Q U A L I D A D E D A E D U C A Ç Ã O[i]

terça-feira, 21 de maio de 2024

 Em termos de acesso à educação, Cabo Verde apresenta alguns dos indicadores de educação mais elevados da África Subsaariana.

O ensino primário universal foi alcançado em 2012 e a esperança de vida escolar é de 10,7 anos, em média, sendo ainda mais elevada para as raparigas.[ii] Contudo, nos últimos anos tem sido dada maior atenção à qualidade da educação e aos resultados da aprendizagem. Com base nos dados disponíveis, quando se considera o que as crianças realmente aprendem em Cabo Verde, os anos de escolaridade ajustados à aprendizagem caem para apenas 6,9 anos. Isto significa que, ao longo da sua escolaridade, existem quase quatro anos durante os quais as crianças não conseguem adquirir a aprendizagem esperada traduzindo-se num retorno limitado dos investimentos.

As avaliações realizadas em 2019 e 2022 produziram uma base sólida de evidências para ajudar a determinar os níveis de aprendizagem e identificar os fatores que contribuem para resultados abaixo do esperado.

A Aferida 2019, uma avaliação nacional em larga escala da aprendizagem dos alunos do 2.º e 6.º anos, revelou resultados de aprendizagem abaixo do esperado, tanto em Português como em Matemática. Apenas 30,6 por cento dos alunos do 2.º ano atingiram plenamente o nível de desempenho esperado em leitura; o desempenho em Matemática foi ainda mais baixo, com apenas 3,3 por cento dos alunos a atingirem totalmente o nível de desempenho esperado para este domínio. A Avaliação de Leitura nos Primeiros Anos (EGRA), realizada em 2022, foi a primeira avaliação de aprendizagem de Cabo Verde com referência internacional. Os resultados de uma amostra nacionalmente representativa de alunos do 2.º ano demonstraram que a maioria dos alunos do 2.º ano estão a adquirir as competências básicas necessárias para a alfabetização. No entanto, ainda existe uma parcela significativa de alunos, 30 por cento, que não consegue ler com compreensão adequada do conteúdo (figura 3).

 


 

Fonte: EGRA em Cabo Verde (Os valores deste gráfico, tirados do original, são aproximados)

Um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para a educação é garantir que todas as crianças possam ler até aos 10 anos com pelo menos um nível mínimo de compreensão.

Ser capaz de ler com compreensão é fundamental para construir o capital humano. As crianças precisam aprender a ler para que possam ler para aprender; a leitura é uma porta de entrada para todos os outros níveis de aprendizagem. As evidências mostram que as crianças que não se tornam proficientes em leitura aos 10 anos são muitas vezes incapazes de recuperar o atraso mais tarde e, infelizmente, provavelmente terão dificuldades para o resto da vida.

Ambas as avaliações de aprendizagem identificam fatores-chave que levam a resultados de aprendizagem inferiores aos esperados em Cabo Verde e acções que o Ministério da Educação pode tomar para melhorar as competências básicas de literacia.

As recomendações de ambas as avaliações de aprendizagem incluem: (i) aumentar as oportunidades de desenvolvimento profissional contínuo para professores; (ii) aumentar a disponibilidade de recursos para os professores praticarem pedagogias de ensino mais eficazes – incluindo a revisão do novo currículo de Língua Portuguesa e o desenvolvimento de guias detalhados para professores; (iii) estabelecer um ambiente de aprendizagem mais positivo, com os professores a falarem mais português na sala de aula; (iv) disponibilizar às escolas materiais de leitura adicionais (apenas 35 por cento das escolas têm bibliotecas); e (v) incentivar os professores a realizar reuniões regulares com os pais e responsáveis para incentivar o apoio à leitura em casa.



[i]  Extracto do Relatório do Banco Mundial  “CABO VERDE AVALIAÇÃO DO CAPITAL HUMANO” para  2024

[ii] UNESCO, página do web sobre Cabo Verde (http:// uis.unesco.org/country/cv).

1 comentários:

Adriano Miranda Lima disse...

Gostei de ler este extracto de relatório. As recomendações são pertinentes, sendo notória a relação estabelecida entre os níveis atingidos e o papel dos professores. Note-se a importância dada à necessidade de os professores "falarem mais português nas aulas".

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