A Sociedade Portuguesa de Autores, assinalou
o Dia Mundial da Poesia, comemorada no dia, 21 de Março. A SPA, distinguiu-o através de uma Mensagem com palavras da
autoria do ilustre escritor açoriano, João Melo, que foram transcritas pela
Agência Lusa.
Com a devida vénia aos autores da
homenagem, aqui a transcrevemos para o leitor do Coral-Vermelho.
A Poesia "está no ar, nos
olhos, na palavra dita e por dizer", lê-se na mensagem da Sociedade
Portuguesa de Autores (SPA) a propósito do Dia Mundial da Poesia.
"A Poesia não carece em
absoluto de forma escrita: está no ar, nos olhos, na palavra dita e por dizer,
na sensação e no sentimento do que amamos ou combatemos", lê-se na
mensagem de autoria do escritor João de Melo.
Melo realça as diferentes facetas
do poema, que é “escuridão e luz perpétua da claridade”
O autor afirma que "o poema é
ao mesmo tempo dor e canção, desamparo e amor, solidão e solidariedade,
desespero e esperança, escuridão e luz perpétua da nossa claridade".
"A Poesia é uma forma de
linguagem para a beleza; uma imaginação verbal no seu estado mais puro.
Apetece-me fazer-lhe o elogio como se ela fosse algo que estivesse ao mesmo
tempo no centro (na essência) e muito para além de toda a Literatura", lê-se
na mesma mensagem.
No texto, João de Melo sublinha a
forte ligação da Poesia à Música.
"O que mais eu amo no poema é
a sua proximidade ao sentimento e à música", assim abre a sua mensagem
João de Melo, afirmando que "alguém inventou o poema para ser
cantado".
"Criou-o como forma superior
de pranto e oração aos deuses da Música, do Silêncio, do Sonho e da grande
Melancolia que atravessa todos os séculos do Homem".
"Mas o que existe de tão
luminoso na escrita dos poetas? E que pode haver de poético na linguagem dos
prosadores? O poema pertence ao género masculino ou feminino?" questões
colocadas por João de Melo, esclarecendo desde logo, que não veio para as
responder.
Todavia, considera o autor
"que há qualquer coisa de múltiplo na ideia de cada um acerca da
Poesia".
"O elogio que dela se possa
fazer não deve ser genérico nem abstracto. Cada um de nós traz em si, consigo,
uma reserva desconhecida de Poesia. O nosso destino é também o dos poetas.
Porque ela, Poesia, é um trabalho da sensibilidade e do ouvido - do ouvido que
reconhece a música, mas também do outro: aquele que ouve e escuta o mundo, que
ouve o silêncio e a voz dos humildes, dos humildes universais que devíamos ser
todos nós".
Para Melo, a Poesia "é
sobretudo uma voz no interior da linguagem, algo como um suspiro ou um grito
sem voz, e tanto pode morar à esquina de um soneto ou de uma oitava, como em
cima de um muro erguido pelas palavras, isto é, pela prosódia de uma prosa".
"Tal como o poeta, também o
poema tem causas a suscitar ou a defender: do amor à amizade, da vida à morte,
do júbilo à dor, da indignação à revolta, da rua e da casa do poeta à morada
universal da humanidade inteira. Ele está na rua, connosco se deita e se
levanta: caminha, trabalha e regressa a casa", afirma Melo que na sua
mensagem cita poemas de Natália Correia, João Ruiz de Castelo-Branco, Luís de
Camões, Herberto Hélder, Ruy Belo e um dos heterónimos de Fernando Pessoa,
Alberto Caeiro.
Pior que tudo, remata João de Melo,
"será um homem despedir-se da sua memória da Poesia".
Adoptado pela Organização das
Nações Unidas para a Cultura, Educação e Ciência (UNESCO, na sigla em inglês)
em 1999, o Dia Mundial da Poesia pretende "homenagear poetas, reviver
tradições orais de recitais de poesia, promover a leitura, escrita e ensino de poesia,
e fomentar a convergência entre a poesia e outras artes".
SOCIEDADE
PORTUGUESA DE AUTORES
(SPA)
1 comentários:
Belo e muito oportuno texto. O mundo está neste momento
a atravessar um mau momento, mas se calhar tudo estaria ainda bem pior se não houvesse poesia. Embora possa não parecer, ela está diluída no éter que retém o código da nossa espiritualidade. Um dos processos para resgatar o homem do mal se calhar é ajudá-lo a descobrir o caminho para chegar à poesia. Provavelmente, terá de se livrar de equívocos como a religião, para que fique
definitivamente entregue a si próprio.
Enviar um comentário