UM SUSPIRO DE ALÍVIO

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Há mais de uma semana que terminaram as eleições presidenciais. Muito se tem escrito… E com alguma oportunidade e uma certa clareza, na minha óptica, é claro. O assunto está praticamente exaurido. Pouco há a dizer. Deixo aqui o registo muito breve da minha perspectiva.

Todos nós, os que nos consideramos democratas, respirámos de alívio com a eleição de JCF. O espectro de um regime totalitário com máscara democrática perfilava-se no horizonte. O que estava em causa não era um presidente, uma maioria, um governo. É natural e legítimo que qualquer partido político queira ter essa pretensão. Não está a ser honesto o militante que diz o contrário. Quando se disputa é para ganhar. Mas, parece-me, que não é recomendável, em democracia, que tal aconteça, o que só por si, é uma forte razão para que as presidenciais não sejam partidarizadas.

E ainda mais quando a personalidade que encarna o regime é politicamente sufocante, vaidoso e arrogante, como é o nosso caso. Com a agravante de ser, intelectualmente, pouco honesto.

A experiência que vínhamos vivendo, por culpa dos dois protagonistas – PR e PM – de modo algum era encorajadora. De tal forma a não era, que com a vitória expressiva e inequívoca de JCF muita boa gente celebrou mais a derrota do seu adversário do que a sua própria vitoria.

E perante os factos, não me venham agora dizer que o povo mostrou maturidade quando há escassos seis meses esse mesmo povo patenteou uma confrangedora infantilidade da qual iremos pagar não só ao longo dos próximos cinco anos como através de várias gerações mais novas. É que a maturidade não se ganha com um estalar de dedos. Nem é fruto de uma única eleição. Tenhamos pois paciência que havemos de lá chegar. É preferível dizer-se que, desta vez, o povo votou bem, acertou.

JCF e o MpD ganharam a primeira volta das eleições. É esse o seu fiel eleitorado. Não nos iludamos querendo fixá-lo no da 2ª volta. Os resultados “adicionais” da segunda volta são um misto de rejeição, de raiva, de medo e também, naturalmente, de algum apoio. E foi, como obviamente se depreende, para uma boa parte dos eleitores, uma segunda escolha que não há nas outras eleições – legislativas e autárquicas.

É esse eleitorado flutuante, normalmente maduro, que acorreu à segunda volta e cuja dimensão é uma incógnita, é que é necessário conquistar, ao mesmo tempo que se fidelizam os simpatizantes convictos – os da 1ª volta. Para isto é necessário muito trabalho no terreno, muita verdade no discurso e muita seriedade nos actos, para os quais, espero, a oposição se terá despertado.

Nós, os menos jovens, temos ainda bem presente as eleições presidenciais em Portugal de 1986, em que Mário Soares foi vencedor na segunda volta com 50,7% dos votos. Na primeira volta registava-se 25,1% para Soares e 45,8% para Freitas do Amaral. Ficou célebre, na altura, a recomendação de A. Cunhal aos militantes do PCP: “Tapem a cara ao homem, e ponham um X à frente” (leia-se Soares). E quando foi confrontado com o voto do seu partido em Soares, respondeu: ”Não, não votámos nele, votámos contra a direita”. Isto é, num mal menor.

Não quero de maneira nenhuma diminuir o mérito de JCF e do MpD, que pela primeira vez em mais de dez anos saboreia uma vitória nacional. Que ambos bem mereceram. O primeiro pelo seu esforço e pelo seu querer e crer e o segundo pelo trabalho de formiguinha e de empenhamento desenvolvido no terreno, sobretudo pelo seu incansável líder. Curiosamente, foi na diáspora, que JCF considera o terreno de vocação específica das eleições presidenciais – chegou a escrevê-lo – que ele foi derrotado a par desse caso estudo que é o Fogo.

Estamos todos muito contentes e felizes, mas não nos devemos embandeirar em arco. Foi uma grande vitória e, pela primeira vez, desde há mais de uma década não paira no Palácio de Plateau o fantasma da fraude, o que confere ao novo PR moral e autoridade para o combater com a veemência que o "fenómeno" exige, nobilitando a política e a classe política que carecem de ética e de seriedade e, como consequência, de credibilidade.

O que estas eleições também trouxeram de importante é o reconhecimento público pelos próprios militantes do PAICV da fraude por eles “instituída” e instalada com que convivemos e da qual impunemente usufruíram (Covoada, Baluarte, Mãe Joana, entre os casos mais emblemáticos) ao longo desta última década. E quando alguém lá de dentro farisaicamente e com muito oportunismo diz que só agora tomou consciência da ocorrência é para se lhe perguntar onde é que andou estes anos todos? Se não escuta rádio, não lê jornais nem vê televisão?

Ninguém duvida que JCF fará uma boa presidência. Tem todas as condições se for coerente e consequente com as suas próprias palavras e se subordinar ao rigor disciplinar dos julgamentos políticos (e não só!) das suas análises enquanto analista político e social em que se subentendia a velha máxima da “Mulher de César” e que agora esperamos venha a estar presente em todas as nomeações, designações que partam dele ou venham a carecer do seu aval. Não queremos ver mais no nosso País em altos postos da hierarquia do Estado, por nomeação, gente acusada de imoralidade, com processos judiciais de fraude, roubo, falsificações e outras falcatruas.

De momento, a fasquia está baixíssima e não pode servir de referência. JCF herda uma presidência para esquecer – pálida, medíocre e folclorista. E para o cúmulo, acusada de ser a principal instigadora ou, no mínimo, a eminência parda geradora, dos enormes conflitos que grassam no interior do PAICV.

Pior, não era possível…

A. Ferreira

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