Por José Fortes Lopes
Quais são os benefícios e ganhos do
abandono da língua portuguesa como língua de trabalho e de ensino em Cabo
Verde, e da oficialização do crioulo nas variantes mais significativas, como se
anuncia? Nenhuns, para além dos ganhos em termos de populismo e do
eleitoralismo.
Custos haverá muitos e aparecerão no
longo prazo.
Na prática o que se pretende é pura e
simplesmente o uso generalizado do crioulo na variante de Santiago, uma das 8
ou 9 variantes do crioulo cabo-verdiano falado no arquipélago, e a substituição
da língua portuguesa, prevendo que esta deixe de ser falada ou entendida pela
maior parte dos cidadãos cabo-verdianos.
É óbvio que é mais vantajoso permanecer
o statu-quo actual, que perdurou até agora, que consiste na reconsideração do
crioulo como língua do povo, sem todavia ultrapassar o estatuto oficial .
Para além disso, num Mundo global em que
a língua portuguesa é uma ferramenta global, falada por um número crescente de
pessoas e países, há todas as vantagens dos países de expressão lusófona adoptarem
plenamente esta língua como sua.
Neste momento o Ministério da Educação
de Cabo Verde deveria estar a ter uma iniciativa para aumentar a versatilidade
oral e escrita da língua portuguesa pelas populações de Cabo Verde.
Ora, está a acontecer o contrário o que
é manifestamente uma atitude no mínimo provinciana ou leviana ou um erro de
consequências graves. Para além disso, esta reivindicação linguística tem pouca
adesão nas restantes ilhas do arquipélago, estando localizada na ilha de
Santiago, em círculos e circuitos bem identificados.
Parece que o lobby fundamentalista desta
vez, no meio de petições de professores e de reivindicações da elite
africanista-irredentista levou a melhor na longa cruzada contra a língua
portuguesa que dura há 46 anos, por vezes declarada, por vezes encapotada. Ela
está com vento de feição, revigorada pela ascensão no poder de correntes
fundamentalistas que vêm na língua portuguesa um instrumento de opressão, ou
mesmo de colonialismo linguístico, como alguns ‘especialistas’ apresentaram a
questão, no início do lançamento oficial da ‘campanha’, do ALUPEK, há cerca de
10 anos .
A coisa está mesmo séria pois o
Ministério da Educação de Cabo Verde pretende levar o uso do crioulo nas
escolas a partir do 10 anos. Convenceram os políticos da urgência da medida!!!
Para além disso o novo presidente eleito
de Cabo Verde, no seu discurso de empossamento, na presença de presidentes de
alguns países amigos nomeadamente Portugal e Angola, discursou em crioulo na
sua variante natal, de Santiago, e enviou um forte sinal para o’ mundo’. O
apoio do actual PR era de prever pois foi no mandato dele como
Primeiro-Minsitro, a partir de 2000 e durante 15 anos, levado pelas correntes
fundamentalistas de Santiago, que este deu o pontapé de saída da problemática/
questão.
Ora, no caso de Cabo Verde o populismo
fala mais alto, e a bandeira da língua é uma das muitas que vêm sendo brandida
desde o 25 de Abril de 1974. Se naquele período ainda se podia perceber, pois
estava-se em tempos revolucionários, o crioulo era reprimido e então fazia
parte da tendência promover e incentivar tudo o que era proibido, hoje
continuar a bater na tecla num Mundo em que tudo mudou, é que não se percebe.
Também se recorda que o falecido Presidente Pereira, que foi presidente do
Paigc , não se exprimia em crioulo, e nunca este Partido levou a sério a
questão, pois o próprio Amílcar Cabral, pai da utopia paigcista, parece ter
defendido a preservação da língua portuguesa, caso este partido conquistasse o
poder.
A oficialização do crioulo (de Santiago)
terá custos para além dos financeiros, e poderá marginalizar parte importante
da população em relação à língua portuguesa , o que é já uma realidade grave,
criando uma espécie de ghetos linguísticos. A elite poderá pagar através do Ensino
Privado aos seus filhos o acesso à língua portuguesa, enquanto que ao povo lhe
caberá o crioulo unicamente.
Se alguns lobbies terão ganhos
pecuniários, nomeadamente, os que explorarão a área da edição em crioulo, e os
ditos projectos científicos, não se vêm benefícios econômicos para o país,
quando a literatura nos países de expressão portuguesa é toda na língua
portuguesa. Pior, a sua duplicação em crioulo poderá acarretar custos
exorbitantes para a economia do arquipélago, que recebe ajuda do Mundo inteiro,
inclusivamente de Portugal, o país anfitrião da língua que agora se quer
prescindir.
Por outro lado, a oficialização do
crioulo, subentende-se a variante da ilha de Santiago, pois não se conhece
iniciativa em relação às restantes variantes, como acontece hoje na
comunicação, o que implica uma subalternização e a condenação à morte. A
acontecer será uma violação do direito das outras variantes à existência, logo
está-se a semear um problema grave!!!
3 comentários:
Com a devida vénia ao seu autor, o «Coral-Vermelho» tomou a liberdade de publicar o texto pois, o assunto nele contido e a sua abordagem, para além de oportunos, foram pragmáticos a meu ver. José Fortes Lopes ilustrou bem o "modus operandi" como tem sido conduzida e de há muito esta matéria que; ao invés de aproximar, tem criado anti-corpos em muitos falantes cabo-verdianos.
Fica aqui o convite ao leitor do "Blog": leia e comente.
O texto é muito pertinente e actual!
No entanto, dar ênfase a uma variante não me parece ser pertinente. Porque grave não é a escolha da variante de Santiago ou outra, mas sim a paulatina oficialização do crioulo em detrimento de uma língua global que nos é proxima e familiar e que se irá tornar exclusiva de uma elite. Elite essa que parte dela hoje defende acérrimamente o crioulo cabo-verdiano mas que ao contrário do Povo, continuará a ter o português como língua sua também.
Ou seja, a oficialização do crioulo só levará a um cada vez maior fosso social, prejudicando de sobremaneira apenas o povo cabo-verdiano, o que é simplesmente triste na falta de outras palavras!
Obrigado Ondina pela publicação do texto. Acabo de ler o artigo do Humberto Cardoso que vai no mesmo sentido da minha opinião nesta matéria
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