população
docente em fim de carreira e, por isso, naturalmente com um grande número de
docentes com ordenados mais altos. Por oposição, os professores mais novos e
aqueles que estão fora dos quadros não recebem salários dignos e competitivos.
Prova disso é que os salários não conseguem ser atractivos: em 2021, Portugal
contou com apenas três novos professores de físico-química.
Como garantir que todas as crianças
têm um grande professor?
O primeiro elemento essencial é
a quantidade. Obviamente, temos de garantir que há professores
suficientes nas salas de aulas. Para isso, vamos ter de alterar a forma como contratamos
e formamos os nossos professores, tornando as vias mais atractivas e menos
estritas. Depois, para resolver o problema no curto prazo, podemos pensar em
trazer antigos professores de volta para a sala de aula, ou requalificar
profissionais de outras áreas para aprenderem a ser professores. Outras ideias
já testadas podem passar por criar incentivos financeiros [22] para
atrair professores para disciplinas que estejam mais em falta ou para regiões
que sejam menos atractivas. Mas uma coisa é certa: centralizar a contratação de
professores não ajudou a resolver a falta de docentes em Portugal, e a
evidência demonstra que sistemas centralizados prejudicam os resultados dos
alunos, sobretudo em escolas com maior número de crianças e jovens desfavorecidos
[23].
O segundo ponto essencial é
garantir a qualidade dos professores. Este é um tema
particularmente complicado [24], desde logo, porque temos de
definir o que entendemos por qualidade ou eficácia[25].
Logicamente, do meu ponto de vista, a qualidade de um professor mede-se pelo
impacto que ele tem nos alunos. Parece-me evidente que a eficácia não se mede
pelas notas dos alunos, mas sim pela diferença que um professor pode fazer em
relação ao ponto de partida dos alunos. Não me parece descabido dizer que um
professor que consegue que a maioria dos seus alunos tenha positivas, numa
turma de alunos desfavorecidos, é mais eficaz do que outro professor que tenha
exactamente os mesmos resultados numa escola de classe-média.
Mas a resposta honesta é que, na verdade,
ninguém sabe muito bem como criar professores altamente eficazes. Há algumas
pistas para as quais podemos olhar. A ideia mais óbvia é tentar atrair os
professores academicamente mais hábeis para o sistema de ensino, como fazem em
Singapura, na Finlândia (cujo sistema de ensino já teve, enfim, melhores dias),
ou na Coreia do Sul. Nestes países, a profissão é tão prestigiada socialmente
que, tal como os médicos, os professores recrutados são, essencialmente, todos
alunos de topo.
Acontece que alguém ter sido um bom
aluno não é, necessariamente, garantia de vir a ser bom professor. Aliás, como
demonstrámos acima, a nota de licenciatura dos professores, em Portugal, não
tem nenhum impacto na aprendizagem dos alunos. Claro que atrair professores
academicamente capazes há-de ser sempre uma boa ideia, mas talvez não seja
suficiente. Ensinar exige imensa paixão, trabalho árduo e espírito de
missão. Mas também exige um outro ponto fundamental — desenvolvimento
constante. Já temos evidência [26] que sugere que a formação
contínua de professores pode ter impactos extraordinários e verdadeiramente
transformadores no nosso sistema de ensino. Ajudar os professores ao longo da
sua carreira a melhorar a sua performance, aprendendo técnicas, pedagogia, e
novos métodos tem um impacto importante na melhoria das aprendizagens dos
alunos [27]. Por outro lado, está demonstrado que também ajuda a
manter os professores motivados e a não procurarem mudar de profissão
[28]. Para além disso, esta ideia da formação contínua e desenvolvimento
profissional de professores pode ajudar-nos a combater a desigualdade e a
pobreza. É esse o resultado de um estudo recente [29] que
concluiu que um programa de 35 horas por ano de desenvolvimento profissional de
alta qualidade para professores se traduziria num aumento dos salários dos
alunos em idade adulta. O estudo calculou que, se este investimento fosse
realizado em Inglaterra, traria um retorno de 61 mil milhões de libras, num
retorno equivalente a 19 vezes o investimento!
Quo vadis?
Nas últimas décadas, o sistema de
ensino português teve um dos avanços mais notáveis a nível mundial. No ano
2000, o português médio tinha a escolaridade equivalente à de um alemão em 1930
e à de um romeno em 1970[30]. Hoje, a minha geração tem um
grau de escolaridade equivalente à de qualquer outro país europeu. Este feito
de levar a escola a quase todas as crianças do nosso país não foi feito à custa
do sacrifício da qualidade. Pelo contrário, veio acompanhado de uma melhoria
enorme dos resultados dos nossos alunos nas comparações internacionais. Na
minha opinião, levar a escola a (quase) todas as crianças foi a maior
proeza da nossa democracia.
Mas nem tudo corre bem. Chegámos
agora ao quarto ano lectivo marcado por fortes disrupções e perdas de
aprendizagens causadas pela pandemia, pelas greves (justíssimas) e pela falta
de professores. Damos por nós numa situação penosa: uma criança que hoje
esteja no 4.º ano, nunca teve um ano normal de escola na sua vida. É provável
que todo o percurso escolar dessa criança seja marcado por uma escola sem
professores.
E os desafios não acabam aí. Se é
verdade que conseguimos muito progresso, também é verdade que continuamos a ser
um país com uma pobreza infantil demolidora e um país onde a desigualdade entre
alunos ricos e pobres não diminui há cerca de 20 anos [31]. Não é
aceitável.
O contexto em que nascemos não pode
determinar as nossas aspirações na vida. E a profunda injustiça da desigualdade
não tem de ser uma inevitabilidade:
— Temos de dar a todas as
crianças um grande professor, por favor.
Declaração de interesses: As
opiniões expressas neste artigo são exclusivamente do autor e não reflectem os
princípios ou posições das organizações às quais está associado. O autor
trabalha num instituto inglês, sem fins lucrativos, especializado no apoio a
professores e escolas que servem alunos desfavorecidos.
In: Comunidade Cultura
E Arte
1 comentários:
Foi com enorme deleite que li este ensaio sobre a importante e delicada situação do ensino. Estou de acordo com a visão genérica exposta e com a análise dos factores que determinam a actual situação do ensino em Portugal. Sou pai de duas professoras do ensino secundário e por isso sinto-me bem identificado com o estado de arte da sua profissão. Sou testemunha do desgaste que lhes causa a pesada carga de trabalhos burocráticos que alterou o seu dia a dia desde que a ministra Maria de Lurdes Rodrigues passou pela pasta do ensino. É algo que considero sem precedentes e que não contribuiu positivamente para beneficiar o ensino. Não sei se o mesmo acontece em Cabo Verde.
Em Portugal, Cabo Verde ou qualquer outro país, a qualidade do ensino e tudo o que nele se investe são cruciais para rasgar o caminho do futuro. O prestígio dos professores depende disso e fácil é concluir que há uma relação de causalidade entre todos os factores do problema.
Vou enviar este texto às minhas filhas.
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