A união do rebanho obriga
o leão a deitar-se com fome.
Provérbio Africano
“Zangam-se as comadres dizem-se as verdades”. A primeira volta destas eleições presidenciais foi o exemplo mais acabado deste aforismo popular. As acusações de fraude por parte da candidatura de Aristides Lima contra a de Manuel Inocêncio são simplesmente escandalosas e levariam, de imediato, à realização de um inquérito, no mínimo, sumário, com eventuais demissões de membros do Governo, em qualquer País de regime pluralista medianamente sério. A dar crédito à imprensa – muito tímida, inconsistente e parcialmente desmentida – não estariam envolvidos apenas cidadãos comuns, nem os chamados “jagunços”, mas nomes de altos dirigentes do País.
E se é o próprio Chefe de Estado no seu discurso relativo a estas eleições que lança a suspeição, sob a capa de aviso, ao falar de “ambiente de liberdade e livre de quaisquer formas de pressão ou condicionalismos extra-eleitores” numa antevisão do cenário eleitoral, que podemos nós esperar?
Mas também quando o próprio PR, a mais alta autoridade do País, sede da moral institucional, se estribou silenciosamente na mais escandalosa e vergonhosa fraude eleitoral de que há provas no País, assumindo, para o cúmulo dos cúmulos, a posição de vítima – não acredito que não conheça o enquadramento semântico do aforismo – ao dizer que não vale a pena chorar sobre o leite derramado – quem o podia ter dito seria Carlos Veiga – que podemos nós esperar?
Quando o PM deste País numa confrontação directa às leis da República pronuncia-se levianamente junto a uma assembleia de voto em plena decorrência do acto eleitoral ao caso (que nunca provou) de “dinheiro sujo” e fica impune, que podemos nós esperar?
Quando o famigerado ex-director-geral da DGAPE é acusado publicamente de uma estrondosa e vergonhosa fraude eleitoral e, não só fica impune como é sucessivamente promovido faltando apenas a vulgarizada condecoração – o que admira – para a consagração total, que podemos nós esperar?
Quando um juiz do STJ não declara incompatibilidade (moral/ética) num caso de julgamento eleitoral em que ele é implicitamente parte, que podemos nós esperar?
Quando os insuspeitos observadores da CEDEAO recomendam (Que vergonha!)às autoridades (quais?) medidas “contra práticas de intimidação e pressão exercida sobre os eleitores, em particular, no dia da votação” para além de referências a “compra de votos” na Praia e S. Vicente, que podemos nós esperar?
Todo este edifício político-institucional do poder actual em busca de uma total hegemonização (leia-se “ditadura” em democracia) que só as lutas internas não permitiram a sua total consagração, está alicerçado num gigantesco sistema de fraude que estas eleições acabam de confirmar e, quiçá, poderá vir a ratificar.
Perante a máquina montada, muito pouco há a fazer. Não há instâncias que se possam considerar impolutas para se recorrer. Está tudo “corrompido”. O PR não tem moral porque usufrui sem rebuços. O PM não tem também nem moral nem distanciamento porque ele próprio responsável político, moral e material. A justiça auto-mutilou-se: não tem olhos, não tem mãos, nem tem voz. O Parlamento com a maioria silenciada pelos tachos e amordaçada por corrupção é, globalmente, cúmplice. Resta-nos apenas as mal sucedidas manifestações de rua e uma abrangente vigilância dos que querem democracia no País ou uma punição nas urnas (voto em branco ou contra) aos prevaricadores. Ninguém pode abster-se à participação e a uma vigilância permanente. Somos todos responsáveis.
A. Ferreira
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